30.7.04

EXCLUSÃO SOBRANCELHAL

Tudo o que sei e não me foi ensinado por Apollo, o Doutrinador, ou pelo coronel Trautman eu aprendi lendo as revistas da turma da Mônica. Uma das histórias mais tocantes que li foi aquela em que Cascão, o revolucionário, era vítima da borracha de um desenhista malvado (le mauvais démiurge) e ficava sem sobrancelhas. Nosso herói se desesperava: "Cebolinha, e agora? Ninguém mais vai saber quando estou alegre, triste ou bravo!". (Fosse eu o Cebolinha, diria algo como "foda-se, pior é ser caleca". Mas divago, desculpem.)

Foi essa historinha cidadã que despertou minha atenção para o gravíssimo problema da exclusão sobrancelhal. Gente como Malu Mader e Juca "Albieri" de Oliveira andando por aí com sobrancelhas riquíssimas em pêlos e o Esperidião Amin -ô, coitado!- sem nada. Como diria o Lilico do bumbo: é bonito isso? Não, não é bonito nem justo. Quem tem bastas pilosidades sobre as pálpebras deveria doar pelo menos alguns pelinhos aos despossuídos sobrancelhais, por um país esteticamente equânime. Mas é claro que, aqui, nenhum posto de doação funcionaria: o que ia ter de gente doando pêlo de vassoura de piaçava, cabelo de xoxeta e anteninha de barata não estaria no gibi. Pobres dos browless que não têm uma ONG para lutar pelos seus pêlos.

Encravado por Ruy Goiaba em puragoiaba

Finalmente! Céu azul, nenhuma núvem, um puta sol e exatos 40º me fazem pensar o quanto eu gosto de uma garoa e todos os tons de cinza que compoem o lugar que eu mais sinto falta nesse momento, sim, hoje é meu último dia na caixa de areia...foram 3 intermináveis mêses. O saldo? 3 livros, 3 vezes mais trabalho do que eu esperava, 3 baladinhas memoráveis, 3 kg a menos e 3 mil vezes mais foda do que eu achei q seria...Países árabes? afh...vai ser bem complicado ter alguma opinião imparcial nesse momento, portanto, vamos aos fatos: pra quem não está acostumado, o clima é foda de aturar, mas depois de um tempo a coisa acalma. O povo? o mais mal-educado do mundo, pelo menos dos países que eu visitei...bom, talvez seja o preço que se pague por deixar seus filhos (muitos) serem criados por babás. Essa região é um vácuo cultural no planeta, exceto pelos so-called valores religiosos, que eu, como ateu não-praticante, não ligo a mínima...
No início a caligrafia me atraia bastante, os desenhos são lindos, as paredes das mesquitas, mas para por ai. A música é pobre demais, de harmonia absolutamente limitada...A comida é deliciosa. ponto pros habibs. A identidade nacional? Nada, niente, shit...as roupas são consequencia da merda da religião, mas é tudo muito estranho, a tolerância desse povo para outras culturas é bem seletiva, só entra aquilo que convém aos homens. Eles adoram filmes americanos, comem fast-food e comida tex-mex o tempo todo, lotam o starbucks, o mcdonalds, o burger king, tem seus carrões importados, seus celulares, computadores e todo o acesso a tecnologia que o dinheiro pode comprar...ai eu paro e penso, com todo esse dinheiro e tempo livre (a maioria não trabalha) esse lugar deveria ser um dos polos do mundo de maior desenvolvimento intelectual e produção cultural...na música, nas artes, enfim...em tudo...não é? na minha cabeça isso tem uma bela lógica, mas acho que o sol afeta o julgamento do pessoal por essas bandas...não se produz absolutamente nada, nem um livro, nem uma revista, até os jornais locais são escritos por estrangeiros....só se consome, o tempo todo...
E por que? tudo por causa daquela pedra preta? Que perda de tempo...Religião, qualquer uma, nunca fez nada de bom pra humanidade, a não ser conservar alguma literatura muuuuito tempo atrás. anyway...hmpf...chega de pensar nisso.
Em menos de 24 hrs eu estou fora daqui. Bom, pelo menos do golfo.
Amanhã eu vou pra Beirut bem cedo, encontrar grandes amigos, e ficar uma noite na cidade, q é infinitamente mais bonita e rica no melhor dos aspectos do que esse vilarejo que eu me encontro no momento. Espero que de tudo certo.
Aos meus amigos que talvez venha a ler esse post: valeu pela força via msn e afins nesses mêses que se passaram, e senhoritas, bom...vou levar uns vinhozinhos de paris pra acompanhar o friozinho de sp ;)
Ele voltou em Coisas que eu lembrei de esquecer

29.7.04

Lembranças

Será permitido levar apenas uma única lembrança desta vida, à escolha. Tomei-me como parâmetro e pensei que não haveria quem não hesitasse pelo menos alguns minutos antes de escolher, talvez sem chegar a qualquer conclusão.

Propus o problema a meu pai, que destruiu minhas expectativas ao responder em menos de um segundo.

Perguntei-me se, afinal todas as minhas lembranças eram assim tão intensas que, portanto, fosse tão difícil escolher entre elas ou se, ao contrário, fossem tão banais que o esforço não valesse a pena. Demorei um pouco até descobrir qual dentre tantos fatos eu levaria hoje para a eternidade, caso fosse necessário. E isso foi ao olhar para aquele homem ao meu lado, que acabara de revelar-me alguns segundos lindos contidos naqueles quase 60 anos de vida.

Pai e filho, voltávamos do cinema, como tantas vezes fizemos. Levávamos um doce para minha mãe. Éramos passageiros de um carro negro a atravessar a noite, não dois homens, mas duas lembranças.

Amores

Então, ainda sob o efeito de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, filme que eu e meu pai vimos naquela noite, resolvi aplicar a questão às mulheres que passaram por minha vida. Como regra impus não identificá-las, mas encontrar momentos suficientemente significativos para que, ao lê-lo, cada uma delas se enxergasse, assim como neles eu me vejo. Preferi também não escolher beijos ou outras intimidades, pois embora essas coisas sejam importantes, são óbvias. Também não usei uma ordem cronológica, tampouco de valor, a fim de que nenhuma delas, as lembranças, sinta-se privilegiada em relação às outras, afinal os amores não são maiores nem menores, mas diferentes. Assim, de cada um deles, espero que reste ao menos esses momentos. Diversos, mas iguais em importância.

Chuva na janela

Parei com o carro perto de sua casa para deixá-la. A chuva caía. A luz da rua atravessava o vidro do carro. As gotas que escorriam em abundância pelo parabrisa eram, assim, projetadas em nossa pele clara. Formavam desenhos vivos, como se a carne se mexesse, um movimento que não contava história alguma. Vertendo do ombro até as mãos, o fantasma da água nos prendeu durante mais alguns minutos um ao outro, à água, ao vidro, à luz, ao Universo.

Sol no olho

Deitada sobre minha cama, uma mulher - que até a pouco era uma menina que, como sempre, fugira do cárcere na madrugada e encontrara abrigo em meu quarto pela manhã - me olhava, de baixo para cima. Estava na beirada, pois a paixão, que é urgente e desconhece a geografia dos móveis, lançou-nos assimetricamente na cama e aleatoreamente no mundo. A cortina alaranjada deixava passar alguns raios de sol de inverno. Os olhos dessa mulher ficaram, então, tão claros que me atravessaram e, pela primeira vez, senti-me transparente.

Um encontro e risos

Eu ainda não a conhecia. Ela vinha pela rua que vai dar em minha casa. Trocamos algumas palavras e sorrisos. E, quando ela se foi, seguindo o seu caminho, para minha surpresa ainda estava ali comigo, como um eco. Dela, vou guardar uma ação, um verbo chamado rir junto. Sempre ríamos, sorríamos e o mundo era feliz em cumplicidade. No fundo, naquele instante em que eu a encontrei, tudo o que eu queria era estar na lista de supermercado dela.

Direção perigosa

Sempre que entrava no carro, estivesse frio ou quente, abria uma fresta fininha na janela. Disse-lhe que gestos sutis como esse compunham uma pequena gramática amorosa. Ainda meio bêbado da noite, dirigi até a casa dela em segunda marcha para não precisar soltar-lhe a mão. Creio que ela entrou na minha vida, e saiu dela, por essa fresta aberta na janela do passageiro. Além das brincadeiras das palavras, o amor, de fato, entra pelas frestas e é passageiro.

Noite arriscada

Foi então que percebi que estava com a mulher errada em um bar. Bebi o resto do que havia no copo e dirigi até a casa da certa. Apertei a campainha e disse que queria subir. Seus pais, que nunca, nunca, nunca a deixavam sozinha haviam viajado. Passei a noite ali, como jamais pude depois e como jamais pudemos fazer novamente, fosse na minha casa ou na dela. Pela manhã ganhei um livro e um sol fresquinho de sábado.

A minha lembrança

Então eu disse a meu pai que a minha lembrança era uma pipa de oito lados feita por ele com plástico transparente. Ela possuía a qualidade de, quando muito alta, desaparecer contra o azul claro do céu. Pesada, era difícil fazê-la subir. Durou um dia apenas. Logo ficou presa nos fios de luz. Durante algum tempo pensei que ele iria subir ali para tirá-la. Mas fomos para casa. Quando passo por aquele lugar onde a empinamos, olho para verificar se ele ainda não está ali. Por vezes, me engano.

A lembrança do meu pai

Meu pai disse que lembrava de um campo de lilases que havia em frente à casa onde passou a infância. Eles formavam touceiras tão altas e firmes que, mesmo depois da chuva, era possível deitar ali sem se molhar. No meio de cada tufo verde, nasciam as flores lilases que davam nome à planta. Esse pensamento lhe vem, às vezes, quando não espera. Certo dia, depois de uma tarde inteira de diversão com os amigos da rua, ele deitou ali, cansado, até que as estrelas começassem a surgir uma a uma.

Em que mundo estamos para que isso pareça ficção?

(…)

Cracatoa (simplesmente sumiu)

28.7.04

Um dia estranho

Devolvi o apartamento. Não foi fácil e me custou uma grana legal - que vai fazer falta. Dei dois cheques que ainda não têm fundo, mas não estou preocupada, conheço minha própria capacidade de ganhar dinheiro. Ainda querem o valor da pintura do apartamento - eu não pintei, não tinha como, não tinha dinheiro nem tempo pra eu mesma pintar, já me bastou ter que esvaziá-lo e limpá-lo sozinha com a minha mãe - mas isso também não me preocupa.

Então, depois que consegui os recibos de devolução do apartamento e devolvi as chaves, fui andando a pé por Santo Amaro pra voltar pra cá, parei num café, comi um salgado e tomei um chá gelado. Era mais ou menos meio dia e meia. Andei um bom pedaço a pé até encontrar onde era o ponto de ônibus correto. O tempo deu várias voltas em si mesmo, aquelas ruas são ruas que eu conheço desde criança, ali perto é o teatro onde eu dancei quando estudava ballet, a escola onde a minha mãe estudou quando criança, o pronto-socorro onde um grande amigo meu velou a mãe.

Quando eu ia atravessar a avenida, finalmente perto do ponto de ônibus, pensei comigo mesma "isso aqui está perigoso, muito propício a atropelamentos".

Algum de vocês já foi atropelado? Eu já.

Um atropelamento é uma coisa curiosa. Você está atravessando a rua, você acabou de olhar pra verificar se vem vindo algum carro, se pode atravessar e de repente, do nada, tem um carro em cima de você.
Um carro é um carro, feito de aço, move-se a uma velocidade muito superior a de um ser humano atravessando a rua, e ainda por cima, em um atropelamento, vem de encontro a você.

Eu fui atropelada de forma absolutamente espetacular há quase cinco anos. Foi em 1999 ou 2000, eu não me lembro bem. Era inverno, eu vestia uma calça comprida, botas e um sobretudo lindo que ainda tenho. Fui atravessar a avenida principal aqui do bairro, não tinha nenhum carro vindo, eu atravessei com toda a calma. Um carro virou uma esquina, bem em cima de mim.

De repente, do nada, tinha um carro em cima de mim.

Esses eventos acontecem em frações de segundos que parecem uma eternidade.

De repente, tinha um carro em cima de mim.

Eu me lembro de ter entendido que tinha um carro batendo em mim, relaxei o corpo todo, deixei o carro vencer. Era um carro. Eu sou apenas uma pessoa, músculos, ossos. Relaxei. O carro esbarrou em mim, eu caí sobre o capô, o carro parou, eu deslizei sobre o capô até o chão. O carro estava parado, o motorista freou.

Quando uma pessoa percebe que vai atropelar outra pessoa, pisa no freio com toda a força que possui.

O carro parou. Eu deslizei sobre o capô até o chão e esperei. Nada. Eu me levantei devagar, o motorista estava fora do carro, parado ao meu lado, pálido. Eu olhei pra ele e disse sorrindo "Tome mais cuidado, você pode matar alguém."

Eu não tive um arranhão.

Hoje eu lembrei disso não por causa do cruzamento perigoso ali daquela avenida que eu atravessei com calma e segurança, mas porque, alguns metros e minutos depois, uma moça foi atropelada.

Eu já estava no ponto de ônibus quando duas senhoras, em visível estado de choque, pararam ao meu lado comentando. Eu olhei e vi a moça caída, cercada de uma meia dúzia de pessoas chocadas. Naquele momento eu pensei "não sei o que posso fazer, mas eu vou lá ajudar" e lembrei de uma coisa que o Alê escreveu uma vez sobre ajudar pessoas em acidentes.

Eu estava calma, eu sabia o que devia e não devia ser feito. Eu fui lá.

O motorista do carro estava parado ao lado da moça, totalmente chocado. Eu perguntei pra ele se já tinha chamado o socorro, ele disse que sim. Eu perguntei há quanto tempo, ele disse que há uns cinco minutos. Então eu me abaixei do lado da moça e conversei com ela. Perguntei-lhe o nome - Socorro - ela respondeu. E eu falei com calma que ela não tivesse medo, não ficasse nervosa, que ela não tinha nada sério porque ela estava ali acordada, conversando comigo, se fosse sério estaria inconsciente, que já tinham chamado a emergência, que eles estariam ali logo.

Ela sorriu pra mim, visivelmente aliviada. Ninguém tinha pensado em falar com ela.

Cinco minutos depois, os bombeiros chegaram. Com uma presteza de dar inveja a filme americano, mediram o pulso da moça, checaram as pupilas, colocaram um colar ortopédico nela, entalaram a perna da moça. Ela tinha fraturado a tíbia e o perônio, quase fratura exposta.

Assim que terminaram, eu fui pegar o meu ônibus, que por sinal, chegava ali no ponto naquele minuto.

Eu já fui atropelada na minha vida, mas não sofri nem um arranhão. Não tinha ninguém pra me dizer que tudo ia ficar bem, mas hoje, eu estava ali, pra dizer para aquela moça chamada Socorro que tudo ia ficar bem. Por mais difícil que tenha sido o resto do meu dia, não foi tão difícil.

Eu já fui atropelada na minha vida, mas não sofri nem um arranhão.

MadTeaParty passa por cima.

(...)

O grande segredo, no entanto, sobre a menstruação
foi revelado no terceiro colegial por uma grande
professora de Literatura que disse que a dor da
menstruação era gostosa.

É verdade, pessoal.

Menstruar é bom, dá uma dor gostosa, os peitos
maiores são a maior diversão e todo mundo pode
perdoar seus chiliques. É só pedir para quem
trabalha com você riscar no calendário de mesa
os dias do terror.

E depois, é só curtir seus cinco dias de poder.

Dançar com as espinhas, ter dor de cabeça,
chorar no ônibus e no meio da rua, sentir o
mundo todo pulsando num velório secreto
dentro da sua barriga.

Cinco dias de poder.

Anunciados por uma bandeira vermelha.

desceu no Nove de Copas

O taxista de Collor

Não voltamos ao início dos anos 90. Não voltamos a nada. Entro no táxi, digo, carruagem que leva barnabés para lá e para cá, porque estou atrasado. Nada mais justifica tamanha imprudência, mas um mujique parece estar sempre atrasado. Calor, chuva, poeira que sobe das ruas. A janela não abre. Não chegam a ser milhares as opções de conversa com um taxista, é pena que abram o bico. É pena e bico.
- Como ficou bonito esse novo Astra.
- ...
- É que eles capricharam, meu cunhado comprou e não se arrependeu.
- ...
Não tenho o hábito de mandar as pessoas calarem a boca. Não assim, tão gratuitamente. Mas minha vida anda meio complicada, sabe: meu patrão não quer que eu fique muito tempo longe da propriedade, e ao mesmo tempo não tenho tempo para ficar por lá. Conversemos sobre algo, por favor.
- Eu não gostei desse Golf.
- ...
- Mas como ficou bonito esse novo Renault!
- ...
Ah, há sempre os comentários sobre a moça que atravessa a rua dentro de calças apertadas ou sobre o veadinho que dá seus pulinhos sobre a faixa de pedestres. Ou sobre a maldita casa que o cidadão está construindo na praia. Sobre os sinais fechados, sobre a desaceleração em plena ladeira, nunca. Meu tempo certamente vale menos que os cinqüenta copeques que o féladaputa pretende ganhar.
- Olha, pra comprar um carro hoje em dia tem que pesquisar bastante.
- ...
- Eu mesmo já pensei em instalar um sistema a gás, mas veja bem, isso depende muito do tamanho do carro, e às vezes eu levo material de construção para a praia...
- ...
Ótimo. Eu precisava muito saber sobre isso, agora acho que minha conta bancária será menos azeda. Gosto muito de saber as últimas notícias sobre a sogra do taxista, aquela jararaca. Começo a gostar pra valer da sogra do taxista, uma mulher educada e simpática. Quando maior o incômodo, melhor.
- Deixei a amante em casa e fui levar a sogra para o aeroporto.
- ...
- Foi quando vi um sapato vermelho ao lado do banco. Falei alguma coisa sobre o tempo, disfarcei e joguei o sapato pela janela, ainda vi o sapato rolando no asfalto.
- ...
- O sapato era da velha, rapaz. Ela ficou procuranto o sapato e eu fui tomar querosene para esquentar.
Que beleza. Em casa tenho três filmes para ver, costumo alugar filmes, pagar por isso e não assisti-los. Mas como é bom saber tudo sobre o sapato da sogra do taxista. Não costumo reler livros assim tão rapidamente, preciso de pelo menos dois anos para voltar a folheá-los. É o que faço no momento com "Viagem ao Fim da Noite", de Céline, quero voltar rapidamente a lê-lo. O taxista deve conhecê-lo. Deve tê-lo dissecado, já que é dado à leitura de jornais populares. Ah, se o mujique respondesse a todos os taxistas, esses verdadeiros gênios do transporte e da vida!
- Agora eu quero comprar uma caminhonete, sabe, para levar madeira para a praia, quero construir um casa bem grande.
- Tenho três filmes em casa para ver. Uma comédia, um drama e um filme de guerra.
- Falam mal da Fiat, mas um tio meu só compra Fiat. De uns tempos para cá estão muito bons os carros da Fiat, não sei por que falam tão mal.
- Estou relendo "Viagem do Fim da Noite", aquele livro pra lá de otimista de Louis-Ferdinand Céline.
- Sabe o que o cara me respondeu quando parei na borracharia, no meio de estrada? "Você está de Chevrolet, cara, você está de Chevrolet. Não tem problema não". E eu nunca tive problemas.
- Meu emprego é uma bosta. Não tenho prazer em ir até lá.
- Como ficou bonito esse novo Astra!
- Minha mãe está doente, meu primo fará um transplante de fígado.
- Ah, eu arranjo desculpa para não dar carona para a sogra. Sabe qual a gorjeta nessas boates e casas de massagem? Pagam até vinte rublos, cara, vinte rublos. É a diária da minha carruagem.
- Penso no quanto Sartre conseguiu ser onanista. Já conheceu mulheres que gostam de Sartre? São ou não chatas?
- A traseira desse Mégane é que é meio estranha.
- Tenho certeza de uma coisa: sei quem é a mulher da minha vida, falei isso para ela, sei que nunca mais falarei isso para nenhuma outra mulher, minha vida pode melhorar até o fim dos meus dias, mas não tenho garantia nenhuma. Posso ser salvo, posso me perder. Tenho as mãos amarradas pelo destino.
- Olha só quanto carro importado na rua. Tudo por causa do Collor. Ele disse certo, só tinha carroça nesse país! E ainda falam mal do Collor.
- Olhe para a câmara da verdade e responda: John Lennon ou Mark Chapman?
- O que eu acho mesmo é que deviam contratar uns jogadores bons, esses não estão dando para a saída. Eu é que não vou mais ao estádio, não...
Custo da corrida: oito rublos e alguns copeques. Dou nove rublos e ainda desejo boa sorte, sem obter a desnecessária contrapartida.


Josef Virgiliovitch é O mujique

Como Fazer Filhos e Desvirtuar Velhinhos

"Brasil Segundo" tem 13 letras; "França Invicta", idem. A lista é infinita e vulgar, não prosseguirei. Um amigo crê no número cabalístico, e me informou as olimpíadas terem sua cerimônia de abertura numa sexta-feira treze. Aguardo feitos terríveis.


Provérbios entreguistas

O pior cego é o que não fala inglês.

dies iræ

27.7.04

Uma das mais invasivas e absolutamente chatas manifestações do Big Brother corporativo são os serviços de telemarketing. Eles te ligam de manhã, nos finais de semana, no celular, falam no gerúndio sem parar, nunca aceitam um não como resposta e nos oferecem os mais dispensáveis produtos de nosso tempo. Depois de estudar o comportamento e os manuais profissionais dessas criaturas, FakerFakir chegou a uma síntese dos dez modos mais eficazes [leia-se cruéis] de se livrar da praga. Experimente sem dó.

1 – Simule uma masturbação
Assim que o atendente terminar sua primeira frase diga coisas como: "- Isso, hummm, continua, vai, não pára não. Tô quase esporrando. Seu puto! Ohhhhhhhh".

2 – Imite alguém famoso
Uma das primeiras perguntas dos serviços de telemarketing é "Com quem estou falando?". Responda na hora: "- Sílvio Santos, rarái!". Ou imite alguém famoso de sua preferência e tente levar a conversa normalmente. Funciona sempre. Além disso, seu número será removido da famigerada lista de “clientes”.

3 – Finja-se de gago
Todas as empresas de telemarketing estabelecem claras metas na relação clientes/hora. Se um atendente fica muito abaixo desse objetivo, ele é tido como improdutivo. Logo perde o emprego. Use isso a seu favor. Logo em seu primeiro comentário dê início a uma gagueira insuportável, capaz de demorar mais de um minuto para terminar um simples “muito obrigado”. Em dois tempos o atendente desliga.

4 – Coloque a mãe no meio
Serviços de telemarketing invariavelmente oferecem alguma coisa para você, cliente potencial. Sua única e primeira resposta à oferta deve ser: “Tá bem, eu quero, mas só se sua mãe vier junto”.

5 – Chá de cadeira
Diga na primeira oportunidade: "- Espere um minutinho, sim?" Deixe o telefone de lado e aproveite para fumar um cigarrinho, defecar, fazer um chá. De minuto em minuto convém voltar ao gancho e dizer: "- Só mais um minutinho, talquei?".

6 – Finja-se de surdo
Qualquer coisa que lhe for dita ao telefone responda com um sonoro: “O quê?!”, ou “Como?!”, ou “Não escutei...”. Nunca responda outra coisa. Um dos mais eficazes métodos.

7 – Responder tudo na língua do pê
Nenhum manual de atendentes de telemarketing diz o que fazer quando o “cliente” só se comunica na língua do pê. Nossos interlocutores desistem já na segunda frase do diálogo

8 – Conte a história da sua vida
Dê uma de carente extremo. Qualquer pergunta que o atendente fizer deve ser respondida com desabafos, casos longos e monótonos de sua vida e com confissões de carência. “Que bom que você ligou... há tempos que eu só conversava com meus periquitos...”. Pergunte se o atendente não quer ser seu melhor amigo. Peça para ele jurar que a partir de hoje ele vai te ligar todos os dias. Nunca mais ele liga.

9 – Peça socorro
Interrompa o atendente da cara e diga que você está sendo seqüestrado, que sua casa está em chamas e que seu filho está tentando o suicídio. Peça desesperadamente para o atendente chamar a polícia e os bombeiros e dê o seguinte endereço: Av. Paulista, 1111 [é a sede do Citibank]. Desligue o telefone em seguida.

10 – Aja como em um trote
Duvide de que se trata de um telefonema real. Diga coisas como: “- Ah, Meio-Quilo, pára de sacanagem! Eu sei que é trote!”. Insista fanaticamente nessa idéia até que o atendente desista de você.


FakerFakir: em nome do Pai, do Filho e do Espírito de Porco

Colcha de Retalhos
 
Todo o amor que houver nessa vida
(Cazuza/Frejat)


Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia


Meu amor tem gosto de bala de hortelã. Meu príncipe é velho o suficiente para ser criança, mas sabe chamar o ônibus, o garçom e pedir a conta do restaurante. Ele é criança bastante pra me olhar nos olhos quando eu choro, para não ter medo. Ele chega em um lugar e logo já vai fazendo amizade com todo mundo, do porteiro ao garçom, do cachorro ao papagaio...

Meu príncipe não tem um cavalo branco, mas ele corre comigo na chuva pra pegar o ônibus, vem me buscar em casa e abre a porta do carro, só pra fazer graça. Ele me trás flores, mesmo não entendendo o porquê, apenas para ver meu sorriso, apenas pra me deixar feliz.

Ele dança, ele canta, ele toca o violão pra mim. Me escreve poemas e músicas, diz que me ama, me fala que eu sou perfeita, pra ele. Ele me olha com orgulho e admiração, me pede em casamento todo dia. Ele é alto.

E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno anti-monotonia


Ele tem olhos verdes, mesmo que sejam castanhos. Meu corpo se ajusta perfeitamente no dele, durmo tranqüila em seu ombro, confortável. Meu príncipe é macio, e as vezes ele até dorme com o copo na mão e derruba tudo, só pq não queria me acordar. Ele nunca me sufoca. Este homem tem seu espaço, gosta de estar só, e entende que eu também gosto. Mesmo que apenas estarmos juntos seja bom, eu lendo, ele trabalhando, eu trabalhando ele vendo tv, apenas essa proximidade silenciosa já é reconfortante. Conversamos sobre como foram nossos dias.

Ele gosta de gatos, faz guerra de almofadas comigo, fica bêbado e sóbrio ao meu lado. Ele sorri, e é adoravelmente mal-humorado. Ele faz manha quando se machuca, parece uma criança, mas me mima quando eu estou doente. Eu sei que eu posso contar com ele, e ele sabe que pode contar comigo.

E se eu achar a sua fonte escondida
Te alcanço em cheio o mel e a ferida
E o corpo inteiro feito um furacão
Boca, nuca, mão, e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria


Ele é meio doido, amalucado. A gente cozinha e lava os pratos juntos. Meu príncipe sabe que eu sou doida, ele nem sempre entende as minhas loucuras, mas sabe que tudo que ele pode fazer e que eu preciso é que ele me dê um pouco de colo, me deixe chorar no seu ombro e me abrace bem forte. Ele adora que eu faça massagem em seus pés, dorme tranqüilo no meu colo. Tem cabelos macios que é pra eu ficar horas fazendo cafuné.

Ele sabe que quando eu viro de costas pra ele, é pra que ele me abrace, me proteja. Eu me escondo nos seus braços quando tenho medo, e ele se aninha nos meus quando está triste. Eu admiro a sua inteligência, a sua simplicidade, o seu bom humor, ele é especial, pra mim. Meu príncipe precisa de mim, tanto quanto eu preciso dele. Adoro quando ele é bobo.

Ele é cheiroso, um tantinho tarado, a gente se enrosca e se completa, ele me carrega no colo. Quero brigar e fazer as pazes com ele. Meu príncipe sabe que eu adoro o vento, o mar, a chuva. Sabe que eu tenho medo de trovão e das ondas fortes, ele sabe que eu adoro filmes de terror ruins e detesto acordar cedo.

Meus dedinhos e os dele se conhecem.

O Sorriso do Gato de Alice



Coisas que voce pode ver na Nova Zelandia:

Carros com volantes do lado direito.
No minimo dois caixas eletronico por quadra.
Muitos chineses.
Carros estranhos ao extremo.
Lixos com cinzeiros.
Ruas com "farol" para pedestres (acompanhado de um aviso sonoro), e as ruas que nao contam com "farol para pedetres" contam com a faixa de pedestres igual a Brasileira, mas aqui vc poe o peh na rua e o transito para.
Comidas ultra apimentadas e acompanhadas de abobora.
Muitas comidas enlatadas (macarrao,feijao,verduras...)
O frio, intenso, acompanhado de um vento muito forte.
Cemiterio, totalmente sinistro.
Muitas velas.
Ah muitos chineses (sao tantos que tenho que colocar de novo).
Muita propaganda de rugbi (o futebol deles)
Cigarros a 12 dolares o box. =/
Ponto de onibus com aviso eletronico de horario.
Muitas casas de massagem, cassinos, e cabares.
Sucos com 50 frutas misturadas, que formam cores e sabores horriveis.
Algumas ruas com tres maos para os carros.
Um dolar uma maca.
Pessoas educadas(nem todas).
Lindas paisagens.
Um pais de primeiro mundo, isso vc vera.
Por hora acho que soh.


Coisas que vc nao vera na Nova Zelandia:

Cachorro nas ruas(nao vi nenhum ainda)
Sujeira dos cachorros muito menos, nem sinal.
Namorados se beijando.
Acidentes de transito.
Policia.
Muita gente correndo no frio. com roupas que praticamente escondem o sexo e nada mais.
Preconceito.
Pessoas brigando.
Pessoas consumindo bebidas alcoolicas na rua (e proibido).
Comercio paralelo.
ah que me lembre soh...
Mas ainda assim vc vera muitos chineses.

Desculpe se tiver alguns erros de portugues e falta de acentuacao, aqui eh diferente o teclado.

Marcus in New Zealand

26.7.04

Cursos e palestras


Estava organizando uns cursos para empregadas domésticas.
Comecei aqui em casa com uma turma de 5 prendas . No final do curso elas ganharão um certificado de doméstica GOLD. Se você encontrar alguma que precise dos seguintes cursos, é só mandar pra cá.

Cursos & Palestras:

- Como ir à padaria e trazer o troco corretamente.

- A diferença entre Toalha de Mesa e Lençol (módulo avançado)

- Como arrumar a casa sem mudar os móveis do lugar.

- Aprenda lavar roupa sem quebrar a máquina de lavar ( Módulo Basic, Plus e advanced)

- Pano de prato não é uma toalha descartável.
* Curso seguido da palestra:
- O mito do eterno retorno do pano de prato para sua gaveta.

- Água sanitária na roupa colorida dos outros, não é refresco.

- Aprenda lavar copo de liquidificador sem quebrá-lo.

- Aprendendo economizar na conta telefônica.
* Curso seguido da palestra:
- Maranhão não fica no Estado de São Paulo!

- Palestra: Meias Gêmeas ou Toda meia tem seu par!

- Como evitar a fuga da lata de óleo, do arroz e do feijão.

- Como diferenciar cueca de calcinha.

- Palestra: Nem só de pó vive um móvel.

Bom. esses são os cursos e palestras ministrados por mim de segunda a sexta. Por ter módulos avançados, tem a duração de 6 meses com prova final para o recebimento do certificado. Se você estiver passando por um desses problemas com sua empregada, invista nesse curso, porque empregada é tudo igual, só muda de vassoura.

contactar Casos & Acasos no horário comercial

25.7.04

A Estória do Mundo Segundo Brooke Shields: Parte 1

(publicado originalmente na Spam Zine, milhões de anos atrás)Não é raro nos perguntarmos sobre a origem de determinadas coisas. Queremos sempre saber de onde veio ou para onde vai, o que está fazendo aqui e cadê os seus "adecumentos". Assim, nada mais certo que mantermos um registro sobre os fatos e eventos que ocorreram em um período, geralmente puxando a sardinha para o nosso lado. Shakespeare já disse que a vida é algo cheio de som e fúria, significando nada, e um engraçadinho já completou que, além disso, "... é também dirigida pelo Sylvester Stallone". Seja como for, a história tem grande importância para a humanidade, pois conhecendo a história, os erros não se repetem. Claro que a popularidade do Maluf e a releição do FHC estão aí para nos contradizer, mas teoricamente a coisa funciona. Sendo assim, nada mais importante que um registro sério e correto de nosso passado.O Spam Zine, consciente de sua função social, publica a partir de agora sua breve história do mundo, de forma que, com uma simples consulta, o jovem de possa deixar de estudar para a prova de amanhã e repetir a série por ter sido vagabundo e acreditado na gente. Se quiser encardenar os capítulos, venderemos uma pasta com tres versões ao final da coleção: a) com a cara do Ricardo Sabbag fazendo beicinho atrás de um vidro, b) com a do Inagaki todo vestido de branco em uma tempestade de neve e enfrentando um urso polar, ou c) uma minha usando cuecas de bolinha e chinelos do Garfield, por apenas 20 'real', Quem não pagar receberá as três, impiedosamente.Capítulo 1: A Pré-Estória (é ESTÓRIA e não HISTÓRIA, mesmo, viu?)Cientistas de rigor e seriedade fazem estudos, medem a idade por carbono e examinam múmias na neve (junto com a múmia de um urso polar) para avaliar como foram os primeiros passos da humanidade. Como a gente não é sério e embolsou a verba, vamos fazer umas pequenas aproximações para justificar os investimentos que o Guilherme Fontes andou fazendo.Pois bem, alguns dizem que o homem descende de primatas, o que segundo "Planet of Apes Magazine" é um absurdo ofensivo. Na realidade, somos golfinhos que não deram certo e que nunca aprenderam a curtir a vida de verdade, o que explicaria por que nós paulistas somos farofeiros e por que aqueles seriados péssimos, FLIPPER e Homem do Fundo do Mar faziam sucesso até o início da década de oitenta, numa espécie de arquétipo marinho.De qualquer forma, saímos do mar, sem entender muito bem o que raios tínhamos ido fazer lá em primeiro lugar, e subimos nas árvores. Como não havia gilete descartável naquela época e depilação à cera quente dependia do fogo (ainda não descoberto), ficava fácil parecermos macacos.Uma outra teoria diz que a humanidade começou em Portugal, o que explicaria não só os pêlos, como também as canetas encontradas proximas de onde eram orelhas em algumas escavações.A vida era muito difícil, cheia de perigos como leões ameaçando roubar todo o fruto de sua caça, como uma espécie de imposto de renda natureba, mamutes atravancando o trânsito e dinossauros perseguindo todo mundo.Os dinossauros, como todos sabem, eram um perigo tremendo para os homens das cavernas. Eles eram tão perigosos que, apesar de extintos (ou "instintos" segundo a especialista em pensamento primitivo Luciana Chimenez, Gimenez, algo assim), continuavam perigosos. Outro perigo da época eram os vulcões em atividade, que sempre explodiam com os vales, como todos os filmes de hollywood nos ensinam tão bem. Segundo os mesmos filmes, os dinossauros eram de massinha ou lagartos atuais fantasiados.O Tacape era a moeda corrente. Em um restaurante, por exemplo, uma coxa de tiranossauro valia um tacape; asas de pterodátilos na manteiga, dois tacapes; sopa de tromba de mamute, 3 tacapes; acertar a garçonete com o tacape 4 vezes e levá-la semi-nua e desmaiadinha para sua aconchegante caverna... não tinha preço.O Rock começou nesta época, mas como faltavam bons letristas e as gravadoras estavam com um prazo de uns milhõesinhos de anos para entrega dos cd's, a coisa desandou. O barulho do rock era causado por alguns desabamentos de rocha e pedra, mas as pessoas saíam menos machucadas do que quando vão em shows com a polícia comparecendo.Era comum as pessoas sentarem-se à volta de fogueiras para contar e ouvir estórias. Era uma espécie de ancestral das novelas e muito pouca coisa mudou, com a diferença de que, pelo menos na época, os argumentos eram um pouco mais elaborados e originais.A descoberta da roda revolucionou a sociedade de então, pois permitia idas aos shopping centers, esmerilhar com as gatinhas e claro, quando sobrava um tempinho, carregar mais alimentos, madeira, etc. O fogo também foi uma invenção quente da época. Fazia o maior sucesso e agitava os embalos. Gerou a primeira piada (a piadinha do Tchu, que não sera contada aqui), mas em compensação, iluminava as cavernas à noite, mostrando a cara dos nossos tatara-tatara-tatara-avôs para as nossas tatara-tatara-tatara-avós, o que quase nos levou à extinção (ou "instinção", para vocês sabem quem), porque, convenhamos, eles eram feios de doer.Os primeiros animais foram domesticados e foram colocados para nos governar. A agricultura surgiu quando um ancestral cuspiu um caroço de laranja na terra úmida e percebeu que ali nascia, tempos depois, uma planta. Isso prova que além de espertos, nossos ancestrais, que os meus hábitos de etiqueta em reuniões e festas de 15 anos não podem ser tão errados assim.O homem fixou-se na terra e progrediu bastante. Aprendeu a usar seu cérebro para imaginar armadilhas e estratégias; suas mãos hábeis para construir lanças e armas; e, claro, pernas para sair correndo quando tudo aquilo desse errado. Além disso, ia usando de seus eficazes instintos (ou "extintos" para a mãe de filho de roqueiro do ano) para não se meter em roubadas muito grandes, como saraus de poesias neolíticas.É verdade que o homem primitivo era um pouco marginal, sempre pintando aquelas pichações em cavernas, um horror (espero que as apaguem um dia), mas acabou desenvolvendo, com o tempo a escrita. É aí que saímos da pré-estória para a estória, propriamente dita!Aguardem o Capítulo 2: As Primeiras Civilizações.

Curso de História nO Chinês Feliz

24.7.04

O Gordão

Queria filmar Moby Dick com um gordão no lugar da baleia. Ia ser o filme a sério, só que com um gordão nadando pelado todo contente. E nem ia ser um gordão do tamanho do navio, ia ser um gordão de tamanho normal, nadando de costas.
O roteiro ia ser exatamente o mesmo, só que na hora que Stubb dissesse, “Você não pode escapar! Assopre e divida seu esguicho, ó baleia!”, ia dar pra ouvir o gordão dizendo baixinho, “Ah, pára com isso. Não estou tão gordo assim”. Depois ele apoiava os pés no casco para dar impulso e saía nadando de novo, todo contente, esguichando água pela boca como se fosse um chafariz enquanto Ahab estremece de ódio sublime.
Depois Ahab, com o arpão na mão, diz: “Olá, olá! De vossos extremos limites, precipitai-vos para cá, ó vós, audazes vagas de toda a minha vida passada, e passai por cima deste avolumado escarcéu da minha morte! Em direção a ti eu rolo, a ti, baleia, que tudo destróis mas que nada conquistas!” Talvez nesse ponto se pudesse ouvir o gordão resmungando, “Não é possível, só podem estar de zoação comigo”.
É ferido pelo arpão, mas a corda prende Ahab, puxa Ahab para o mar e o deixa amarrado ao gordo, que é ouvido dizendo “Putz!...” antes de afundar abraçado pelo algoz.
Queria também dizer que o melhor nome de banda do mundo é I Want to Fuck that Girl from No Doubt. Ah, já disse.

Alexandre Soares Silva
 

Ao pé da Bíblia
 
Recentemente, uma célebre animadora de rádio dos EUA afirmou que a homossexualidade era uma perversão:  É o que diz a Bíblia no livro do Levítico, capítulo 18, versículo 22: " Tu não  te deitarás com um homem como te deitarias com uma  mulher: seria uma abominação." A Bíblia refere-se assim à questão. Ponto final, afirmou ela.

Alguns  dias mais tarde, um ouvinte dirigiu-lhe uma carta aberta que dizia:  "Obrigado por colocar tanto fervor na educação das pessoas pela Lei de Deus. Aprendo muito ouvindo o  seu programa e procuro que as pessoas à minha volta a escutem também. No entanto, eu preciso de alguns conselhos quanto a outras leis bíblicas. Por exemplo, eu  gostaria de vender a minha filha como escrava, tal como nos é indicado no Livro do Êxodo, capítulo 21, versículo 7. Na sua opinião, qual seria o melhor preço?  O  Levítico também, no capítulo 25, versículo 44, ensina que posso possuir escravos, homens ou mulheres, na condição de que eles sejam comprados em nações   vizinhas. Um amigo meu afirma que  isto é aplicável aos mexicanos, mas não aos  canadenses. Poderia a senhora esclarecer-me sobre este ponto? Por  que é que eu não posso possuir escravos canadenses?  Tenho um vizinho que trabalha aos sábados. O Livro do Êxodo, capítulo 25, versículo 2, diz claramente que ele deve  ser condenado à morte. Sou obrigado a matá-lo eu mesmo?  Poderia a senhora tranqüilizar-me de alguma forma neste tipo de situação constrangedora? Outra  coisa: o Levítico, capítulo 21, versículo 18, diz que não podemos aproximar-nos do altar de Deus se tivermos problemas de visão. Eu preciso de óculos para ler. A minha acuidade visual  teria de ser de 100%?  Seria possível rever esta  exigência no sentido de baixarem o limite?  Um último conselho. O meu tio não respeita o que diz o  Levítico, capítulo 19, versículo 19, plantando dois tipos de culturas diferentes no mesmo campo, da mesma forma  que a sua esposa usa roupas feitas de diferentes tecidos: algodão e poliéster. Além disso, ele passa os seus dias a  maldizer e a blasfemar. Será necessário ir até o fim do processo embaraçoso que é reunir todos os habitantes da  aldeia para lapidar o meu tio e a minha tia, como  prescrito no Levítico, capítulo 24, versículos 10 a 16? Não se  poderia antes queimá-los vivos após uma simples reunião familiar privada, como se faz com aqueles que dormem com parentes próximos, tal como aparece indicado no livro  sagrado, capítulo 20, versículo 14? Confio  plenamente na sua ajuda."
 
-- (por e-mail)

Assim está (re)escrito em Prosa Caotica

Estou tentando me vender para o sistema, mas ele se recusa a me comprar.

escondido na A Caverna da Ogra

Drops da Fal

Ela acordou de novo, respirou fundo de novo, e de novo trocou a areia do gato, tomou banho, passou maquiagem, botou roupa bonita. Levou a menina na escola outra vez, tomou café na máquina do primeiro andar de novo, e foi produtiva e positiva o dia todinho, como sempre. Hum, e feliz. Ela foi feliz também, claro, cada hora do dia. Disciplina é tudo nessa vida.
*
Tenho lembrado de cada coisa esquisita, das suas evasivas, do seu sorriso de menino, do meu desencanto, de tudo o que não fomos e das veias da sua mão.
*
Não tenho medalhas no peito, não recebo pensão especial do governo, meu olho de vidro e minha perna de pau são imperceptíveis e ninguém faz continência quando eu passo. Minha identidade secreta de sobrevivente da batalha permanece desconhecida do grande público.
*
Ela suspira na frente do espelho enquanto passa creme para a área dos olhos e constata que está mesmo muito velha para amigos "sinceros".
*
Ele tinha cabelos compridos, olhos cor-de-mel, mãos bem magrinhas, um certo quê de hippie, o que, nos anos 80, era de mal gosto, uma família complicada e amigos divertidos, com quem desfilava pelos corredores. Eu quase morria, e adorava quase morrer, adorava aquele sofrimento, adorava ser invisível, adora ter surtos de choro no meio da aula de geografia. Ah, ter 15 anos e ser babaca sem hesitação ou escrúpulos.
*
Faz tanto tempo assim que eu não amo você? Parece que foi ontem que eu me obrigava a esquecer sua voz, sua gargalhada, seu cheiro e seus encantos. Putz. Foi ontem.

¡Drops da Fal!, um clássico

23.7.04

Boa tarde... oi genten...
Eu não tenho mesmo palavra. Na segunda, fiz um acordo com a minha nutricionista de que não comeria doce por 1 semana. Se eu conseguisse essa façanha, ela liberaria 2 vezes por semana. Eu até estava indo bem, mas devido a coisinhas que aconteceram hoje cedo, acabei de fazer e comer 1 lata de brigadeiro... Estou um pouco triste, mas me digam se exixte algo melhor??? Ai ai.

Pretensiosa

22.7.04

Eu desmarquei a opção messages sent to my communities e all other messages do Orkut, ou seja, eu não recebo mensagens das comunidades e nem de gente chata das comunidades. Era uma verdadeira merda ter mais de 50 mensagens por dia, 99,9% de inutilidades, pessoas que entram nas comunidades e mandam mensagens assim:'Oiiii sou nova aqui, espero fazer amigos'
¬¬
E eu recebia mais mensagens da comunidade Caverna do Dragão. Todos os dias, mais de três pessoas enviavam mensagem perguntando/contando o final do desenho.O mundo inteiro sabe o/os final/finais do desenho e toda hora aparecia um querendo dizer "eu-sei-você-não-sabe" e entupia minha caixa. Como messages sent to friends of friends ainda continua firme e forte, às vezes eu recebo mensagens de amigos idiotas e babacas dos meus amigos, enviar mensagem sobre uma comunidade bacana, tudo bem, eu até entrei em várias por esse meio, mas mandar mensagem procurando pessoas não dá né meu benhê. Saiba que sua procura desesperada por seu amor, seu amigo, seu tio, seu pai, seu primo, morre em mim. Se você nunca achá-lo, metade da culpa é minha e eu fico imensamente feliz por isso.

Abscesso

Acidentes

A Sara está a recuperar, disse-me o N. Fiquei tão feliz por sabê-lo, por ela e pelos dois filhos dela - a todos já bem basta a perda do marido e pai no malfadado acidente de automóvel.

O acidente da Sara e família não me saía da cabeça, até sábado passado. Cada vez que me sentava ao volante, lembrava-me dela. Deles. E conduzia com cuidado redobrado.

Até que, no sábado passado, por volta das cinco da tarde, ia eu na auto-estrada Cascais-Lisboa, quase a chegar à saída para Oeiras, na faixa do meio, a cerca de 120 km/hora, quando o pneu de trás (lado direito) explodiu. Literalmente. Andei aos encontrões ao separador central durante (o que me pareceu ser) uma eternidade, para voltar a parar na mesma faixa, quase na mesma posição.

Não bati em mais ninguém, nem ninguém bateu em mim. O carro ficou sem frente, o radiador no meio da estrada. Vale-me o seguro contra todos. Não há ferimentos a registar - a não ser uns quantos altos e nódoas negras, e muitas, muitas dores musculares. A alma também se queixa um pouco dos estragos infligidos pelo medo (sentido a posteriori), mas isso são contas doutro rosário.

Desde sábado, o meu acidente não me sai da cabeça. E, como é costume entre os mortais, depois de situações de perigo efectivo, revejo alucinantemente todas as minhas prioridades. Há males que vêm por bem.

Viver todos os dias cansa

21.7.04

Confissões do Serjones pirralho

Não sei se esta merda vai dar uma série, mas vamulá. Quando eu era muito pequeno, primeira série, meus pais me entregaram aos cuidados de uma professora pra me levar todos os dias à aula. Eles não podiam me levar, e essa mulher morava perto de casa. Não sabiam, mas a vaca me fazia carregar os cadernos de toda a turma, que ela trazia pra corrigir. Uns 40 cadernos. Até pegar o ônibus para a escola, tinha uma ladeira fudida, e ela me repetia "respira pelo nariz e solta pela boca!" Te juro por Deus, pra carregar o peso daqueles cadernos eu respirava até pelo cu. Mais: aquela professora tinha me recebido na primeira aula com uma saudação inesquecível: dois tapas na cara, depois de me encurralar na parede por uma safadeza que eu não tinha cometido. Mas o pior era ouvir a filha dela cantando, enquanto eu esperava o momento de seguir carregando os cadernos com a velha: "Eu amo a letra S/por ela tenho paixão/com ela escrevo Sergio/Serginho do meu coração".
***
Quando eu era molequinho, gostava de espiar a empregada tomando banho. Ficava de tocaia.
Quando ouvia o barulho do chuveiro, colava o olho no buraco da fechadura. Ver aquela buceta peluda fazia meu coração disparar feito um cavalo árabe. Era um banheiro de empregada, pequeno como todos eles, e a moça apoiava o pé na privada para ensaboar a coxa e a xana. Eu ficava paralisado. Até que um dia, com meu olho grudado ali, sabe o que eu vejo? Outro olho grudado ali. Só que do lado de dentro. Eu não soube e nunca vou saber como ela descobriu. Nunca fiz nenhum barulhinho! Só me lembro do olho me olhando e da pergunta que veio: "o que cê tá fazendo aí?" Naquela idade, não tive resposta. Nem era o caso de responder. Saí correndo e me escondi, adivinhando o esporro da minha mãe e do meu pai. O da minha mãe veio mesmo. Pesado. Meu pai só fez uma pergunta básica, pra cumprir tabela. Deve ter pensado "o moleque é macho". A empregada tinha um namorado japa lutador de karatê, e eu passei semanas com medo dele saber. Vou te contar. O susto foi tão grande que até hoje eu sonho com aquele olho me olhando. Com a buceta peluda, nunca sonhei. Tudo bem. Eu só não quero é sonhar com o japa do karatê.

catarro verde

Por que não posso falar mal dos cegos?

"Mas ele é cego!"

Sim, eu sei; por isso que não gosto dele. Não gosto de cegos, são um estorvo. Dizem que é maldade de minha parte, mas sigo com minhas piadas e insinuações maléficas -- não consigo respeitar um ser guiado por um cachorro, menos funcional que um cão bichento qualquer. Ojeriza; e proporcional tanto à sofisticação da alva bengala, quando à estupidez do motivo por que perderam a visão, ou à raça do animal.

"Mas ele é cego!"

Deficiente visual. Você não fala mal da amiga que engordou três quilos? Do vizinho que não faz a barba? Da conhecida que abortou? De qualquer outra mesquinharia? Prescindo de seus conselhos e admiração; deixe-me amolar meus cegos em paz; aproveite e fofoque a meu respeito pelo telefone...

Admito que falo mal dos cegos por capricho, que poderia falar mal de outras categorias, talvez mais perniciosas ou meritórias, e que nunca perdi um emprego devido a cotas para cegos -- quem me dera --, porém nada posso fazer, também é questão de costume.

Minha infância inteira foi defronte a uma associação de cegos. Havia também as senhoras em cadeiras de roda, mas elas me ofertavam doces. Os cegos só me davam trabalho. E um deles era alemão.

A cegueira é o mal típico da raça ariana. Não que haja mais cegos em nossa piscina genética que em qualquer outra, porém não há povo obstinado, cabeça-dura e pertinaz como o nosso. Não é uma boa combinação.

O alemão foi atropelado pelo menos duas vezes, uma à minha frente. Não aceitava ajuda, considerava-se uma mago da contagem e da audição. Era a piada do bairro. Fingia que não sabia, desprezava-nos. Deve ter morrido na terceira.

Mas se falo deste alemão, não é só por capricho ou costume, mas porque foi o desprezando que me converti num igual. Tudo que tenho devo a este cego, e portanto nada mais natural que continuar a agredi-lo anos após a sua passagem.

E se por isso me disserem mau caráter, com um rascunho de riso no canto da boca, dir-lhes-ei o que penso da bondade hodierna: nunca tantos amaram outros tantos por tão pouco. Churchill, traga meus charutos!

sinfonia em dies iræ

20.7.04

Mulheres

Madrugada, muito longe do meu mundo, assisti numa fita velha e de péssima definição "Esse estranho que nós amamos". Lembram desse filme? O Clint é um soldado, que, durante a Guerra Civil Americana é acolhido num colégio feminino, e escondido pelas mulheres do colégio. Quando ele ameaça a harmonia do grupo, ou melhor, não a harmonia, a dinâmica meio doente do grupo, elas o matam. A psicóloga e antropóloga que assistiu comigo me disse que funciona assim: se um elemento que exerce atração, mas traz algum tipo de discórdia entra num grupo só de homens, hipotética, figurativa ou literalmente, os homens vão se anulando, seja lá como for, até sobrar só um, que fica com o elemento pra ele. Se isso acontece num grupo só de mulheres, elas se unem, mesmo que se odeiem, e anulam, seja lá como for, o invasor. Passei boa parte da noite de olhos abertos na cama, pensando nisso.

Drops da Fal

19.7.04

Intimidade

2001:
Ele abre a porta do carro para ela:
- Milady.
Ela, toda lisonjeada, pisca pra ele, delicadamente entra no carro, e sussurra com doçura:
- Milord...


2004:
Eles descem a escada, ela na frente. Ele carinhosamente flerta:
- E esse bundão, heim!!!
Ela, toda lisonjeada, olha pra trás de canto de olho, pisca para ele, e afirma com doçura:
- É. Meu namorado...

acontece contigo e comigo

Meu editor imaginário sugeriu que eu escrevesse um livro sobre dieta. Tá na moda, ele disse, todo mundo quer saber de dietas, tem essa tal Dieta de South Beach, dieta da Idade Verdadeira, Dieta Disso, Dieta Daquilo, ele disse, e se você conseguir colocar algum detalhezinho esotérico, melhor ainda, ele disse, as pessoas gostam desses negócios esotéricos.

Eu até tenho um histórico com esses livros de saúde, desde que lancei "A Cura Através da Cabeçada na Parede". Na ocasião, as chamadas "entidades médicas" tentaram me prender. Felizmente, esses que se denominam "médicos" não conseguiram provar que a minha técnica não funcionava.

Mas, enfim, eu estava falando do meu livro de dieta. Seguindo a orientação do meu editor, decidi escrever "A Dieta da Porcelana". São sete dias se alimentando apenas de porcelana. Recomenda-se lavar a louça antes de comer.

O que falta agora é testar. Preciso de algum voluntário. De preferência, alguém que pareça um gnomo, que é pra dar esse ar esotérico que o meu editor pediu.

Ê Vida mais ou menos

15.7.04

se você é uma daquelas pessoas que quando vão ao cinema fazem "shhhhh" assim que acabam os trailers, logo na primeira letra do primeiro crédito que aparece na tela, saiba que eu odeio você. e se você é um daqueles que ficam falando o tempo inteiro, saiba que eu também odeio você.

Escárnio e Maldizer

14.7.04

Quero o seu amigo.

Quero o seu amigo
aquele que não peida
não arrota sem querer
nem está muito perto quando
você resolve tirar ranho do nariz
No país dos amigos pixelizados
as garotas todas lêem Dostoiévski
e dão o cu porque é moderno
porém sempre ao som da melhor trilha
curtindo um hobby interessante
tipo pular de bungee jump
ou saber frases gozadinhas
do Mussum

Quero o seu amigo e/ou
a sua amiga ou quem quer que você finja conhecer
pra adicionar seu nome à minha comunidade de autistas
e depois quem sabe jogar suas características
na bolsa de valores ou num puteiro de figurinhas
quem sabe deletar seus dados chatos
e desligar sua face estúpida antes do último
pão amanhecido vendo um western na tv e ir

dormir
sozinho
e sonhar
com todos os meus amigos
com todos os meus amigos de verdade
acessando os meus gases terminais
no meu funeral.

em Fakerfakir

11.7.04

Intervalo comercial

Existencialismo Copie&Cole

Onde diabos foi parar o chefe? Ele não ia só sair de férias? Ele fugiu? Deserdou? Ele foi MESMO para o exílio? O poder foi tomado aqui no Copy&Paste e não era apenas teorema da conspiração meu? Eu me transformei em ASPONE? Tem alguma eminência parda aí?

Fim do Intervalo Comercial

Wôndful!!!

Só percebi hoje: Nunca mais escreva entre parênteses o abominável "(é assim que se escreve?)"!!! O google implementou uma função que te sugere os nomes corretos. Estava tentando lembrar o nome do filme "Koyaniqqatsi" e o google me avisou: "Você quis dizer: Koyaanisqatsi". Isso mesmo, Sr google, eu quis dizer Koyaanisqatsi! Perfeito. Wôndful.

Onipresente ausente

Não havia nada que pudéssemos fazer, ele ainda está lá caído no chão os braços abertos, olhando para o céu. Nada ao redor faz sentido, só ele e o sol. Um grito angustiado, um pedido de energia para a longa caminhada, para longe desses muros.

Aconteceu tudo muito rápido, não deu tempo. Um fim de semana, um par de segundos. Eu queria ficar mais na práia, mas não pude: as obrigações não deixam. Eu não teria como sustentar.

Agora venho envelhecer de segunda a sexta-feira, carregando pedras para construir a minha lápide, voltando para buscar mais. Caio no chão com os braços abertos e peço ao sol um pouco mais de sua generosidade.

Não há nada que vocês possam fazer.

Reticências de um Poeta Morto

O que a gente não diz

Oi, tudo bem?

Tudo.
(muito melhor agora, meu deus, como tu tá lindo homidedeus!)

Demorei?

Nah.
(se eu tivesse que esperar num pau de arara apanhando na sola do pé pra ter essa visão, ainda assim estaria feliz)

Vamos almoçar onde?

Onde achares melhor.
(lá em casa, no meio dos lençóis, ouvindo Coltrane, por favoooooor)

Pode ser no italiano?

Pode.
(desisti de almoçar, vou te raptar agora e te levar pra República Tcheca)

Não está com fome?

Não.
(Como é que alguém pode pensar em comer com tudo isso pra olhar? Eu quero é ficar decorando cada detalhezinho dessa imagem, deusdocéu)

Não queres sobremesa?

Não.
(a única sobremesa que me interessa não está no buffet, meu querido, se bem que com chantilly deve ficar ótemo)

Então vamos?

Vamos.
(tu não vais me agarrar, me pegar no colo, me deitar no solo e me fazer mulher? Não? Como assim?)


Tu estás tão quieta, algum problema?

Não, tudo bem.
(Tá tudo bem, só não tô sentindo o lado esquerdo, meus pés congelaram, tô com taquicardia e faz uma hora e meia que não tenho notícia alguma do meu estômago).

Então, tá. Te cuida. Bom te ver.

Tchau.
(agora dá licença que eu vou ali me atirar debaixo da primeira jamanta carregada de concreto que aparecer)

Megeras Magérrimas

O que você quer?
O que você sabe?
Não é fácil pra mim
Meu fogo também me arde
Às vezes me vejo tão triste
Onde você vai?
Não é tão simples assim
Porque às vezes meu coração não responde,só se esconde e dói

Por favor não vá ainda, espera anoitecer
A noite é linda, me espera adormecer
Não vá ainda, não, não vá ainda
Me diga como você pode viver indo embora, sem se despedaçar
Por favor me diga agora, ou será
Que você nem quer perceber?
Talvez você seja feliz sem saber.

Pérolas do Dia

8.7.04

terceira tequila
- Nossa, que show de sapato!
- Ô querida, obrigada, é tão velhinho.
- Ah, não parece velho!
- Ah, tudo em mim é velho, meu carro é velho, minhas roupas são velhas, meus gatos são velhos, eu sou velha...
- Ih, tava assim também, aí arrumei um amante.
- E melhorou?
- Olha, melhorar não melhorou, mas ficou mais divertido.

Ao fundo, Caetano Veloso canta Love me tender, acompanhado dumas cordas e duns sininhos.

Drops da Fal

Da minha cara de biscoito Maria
Foi no dia em que encontrei esse moço pela primeira vez, ele olhou para mim e disse que me conhecia de algum lugar.

Oh, céus, de novo não.

Porque a vida inteira assim, tão cansativo. E quando me pararam na rua para perguntar se sou filha de Beth? Tem certeza que não? Irmã de Maurício? Mas puxa vida, tu és a cara da namorada do vizinho da minha tia. Até a recepcionista do curso de inglês me disse um dia que minha irmã mais velha secreta trabalhava lá. Então eu sei que quando acham que me conhecem de algum lugar ou é cantada barata ou é engano mesmo. Sempre.

(Quer dizer, menos naquele carnaval que um moço louro veio com essa história e depois de uns minutos de conversa ele disse que realmente me conhecia de algum lugar. E era verdade, tempos depois lembrei de um São João.)

Oh, céus, de novo não. E foi quando o moço entendeu que eu tinha cara de biscoito Maria. Eu que não entendi foi nada na hora, nem tenho o rosto assim redondo, afinal. Mas é porque o biscoito Maria é único, não é feito biscoito recheado, ou wafer, com marcas e sabores. Ao mesmo tempo tem vários iguais. Entende? Acho que é isso. Uma boa explicação, vá. Só não vale dizer que a mesma coisa acontece com biscoito de maizena porque perde a graça.

clarices

Momento
Cristais Baccarat, não. Baixelas de prata, não. O último grito da moda, não. Iates, não. Ações da bolsa, não. Rolex de ouro, não. Pedras preciosas, não. Hotel 5 estrelas, não. Relógios Rolex, não. Roupas da Daslu, não. Porcelana Legle, não. Fracalanza, não. Cartier, não. Caviar Beluga, não. Investimentos, não. Grifes, não. Primeira classe, não.

Só me interessam as coisas que são tão caras que o dinheiro não pode comprar.

Marina W

1.7.04

obesa sabedoria

conseguira sobreviver a uma infância e a uma adolescência gordas. é difícil, acreditem. deixou de comer e engravidar muita menininha com cocô na cabeça, deixou de pegar muita praia - só ia de camisa, mesmo dentro da água, deixou de fazer skibunda quando esteve em natal, deixou de brincar de esconder atrás de muita árvore, deixou de fazer muitas coisas.

tinha subido numa árvore, certa vez. claro que o galho quebrou, derrubando-o e dando-lhe duas fraturas expostas, o que ajudou a deixá-lo de molho por alguns meses - fato que o engordou mais ainda. mas agora que a idade chegava para si e para todos que conhecia, agora que seus ídolos e familiares de mais idade pagavam o derradeiro preço pelos anos sobre a terra, agora que ainda tentava entender como funcionava o aparelho de dvd recém-comprado e que sua filha de nove anos dominava como a um dócil cão treinado, agora sentia-se bem. é sério, via seus amigos todos ficando gordos, ofegando qualquer fato por mais ameno que fosse, as mulheres de sua idade engordando e perdendo formas que nunca tivera prazer de acarinhar quando mais jovem - sem pagar, claro - agora que tudo a sua volta engordava, sentia-se bem. conhecia muito bem todos os problemas que sua gordura lhe causava, sabia todas as piadas possíveis a respeito do tema, limitações, prós - tem isso?, contras, curiosidades e outros a respeito da vida gorda, sentia-se bem.

muito bem, aliás. e aproveitava tudo o que a obesa sabedoria proporcionava, todos os livros que lera no horário da prática esportiva serviam para citações, poemetos instantâneos, sussurros a ouvidos femininos e respostas simultaneamente inargüíveis e divertidas aos ignaros - o que evitava a briga, na maior parte das vezes, mas para isso mesmo que mantinha amizade com muita gente. comia todo mundo, corria mais que todos os outros desacostumados, e tudo isso bebendo quantidade estupendas de álcool, que demorava para fazer efeito em seu organismo. no inverno, um casaco bastava, sempre elegante, claro. aprendera a elegância, o respeito, a convencer as mulheres para o sexo anal, e sentia-se muito feliz.

era tanta felicidade que mal podia contê-la dentro de si, e sentiu seu coração querendo explodir de felicidade, uma falta de ar, pontos brancos dançando em sua visão, um formigamento no braço, a vista escura e

morreu de infarto.
mas com um sorrisão.

como assim dois uísque?

Ele estava certo, não leiam bulas. Neurótico de boa qualidade, só assimila o efeito colateral.

sem saída

Tá ligado?
A diferença entre a escola e a prisão?
Uma delas bloqueia sinal de celular.

Bricabraque

Entre o mito e o biquíni

Ah, a juventude. Há alguns anos, inscrevi-me numa lista de discussão sobre Legião Urbana, na esperança ingênua de trocar idéias consistentes a respeito da discografia da banda. Como era de se esperar, a lista estava apinhada de adolescentes ingênuos (expressão redundantemente redundante) que discutiam, dentre outras coisas, maneiras de mudar o mundo (por momentos pensei estar por engano em um fórum de militantes do PSTU). O mais irônico foi o lugar sugerido pelo grupo para discutir formas de "revolucionar o sistema": a praça de alimentação do Shopping Paulista.

E hoje, cá estamos. O muro de Berlim caiu, a China bebe Coca-Cola, a utopia comunista é só um retrato na parede e Fidel Castro de quando em quando manda opositores para o "paredón". Numa época em que a figura mítica de Che Guevara tornou-se estampa no biquíni da Gisele Bündchen, torna-se difícil não assistir a um filme como "Diários de Motocicleta" sem um quê de melancolia.

Enquanto nos anos 80 Cazuza questionava por uma ideologia pela qual viver, a tal Geração 00 não parece mais se importar com isso. Ao contrário, aparenta ter assimilado bem até demais essa era pós-utopias, focando seus ideais e objetivos na mera sobrevivência individualista. Aquele garoto que ia mudar o mundo já não senta em cima do muro: agora prefere escorar-se nele, enquanto faz uma pose blasé para um retrato a ser postado em seu fotolog.

Pensar enlouquece. Pense nisto.

Mais uma história real cheia de coisas absurdas

Então ontem a noite minha mãe me avisou que hoje pela manhã eu deveria ir até o posto de saúde de meu bairro e fazer uma consulta com o médico (uns examizinhos para saber se eu estou totalmente curado da doença fulminate que me atacou há alguns dias). É claro que eu bati o pé, mostrei respeito, disse "Não!" e nem sequer esperei ela mais falar algo que me fizesse mudar de idéia.

Oras, estou de férias e ela quer me mandar pro médico? Onde já se viu.
Médico, Dentista, Urologista é lugar para se ir enquanto se está em período de trabalho. É uma forma remunerada e inteligente de faltar trampo e não levar puxão de orelha do chefe.
Então eu disse que não iria a médico nenhum e queria ver quem iria me fazer dizer o contrário. Vamos ver quem é que manda.

E, de fato, eu vi quem é que manda.
Hoje, 7 horas da matina eu estava num banco gelado de um posto de saúde esperando o médico chegar. Na parede tinha um cartaz desses do governo federal que enfatizava o uso da camisinha: "Jovem, use a camisinha!" ou algo assim, ao lado deste havia o celebre cartaz das forças armadas e o alismatento militar: "Jovem, aliste-se!" ou algo assim.

A atendente? (como se chama uma mulher que fica lixando as unhas e chama seu nome para ser atendido pelo médico?). Bom, a atendente quis ser simpática (ou talvez só estivesse cumprindo seu trabalho chato de orientar as pessoas mais jovens) e começou a falar comigo (tenho que parar de abrir parênteses neste paragrafo).

-- Olá jovem! Você já se alistou?
-- Já sim, escapei do serviço militar por causa de um "probleminha".


O Probleminha
Isso é verdade. Eu escapei do serviço militar por causa da lordose na minha coluna. Era uma manhã gelada e chuvosa aquela da inspeção, mas eu estava lá, meio a outros jovens, só de cueca e fazendo exercícios físicos sem sentido. O cara de farda olhou pra mim e disse: "Vai pra casa, garoto! Você tem lordose". Eu fiquei feliz por ter lordose e não precisar ir morar longe de casa por alguns meses ou quem sabe me meter numa guerra. "Mas antes de ir embora, passa ali na frente e paga a taxa" disse o senhor de farda num último resmungo.
É isso aí, não fui para o exercíto mas precisei pagar uma taxa idiota e fazer o juramento a bandeira, no qual prometi estar a disposição de meu país caso ele fizesse uma burrada e se metesse numa guerra para defender os Estados Unidos.

Voltando ao papo com a atendente
-- Oi? Você tá me ouvindo?
-- Ah, desculpa! É que eu estava recordando como foi a minha inspeção militar. Deu um flashback na minha mente. Mas sobre oque nós estavamos falando mesmo?
-- Eu perguntei se você já iniciou a sua vida sexual.
-- Hein?
-- Sua vida sexual.
-- Ah, sim... masturbação conta como vida sexual?
-- Conta, mas neste caso estou falando de sexo com alguma menina.
-- Ah! Não. Eu sou gay.
-- Gay? (disse ela espantada)
-- Sim, por isso não me aceitaram no serviço militar.


Pronto, já tinha feito minha parte e sabia que a atendente não iria mais me amolar com estes papos de "Jovem, se cuida ou a casa cai!". Por fim esperei por meia hora e o médico não chegou. Disse para a atendente que ia dar uma voltinha e respirar um "ar puro e colorido desta manhã cativante" e já voltava. Fui embora. Cheguei em casa, disse para minha mãe que deu tudo certo e eu não vou morrer ainda.

Moral da história
Minha mãe ficou feliz por eu não estar doente.
Eu fiquei feliz por não ser examinado por um médico.
A atendente ficou feliz porque eu não voltei lá.
O médico ficou feliz porque não vai precisar examinar ninguém.
As forças armadas ficaram felizes porque eu paguei a taxa.

Então, não quero influenciar ninguém mas preciso dizer, mintam sempre e todos serão felizes. Mintam na escola, no trabalho, no posto de saúde. Mintam para seus pais e para seus amigos. Mintam para seus leitores. Todos ficarão felizes.

de que jeito?