Cavalheirismo 2.1
Em blogue de mulézinha e em conversa com amigas, aparece sempre o papo de que cavalheirismo já era, com o inevitável corolário de que as mina exigem ser tratadas como iguais mas continuam esperando que o cara abra a porta do carro*, leve flores, responda “não” à fatídica pergunta sobre a calça-que-deixa-gorda e preferencialmente pague os jantares. Eu até simpatizo com a posição das damas, no caso –se bem ela equivalha a dizer que romantismo, alas, é mesmo teatro (a idéia faz sentido, convenhamos: já que elas vão mesmo fingir todos os orgasmos*, custa o mano, de sua parte, fingir que não saiu da roça anteontem?)
Estas mal-traçadas** não nascem, portanto, de qualquer ânimo polêmico, mas me parece que cabe um lembrete rápido sobre a versão 2.1 do cavalheirismo, que tantas vezes passa despercebida no lufa-lufa das aflições cotidianas. Se o seu beau, por exemplo, a escoltou ao cinema para assistir a nhonhas como The Hours, The English Patient ou qualquer filme do Almodovar, saiba, madame, que é estóico cavalheirismo que o move. E se ele se absteve de pegar filme do The Rock na locadora e topou assistir com você a qualquer coisa contendo Meryl Street, madame tem em mãos um príncipe entre os homens. Aquele jantar com a sua amiga que falava o tempo todo em numerologia? Se ele não riu uma vezinha sequer, there you go: gentleman. Não vou nem mencionar os óbvios sacrifícios à causa do amor que os homens fazem a cada dia sem reclamar –muito-, como Riverdance, Stomp, peça de Tchêcóv traduzida pro português e falada em carioca, sair pra dançar, acompanhar madame em expedição de compra de sapatos, visitar amigas (dela) recém-saídas da maternidade que acham que cor de cocô do bebê é assunto lícito de conversação: todos aqueles marmanjos estão lá, mes dames, por amor, e sorriem até ficar com cãibra no maxilar.
É claro que os motivos desse cavalheirismo não são nobres. Basicamente, os mano fazem essas coisas contando que o padroeiro do homem obsequioso, São Bráulio Jojoba, os recompense com a munificência merecida quando Madison Bridges acaba. Por isso, mes dames, assim que saírem com o rapagão do show da Adriana Calcanhoto, reconheçam a dedicação acima e além do dever que a presença dele demonstra e, tão logo ele tire o algodão do ouvido, whisper sweet nothings in his ear e proponham vestir alguma coisa mais confortável. Os cavalheiros 2.1 penhorados agradecem.
* A verdadeira igualdade entre os sexos, aliás, é fazer como o meu amigo e adevogado Arthur, que, em situação de pé na bunda, respondeu “eu também fingi os meus”.
**Expressão que também aplico às desavisadas damas que me aquinhoam com seus favores.
Noronha, o meditabundo
19.10.04
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