20/07/2005
Já falei muito delas aqui. As vizinhas do mal. As que gritam, batem boca, se desentendem, ou até concordam e se elogiam, mas sempre em altos brados, das 7 da madrugada à meia-noite, ou mais tarde. A mãe e a filha mais velha são as piores, mas sei que há um pai/marido e uma filha mais nova, que não berram tanto, e às vezes parece haver um moleque também, este até gritador também, mas menos presente, graças a Zeus. Os fofos são o tipo de gente que rouba toalha de hotel – minha área de serviço dá de frente pra delas, o que hei de fazer ? Ver, né ? E hotel de Caldas Novas, ainda por cima, aquela cidade onde quase toda piscina é um caldeirão fervente à espera de moças que tragam “sustança” e transformem seu caldo de bactérias em canja.
São pessoas tão invasivas, sem pudor e sem medida, que até suas comidas têm cheiro mais forte que as dos outros. Dia desses, por exemplo, devem ter queimado a carne assada, deixando o hall, elevadores e esta que vos fala com aroma artificial de churrasco. Cozinham pequi o ano inteiro, até fora de época, e suspeito que nem gostam, mas fazem isso só para afrontar nossos olfatos também, caso a audição se acostume aos maus-tratos. Batem panelas, amontoam lixo fora do horário de recolhimento, espancam o botão do elevador com tanta ênfase que quase dá pra acreditar que ele vai subir mais rápido por causa disso.
A mais velha já mandou a mãe atuar passivamente num ato de sodomia, e fez isso com tanta classe e discrição que tenho certeza de que até os velhinhos surdos, tão abundantes no prédio, ouviram.
Sim, já falei muito delas, e se já falei outras vezes, por que falar de novo ? Só pra contar que no fim de semana, ao fazer uma de nossas sessões de cozinhar juntos (gatim pica a cebola e o alho, eu faço o resto), rir muito, namorar um bocado e dançar ao som de golden oldies, de roupa caseira e pés descalços, na cozinha de casa, vi a menorzinha nos espiando por um bom tempo através da vidraça semi-fechada. Ficou ali quietinha, meio escondida, só os olhos por cima do parapeito. Depois de uns minutos, nem meia música, saiu da cozinha e apagou a luz. Nem comentei nada com o Nelson, que, atento como é, certamente nem percebeu. Mas eu achei interessante. O que será que se passou na cabecinha dela ?
Pode ser que tenha nos achado uns velhos babacas e nossa música uma baba chata (I only have eyes for yoooouuuu...). Pode ser que tenha tido uma pontinha de inveja ao ver que, ao contrário dos velhos dela, os coroas do apartamento em frente convivem bem e sem gritos. De um jeito ou de outro, acho bom que pelo menos ela tenha visto, em primeira mão, que é possível, sim, que pessoas comuns, que não são personagem de filme nem famosas, ricas ou bonitas, tenham um casamento feliz, gostem da companhia um do outro e não soem sempre como cães brigando. Quem sabe assim ela pense antes de perpetuar esse jeito permanentemente em guerra de sua pequena e barulhenta tribo. Se isso acontecer, seu futuro marido, e principalmente, seus futuros vizinhos, têm uma dívida enorme comigo e o gatim. Escrevi tudo isso pra dizer que aceitamos pagamento adiantado, em forma de silêncio. Pelo menos na hora do almoço.
04/08/2005
As vizinhas marditas-gritadeiras gritando como nunca, e eu não posso nem mandá-las ir gritar com a puta que as pariu. Ou com as putas que pariu. Não porque eu seja fina demais pra isso, mas porque, na verdade, provavelmente é isso mesmo que elas estão fazendo.
Cyn City