É fácil
É fácil ser um grande escritor, quando se é o Chico Buarque.
Acorde cedo, ainda deitado espreguice. Coce o umbigo, retirando o fiapo de algodão que é gerado alí diariamente, e pense: caralho, eu sou o Chico Buarque. Levante-se. Vá ao banheiro lavar o rosto, veja que belos olhos azuis. Vista um shorts e o tênis de corrida.
No calçadão, ande a vontade. O status de caminharem naturalmente na mesma praia que você impede os pedestres do Leblon de virem te incomodar com pedido de autógrafos. Isso e o fato de que são seis da manhã e a praia está vazia.
De volta ao apartamento, tome o café e um bom banho, que você pode ser imortal, mais ainda sua. Pegue os jornais do dia. Veríssimo, Laerte. Praticamente todo o resto é igual há cinquenta anos, folheie. De almoço, carne, batatas e uma salada qualquer.
Aguarde no sofá o almoço passar. Se necessário, cochile. Sente-se à maquina (que hoje é um computador), coloque os óculos. Releia o que escreveu ontem, acrescente pequenas modificações e mais uma ou duas páginas. Salve.
Ainda na cadeira, aprecie o trabalho do dia. Como o tempo passa rápido, não é não? Faça um lanche leve. Apresente-se para dormir. Essa vida de grande escritor dá um sono.
fserbcombr
22.10.04
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