Do sovaco do Cristo: o retorno
Cá estou eu, dez dias depois, morando ao lado de um Cristo Redentor, versão reduzida. Uma imitação de pedra. Olhos de pedra, braços de pedra, sovacos de pedra. Moro debaixo do sovaco direito, o que seria esquerdo para quem sobe a rua e encara de frente o homem. Cidade pequena, uns 6 ou 7 mil habitantes, vivendo a euforia da campanha eleitoral. Carros de som passam berrando por minha porta. Trabalho com tampões de ouvido. Meu consolo é que isso passa. Fora isso, tudo corre bem. O inverno aqui é verão. O quilo do filet mignon custa 8 reais. Posso me queixar? Os mineiros recebem bem seus forasteiros. Me perguntam a toda hora por que troquei o Rio pelo interior de Minas, se no Rio também tem mil cidadezinhas. Tento explicar com lógica o que não tem muita explicação. Eles não entendem. Dizer que a vida me levou não convence muito. Estou pensando numa resposta mais convincente para tranquilizá-los: um dia, na enseada de Botafogo, a Virgem Maria me apareceu e disse: Vá embora daqui que o Rio vai se acabar. Eu fui.
Prosa Caotica
26.8.04
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