14.9.04

Doze Meses.

de felicidade absurda.

No primeiro mês de sua morte, secaram todas as minhas espinhas. No segundo mês não senti mais dores nos dentes e nas costas. No terceiro mês, eu disse adeus às cãimbras e meus cabelos ganharam o brilho só visto nos anúncios de shampo.
No quarto mês livrei-me para sempre das unhas encravadas e do mal hálito. O quinto e o sexto mês passaram e eu não tinha mais aquele aspecto amarelado, com olheiras negras cavocando a minha cara. Dormia assim que encostava a cabeça no travesseiro, e não tinha mais o sono perturbado, cheio de pesadelos.
No sétimo mês após a sua morte, eu fui à Nova Iorque. Gastei o dinheiro da herança em compras inúteis, conheci lugares que só visitava em panfletos distribuídos pelas esquinas. No oitavo mês arrumei um noivo, e passamos os próximos trinta dias trancados no quarto nos consumindo em paixão. No nono mês implantei silicone nos seios, comprei uma televisão de noventa e nove polegadas, arranjei um motorista, e joguei fora todos os teus pertences.
No décimo mês já era costume mijar de porta aberta, jantar em cima da cama e ouvir música alta em horários absurdos. Nunca atendia o telefone. E quando me perguntavam, eu dizia que sim, sentia muito a sua falta, e que estava muito infeliz. No décimo primeiro mês, resolvi que era hora de sair daquela casa horrorosa, que ainda insistia em ficar impregnada do seu cheiro. Larguei tudo e me mudei poara um apê incrementado no centro.
No décimo segundo mês de sua morte, na missa de um ano, agradeci à deus por ter te encaminhado. Aquele tinha sido o ano mais feliz da minha vida.

Dani Carneiro em Zine Vanilli

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