15.9.04

Ó, democrata, vá longe de mim

Deflorei um labirinto de infinitas tralhas este domingo. A causa era justa, e nosso Senhor há de me perdoar. Fiquei perdido algumas horas, e como não tenho o plano de saúde do Fittipaldi, salvou-me um velho novelo de lã.

Eu já atravessava a porta de emergência quando um minotauro, por maldade e razões estéticas, surgiu das sombras para me entregar, silente, uma relíquia arqueológica de valor comparável somente à pedra do mar morto e aos manuscritos de rosetta: o contrato social.

Puído e rasurado, mas ainda assim o contrato original. Assinado por Noé, seus descendentes e a Serpente; registrado no cartório do Céu.

Apesar de meus vagos conhecimentos de bicho-europeu alto, consegui traduzir boa parte do documento no ônibus, e estou aterrorizado.

Toda a gente sabe, desde Matrix I, que o ser humano é repugnante como um chuchu, e não passa de um câncer da natureza. Mas pelo que li, se tigres ou tamanduás estivessem no poder, seria pouco diferente. Sério. Dá uma olhada:

O Contrato Social (made in Ararat, performed by MPB4)

A Regra de Ouro: "É errado ser francês".

I Mandamento: Homem nenhum será, contra a sua vontade, forçado a trocar lâmpadas, ou abrir garrafas e pequenos potes.

II Mand: A propriedade não é um roubo, salvo na orla marítima e durante a temporada.

III Mand: Vegetarianos são a ralé da cadeia alimentar, e portanto não gozam de direito algum. Os hemivegetarianos estão fora.

IV Mand: O despotismo convém aos países quentes, a barbárie aos frios, e a democracia aos Estados pequenos e pobres.

V Mand: Das garantias fundamentais:
- merenda;
- toda religião é verdadeira, exceto o vodu;
- réu nenhum será submetido a siglas ou fogos-de-artifício;
- a imprensada é da defesa;
- não existe guerra ruim;
- hollywood;
- buy viagra online;

E assim vai.

Ainda não sei se entrego o contrato à Viação Nações Unidas ou se escondo no meu necromanicon, e o atiro nas cataratas do Niágara dentro de um barril. E nada me é mais saudoso que as canções da dupla Kant e Hans Kelsen, cheias de princípios bonitos para nos guiar.

dies iræ

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