25.12.05

Nem tudo está perdido

Um conto de Natal se repete todos os dias em Santa Cruz

Rosana Monteiro é uma jovem veterinária de Campo Grande, nascida e criada em Santa Cruz, onde até hoje residem seus pais, e onde, com a ajuda do marido George e do amigo Artur, alugou uma casinha modesta mas acolhedora. Junto com George, consertou o que precisava ser consertado, conseguindo material de construção e tintas em promoção e descobrindo a mágica de criar novas cores usando pó Xadrez. Percorreu brechós e, com o restinho das economias, comprou dez carteiras escolares. A organização Viva Mais Feliz estava pronta para funcionar.

"Nosso bairro, Santa Cruz, o último do Município do Rio de janeiro, também é o último na lembrança dos nossos governantes", escreveu em seu blog. "Aqui se encontram o CCZ e os maiores conjuntos habitacionais (o que nos faz pensar que aquilo que incomoda deve-se manter distante), gente humilde e gente do bem. Aqui não se encontram cinemas, teatros, eventos culturais, de cidadania ou de meio ambiente --apenas em época de eleições, já que aqui está o maior curral eleitoral do Estado. Quanto ao IDH, Santa Cruz ocupa a 119º posição, em uma lista que vai do 1º ao 126º."

Hoje, as dez carteiras de brechó recebem alunos especiais: adultos e jovens com dificuldades de aprendizado, que não sabem ler nem escrever, e a quem Rosana aos poucos ensina não só as letras, mas a cidadania e o amor às pessoas e aos animais. Seus auxiliares de trabalho são a gata Basted, os cães Nina, Carmessita e Biju, e a galinha Xirley -- todos salvos do CCZ, o Centro de Controle de Zoonoses, ponto final da famigerada carrocinha e da vida de tantos bichos. O seu papel é descontrair o ambiente, interagir com os humanos, dar e receber carinho.

No blog, sob uma foto da salinha de aula, Rosana escreveu:

"Aqui já existe uma turma de alfabetização em evolução. Pessoas do bem que tiveram suas vontades reprimidas, ou porque foram à luta cedo demais, ou porque são pessoas especiais, ou porque ficaram órfãs. Enfim, todos os motivos justificam o nosso desejo em realizar seus maiores sonhos: aprender a ler e conquistar respeito. Aqui não existe vergonha, existe coragem. Aqui todos compreendem o quanto são importantes. Encaram o preconceito como forma de teste. Sabem que ignorantes são aqueles que os desprezam."

-- As pessoas acham que sou maluca, -- me confidenciou Rosana. -- Perguntam por que não abro um consultório e vou ganhar dinheiro, ou por que gasto meu tempo ensinando a adultos, quando é tão mais fácil ensinar crianças. Mas você não imagina a ânsia de aprender que eles têm, como se sentem vitoriosos a cada letra aprendida, a cada sílaba decifrada! Você não imagina como é humilhante para eles carimbarem o dedo em vez de assinar o nome num papel. As dificuldades são enormes, mas não há recompensa maior do que ver as sementes do trabalho germinando. O dia em que o Sebastião apareceu com a carteira de trabalho assinada foi um dos dias mais felizes da minha vida.

Este dia está, naturalmente, anotado no blog:

"Sebastião, um dos alunos da turminha de alfabetização, estava desempregado... mas não está mais. Todas as portas se fechavam, porque nem seu nome sabia escrever. Mas Sebastião não perdeu as esperanças e nós sempre acreditamos em seu potencial. Aprendeu a assinar seu nome em poucos dias, ainda não sabe ler, mas já vê uma pontinha de luz, a que lhe devolveu a dignidade.

-- Hoje eu assinei uma ficha no emprego!

Sebastião conseguiu.

-- E assinei no banco também!

Ao perguntar como havia se sentido, ele respondeu:

-- Me senti gente.

Todos aplaudiram."

O trabalho de Rosana não fica restrito às quatro paredes da sala de aula. Ela atua junto à comunidade, pregando a posse responsável de animais, vacinando e castrando cães e gatos, conversando um pouco aqui, dando um conselho ali. Às vezes, descobre gente como a dona Sirleidi:

"Catadora de papelão, aceita qualquer coisa que possa ser vendida no ferro velho. Uma senhora mais forte do que o peso que carrega, empurrando seu carrinho por quilômetros, todos os dias. O que Dona Sirleidi espera? Poder alimentar mais de 50 cães de rua que encontra pelo caminho. Alguns a acompanham por todo o percurso.

-- O que tenho todos os dias é demais pra mim, eles é que precisam comer.

Dona Sirleidi não conhece o conforto, não espera mais do que o simples fato de conseguir, diariamente, doações de sucata.

--Tem papelão hoje? Porta velha, telha, garrafa plástica, vergalhão?

A justificativa que já usamos muitas vezes, 'Não faço porque não tenho' ou 'Quando tiver farei', me faz sentir vergonha neste momento, ao conhecer Dona Sirleidi.

-- Se eu não aparecer, eles morrem de fome."

Pois é. Eu achei que, nesta semana de Natal, depois de passar o ano lendo a respeito de tanta gente safada e mal intencionada, vocês gostariam de saber que também existem pessoas como a Rosana e a dona Sirleidi nesta nossa Mui Leal e Heróica. Se quiserem ajudá-las, basta acessar o link.

internETC.

17.12.05

Por que, sinceramente, será que não rola nunca mais alguém fazer outro tipo de outdoor de griffe que não seja com uma tipa deitada e:
a) olhando “sensualmente” pra câmera
b) fazendo cara de quem despreza o mundo e pretende vomitar sobre ele em cinco segundos, quatro, três, dois...
c) com cara de dopada, olhando pro além?

Cyn City

8.12.05

john

lembro como foi. minha mãe e eu estávamos dentro do fusca, ouvindo rádio, quando o locutor falou que john lennon tinha sido morto em nova york. minha mãe ficou triste e eu quis consolar.

- mãe, mas ele não era um cabeludo?

foi a única coisa que me ocorreu no repertório de maldades dos meus 8 anos. minha mãe, que estava com as duas mãos no volantão do fusca, não olhou pra mim e disse:

- jesus cristo também era.

i am jack's complete lack of surprise

6.12.05

Morte ciclista

Eu estava andando por uma praça. Não sei onde era. Pela tranqüilidade das pessoas, pela preguiça das árvores e pelas casas coloridas, deduzo que era uma cidade do interior, e é só. Caminhava com as mãos nos bolsos, Que é onde elas ficam a maior parte do tempo. Um sujeito de bicicleta passou por mim. Pedalava despreocupado, acho até que assoviava.
Quando ia dobrar o canto da praça, porém, quase trombou com outra bicicleta. Era a Morte que vinha em sentido contrário, pedalando furiosamente e brandindo sua foice acima da cabeça. Cruzou com o ciclista e passou-lhe a lâmina no pescoço.
Parei onde estava, sem acreditar no que via. As pessoas ao redor continuavam bestando, e eu lá tentando entender o que acontecia. A Morte veio na minha direção, agora pedalando devagar. Preparei-me para levar com a foice na garganta também, mas ela apenas olhou para mim, sorriu (um sorriso meio cômico, como o dos esqueletos de A Noiva Cadáver) e disse:
— No dia da inauguração do gasômetro eu te pego.
— Que gasômetro — eu perguntei, mas ela já havia sumido.
Olhei em volta, e notei no meio da praça um grupo de operários que trabalhavam em torno de uma espécie de coluna de ferro verde de mais ou menos dois metros de altura, fincada na terra revolvida e com um cilindro na outra extremidade. Deduzi que se tratava de um gasômetro e me aproximei dos trabalhadores.
— Bonito gasômetro.
— Pois é. Pena que demora tanto pra ficar pronto. Estamos trabalhando nisso há anos.
— Há anos, é? Que beleza! Então a inauguração vai demorar?
— Demora nada, moço. Já tá marcada pro mês que vem.
Acordei assustado, convicto de que vou morrer em janeiro.
Preciso parar de dormir de estômago cheio.

Jesus, me chicoteia!

Esse é o seu cheiro

Ao passar pela sala agora, o senti. Não sei de onde veio, mas estava lá, meio diluído, como se estivesse meio perdido. Toda vez que o sinto é impossível não lembrar daquele sábado quando nos conhecemos, você e seus amigos, eu e meu amigo que encontrei horas depois de chegarmos. É impossível não lembrar de você me perguntando se eu me importava com o que você iria fazer e você insistindo na pergunta e eu com aquela cara de tipo: o que você está falando? Até que seu amigo “traduziu” para um bom português e eu disse que a vida era sua... Talvez se não tivesse dito aquilo e tivesse rezado uma ladainha inteira, talvez se eu tivesse mostrado minha insatisfação. Mas acho que não. Você tinha uma personalidade forte, sabia o que queria e sabia que podia, ou pelo menos achava que podia...

Você se foi e me deixou... Deixou-me aqui. Só. Com essas e outras poucas lembranças. E com um questionamento que não me abandona, será que um dia ele também vai embora?

Não, eu não quero jamais te esquecer. Mas quero e preciso continuar a viver! O seu lugar jamais será ocupado, pois o que é nosso ninguém toma. Porém preciso de alguém que divida comigo o trilhar da minha vida, meus desejos e anseios, minhas vitórias e derrotas, meus erros e acertos. Preciso de alguém por quem eu possa suspirar e ter a certeza de que eu vá encontrar, que eu vá tocar. Alguém com quem eu possa sentir a tez macia e quente; pulsante, mesmo que com o seu cheiro ou um outro qualquer.

Thiago de volta para casa...

5.12.05

O dono do mundo quadrado

O novo moço das molduras é um rapaz simpático que até entende o que eu falo. Terminou minha encomenda de quadros antes do prazo. Comentei com ele no telefone que eu ainda ia ter que ver como ia fazer para pegar, porque tinha que agendar um carro da empresa pra ir buscar, uma história triste, triste... e ele:

- Bom, eu posso ir aí entregar pra você... não custa nada!

Cara, meu coraçãozinho até pulou de felicidade! Quando a gente encomendava quadros com o seu Portuga, além de ter que ouvir aquela ladainha durante dias e ficar noites sem dormir com medo dele não entregar porcaria nenhuma, ainda tinha que se virar pra conseguir pegar a encomenda.

Nunca mais quero ver seu Portuga na minha frente. Quero que todas as molduras dele se reproduzam espontaneamente ao infinito dentro da loja e ele morra sufocado que nem o Zé das Medalhas.

NLEP

2.12.05

EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE EEEEEEECA

Ontem a Dulce, que tem um celular pula-pula, tava gastando os créditos e me ligou. Disse que o maridão chegou em casa, cansado e suado, depois de um longo dia de trabalho.
O maridão disse que tava com os pés inchados..e a Dulce, que é um amor, foi fazer uma massagem nos pés do queridão. Com segundas E terceiras intenções é óbvio. Não queria perder a noite.
Bom, começou afrouxando o cadarço e tirou o primeiro sapato. O que tinha lá???

Uma barata morta grudada na meia!!!! O cara colocou o sapato e esmagou uma barata. Trabalhou o dia inteiro com o bicho entre os dedos. Que nojo!!!

Não sei quanto a vocês, mas no mínimo dá processo por danos morais. Sem contar que vou acabar perdendo todas minhas amigas desse jeito...Perde-se a amiga, mas não perde-se a piada....

DULCE QUERIDA, NUNCA MAIS PEGO NA TUA MÃO!!!!

GG´s

Tudo que possa ser relacionado ao mar não presta (a não ser Portugal)

O mar é extremamente nojento. É uma pasta orgânica, como atestado em Augusto dos Anjos. Do mar nada presta, a não ser os peixes e crustáceos, que devem ser comidos crus e de palitinho.
O mar, quando quebra na praia, é um lixo. E pior ainda a maresia, e mais pior quando fazem macumbas e comemoram Dia de Ano na beira do mar.
Os piores reveillons do mundo são os do Rio de Janeiro e litoral paulista. Vire o ano numa cabana com Thoreau, Arnaldo Batista e apenas um revólver, mas nunca no Rio ou Cananéia.

Sports náutikos são kents, desde que brazilian wax & bikinis.

Toda literatura que conta histórias do mar deve ser atirada no mar. Todas as histórias em que há baleias, tubarões e polvos gigantes. Mas isso serve apenas para as histórias do mar, não histórias em que o mar apareça incidentalmente ou se faça referência casual a ele. Lolita, por exemplo, tem um mar lá uma hora. Mas é só pra aparecer gente de biquíni e justificar um futuro romance pedófilo na vida do personagem, então vale nesse caso. Mas só nesse e nuns outros casos, dos quais não me ocorre nenhum agora.

Desenhos animados que se passam no fundo do mar são legais e engraçados, mas justamente porque fazem uma caricatura do mar, o que, diga-se de passagem, não é difícil. O mar, essa coisa idiota. Não respeito um planeta em que 2/3 da superfície seja coberta de salmoura, e o resto habitado por uns macacos vestidos de calça jeans. Quando o sol finalmente cozinhar a Terra, sopa é o que não vai faltar, é verdade, ainda que intragável e não recomendada para hipertensos. “Grandes baleias cozidas boiarão suculentas na superfície, mas não poderão comê-las, pois não lhes restará talher e serão demasiado fresquitos para comer com as mãos.”

A melhor coisa que se pode esperar do mar é uma tsunami, antes chamada vagalhão, que aniquila as populações chamadas costeiras e quem mais estiver por ali de passagem. Parabéns, pois, à tsunami, esse importante agente seletor.
Criaturas terríveis saem do mar para atacar a humanidade. Lagartixas gigantes que estupram virgens na praia, monstros marinhos supostamente extintos há milhares de anos, Amyr Klink, Lawrence Wabba, Jacques Cousteau...

Homem que gosta do mar é bicha. Surfista, velejador, triatleta... tudo viado. Esportes à beira mar levam nomes como frescobol e geralmente são praticados por Millôr Fernandes ou alegres rapazes vestidos com neoprene agarradinho. Piratas, esses terríveis lobos do mar, (“üüühhh”), usavam brinco, lencinho na cabeça e uma garrafa de rum sabe-se lá onde. “Hello, sailor” era o grito de terror que assolava os mares. No caso da sua embarcação ter a infelicidade de ser abalroada por piratas, prepare-se para uma noite de Village People e Enrique Iglesias.

Existe coisa mais idiota que um cruzeiro? A pessoa pensa: pego um avião e acordo no destino ou vou 3000 vezes mais devagar, vendo a mesma paisagem entediante todo dia, trancado num espacinho exíguo com 1200 idiotas e shows de cancã às 7 da noite? Ah, claro, show de cancã, pô... Quem não gosta de show de cancã?

Neste artigo, que faz parte da série “Ódio: Motor Imóvel do Universo”, atacamos o mar. No próximo atacaremos a luz, que só não é mais devagar que Rubinho Barrichello, e no seguinte falaremos mal dos hidrocarbonetos e todas as desgraças deles advindas.

Até lá.

Radamanto

1.12.05

Quando o RH de uma empresa te disser "somos uma família", melhor vazar.
Não tem coisa mais complicada do que família.

catarro verde