30.3.04

"A Paixão do Alferes"

A SUPERPRODUÇÃO SANGUINOLENTA
E SEM ANESTESIA DA CONSPIRAÇÃO FILMES

Furo deste blog: aproveitando a celeuma provocada pela obra do Mel Gibson -- e também a proximidade com o 21 de abril – , a Conspiração Filmes está rodando (com trilha sonora da Trama, sua parceira na Holding Paranóica), em ritmo acelerado, uma versão tupiniquim da película, agora passada nas Alterosas: “A Paixão do Alferes”. As últimas doze horas de Tiradentes, com falas em dialeto mineirês setecentista e legendas em português. Serão cenas brutais, com detalhes sanguinolentos da tortura do odontólogo conjurado – onde os algozes, por coincidência ex-pacientes do mártir, vingam-se arrancando com boticão enferrujado um a um seus dentes, sem anestesia nem plano de saúde. O Conselho Regional de Odontologia de Minas entrou com uma moção acusando o filme de “anti-dentista”, mas a produção já se defendeu, alegando que a intenção foi retratar fielmente o episódio da Derrama (“Só se for derrama de sangue”, já alfinetam alguns dentistas críticos de cinema). A Colgate-Palmolive, patrocinadora original da película, retirou a verba com receio da repercussão negativa. Mas a Schinchariol garantiu o patrocínio, exigindo em troca uma cena em que Joaquim Silvério dos Reis, ao entregar Tiradentes, abre uma Brahma e mostra a bolsa cheia de moedas, dizendo: “Meu negócio é vintém e sair de Xerém”. Depois de veementes protestos por parte da InterBev, a cena foi mantida mas a legenda cortada.

A Conspiração aguarda o feriadão enforcado de 21 de abril para estrear a película.

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Comentários:

Cynthia
Adorei, baby. Mas o intérprete de Joaquim Silvério vai ser quem ? É que se o candidato natural trocar sua gravadora pela Trama, ninguém mais fala em outra coisa até o fim do ano, e aí, babau filme.
25.03.04 @ 11:30:47

Flamarion
Vai ter mulher pelada?
25.03.04 @ 11:36:55

Nelson Moraes
Cynthia: até o fechamento desta edição o intérprete seria o Zeca Pagodinho cantando "Judia de mim" -- mas pra evitar acusações de anti-semitismo o título do samba foi trocado pra "Gentia de mim". Beijão.

Flamarion: Na verdade ia ter. A Luma apareceria peladona segurando a mangueira do bombeiro com que ela enforcaria o Tiradentes. Mas o Eike Batista deu uma grana por fora e a cena foi cortada, ficando só as legendas.
25.03.04 @ 11:48:50

Artur
First Lord, soube que Cahiers du Cinéma já encomendou a Décio Pignatari uma resenha. Especula-se que o título será "Patí(bulo) d'Al(feres) - Amariliou na Villa Ryca". Procede?
25.03.04 @ 13:05:43

Nelson Moraes
Lord Artur: procede, por certo. E Pignatari já está resenhando também as duas outras partes da trilogia: "As Duas Forcas" e "O Retorno d´el Rey". Abração.
25.03.04 @ 15:01:14

Hipopótamo Zeno
Maravilhoso, Nersão!! Se me permite uma sugestão de casting, e pra aproveitar uma piada velha da turma do Planeta Diário, proponho o Schwarznegger no papel de Tiradentes, o Danny de Vito no papel de alicate e a Lacraia, aquela do Pocotó, no papel de corda de enforcamento.
25.03.04 @ 15:06:05

Zeno: casting genial! Na última hora eles descobrem que o laço não cabe no pescoção do Schwarzza e amarram na jeba dele. O alicate Danny de Vito corre pra cortar a corda e salvar o amigo. Então perguntam a ele : "Pra que tanta pressa"? E o Danny: "Tou indo tirar o pau da forca!" :-) Abração.

Márcio Guilherme
Nelson, muito bom.

Nelson Moraes
Márcio: bem-vindo sempre, buddy boy. Se você gosta de filmes que deixam um nó na garganta, that´s it. Abração.

Ao Mirante, Nelson!

O mundo está embrutecido demais para compreender que um diário, mesmo público, não passa de um passatempo de criança. E que, nas mãos de um adulto, é só uma tentativa de resgatar sonhos e verdades.

Licor de Marula com Flocos de Milho Açucarados

A neta de sete anos mostra o desenho de uma casa no alto de um morro, e o avô sorri e diz muito alto que o desenho é lindo, onde ela aprendeu a desenhar tão bem? Ao lado dos dois, o neto de quinze revira os olhos com nojo. Deixa de ser puxa-saco, vovô! O vovô olha chocado, não diz nada. O neto de quize está chocado também mas é com a puxa-saquice do avô. Coça a cabeça, perplexo. Caraaaalho, como o vovô é puxa-saco...

Ou cinco visitas sendo apresentadas a um jardim: ah, que belo jardim; quisera eu ter um jardim como esse; puxa, se eu vivesse aqui, vinha ler todas as tardes naquela rede, que coisa linda; o que é aquilo, uma carpa? – até que a quinta visita, sombria até aqui, sombria no meio da grama, grita: “Puta merda, seu jardim até que não é de todo ruim, o que estraga é esse bando de puxa-saco... Eu até viria aqui mais vezes, mas com essa atmosfera não dá! E tem mais, tua filha é vesga e tua mulher é feia de doer! Eu sou muito franco. Passar bem.”

Os francos do mundo. Que charme, que charme. “Cara, você acha que amigo é quem diz o que a gente quer ouvir? Amigo é quem diz as verdades doídas na nossa cara.” Não é não, mas continuemos. “Por exemplo, vou te dizer uma verdade que todo mundo pensa mas ninguém tem coragem de dizer. Eu queria ir pra cama com a tua namorada. Taí, falei. Todos esses caras também querem, mas ninguém fala...”

Em todo grupo humano (macacos, suponho, sendo menos bobos) há um tipo sombrio que detesta todos os outros porque ninguém é, veja, tão sincero quanto ele; ninguém tem sua rudeza quase santificada, sua rudeza pura.

Alexandre Soares Silva

Oração de uma Mulherzinha Insuportável Dois

Quando me deito para dormir,
Rezo por um homem que não seja um horror.
Que seja inteligente, forte e lindo.
Que adore ficar horas conversando.
Que pense antes de falar, e lembre das datas comemorativas.
Que diga que vai ligar, e não me faça esperar...
Que tenha caráter e humildade de reconhecer seus erros.
Que não minta, mentira é algo abominável.
Que seja meigo, e aconchegante.
Que ele tenha um emprego que eu não precise sustentá-lo.
Que me ajude nas tarefas domésticas.
Que aceite não quando for a resposta.
Que puxe para mim a cadeira, e que me abra as portas.
Que curta cinema, teatro e saia comigo para dançar.
Que seja fiel, porque estar com alguém é uma escolha, não imposição.
Que faça massagens nas minhas costas, e transe até eu ficar "morta".
Ah! E rezo também que me mande um homem que saiba amar
E me respeite como ser humano inteligente que sou...
E não só pelos meus belos olhos...
Eu rezo pelo homem que vai me amar até o fim...
Amém.

Dreams of Ameom

Momentos

Há uns anos atrás atendi uma senhora velhinha, de xaile negro que lhe cobria a figura, revelando apenas as mãos e um rosto pequenino. Notei que ambos tinham cicatrizes muito visíveis. A senhora estava completamente confusa e envergonhada. Não sabia ao que vinha nem o que tinha para tratar. Justificou-se:
- É que o meu marido é que tratava disto tudo sabe?
Depois de muito esforço e buscas no arquivo a fim de tentar descobrir o objectivo da sua visita, atrevi-me a perguntar-lhe:
- Mas porque não vem cá o marido da senhora?
- É que ele faleceu no mês passado menina.
Mentalmente castiguei-me – “Didas! Sua estúpida! Já meteste água!” – e tentei remediar, claro. Pedi-lhe desculpa, dei-lhe os sentimentos e rematei com aquela conversa de circunstância:
- Deve ser muito difícil para a senhora estar sozinha...
- Não! – atalhou ela apressada – O filha da puta já devia era ter ido há mais tempo! Batia-me todos os dias e duma vez até me obrigou a entrar no forno de lenha ainda cheio de brasas! Eu só pedia a Deus que ele morresse antes de mim nem que fosse só um dia... para eu poder saber o que é viver com descanso!... E Deus atendeu-me!
A minha surpresa foi tanta que não consegui conter um sorriso. Ela sorriu também e depois rimos as duas muito.
O semblante dela tinha-se alterado completamente e de repente até me pareceu mais alta. Olhei as suas cicatrizes com outros olhos.
Depois de mais algumas buscas e deduções a senhora acabou por sair dali com todos os assuntos burocráticos tratados.
Alguns dias depois apareceu de novo. Trazia uma bolsinha daquelas de crochet com uma fitinha à volta e um sabonete dentro, feita por ela, para me oferecer. Ainda a guardo.

Farinha Amparo

Lembro de quando eu era criança.
As Páscoas da minha infância sempre foram muito agitadas. Família inteira reunida, troca de presentes...
A Páscoa não adquiria nenhum sentido bíblico/católico. Era (e ainda é) um mero feriado sustentado pelas indústrias de chocolates.
Então, numa Páscoa entre o final dos anos oitenta e o início dos anos noventa, descobri a verdade cruel: o coelhinho da Páscoa não existe.
"O coelhinho não existe, mas o Papai Noel, claro, existe!" - era a verdade que insistíamos em sustentar. E tratávamos o assunto como segredo de estado. Passei a me sentir fazendo parte da elite da família por saber desse segredo. Os primos mais novos não sabiam, e sequer desconfiavam dessa trama maligna. Mas eu não! Era praticamente uma adulta e me sentia guardiã de um segredo sagrado.
Mas, enfim, nunca fui muito tolerante e frequentemente me irritava com meus primos mais novos. Não tinha o costume de bater em ninguém (ainda mais porque sempre fui banana e acabaria apanhando) mas passei a me vingar deles de uma forma cruel. Sem dó nem piedade.
"Você sabia que o coelhinho da Páscoa não existe?" era o que bastava para eu me sentir vingada, ainda mais quando saíam chorando. Destruí muitas infâncias. Como eu adorava aquilo!

Admirável Blog Novo

Agora vcs me dão licença, porque eu vou conversar com a minha mão

Querida mão,

Vc sempre me apoiou, e é exatamente essa a razão que isso é tão difícil. Vc sempre foi meu braço direito, literalmente, por anos e anos. Desde quando eu tive minha primeira e pequenina ejaculação. Vc nunca virou as costas pra mim, e nunca se incomodou quando eu quis ficar em casa de pijamas ouvindo músicas tristes, ao invés de ir ao cinema.

Vc sempre me deu o que eu quis, sem que eu cobrasse verbalmente por isso. Vc sempre foi gentil, e ocasionalmente dura, quando precisava ser. Vc sempre soube o ritmo certo e onde eu gostava de ser tocado.

Havia vezes que vc focava sua atenção em outro lugar, mas vc sempre vinha comigo pra casa. De noite, quando eu não conseguia dormir, vc era melhor que leite quente (ha ha). De manhã, quando eu lhe desejava, mas estava com muita preguiça, vc nunca ficou de cara feia durante o resto do dia. Vc sempre esperou até que eu tivesse tesão.

Nós nunca precisamos usar camisinha, ou preocuparmos com o constrangimento da manhã seguinte. Vc não se importou que eu não gostava de dormir abraçadinho. E nunca se ofendeu quando eu quis tomar banho logo depois do... logo depois. Vc até me perdoou quando eu prefiri usar um brinquedo ao invés de vc.

Nos últimos meses, vc tem sido extremamente útil. Me manteve fora de qualquer encrenca, mas não me repreendeu nas ocasiões que eu procurei por ela. Vc me fez feliz.

Mas agora, infelizmente, eu me cansei de vc. E de todas as coisas que vc pode fazer. Elas não superam mais as coisas que vc não pode fazer.

Apesar de vc sempre estar junto comigo, vc não tem sido suficiente. Vc não pode acariciar minhas costas até que eu adormeça. Vc não pode me abraçar. Vc não pode me amar. Vc apenas pressiona os botões que eu que quero no controle remoto.

Eu nunca tive que buscar-lhe quando seu carro quebrou. Eu nunca tive que conhecer seus pais. Vc não tem histórias para me contar, e nunca responde às minhas.

Eu não posso brigar com vc por beber direto da garrafa. Eu não posso massagear suas costas. Eu não posso fazer um moicano no seu cabelo enquanto tomamos banho.

Vc pode me alimentar, mas vc nunca me levou pra jantar.

Eu gostaria de dizer que a nossa relação é o bastante para mim, mas não é. Quando penso hoje em todas aquelas vezes que eu me senti triste e magoado como alguém, eu chego a conclusão de que, pelo menos, aqueles sentimentos me faziam sentir vivo. Uma vez eu cheguei a pensar que eu jamais sentiria de novo a falta da boca de um homem, da barba cerrada, das discussões, e de um sentimento romântico casual. Isso tudo sempre acaba me chateando, mas agora, eu sinto falta disso mais do que qualquer outra coisa que vc possa me fazer.

As circunstâncias atuais me dizem que eu devo aprender a conviver com vc pelo resto da minha vida, mas saiba que não estou satisfeito só com o prazer que vc me traz. Saiba que meu coração anda procurando por um outro alguém, e que nós dois vamos romper nosso compromisso. O quanto antes, melhor.

Pilo

29.3.04

Sabado à noite no metrô é pura diversão.

Um adolescente troglodita brinca com a máquina de vender livros, apertando números aleatoriamente. Aposto que nem sabia ler. Como disseram na hora, ele deve ter cheirado e lambido a máquina enquanto eu não estava olhando.

Claro que o troglô entra no mesmo vagão que eu. Mas ninguém alimentou o animal.

Duas bichas surdas conversam através de gestos. Bichas. Surdas. Gestos. Mais bizarro do que a família de surdos que encontrei na loja da Claro - porque surdos estariam comprando telefone? - mas isso é outra história.

Uma mulher usava um tênis enfeitado com tiras verde-fosforescente em alto relevo. Parecia que o Hulk tinha vomitado nos seus pés. Era que nem a bunda cabeluda do mecânico e o acidente de trânsito - grotesco, mas você não consegue parar de olhar.

A menina, sozinha, tira um papel da bolsa com um número de telefone e faz uma ligação no celular. Marca o encontro na frente das Sendas. Saltamos na mesma estação e eu, obviamente, fiquei procurando alguém com cara de "estou-esperando-uma-desconhecida-no-sábado-à-noite" na frente do supermercado. So não acompanhei o final da história porque já estava atrasada.

Ser proletária tem lá suas vantagens.

uma dama não comenta

O jornal inglês "The Guardian" publicou uma matéria sobre o polêmico filme "A Paixão de Cristo" de Mel Gibson, que retrata de forma violenta e realista as últimas 12 horas da vida de Jesus Cristo. Mas na matéria do periódico nada de controvérsias e polêmicas e sim mais uma amostra do refinado e afiado humor inglês: aqui estão algumas frases que os espectadores do filme poderão dizer no cinema em aramaico (o filme é todo falado no antigo dialeto) e impressionar a namorada e os amigos:

-kheeruut re'yaaneyh laa kaaley tsuuraathaa khteepaathaa, ellaa Zaynaa Mqatlaanaa Trayaanaa laytaw!
Pode ser descompromissado no uso liberal de violência gráfica, mas não é um "Máquina Mortífera 2".

Da'ek teleyfoon methta'naanaak, pquud. Guudaapaw!
Por favor, desligue seu telefone celular. É uma blasfêmia.

Shbuuq shuukhaaraa deel. Man ethnaggad udamshaa?
Me desculpe, mas cheguei atrasado. Perdi algum espancamento?

Een, Yuudaayaa naa, ellaa b-haw yawmaa laa hweeth ba-mdeetaa.
Sim, eu sou judeu, mas eu não estava lá aquele dia.

Ma'hed lee qalleel d-Khayey d-Breeyaan, ellaa dlaa gukhkaa.
Meio que me lembra "A Vida de Brian", mas este não é tão engraçado.

Ktaabaa taab hwaa meneyh.
Não é tão bom quando o livro.

Puuee men Preeshey, puuee!
Bu, Fariseus! Buuuu!

Etheeth l-khubeh 'almeenaayaa d-Maaran Yeshu Msheekhaa, ella faasheth metool Moneeqaa Belluushee!
Eu vim pelo amor de nosso Senhor Jesus Cristo, mas fiquei por causa da Monica Bellucci.

Feelmaa haanaa tpeelaw! Proo' lee ksef dmaa!
Este filme é horrível. Quero meu dinheiro de volta!

Saggee shapeer! Laa tsaabey naa d-esakkey l-mapaqtaa trayaanaaytaa.
Genial! Mal posso esperar para ver a segunda parte!

Ayleyn enuun Oorqey?
Quais destes são os Orcs?

Lebba deel daaleq, ellaa teezaa deel daamek.
Meu coração está pegando fogo, mas meu traseiro está dormindo.

Laa baakey naa-eeth gelaa b-'ayna deel.
Não estou chorando, é que entrou uma coisa no meu olho.

Peletaa kuullaah da-Qraabay Kawkbey.
É tudo uma alegoria de Star Wars.

Shluukh kleelaa d-kuubayk, pquud. Laa meshkakh naa d-ekhzey l-ketaan tsuur- aathaa.
Você poderia, por favor, tirar sua coroa de espinhos? Não consigo ver a tela.

Baseem, ellaa saabar naa d-etstebeeth yateer b-Lebeh d-Gabaaraa!
Não é ruim, mas eu acho que preferia "Coração Valente".

nhoque

EXPERIMENTA
Eu até queria discutir mais sobre ética e estética, mas, sabe como é, sou publicitário.

spectorama

Boa tarde, Fulano.
- Boa tarde.
- Vamos conversar um pouco?
- Aqui?
- Aqui.
- Infelizmente não será possível. O tipo de conversa que eu teria com você só pode acontecer entre quatro paredes.

*

E Gael. Gael é o terror, minha gente, eu tenho medo de Gael. Gosto não. Ele olha pra você com uma cara de ira que você se mija toda. Todo um histórico de agressividade, já derrubou duas portas, já bateu em todo mundo, pra conter Gael são necessárias quatro pessoas. Ele olha pra mim e fica calado e eu pensando eeeita que é agora. Ontem, depois de ter tido a medicação diminuída, Gael ficou violento de novo e tiveram que conter. Amarra Gael. E Gael tem os poderes de Magáiver, porque Gael se solta. Todo preso lá, braços pernas, ele vai e se solta, só deus sabe como.
E todo mundo chamando Gael de ninja, porque o ninja, porque o ninja. Descubro algum tempo depois que Gael é mestre em tudo que é arte marcial do universo. Avalie. Eu tentava fazer a anamnese e ele falando dos meus peitos. E eu dizendo que não era exatamente esse o assunto em pauta, que existem regras, Gael, e perceba que você está transgredindo. Gael tira o calção e todos vêem os documentos e apetrechos de Gael. Gael, isso não é engraçado. Guarde isso, vá. Chega o psicólogo homem muito macho pra me dar um apoio amigo e tão realmente necessário naquele momento. Gael, se comporte.
Gael senta, olha com aquela cara de vou-te-quebrar-todinha e pede uma massagem.
Ohdeus.
Gael, não tem nenhuma massagista aqui. Você tá num hospital. Gael se irrita e bate na mesa. Grita mais e muito que quer uma massagem.
- E tragam uma médica mais bonita que essa tá fraca demais!

Fico pensando no que raios ele faria se a médica fosse bonita. Valha-me deus.

coisas da Dra. Cris, do mon coeur vomit

Foi chamado de "fofo"? Dureeeeeeza. Como? Tá feliz? Rárárá!
"Fofo" é o xingamento velado que mais se usa por aí.
Quase sempre usa-se para elogiar, mas ele esconde insultos.
Dessas duas, uma:
a) você foi chamado de meigay
b) você foi chamado de gordinho
NUNCA É CHAMADO DE FOFO UM HOMEM QUE NÃO SEJA MEIGAY OU GORDINHO (ou ambos).
Mentira?

eu discordo do gravataí merengue

"O que não é o destino... se o farol não tivesse fechado, eu não a teria visto alí, parada no ponto de ônibus em frente à Cruz Vermelha, linda, linda, como uma criança a espera do escolar. Por que mesmo eu a abandonei? Apertava os olhinhos para enchergar o letreiro dos ônibus que passavam e não a levavam. A pequena bolsa bordô, os cabelos roçando os ombros... por que raios eu não quis esta mulher? O novo namorado saiu de trás da barraca de chocolates, um para ele, um para ela. Chocolates, eu sempre dava a ela chocolates e cartões. A blusa de alcinhas que deixava os seios apetitosos como duas mangas maduras, o jeans apertado, o tênis de zíper. Lembrei! Lembrei por que a enxotei da minha biografia! E não é que a pistoleira ainda não criou vergonha para aprender a amarrar os próprios cadarços?!"

bem vindo ao limbo

De quem é a culpa pela nossa decepção?
De quem nos decepcionou ou da gente, que esperou demais?

No meu caso, é uma decepção dupla, já que a causa sou eu.

passeata solitária

O que é de chupar, chupo, o que é de lamber, lambo, o que é doce, guardo para apeciar no devido momento.
Ela catava chepas de cigarro na sarjeta da vida. Ofereci um da minha carteira. Ela me fumou até o filtro...
Cigarrinho elegante em brasa, ela me empurrou contra a porta de um bar. No escuro dessa noite, os ratos perambulam sobre nossos pés.
Os copos transbordam, as crianças jogam dados, mentem para as mães, bebem cerveja e podem se quiserem, disperdiçar vida.
O que era de chupar, ela chupou, o que era de lamber, ela lambeu, e o doce ela não quis saber de guardar para mais tarde. Compromisso só com o diabo.
Tem novo fôlego a madrugada em tuas mãos.

perfumado na lama

No outono os loucos ficam mais loucos.
Médicos acreditam que seja a fuga dos dias.
As luzes diminuem.

saudade do presidente figueiredo

Furacão, né? Xi. Daí pra vulcão é um pulo.
Mais dois anos teremos atentados terroristas.
Existe pecado do lado de baixo do Equador.

bloggete

26.3.04

Como discordar de um post

1) Diga olá.
Discordar não deve impedi-lo de sorrir, dizer olá, tirar o chapéu, acenar acanhado para as outras visitas ou afagar a cabeça do cachorro do autor do post. Muito menos de limpar o sapato no capacho.

2) Encontre algo de bom para dizer.
Porque geralmente há. Aqui você deve agir como se quisesse avisar um amigo que ele fica ridículo usando costeletas. Comece dizendo que gostou do corte de cabelo, e dos sapatos. Pergunte se ele emagreceu. Só depois olhe para a costeleta, coce o queixo embaraçadamente e diga, com jeito, com jeito, “já isso aí, nunca gostei muito... Não sei, você não acha que envelhece as pessoas? Eu pensei em usar, mas não ia ficar bem em mim”, etc.

3) Se não tem nada bom para dizer, considere a possibilidade de não dizer nada.

4) Se não agüenta não dizer nada, nem tem nada de bom para dizer sobre um post que acha particularmente repulsivo, respire fundo, medite, se acalme. Tem certeza que o autor do post é um completo canalha, que merece a sua insolência, o seu sarcasmo e os seus insultos?

a) O autor não é um canalha, geralmente é bom – mas este post é infame e você tem que dizer algo a respeito, porque você é o tipo de pessoa que tem que falar sempre porque não tem absolutamente nenhum auto-controle. Além do mais, discordar veementemente de um amigo vai mostrar para todo mundo que você é uma pessoa independente, de opiniões firmes e cara zangadinha e blá blá blá.

Mas lembre, nada de insultos. O pior dos canalhas parece simpático se for insultado. E corte seus sarcasmos pela metade, ou (se conseguir; faz força) completamente. É possível discordar de modo polido, e de fato a discordância polida é a mais eficiente. Digo mais, do alto da minha sabedoria mundana, posta à prova e aprimorada ao longo de duas décadas ouvindo cretinos afirmarem a sem-gracice de Audrey Hepburn ou a canalhice intrínseca dos católicos: a melhor discordância é aquela que não apenas é polida, mas também agradável.
O modelo a ser seguido é o de uma visita. Imagine que você foi convidado para um jantar e o seu anfitrião disse um absurdo qualquer – que nenhum albino jamais fez contribuição alguma para a história da humanidade, ou que Frida Kahlo era ainda mais feia que as próprias pinturas que produzia. E por acaso você tem um tio que é albino, ou tem uma certa queda por mulheres com buço, e ficou irritado. Não importa, seja polido e agradável (minha paixão pela etiqueta me fez sucumbir ao uso do negrito). Mastigue calmamente a batata, tome um golinho de vinho, deixe o vinho descer, com calma, com calma, e diga afavelmente que não concorda. Sorrindo, se conseguir.

b) No caso do autor do post ser um canalha completo, asqueroso, você já errou ao ler o blog dele.

Se o xingar, você é quase tão gentinha como ele. Se o xingar anonimamente, você é exatamente tão gentinha como ele. Se não agüentar ficar calado (mas não agüentar nunca ficar calado é patológico), não precisa dizer olá, que canalhas não merecem nem olá; mas não insulte, e use uns poucos e bem escolhidos sarcasmos. O melhor mesmo seria fechar o blog, com cara de nojo, antes de comentar; e resistir à tentação de voltar lá para ler absurdos.
Se não conseguir resistir à tentação de voltar lá para ler absurdos, considere a possibilidade que o autor possa ser bom, ou você não gostaria tanto de se irritar com o que ele escreve.

Alguns detalhes finais

1) Evite o excesso de intimidade, sobretudo se é a primeira vez que comenta no blog. Isso vale tanto para as pessoas que discordam do post quanto para as que concordam com ele.
Imagine que você está na sua sala, conversando com suas visitas, quando entra alguém pela janela rindo e dizendo:
"Huahuahuahua Muito louca a sua casa, véi! Se der visite a minha também, faloowww... "
(Not done, old boy. Simply not done.)

2) Evite os conselhos de vida.
A situação é típica; alguém está andando na rua, ouve uma conversa sobre economia vindo de uma janela aberta, se irrita, mete a cabeça pela janela e aconselha o dono da casa a transar mais "que isso passa, huahuahuahua".
"-Huahuahuahua tu é gordo cara não deve transar nunca né??? Pega umas mina que passa kkkkkkk falooowww...."
Também evite aconselhar o autor do post a "dar a bunda que passa", "ler menos e viver mais", "ir conhecer esse Brasilzão de meu Deus", etc.

lições práticas de Alexandre Soares Silva

Estava pensando: caralho. O que explica um ser humano pedalar horas a fio numa academia para não chegar a lugar algum? Ou correr sei lá quantos quilômetros numa esteira para, ao descer dali, descobrir que se encontra exatamente no mesmo lugar? E no fim do mês ainda pagar por isso? Embora eu não seja do ramo, a explicação só pode ser psiquiátrica. Essas pessoas são adictas de endorfinas. Se você amarrar uma delas numa cadeira, ela começa com rubor facial, tremores, sua frio, sente palpitações, avança para convulsões, entra em estado catatônico, evolui para o coma e bate as botas. De morte matada. Vítima do próprio cérebro, que lhe diz antes do momento final: "A endorfina ou a vida". E se auto-extingue, utilizando uma região cerebral ainda não estudada pelos cientistas. Na falta de tempo ou dinheiro para a academia, a pessoa arruma um cachorro. E todo dia caminha horas e horas "no ritmo dele" em volta do quarteirão. "Tadinho, ele precisa tanto". Conversa. É o dono que precisa. A coleira está no cachorro para disfarçar. É o animal que tira o dono da cama para levá-lo a suar, maltratar tendões e ligamentos, desgastar as articulações. Ninguém me contou, eu já vi. Adictos. Ou viciados, como se dizia nos tempos politicamente incorretos. Não entendo de química, mas, conhecendo os laboratórios, tenho certeza de que logo teremos endorfinas sintéticas na farmácia. Quer dizer, teremos não. Alto lá. Terão. Eles terão. E aqueles que não puderem comprar contarão com o apoio dos EA. Endorfinômanos Anônimos. Sem os 12 passos, senão eles correm.

do Não-Endorfinômano declarado catarro verde

Com a morte de meu pai, cabe-me agora providenciar o inevitável esvaziamento de uma casa inteira, a casa onde cresci e de onde saí aos 25 anos, a casa que meu avô materno fez erguer no final dos anos 40, a fim de que sua filha, quando viesse a se casar, morasse com o mesmo padrão de conforto a que fora acostumada e - aqui a presumida intenção principal - não ficasse muito longe dele.

(...)

Não posso continuar mantendo aquela casa. Nem teria cabimento eu deixar meu apartamento e voltar a morar nela. É grande demais para mim, exigiria manutenções constantes e dispendiosas. A casa, que já foi um lar, tornou-se apenas um imóvel, uma herança. Eu a venderei tão logo me seja possível, porque assim deve ser, e será, e acabou-se!
Provavelmente o novo proprietário botará abaixo metade daquele imóvel, mandará raspar todos os florões, as guirlandas, os medalhões que enfeitam aqueles tetos; derrubará muitas paredes, modificará as escadas, arrancará portas e janelas. Que seja, já não me importo mais. A velha casa, aquela que existe entre minhas lembranças, não pode ser desfigurada. Ela permanecerá sempre comigo, para o bem e para o mal, entranhada.

Estive pensando no que eu gostaria de retirar daquela casa física e conservar comigo. Alguns quadros, sim, objetos de certo valor artístico, um carrilhão vitoriano que soa lindamente, um lustre enorme, de oito braços, esculpido em madeira mil vezes mais dura que a minha cabeça (não me perguntem em que teto vou pendurar aquele polvo). Ah! eu gostaria (por razões sentimentais) de poder ficar com o sofá preferido de minha mãe, que é vitoriano e forrado com uma seda francesa de verdes profundos, sem um único defeito. Mas onde eu colocaria um sofá wildeano daqueles? Nem pensar! Nem pensar! O sofá será vendido e provavelmente o comprará, num antiquário qualquer, uma dessas emergentes vulgares, dessas deslumbradas imbecis que vivem falando em dinheiro, em grifes, mas nunca aprenderam que chic é algo que se tem e não algo que se é*. Dane-se o sofá vitoriano. Trá-lá-lá! Que vá receber outras bundas, e bem ordinárias, por certo. Uma imagem horrenda me chegou agora mesmo: a emergente vulgar deitada naquela seda e abrindo as pernas para um Wandercleyton - garoto de programa bem dotado. Bem, o que tenho eu com isso? Assim é a vida, não é? Dane-se!
Dane-se também o par de poltronas Luis XVI, que já perdeu todos os dourados e precisaria de reparos urgentes de um tapeceiro.

Confesso que senti certa raiva do meu pai, por ele ter acumulado tantas coisas, tantos objetos, coisas que agora se transformaram num fardo, muito mais do que num prêmio.
Minha mãe sempre quis se livrar de muitas daquelas velharias, mas ele, meu pai, jamais permitiu. O sonho de minha mãe era morar em um apartamento pequeno, moderno e prático, bem longe daquele acervo de inutilidades. Meu pai, muito ao contrário, cultuava cada objeto, não se desfazia de nada, e a casa onde vivia era o altar festivo de suas vaidade tolas e chatas. Quantas ilusões o guiaram do berço ao túmulo! - é uma constatação, não uma pergunta. E como ele deve ter sofrido, sendo tão apegado a essas ilusões! Pouco antes de ele morrer, fez-me prometer que eu preservaria a casa, preservaria carinhosamente seus tesouros. Prometi, menti despudoradamente, disse as besteiras todas que ele queria e precisava ouvir. Agora farei o que deve ser feito: tudo muito diferente do que seria a vontade dele! Não sinto culpa, não. Sinto alívio. Chega de altares e atavios, chega de gobelins empoeirados. A cerimônia terminou. Fim da liturgia pagã!

Quantos desencontros de sonhos, meu Deus! É impressionante! Eu, meu pai, minha mãe, cada qual olhando para uma direção diferente. Assim foi a nossa vida. Nunca pudemos caminhar de mãos dadas, nunca. Dane-se também a fantasia de que a felicidade será concedida apenas aos caminhantes que seguem bem juntinhos em direção a Oz!
Jamais consegui agradar a meu pai, que eu saiba. Não lhe dei desgostos, mas tudo o que eu lhe oferecia de melhor, tudo, tudo, fosse o que fosse, sempre acabava parecendo errado ou insuficiente. Sinto-me como um homem que passou a vida inteira tentando acertar sua bolinha em uma determinada caçapa, mas nunca conseguiu. Tentou de todas as formas, por todos os meios e ângulos, mas a maldita caçapa não queria receber a bolinha. Não queria e demonstrava que nunca haveria de querer. Num determinado momento, depois de anos e anos de tentativas inúteis, o homem enche o saco, perde a paciência que lhe restava, apanha um machado de 7 quilos (desses machados de bombeiro) e resolve destruir a mesa, a caçapa e a bolinha. Manda tudo às favas, arrebenta, esmigalha, tritura e percebe que aquele jogo nunca fora o seu jogo; era apenas uma armadilha destinada a minar sua autoconfiança.

No dia em que, pela última vez, eu fechar as portas daquela casa, seguirei em frente e não olharei para trás. Nunca mais pretendo passar por aquela rua. Se, num descuido qualquer, mesmo contra minha vontade, acontecer de eu passar por ali - fecharei os olhos e imaginarei estar em qualquer outra parte do mundo. Não verei a casa novamente, não verei o que quer que tenham construído em seu lugar.
Tenho, hoje, plena convicção de que fui um menino que teve tudo e não teve nada. O que existe de bom em mim, agora como homem, se é que existe, eu mesmo criei, cultivei e desenvolvi apesar dos pesares, apesar da velha casa de Perdizes - onde tive poucos belos sonhos e muitos, muitos pesadelos.
Game over!
Abracadabra!
New game!
Qualquer novo jogo serve, desde que seja outro, desde que seja bem diferente daquele jogo que já perdi ou que se perdeu por si mesmo.

cmagico

o amor que move as estrelas

“O amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade.” 1 Coríntios, 13: 6

Volto à Bíblia para falar de amor porque em nenhuma obra moderna encontro equivalente. O papel hoje recebe impressão de terapias, de críticas, de ódio, tudo disfarçado de amor.

Amor, hoje, só nas letras de música do pop, e com sofrimento.

Não terminei ainda a Comédia, mas no final de cada parte, Dante insiste em ver estrelas, e encerra a obra com o verso: “l’amor che move il sole e l’altre stelle”.

Caminho pelas ruas de São Paulo, o que para os cínicos parece um verdadeiro exercício de amor, e me pego transbordado, cheio dessa sensação de olhar para prédios, carros, árvores e pessoas e sentir-se bem, sentir carinho, satisfação, interesse.

E sem deixar de ver a feiúra, física ou moral, a sujeira do centro, a gritaria dos que não sabem falar. A cidade com nome de santo é mesmo uma ilha do purgatório, como disse alguém que ouve Nick Cave cantando “Here Comes the Sun”.

Há muita maldade no mundo, há muita maledicência na rede, e, se perco meu tempo apontado o ridículo dos líderes, tento sempre recusar o ódio.

E é fácil odiar. A indignação moral é o primeiro passo para aceitar o ódio. Você pode subir a escada ou pode descer, onde encontrará outra tentação, o desespero. O desespero é cinzento? Ele arde em quem foi consumido pelo ódio sem nada ter produzido nem alcançado com isso.

E há os que sobem a escada, os que construíram grandes coisas com seu ódio e com sua indignação moral. Estes são peões de obra. Um cavalheiro não odeia, debocha. Um cavalheiro se recusa a tal trabalho de pedreiro.

Para quem acha cavalheirismo coisa de fresco ou para quem não entende o que é ser cavalheiro, mais um versículo:

“Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento.” 1 Coríntios 14: 20

As crianças amam e odeiam facilmente, mas nenhum engenho frutifica da malícia infantil. Nada constróem com seus ódios. E, se cabe mais uma digressão, o fundamento do cavalheiro é o fair play, a existência não é uma brincadeira, mas a vida humana, a vida que levamos, está bem longe de ser séria, e me recuso a ser envenenado.

Atravesso as ruas e penso no que se repete ao longo dos dias. Todo dia parece necessário dizer ao próximo: você não é obrigado a nada, você é livre, todas as suas preocupações são responsabilidades suas, você sabe que pode parar de fazer da própria vida o seu inferno.

E não abro a boca para dizer nada disso. Por timidez? Por querer publicar mais um livro de auto-ajuda e forrar o cu de dinheiro? Talvez, mas também por respeito. Que eu ame as pessoas, isso não me cega, há mais disposição para falar e reclamar do que para ouvir.

A fala não tem sido o melhor instrumento. A escrita muito menos, o ódio tem mais aceitação, mesmo nos blogs, que o amor.

E, no entanto, é o amor que move as estrelas.

saudade do presidente Figueiredo

começo de outras coisas... 

Quase 35 anos de idade e cheio de pendências. Tinha que dar um jeito em minha vida. Sacudir certezas e jogar tudo para o alto.
Para começar, apaguei do HD das boas lembranças as gostosas trepadas furtivas com mulheres egoístas (EGO mesmo). Divertidas, intensas, insanas até.
Mas certas coisas, depois de 2 anos ficam sem sentido, parecendo EU, LEITORA, da revista Marie Claire. E como não gosto de ciúme, nem de esperar na fila, nem de deixar de ser o melhor pau da sua vida, nem de segredos tolos, varri as memórias e o cheiro da buceta molhada para o baú do passado e sumi com a chave. Se rolar, a gente se vê por ai.

Faltava resolver uma foda pendente desde 2000. Achava ela patricinha demais, apesar da inteligência, humor, da fome pelos mesmos autores que eu e pela devoção fraternal que temos um pelo outro. Na verdade eu achava ela gostosa demais pra mim, e assim nunca tentei realizar meu desejo.

E nessa semana de (re)definições acabou acontecendo. Muito, muito foda. Ela é perfeita. Mas já foi.

Faltava pedir demissão. 7 anos remando contra a maré numa empresa gigante, mas ainda imatura em relação as maneiras de estimular o capital humano.

Pedi. Choraram mas aceitaram.

Agora vivo os últimos dias nessa armadilha de concreto e ondas eletromagnéticas e cercada de intensos tiroteios diários com diversos calibres. Vou para São Paulo. Novos ares, outras paixões.

No Rio deixo duas: uma antiga e uma nova. A antiga, o sorriso perfeito, os olhos de deusa pagã, emoldurados pela cabeleira castanha. Quer me ver grande, feliz. Nossa ligação transcende o presente e vamos nos cruzar outras vezes. E duvido muito que nos abandonemos, já que mesmo com todas as limitações, vivemos o que precisamos viver.
Além do tesão absurdo, das revoluções que promove em mim, tenho um orgulho profundo pela sua capacidade de realizar e uma admiração especial pela sua inteligência e beleza.

A nova é uma paixão pelo conhecimento, pelo novo, pelo prazer de ensinar e ver surgir um celeiro de idéias embebido em feminilidade - uma delícia de estimular, provocar e ver trazer respostas novas e inusitadas para velhos problemas. Queria poder orientá-la até o final, acompanhá-la nessa jornada para a qual a escolhi, mas meus novos caminhos não permitirão. Vou telefonar, dar força por e-mail - quero que a trajetória profissional dessa moça seja vitoriosa também.
E se você ( é você mesma, chatinha...) quiser realmente saber o motivo de ter sido escolhida ( além da sua competência para o trabalho)....basta escutar a música 8 e viajar no título.

Agora é partir para Sampa e começar do Zero. Esquecer os momentos que vivi naquela cidade nos anos 90, no topo da cadeia alimentar, um popstar MTV na flor dos 21 anos de idade. A fama acabou, a vida me atropelou, mas sobrevivi.

Agora vou torcer para que os amigos locais ajudem a superar o trauma dos primeiros dias sem Dani e Lia.

E mergulhar de novo nessa cidade que amo.

L'ENCRE INVISIBLE

Minhas fezes para o contorno

Quem puser a mão sobre mim, a fim de me governar, é um usurpador, um tirano, e eu o declaro meu inimigo. Quem mexer no controle ou puser som alto, pior ainda.

O mau gosto... o livre-arbítrio foi, decerto, criação do demônio. Antes do mais astuto dos animais influenciar a mulher, tudo era bom; foi só mexer no fruto, que já começaram a aparecer anjos bregas empunhando espadas flamejantes na Bíblia.

Há quem maldiga o Eclesiastes, dizendo que com um pouco mais de vaidade por aí, as pessoas teriam vergonha de escutar e ver as basculheiras com que nos acometem diariamente.

O problema não é falta de vaidade, as pessoas continuam vaidosas, o problema é terem contado a todos que o ser humano é ridículo, pobre, medíocre e débil-mental. Deveria ser o mais confidencial dos segredos, este sim protegido com espadas flamejantes.

dies iræ

Da série NINGUÉM É O MESMO, MESMO QUE SE REPITA

Eu tentei soltar pipa, a pipa não me soltou. Fiquei enredado de olhos. A pipa é uma vara de pescar pássaros. Eu esqueci meu casaco ontem. Eu não peguei o troco no lotação. Eu me desfiz em detalhes. Estou onde não começo. Se desfazer em detalhes é ser devoto dos ouvidos. Me pareço com a neblina. A neblina é um rio tímido. Eu queria pintar quando pequeno. Admirava o copo de requeijão com os pincéis dormindo. A tinta se espreguiçando na água, de camisola. Lembrava o mar de Tramandaí, que não é azul, mas água do azul. Queria trocar o copo de escovas de dente por um copo de pincéis. Meu tio tinha dentes pretos. Eu acho que ele trocou os copos. Em casa, havia um dia em que a milícia materna recolhia as revistas de mulheres peladas. Todos os esconderijos eram vasculhados, saqueados. Embrabecia com meu irmão caçula que ajudava a mãe a arrecadar as musas. As publicações raras e do mercado clandestino da escola queimavam na lareira. Inquisição doméstica. Depois é que fui entender meu irmão. Ele queimava as revistas para poder olhar as mulheres. O fogo era sua liberdade.

Fabricio Carpinejar

Personagem

Inventei Pedro em um dia de dor. Pensei: se eu deslocar o sentimento de lugar, talvez eu já não sinta esta náusea que me joga contra o chão. Então inventei. Fiz um primeiro esboço no papel pardo e comecei pelo nome. Deveria ser forte, masculino, rígido. Pedro nasceu em idade madura, em cidade de mar e com ternura nos olhos. Precisaria ter bom domínio sobre as palavras e linhas. Pedi ao Rubem: ensine ao meu Pedro a receita de teu lirismo. O fermento cresceu. Amei Pedro em um dia de dor. Porque seus braços eram macios, sua voz era suave, seu calor era delicado e suas palavras eram aconchego. E quando acordei já não havia dor ou qualquer lembrança dela, mas havia o homem inventado, criado, recortado, costurado. Eu devia tê-lo chamado de Frank.

Walkwoman

O mundo de um míope

No céu, apenas os míopes podem entrar. Eles estão acostumados com as nuvens que passam diante dos seus olhos e a claridade suprema do por do sol. Andam sem conhecer o chão por onde pisam, conhecem o caminho sem saber a paisagem que está ao seu lado. Não reconhecem no espelho os sulcos que o tempo fez na pele de quem ama.
Ama incondicionalmente a alma que um dia conheceu perdida e disforme em meio a todas deformidades que estão nesse mundo. Passa a vida inteira num sonho, e molda seu mundo o mais bonito quanto sua imaginação pode determinar. Seu padrão de beleza não pode ser envenenado com silicone, secadores ou cílios postiços. È um ser sinestésico que ouve o silêncio das retas, o eco das curvas e o sal da chuva. E quando ao usar seus óculos reconhece a espuma das ondas do mar, chora! Por ter certeza que o mundo real é realmente tão especial o quanto ele imaginava.

Em caso de coma - Me coma!

Ele comeca a aparecer bastante nos meus shifts ultimamente. o que me surpreende um pouco. Sexta-feira apareceu rapidamente, no sabado tambem e ontem me ligou perguntando se podia me visitar. E veio com essa:foi convidado por uma revista( ele eh fotografo free-lancer) bem moderninha, a Vice, que queria strippers brasileiras como modelo! Nao eh uma revista masculina e sim de comportamento e talvez seja algo interessante.
Quer que eu pose e chame outras duas, para dai escolher a melhor foto. Mas nao sei ate que ponto devo ajudar esse cara, que pisou na bola legal comigo ano passado. Vou pensar no caso.

(...)

Essa semana ainda nao parei. Segunda-feira considero meu dia de folga mas a agente me ligou e pediu para eu trabalhar. Quis recusar mas ela me propos uma troca: eu faria o clube que ela queria ( o lugar eh longe, acaba de 2 das manha e nao eh facil de fazer dinheiro) e ela trocaria o meu shift fraco da quarta por um bem melhor. Ai a coisa mudou de figura pois a troca era otimo negocio. E nao foi de todo mau para uma segundona, deu para faturar algum.
Na terca foi a vez de fazer um pub no leste de Londres, lugar meio derrubado e frio, mas tudo bem ja estou acostumada . A clientela eh mais de trabalhadores, um povo simples e simpatico. Passei um pouco de frio num shift que parecia nao ter fim mas no final sobrevivi. Apenas duas meninas dancando por 7 horas ! Cansativo, viu! A colega era uma outra Maya, uma polenesa gracinha demais, com um sorriso doce de menininha. Sempre bom trabalhar com quem nos damos bem.
Ontem, quarta-feira liguei bem cedo para a agente para confirmar meu trabalho, e fico feliz pois, como ela me prometera ,vou fazer um pub bom ao inves do que estava destinado inicialmente para mim. Esse eh longe tambem, no oeste de Londres, perto do Aeroporto de Heathrow e eh considerado um dos melhores lugares da agencia pois os clientes sao bem-educados, o pub limpo e organizado, o palco eh otimo e a perspectiva de ganhos eh razoavel. Outro dia cansativo mas agradavel. O Mike la aparece; eh um cara super gentil e educado, admirador antigo , que foi morar em Dubai mas de ferias por alguns dias na Inglaterra quis me ver. Quer dizer, ver a Maya. Uma das facetas dessa atividade , alias, que tanto agrada as meninas que a exercem, eh poder ser objeto de tanta admiracao masculina.

Naked Emotions

25.3.04

Para quem ainda tem dificuldade de saber a diferença entre Software e Hardware:

- Software: é a parte que você xinga
- Hardware:é a parte que você chuta

Pérolas do Dia

Paixão de Cristo:

Sapinho: - eles sabem mesmo escolher ator para fazer papel do mal.
Alice: - pois eu acho que eles sempre escolhem homens bonitões para fazer Lúcifer. Com um capeta assim até eu quero ir para o inferno.

Rascunhos de Alice

Para quê inaugurar technicolor, se depois irias me deixar preto e branco. As crueldades miúdas estão sob minhas unhas, tingindo a pele de roxo. Para quê dar alturas se depois me negarias asas, para quê amor perfeito se chuva não mais. As crueldades graúdas estão enfiadas num cordão e as levo penduradas no pescoço. Para quê cachos de uva se me deixarias à míngua, para quê ensinar teu nome, se me arrancarias a língua. As crueldades que não consigo carregar dormem ao meu lado e ocupam teu lugar.

Não Discuto

O dia do capeta

E eu que sempre achei que um dia o capeta em pessoa desceria no Maracanã lotado, com transmissão ao vivo pela Globo. As outras emissoras também teriam direito a um naco. Pode ser no domingo, mais ou menos no horário do Fantástico. Penso nos preparativos da semana, Jornal dos Ôgro na porta, escola de samba ensaiando. No domingo, estádio lotado desde cedo: o espetáculo começa às quinze. Em campo, Barbosa, Marta Rocha, Pelé mumificado, Mário de Andrade, Gérson, Rivelino, Chacrinha, Drummond e Grande Otelo, o Mequinho que chegue mais cedo, por favor. Também temos direito a Ronaldo cabeça-de-peteca, Santos Dumont, Fittipaldi, Gonzagão, Garrincha, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Exigimos Nelson Rodrigues, a família Maravilha (Dadá, Fio, Túlio e Mara), Lampião, Rui Barbosa, o bandido da luz vermelha e Silvio Santos; queremos a batucada de Zé do Caixão, Flávio Cavalcanti, Roberto Carlos e Padre Cícero, além das jogadas de Vicente Matheus, Dercy Gonçalves, Golbery, Dona Zica e Conselheiro. Tudo isso com direito às companhias de Carlos Lacerda, Zagallo e João Saldanha no camarote especialmente cedido pela dupla Vargas-Beijoqueiro. O capeta chegará por volta das onze da noite, de helicóptero. É nesses momentos que penso na segunda-feira: o que restará desta apoteose em uma mísera manhã de segunda-feira?

O mujique

Cena carioca I

Estava Isa, essa docinho que vos escreve, hoje de manhã num guichê de estacionamento de um dos grandes shoppings da cidade. Tinha perdido o cartão do estacionamento e se preparava para enfrentar, com paciência zen, a maratona burocrática que isso significava. Preenche formulário, mostra documento, e ainda tem que aturar aquele ar da atendende: "Essa perua não tem mais o que fazer do que perder papel em shopping...".

Enquanto enfrentava a situação, aproveitava para exercitar o meu lado "docinho". Até que chegou um segurança e, naqueles rádios que obrigam o cara a falar bem alto, anunciou:

- Tem uma senhora aqui muito nervosa porque perdeu o carro com a mãe dentro.

Primeiro, pensei: "Não seria ao contrário? Ela perdeu a mãe, que estava num carro...". Depois, não resisti, virei para atendente e disse:

- Perdi o tíquete, mas pelo menos não perdi a mãe, né não?

Elas por Elas

Do outro lado do telefone:

- Procura uma música na Radio Uol pra mim?
- Eu não to na frente do computador.
- Ahhhh vai lá então.
- Não tem telefone lá.
- Eu ligo no celular.
Atendo celular....
- Desliguei o computador sem querer e agora não quer conectar.
- Eu espero.
- Entrou.
- Digita um post pra mim?
- Vai falando aí que eu digito.
......
- Deleta tudo, não quero mais.Depois eu faço.Procura Coldplay na Radio Uol?.
- Não tem Coldplay na Radio Uol
- Vai na Usina do Som entao...
- A Usina do Som não ta entrando.
- Vai no Kazaa e procura la pra mim.
- No Kazaa não ta querendo achar nada
- Eu não posso dormir sem ouvir essa música
- A Usina do som voltou...fala aí a música.
- Shivers
- Ok...colocando...
Quando a música acabou...
- Ouviu? Alo? Alo?Aloooooou?
Dormiu do outro lado, com o telefone ligado, eu que sou boazinha, depois desse trabalhão todo, deixei " rolando" o CD todo em modo repetitivo e o celular ligado ao lado, zelando o sono da criatura, e fui dormir, não sou eu que vou pagar a conta mesmo.

Casos e Acasos Virtuais

WHITE MAN'S BURDEN 

Só adquiri o hábito de ler depois de adulto, aos 25 anos, quando me mudei para o apartamento onde moro hoje. Não consegui, por apoucado pelos mercurismos da genética, pensar em outra via de convivência que não acondicionar sistematicamente meu lixo em sacolas plásticas da livraria Cultura, como forma local e reconhecível de me impor. A prática gerou efeitos melhores do que eu poderia imaginar. Em apenas três anos o vizinho da direita - direita de quem do meu apartamento olha para o corredor - defletiu para outras e ignotas paragens, poupando-me gentilmente do constrangimento de familiarizar-me com suas feições. O da esquerda, conquanto menos solícito, já aprendeu a usar fones de ouvido e a não trazer para casa mulheres que riem alto demais (um dia ele vai me agradecer), e no momento se esforça para domesticar o assobio. Com o apartamento da direita ainda vago, tenho razões para considerar essa etapa virtualmente encerrada, e passei a substituir as sacolas da livraria Cultura por acondicionadores de lixo proprio sensu - pretos, opacos, subentendidos e adequadamente impermeáveis à curiosidade alheia. Pelos próximos anos, planejo deixar cair ingressos de concertos de música erudita no corredor, o que me parece perfeito, exceto pelo fato de que não vou a concertos com muita freqüência.

Apesar de tudo, pretendo rejeitar até a morte o rótulo de metrossexual, por saber que não fica bem em mim adotar opções sexuais mais novas do que eu e por não conhecer marcas de xampus e condicionadores, crendo firmemente, quanto a esse particular, na bondade intrínseca do estado de natureza.

Contos Licenciosos

24.3.04

Eu simplesmente tenho vontade de escrever, nada que valha a pena, nada interessante, nada que tenha sentido ou finalidade específica. Somente escrever, sentir o barulhinho do teclado enquanto eu o toco, olhando para tela, e vendo formar-se palavras, palavras corretas de idéias incompletas.

Nada de melancolia, de tristezas, de chateações, nem alegrias, prazeres ou soluções, nada, absolutamente nada, somente o barulhinho do teclado, e as palavras na tela.

Isso é bem gostoso, todos deveriam experimentar, ir tocando com os dedos as letras do teclado, ouvindo seu ruído peculiar, olhar na tela e perceber que palavras estão se formando, ainda que nestas palavras não se vislumbre ou se produza um única idéia.

veleidade

A Mais bela História de Amor:

-Minhoca, Minhoca, mê dá um beijoca?
-Não dou, não dou, não dou...
-Então eu vou roubar!
SMACK!
-Minhoco, Minhoco, você tá ficando louco! Beijou do lado errado. A boca é do outro lado!
SMACK!

Ah! Se as coisas fossem tão simples assim...

O Sorriso do Gato de Alice

Dúvida Mundana

Olha, eu acho que fazer sexo é melhor do que trabalhar - sempre, sem exceção. E isto tem uma explicação bem simples: sexo, mesmo quando é ruim, é bom, enquanto trabalhar, mesmo quando é bom, é péssimo. Não tentem me convencer do contrário. Então eu queria saber porquê as pessoas passam dez horas por dia trabalhando e meia hora por semana fazendo sexo (quando muito). Não quero respostas do tipo "é porque se passar o mês inteiro fazendo sexo, você não vai receber um salário no final do mês". Quero explicações mais plausíveis e criativas, até porque não é preciso trabalhar para sobreviver: basta ganhar na Megasena. E ainda assim, duvido que os novos milionários passem mais tempo copulando do que aturando chefes ou clientes. Trabalhar deve ser mesmo muito divertido. Eu é que ainda não descobri as delícias da labuta.

Morfina

23.3.04

Ele é do mesmo boteco suspeito que você frequenta. E agora, na esquina do mal,
você descobre que ele é mestre na arte de soltar o sutiã com uma mão só.

old style for the new generation priority

Na faculdade (estou fazendo faculdade de jornalismo & cursinho), os veteranos publicam um jornalzinho. Na única edição que eu li, tinha uma matéria sobre prostituição. Alguns veteranos com personalidade o suficiente para abordar travestis e prostitutas o fizeram. Ótimo, néam? Eu acho.
Mas uma pessoa SUPER inteligentíssima da minha sala disse que "isso não era matéria pra se colocar no jornal de uma faculdade, onde já se viu, que nojo". Ai, LORD. E por acaso nós temos sociologia no currículo. Não, claro, ninguém se prostitui. Nós só compramos roupas de 120 reais e assistimos Big Brother, as pessoas fazem escova definitiva de 700 reais, adoram ouvir uma música que diz "eu vô pegá essa mulhé pra mim", mas estamos tãããão longe dessa realidade...

adoçante

A primeira bigorna a gente nunca esquece

Hoje voltei para casa trazendo a minha bigorna... foi feita por uma empresa chamada Hay-Budden, que operou de 1890 até por volta de 1925. Ou seja, minha bigorna tem pelo menos por volta de 80 anos de idade!

Segundo o Sonny, meu professor, é uma bigorna excelente e tem um som muito claro e bonito. Acabei de me tocar que não experimentei bater nela com o martelo. Mané!

A bigorna estava guardada no segundo andar de um galpão na casa dele. O detalhe é que o galpão fica na parte de baixo de um declive, e não tem um caminho bonitinho para chegar nele. Então imaginem eu descendo pela escada do galpão e depois subindo por um barrancão... com uma bigorna de 40 kg nos braços.

Lições aprendidas hoje no serviço:

1) Existem cavalos com olhos azuis!
2) Existem mini-jumentos!

Entre Quatro Estações

gribada. muito, muito gribada.
podre.
peguei a gripe do alexandre.
eu sei que casamento é união de corpos e bens e tal, mas num dava pra deixar os germes de fora, meu?
gribada. mal-humorada. chata. sem editora. nada de cartas de amor. gribada. tv a cabo fora do ar. janta por fazer. garganta arranhando. alimentando sentimento pouco generosos e nada cristãos sobre a humanidade em geral e as crianças do meu prédio, que gritam na quadra, em particular. gribada. sem coragem de usar letras maiúscula. espinhas. gribada. uma máquina cheia de roupa pra pendurar. montes de mails pra responder. melhor amiga em crise. mãe doente. gribada. tio na uti. filme vagabundo na tv aberta. casa bagunçada. gribada. cachorro que comeu a almofada do sofá. cachorro que avançou no síndico. enrolada num cobertor xadrez que pinica. fitas bagunçadas. arrumação de outono do guarda-roupas deixada pela metade. gribada. propaganda da tentativa de reeleição da prefeita na tv. telefonema do tintureiro pra avisar que perdeu meu edredom de florzinha. gribada. gribada. gribada. gribada. nariz entupido. pé doendo, cabeça doendo. cabelo sujo. gribada. gatos revortosos. pobre. celular fora da área de cobertura. invejosa. malvada. feia. gribada. gribada. sem conseguir fazer o texto do jornal meio norte. multa de trânsito num lugar ao qual eu nunca fui. gribada. ruim. nariz escorrendo. unhas totalmente roídas. gribada. sem boletas da alegria.
não bom.

¡Drops da Fal!

Solidão é uma coisa vergonhosa

A amiga comprou uma picape. Carro de dois lugares, logo começaram a questionar a escolha. E ela:
– Ué, pra que mais? Eu não tenho namorado.
– Mas pode arranjar um, e aí?
– Arranjar como? Não: o banco do motorista é para mim, o do passageiro pra minha bolsa. Tá bom demais.
Agora, meses depois, pensa em trocar de carro. Um namorado imprevisto tomou o lugar da bolsa.
O amigo mandou um e-mail pessimista. Assunto da mensagem: "Momento Marco Aurélio". No texto, ele falava da solidão, da falta de perspectiva. Isso foi há um ano. Um mês depois ele conheceu uma garota e começaram a namorar. Moram juntos agora. Criam poodles.
Apesar desses exemplos de dois dos meus amigos mais próximos, eu não dava o braço a torcer: ia morrer sozinho num apartamento escuro, meu cadáver seria encontrado uma semana depois. Ou então eu criaria jibóias, e elas dariam cabo do corpo. Não havia decidido ainda que fim me esperava, mas sabia que seria trágico e solitário. E aí uma namorada saída não sei de onde me obrigou a rever meus planos.
E agora eu me sinto ridículo ao lembrar das coisas que eu dizia, e estou certo de que meus amigos sentem o mesmo. Quanto amargor, quanto desespero! E para quê? Para vir uma menina e, com suas mãozinhas pequeninas, jogar tudo isso fora e deixar entrar um pouco de ar. Ah, que vergonha dos meus sonhos de misantropia!
Você também alimenta sonhos assim. Nah, não negue. Eu sei. Aceite um conselho de titio: evite essas bobagens. Quanto mais você falar em solidão eterna, em isolamento perpétuo, mais vergonha irá passar quando aparecer quem o livre do peso. Porque nem pesa tanto assim, e vai ser uma baita desmoralização quando alguém tirar com um sopro toda essa carga que você diz ser tão insuportável.

Jesus, me chicoteia!

Enquanto isso, nos bares da vida...

- Olá! Posso me sentar aqui?
- Pode, oras. O banco não é meu, é do bar...
- ...
- ...
- Você gosta de bebida?
- Gosto, mas não quero nada, obrigada.
- ...
- ...
- E de comida? Posso lhe pagar umas batatas fritas?
- Adoro, mas não. Estou de regime.
- ...
- ...
- Você gosta de cigarros?
- Hein?
- Cigarros. Você gosta de cigarros?
- Não, eu não fumo.
- ...
- ...
- Você gosta de...
- Diz uma coisa? Como é o seu nome, rapaz?
- Ronaldo.
- Ronaldo? Ok. Ronaldo, você gosta de foder?
- Claro!
- Então vá se foder e me deixa atender outras as mesas, faz o favor?

Alea Jacta Est

. Marque com um "x" a opção correta .

Já falei que minha mãe faz 72 primaveras esse ano?
Não, né?

Agora tu imagina aí. Setentaedois. Nascida e criada na caatinga, terço na mão, missa todo sábado, comunhão, confissões, essas coisas. Problemas mil com questões certo/errado, e aqui não falo daquela página da Capricho, falo das coisas certas e bonitas e próprias das pessoas tementes ao Pai e das coisas erradas, inspiradas pelo demo, vôte.

Preâmbulo concluído, vamos aos fatos.
Mocinho do metabolismo de caldeira veio passar uns dias de folga comigo. Tá aqui desde quinta. Num hotel. E eu meio que tô lá com ele. Venho em casa de manhã, lá pelas dez, dizer "presente, fessôra", pra não acabar de esturricar o filme, mas nem tá adiantando muito que ela nem tá falando comigo.

Pior foi na quinta, depois do jantar com o mocinho, quando liguei pra casa:
- Mãe?
- Oi, filha.
- Tô ligando pra avisar que vou dormir fora, viu?
(suspense)
(suspiro)
(voz trêmula)
- Filha, cê tem coragem de me dizer que vai dormir com esse homem?
- Ô, mãe. Se eu não ligo avisando a senhora morre de preocupação, se eu ligo avisando a senhora começa a chorar. Faço o que, hein?
- Você acha isso certo, minha filha?
- Acho.
- Pois bem... (voz sumida)
- Mãe, já tomou o remédio da pressão?
- Já.
- Então tá, a bença?
- Deusabençoe.
- Té amanhã, mãe.
- Até.

Posso com isso? Posso não.
Aliás, diga aí como é que eu tô tendo coragem de contar essa marmota aqui, justo aqui.
Isso foi certo?

Arroz-de-Leite, agora com cheiro de caju!

São tantas emoções

que nem sei por onde começar.

Estou em Valinhos, no pentiunzinho. Hoje a tarde foi o churrasco do aniversário da Marina. A Tati não via meu irmão e minha cunhada há uns 15 anos (só recordando: minha cunhada era amiga de infância da irmã da Tati) e, relembrando os velhos tempos, voltou aquela idéia de reunir a velha turma:

- Mas onde nós vamos encontrar o David? Os outros até dá pra encontrar, mas ele, vai ser muito difícil.

Então eu tive a incrível idéia de ir até a casa dele, que fica no meio do caminho, mais ou menos, entre a minha casa e a da Tati (um km, por aí).

Chegamos lá e o portão estava aberto, e a Tati simplesmente entrou com o carro, e a gente nem sabia se a casa ainda era deles, mas acontece que ele estava bem ali, na frente da casa, e foi tão absurdamente fácil que não dá pra acreditar como é que a gente passa 16 anos sem ver uma pessoa que já foi unha e carne com a gente (ou "a corda e a caçamba", como disse minha mãe), sendo que estava o tempo todo ali do lado.

Eu corri para abraçá-lo e aí que caiu a ficha e ele percebeu que éramos nós, e disse:

- Eu nem sei quem eu abraço primeiro!

Então nos abraçamos os três ao mesmo tempo e deve ter sido uma cena linda, mas ninguém estava olhando.

E vimos a mãe dele, a irmã dele, um sobrinho. E trouxemos ele pra cá, porque tava rolando a festa e iam cantar parabéns e tudo o mais, e ficamos aqui, relembrando um milhão de coisas - a memória dele é impressionante, nem o álcool destruiu.

Update: entrar no blog da Tati e descobrir que ela escreveu a mesma coisa que eu, praticamente ao mesmo tempo, só que de uma maneira muito mais linda, não tem preço. Notem o que ela disse sobre o encontro: "coisa de comercial de margarina". Putz. Foi exatamente isso ahahaahha muito lindo, muito lindo.

Céu azul lindo demais na Ilha de Siris - coleção outono/inverno 2004

O post mais pretensioso de todos os tempos

1- Não estou tendo muito tempo pra pensar em coisas engraçadinhas, alguns insights às vezes acontecem, apenas.
2- Por pior que seja minha situação financeira, não devo nada a ninguém, podem consultar o SERASA.
3- Se não tem algo supimpamente fodacional pra me dizer, que me ajude de alguma forma, não fale, e isso serve pra todo e qualquer meio de comunicação.
4- Se você é daquele tipo que não gosta de ler coisas tristes ou trágicas por não saber conviver, nem agir, com dificuldades, abandone este blog o mais rápido possível.
5- Se você é daquele tipo que gosta de ler coisas tristes ou trágicas, porque acha que pode ajudar, que fique claro aqui, não quero sua compaixão.
6- Se você é daquele tipo que não gosta de ler coisas tristes ou trágicas porque se diverte com isso, bem-vindo, colega.
7- Se você acha que posts com tópicos numerados são coisa do passado, saiba que essa camisa dessa cor aí é coisa dos anos setenta, ô rainha da moda.
8- Se você acha que a Marcela deve sair do BBB, ligue para o telefone da Globo.
9- Se você quer que o Rogério saia do BBB, liga pros Caça-Fantasmas.
10- Entre e fique à vontade.

Crediário

Segurança é algo que todos procuramos ter em nossas vidas. A garantia de se estar vivo e bem no dia de amanhã, sempre o dia de amanhã. E daí, quando se consegue garantir o dia de amanhã, tenta-se salvaguardar o dia depois deste, a semana, o mês, anos a fio.

Hoje em dia é possível ter a garantia de uma vida segura por anos por vir. Ou melhor, pode-se assegurar uma existência estática. Porque não sei se isto pode ser chamado de vida. É o aspecto negativo da segurança: Ela é limitante.

Eu estive no dito mundo desenvolvido, onde havia segurança em todo lugar, mas tudo que senti eram amarras ao meu redor. E as pessoas lá (e aqui também, claro) se guardam em caixas cada vez menores e mais fortes para ficarem seguras. Afinal, para quê ter espaço para bater os braços se já disseram que é impossível voar?

A maioria das pessoas prefere ser treinada a aprender e entender algo. O importante é ganhar o suficiente para o dia de amanhã. É muito mais rápido e produtivo viver sem pensar na vida, nas pequenas coisas que fazemos. O importante é ganhar o suficiente para o dia de amanhã. E eles nunca percebem que o amanhã chega todo dia e tudo que eles fazem com este tempo é garantir o dia seguinte. Eles põem tudo em números e esquecem que até os números podem ser infinitos, não têm amarras.

Mas eu não estou falando de máquinas, e sim de seres humanos, com sentimentos e emoções. E mesmo neste quesito eles procuram irracionalmente uma garantia. Coloca-se num pedaço de papel o amor que deverá ser estocado para o dia de amanhã. O amanhã continua chegando e tudo que se faz é... estocar.

Segurança é limitante. Admito que é confortável e agradável saber que no futuro há bonança, mas isso impede qualquer aprendizado e entendimento. Estas coisas são inevitavelmente incômodas.

no one knows

22.3.04

Das abstrações.

amor
amor
amor
amor
amor
amor
amor
amor
amor
amor amor amor amor
amor amor amor amor

amora amora amora amora
amora amora amora amora

                             você
                     você você
             você você
     você você
você você
você você
     você você
             você você
                     você você
                             você

.
.
.

e eu.

Pequenos Dias Longos

Das coisas boas da vida

Dia de sol. Café da manhã de padaria. Pedaladas na lagoa. Caminhadas na praia depois do pôr-do-sol. Dormir abraçada. Reencontrar pessoas que eu gosto muito. Descobrir músicas deliciosas em cds antigos. Beijar morrendo de rir. Morrer de rir. Rever fotos antigas. Cantar alto. Comer pizza dormida como se fosse caviar. Caminhar de mãos dadas. Acordar no meio da noite e ver que amo quem está do outro lado da cama. Ir ao cinema e sair apaixonada pelo filme. Beijos na boca por minuto. Poder pensar em alguém enquanto canto Chico Buarque. Fazer aniversário. Me sentir alucinadamente atraída por uma pessoa toda vez que ela repete uma palavra qualquer aparentemente sem importância. Ganhar uma aposta boba. Água de coco gelada no calor e de frente para o mar. Sentir que encontrei alguém que é a minha cara. Carinho de mãe. Paquerar e cair apaixonada. Ver qualquer gato dormindo. Abraço apertado-demorado. Caminhar em Ipanema no meio da tarde de um dia de semana. Ligar o rádio e achar uma música que eu a-do-ro!
Sentir que faço parte da felicidade de alguém.

Acontecível

"Mas Cacá, tu até tens muito bom gosto pra homens. O problema é que eles não têm lá um gosto bom pra mulheres."

clarices

Saída Estratégica Pela Direita

A frase é do leão da montanha, e sempre me vem quando sinto estar no lugar errado.

Uma das razões por que não fiz curso de inglês foi ter entrado na sala incorreta: em vez do primeiro ano, entrei numa do segundo ou terceiro, não entendia nada. Fingi, fui tão discreto quanto possível, até que aprendi a balbuciar licença pra ir ao banheiro com uma menina ao lado. Nunca mais voltei.

Duck and cover, run and hide, nem sempre é possível fugir, e quando nos percebem, não há defesa que dê conta.

Hmm, mas ia dizer de casamento, não vou mais. Um amigo sempre diz que se fosse coisa boa não precisava de testemunha. A piada é boa, mas está velha e desgastada. Uma correlata diz que o maior problema das mulheres aos quarenta são as mulheres de vinte.

No passado, o homem comprava sua esposa; com o passar do tempo, a mercadoria foi perdendo tanto o valor, que até o pai da menina passou a pagar pra se livrar do encosto, geralmente em festa. Vivemos em outros tempos, alguns costumes permanecem.

dies iræ

21.3.04

Manual Prático de Conquista

Um amigo perguntou-me como ganhar um coração. Duas surpresas: a primeira, que eu esteja com toda essa boa fama; a segunda, que ele possa querer ganhar um prêmio como esse.
Respondi-lhe que todo coração é um bandeirante em busca da Cidade d'Ouro. É preciso tornar-se a tal cidade, para que o aventureiro torne-se seu. Homens, mulheres, cachorros, todos buscam por um membro da realeza: seja um príncipe encantado, uma princesa - eu que o diga - ou uma cadelinha real. Antes de conquistar alguém, é necessário conhecer os sonhos desse alguém. E é por isso que a amizade é indispensável, como primeiro passo de uma conquista. Aliás, estamos cansados de ouvir que não há amor verdadeiro sem amizade.
Conhecendo-lhe os sonhos, vem a parte difícil: tomar parte neles. Há dois caminhos para isso. O primeiro, mais fácil e arriscado, é se transformar no príncipe encantado e fazer com que pareça que se é o par perfeito. Cá entre nós, só apóio o método quando falamos de uma conquista barata e rápida, sem pretensões de estender-se. O segundo é roubar os sonhos do coração bandeirante. Expulsar o príncipe encantado e chamar a atenção do alvo para alguém de sangue menos nobre: Vossa Mercê. As técnicas para fazê-lo, infelizmente, são secretas; cada um as desenvolve como melhor lhe parece. E - que isso permaneça secreto - não conto as minhas porque são extremamente egoístas e dolorosas para o alvo. Quando me preocupei em criar estratégias de conquista, não estava muito interessado no bem-estar das pessoas, se é que me entendem.
Um ponto importantíssimo é a franqueza absoluta. Fala-se, hoje em dia, muito em gostar; não admito, e jamais admitirei, que alguém "goste" de mim. O amor é suave e clássico; belo e deslizante; vermelho e sublime. Os olhos do conquistador jamais são inexpressivos, jamais vazios. Ele está sempre encantado com o céu, a água, a terra. Ele nunca - eu disse nunca - fala de futebol a quem quer conquistar. Ou se fala, dá sempre um jeito de descrever apaixonadamente a expressão do seu jogador predileto quando fez um gol. Sim, señores, é o que quero dizer: o conquistador jamais encara o mundo como um conjunto de banalidades. E isso é franqueza.
Discorri sobre os métodos que já tinha testado e aprovado, nos meus tempos menos sérios, e já que sempre terminava dizendo um "mas claro que isso não vai manter a pessoa ao seu lado", meu bom amigo fez a grande pergunta:
- E como fazer com que essa pessoa fique comigo por muito tempo... Para sempre?
Sorri e disse que nada era para sempre. Mesmo assim, demorei a responder o resto da pergunta, e o que saiu foi, finalmente:
- Pedir amor, meu amigo, só se você amar.
E é a mais pura verdade. O conquistador perfeito é, certamente, aquele que ama quem quer conquistar. Um olhar apaixonado vale mais que mil palavras; e não há ator que possa simular o épico sentimento que chamamos amor. Essa foi a minha grande conclusão, seguida de uma ainda mais verdadeira, só que do meu pretenso aprendiz:
- Uma lição para você: um conquistador apaixonado nunca mais será conquistador. E eu vou procurar outro professor.
A César o que é de César!

Vox Noctis Liber

Fiquei no chuveiro deixando a água cair forte e perscrutar lânguida cada canto do meu corpo, como que numa tentativa de revelar, e por conseguinte expurgar, nem sei bem o quê. Talvez tristeza, coisa que por si só não faz sentido. Talvez a causa de minha tristeza. Mas como expurgar-me de meu próprio corpo, morada onde há muitos anos fui encerrado, enclausurado sem sequer me perguntarem se era isso mesmo. Queria catarse. De qualquer tipo, de qualquer forma, vinda de qualquer lugar. Paleativos, que fossem, mas já me serviriam. Me abandonei ali, e segui, etéreo, para outras paragens distantes. Assim fiquei por longo tempo, imóvel, molhado, com olhos vagos enfiados em idéias, em imagens e elocubrações, como procurando o caminho da felicidade que já não é aqui. Sem que eu percebesse a angústia compactada no meu coação irrompeu e eu chorei, chorei até soluçar, até que meus olhos ficaram injetados e senti o gosto do chorar na boca. Mesmo assim, agora, enquanto escrevo ainda com os cabelos molhados a pingar-me sobre a testa, sinto que não retirei nada de mim, mas ao contrário, somei.

Henry_Wotton

Tagarelices de Domingo

Há uma poesia nos nomes ingleses. O nome do marido da escritora Dahpne du Maurier era Frederick Arthur Montague "Boy" Browning. Eu ouço um nome desses e fico feliz um dia todo...

-Como é o nome?

(sorrindo feliz) Frederick Arthur Montague "Boy" Browning. Vou lá na praia chutar as ondas com as mãos nos bolsos, pensando nesse nome e em outras coisas, e em outras coisas. Quer vir?

-Não, fique, me entretenha.

Quer outro nome inglês? Que tal Brigadier Gerrard Montgomery “Butcher” Collins? Esse inventei, mas posso procurar um autêntico para você. Ou nomes franceses, nem se fala. Italianos, espanhóis. Gregos. Faço-te saber que escrevi um livro com uma personagem chamada Julianna Rossa-Ravilius, e uma outra chamada Elizabieta Dushku. Eu...

-Chega de nomes, você me aborrece. Conta uma anedota aí.

Não, contarei um fato verídico que revela muita coisa, muita coisa. Meu irmão é psiquiatra, você sabe. E diz ele que 90% dos malucos que aparecem no hospital são fãs de Raul Seixas. No kidding. Boy, I wish I was kidding. Agora, diz ele que...

-Outro dia desses vi a empregada cantando “Viva a Sociedade Alternativa”.

Eu sei, foi horrível. Ela é Adventista do Sétimo Dia e nem faz idéia do que está cantando. Eu tentei dizer, mas não tive coragem de destruir o sorriso empolgado dela.

-Seu irmão não é aquele que você tentou matar?

Sim, sim. Bom, não tentei, foi sem querer. Estávamos os dois andando na nossa casa de campo, eu tinha seis anos, ele dez, e eu estava zangado porque ele ia na frente sem prestar atenção em mim. Daí peguei uma pedra deste tamanho, juro, deste tamanho, e atirei. No momento em que ela saiu da minha mão eu soube que ela ia cair na cabeça dele, e caiu mesmo.

-Que barulho fez?

Cluck. Não clock, cluck. Ele caiu de lado no matagal do lado da estrada e ficou lá. Sem saber o que fazer, voltei para casa. Minha mãe me viu emburrado e perguntou o que tinha acontecido, e eu disse, “O Ricardo não queria parar e ficava andando na minha frente, e eu atirei uma pedra na cabeça dele e ele caiu e agora ele está lá no chão sem se mexer e não quer falar comigo”. (Alexandre ri, feliz.) Isso tirou dez pontos do QI dele, mas ainda sobram 160.

-Mais 16 pedras pra atirar.

Sim. Escute, quer ouvir o meu plano pra ficar rico? Contratar o Paulo Cesar Pereio pra ler poesias famosas, dizendo “porra” no final de cada dois versos. Gravamos e vendemos os CDs. Ele leria a Rhyme of the Ancient Mariner, por exemplo, assim:

The Sun came up upon the left,
Out of the sea came he, porra!
And he shone bright, and on the right
Went down into the sea, porra!

Ou como Velho do Restelo. Depende se o primeiro CD vender bem. Não sei, não sei...

-Você e seus planos pra ficar rico. Como era mesmo? Um show em que as pessoas pagam pra ver motoristas estacionarem carros em vagas apertadinhas?

Sim, sim. Se esbarrasse no carro da frente ou de trás, soaria um alarme. E teria um tempo máximo pra fazer isso.

-Mínimo.

Não, máximo. Máximo, sua burrinha.

-Ah, é. (Estendendo um microfone imaginário) Alexandre, qual a sua opinião sobre as pessoas que deixam comentário no seu blog dizendo “aê malandro, se liga, fica aí só reclamando, reclamar é fácil quero ver fazer”, etc?

Reclamar é fácil? Fazer é que é fácil. Fazer qualquer badalhoco faz, na entrada e na saída, andando, dando cambalhotas e até assobiando. Mas reclamar bem é difícil. Repare que essas pessoas estão tentando reclamar, e pessimamente. O que há é pouca gente para dar valor à arte da reclamação, que é um artesanato que fazemos com nossos próprios desprezos, enroscando um no outro como vime. (Se levanta, e espreguiça) Mas agora chega, enough; vamos pra praia, ó Voz na Minha Cabeça, chapinhar a água reflexivamente, de mãos nos bolsos e assobiando clássicos do pop francês da década de sessenta.

-Desde que não seja Je T'Aime.

Então não. (Senta de novo, pega um jornal.) Olha, mais um escoteiro se perdeu na floresta...

Alexandre Soares Silva

MANIFESTO CATARRO VERDE

1. Sou a favor da legalização do aborto
2. Sou a favor da legalização das drogas
3. Sou contra qualquer ginástica ou esporte que não seja foder
4. Sou contra trabalhar
5. Sou contra todas as religiões
6. Estou cagando para o Palmeiras e detesto futebol
7. Não sinto tesão por mulheres pesadas, me dói o osso do púbis quando vêm por cima
8. Sou contra o misto-quente e a favor do hambúrguer
9. Odeio patrões e chefes, quem tem chefe é índio
10. Toda mulher tem que saber chupar direito ou tratar de aprender
11. Mulheres órfãs são as melhores, não tenho de conhecer os pais
12. Todo computador é bom desde que seja Macintosh
13. O ritual do Santo Daime é a coisa mais chata do mundo
14. O Angeli está morto e só falta enterrar
15. Circos com animais devem ser fechados
16. Japoneses que caçam baleias devem ser afogados no mar
17. A chatice é o único pecado humano imperdoável
18. Poodles devem ser extintos, assim como pinchers, pitbulls e rottweilers
19. Sou contra pipoca em cinema
20. Sou contra todos os partidos políticos
21. Odeio usar camisinha, embora use
22. Sou contra a redução da maioridade penal
23. Sou contra a fabricação de armas
24. Toda criança miserável deve ter direito a banho grátis em pet shop
25. Todo filme do Eric Rohmer deve dar direito a travesseiro na bilheteria
26. Não me sinto representado por políticos
27. Não sou governado por governos

catarro verde

20.3.04

Dona Donata

Talvez eu ainda não tenha falado dela aqui. Apesar de ateu, há coisas que são sagradas para mim, e não gosto de ficar falando nelas. Acho que é pra não desgastar, sei lá. Só sei que dentre essas coisas ocupa lugar de maior destaque a lembrança da minha avó materna, Dona Donata. Todo esse negócio que eu tenho, de contar histórias de um jeito meio engraçado, meio triste, eu herdei dela. E ela contava histórias bíblicas assim também: A versão dela para a história de Salomão e as duas mulheres que brigavam por um bebê era muito mais legal e engraçada que a original, com Salomão jogando a criança pra cima e tudo mais.
E sonhei com ela esse fim-de-semana. Ela dava um jeito de entrar em contato comigo através de uns aparelhos parecidos com modems, e as mensagens vinham numa espécie de código morse. Começou a me explicar que toda pessoa, depois de morta, vai para onde passou a vida acreditando que iria. Então o cara que acha que vai prum lugar cheio de anjinhos tocando harpa, vai prum lugar cheio de anjinhos tocando harpa. Um cara que acredita que vai passar a eternidade com muitas mulheres e cerveja, vai para o céu da putaria. Minha avó estava num lugar muito bonito, tinha praia lá, e ela conversava muito com Nossa Senhora, não rezando nem nada, mas como velhas comadres. E Deus (em maiúscula aqui por respeito à minha avó, não a ele) passava às vezes pra ouvir umas histórias dela também, e ria, ria muito.

Então perguntei para ela o que me estava reservado depois de morrer. E ela respondeu que eu iria para o inferno. Não por ser um descrente, mas por trabalhar com máquinas, e passar tanto tempo com estes seres sem espírito.

Antes que perguntem: Não, eu não acredito que minha avó tenha falado comigo em sonho. Mas acho meu subconsciente precisava encontrar um modo contundente de gritar por socorro, de avisar que estou afundando. Nada melhor do que fazer isso através da voz de Dona Donata, a melhor contadora de histórias que já habitou esse planeta.

Jesus, me chicoteia! || arquivos setembro 2002

apontamento

Acho curiosa a forma como as lembranças da infância habitam nossa cabeça. Para mim, pelo menos, nunca há um quadro completo, que me permita determinar exatamente como se deu o fato. São apenas fragmentos, parecidos com pedaços de sonhos que tivemos na noite anterior.

E assim foi com meu primeiro contato com um apontador de lápis. Lembro que estava do lado de fora de minha casa, sentada na rua. Sei, não sei como, que se tratava de uma casa no Bairro Floresta. Lembro-me da menina chegando da aula com um caderno na mão. Não sei determinar sua idade, já que, para uma criança pequena, tanto faz a pessoa ter 12 ou 32 anos. Afinal, no início da vida temos o costume de dividir o mundo entre "nós, pequenos" e "os gente grande".

Tenho na memória a imagem da "menina pequena" que eu era perguntando à "menina gente grande", já freqüentadora do universo escolar, o que era aquela coisa redonda e colorida que ela tinha nas mãos. Deve ter sido interessante para ela se deparar com aquela coisa miúda perguntando sobre um prosaico apontador de lápis. Ela foi gentil, me explicou e fez ponta em um lápis para que eu visse o funcionamento do interessante dispositivo.

Depois disso, minha infância foi sempre acompanhada de uma atração por essas maquininhas de afinar pontas de grafite. O auge da felicidade apontadorística seria ter um daqueles enormes apontadores de mesa, que afinavam várias pontas simultaneamente, bastando girar a manivela.
É... Nunca tive um daqueles. Mas querem saber? Acabo de inventar para mim uma mania em potencial: colecionar objetos que fascinavam a Mônica criança. O primeiro da lista? O apontador redondinho. Em seguida o grandalhão que se prendia à mesa tal qual um moedor de carne.

Bom. Esse "flashback" é cheio de buracos, de lacunas que o tempo impingiu a minha memória. Um deles é minha idade. O outro, a cor do apontador. Como não sou boba nem nada, em vez de me lamentar, vou fazer uma limonada com o limão que o esquecimento às vezes é. Meu primeiro apontador será vermelho. E minha idade? Três longos anos de vida.

monicômio

De perto demais

Sem lugar é como você se sente quando um motorista de táxi cheio de correntes douradas no pescoço e mais botões da camisa abertos do que pede o calor carioca te conta, refletindo lágrimas e saudades no retrovisor através do qual te olha acuada no banco de trás, que o fim do seu casamento de 16 anos foi decidido ali, exatamente no banco de praça em que você estava sentada esperando um táxi qualquer.

Da Estrangeiridade

A Saga do Primeiro Beijo (Post XXXI)

O Bilhete:

"Murilo, eu sei que você está bravo comigo e por isto eu queria pedir desculpas. É que eu estava doente e comecei a ficar zonza, zonza, zonza e meu estômago doía... Mas aquilo tudo que eu disse no parque não tem nada a ver com você. Juro.
Será que a gente pode ficar de bem?"

Preciso de um papel de carta bonito.

- Alê, eu falei uma carta! Esse bilhete está ridículo. Você acha o quê? Que o Murilo vai ler isto e desculpar você só porque o papel de carta é rosado e tem desenhos de flores do campo?
- Não agoura, Marilu! Não agoura! E isto não é rosa; é bordo. O bilhete está lindo. Pode entregar assim mesmo. E cuidado pra não dobrar. Entrega enroladinho como se fosse um pergaminho.
- Vai quebrar a cara.
- Não vou, não.

Passei a tarde procurando pontas duplas no cabelo. Uma ansiedade que me fazia bater a cabeça na parede. Pra piorar, a Marilu não voltou em casa naquele dia. Só foi aparecer no dia seguinte. E à noite!

- Isso são horas?
- Você parece minha mãe falando. Eu, hein...
- E então? Como foi?
- Eu avisei...
- Ele não vai me desculpar?
- Não vai, não.
- Mas o bilhete estava tão bonitinho... O que ele disse?
- Ele não disse.
- Como não disse? Ficou mudo?
- Eu falei que era um bilhete seu, ele olhou e nem abriu.
- Foi embora assim? E a carta?
- Não leu...
- Devolveu pra você?
- Rasgou.
- Rasgou? Sem ler?
- Ãnrãn... Trouxe os pedacinhos pra você não achar que é invenção minha.
- Que cretino!
- Alê, a gente já esperava que isto pudesse acontecer. Eu acho que essa história não tem volta, não.
- Que insensível! Você disse que eu estava doente?
- Disse. Em seguida dei o bilhete e ele rasgou na minha frente.
- Não acredito! Infantil! Babaca... Por que esses meninos são tão, tão, tão... Arght!

Ali começou um problema que me acompanhou durante muitos anos. Bastava o menino não me dar bola e eu ficava enfurecida. Enfurecida e muito mais apaixonada... Não era masoquismo, era burrice mesmo.

- Olha, sem querer ser estraga-prazeres, mas já sendo, eu acho melhor você esquecer o Murilo.
- Não. Ele não quer ler, vai ouvir.
- Alê, o Ivo disse que o Murilo não quer mais ver você.
- Tudo bem. Eu não ligo. Mas ele vai ter que ouvir. Vou gravar uma fita cassete.
- Já vi que vai sobrar pra mim de novo...

Vem, me ajuda a procurar o gravador.

----------> Continuará em
Amarula com Sucrilhos

Longe, o início. Perto, o fim. A névoa da incerteza invadia a sala mas ninguém poderia a ver, pois tudo estava cego, surdo e mudo. Não havia muito o que fazer senão esperar, mas como esperar se cada segundo era uma eternidade e se todos os segundos não equivaleriam a nada, daqui a algum tempo. A economia de movimentos não era proposital. Era realmente necessária, já que nada valia a pena ali.

Num panorama assim, dificilmente se mantém a sanidade. O cérebro logo desliga e nada do que acontece continua a acontecer. Até que um segundo depois, um segundo que a realidade resolveu chamar de Big Bang, o Universo se refez e eu, que era refém de uma situação de completa placidez, volto a viver. Mas o calor infernal faz com que essa minha vida não dure mais do que poucos milimilésimos de segundo, antes de ser consumido pelas chamas da explosão original. Ok, tudo bem, pelo menos posso dizer que fui testemunha ocular do início do Universo.

Mas o duro é que eu queria contar isso pra alguém..

(...)

Um, dois, três, pim, cinco, seis, sete, pim, nove, dez, onze, pim, treze, quatorze, quinze, d... pim, dezessete, d... dezoito, dezenove, pim, vinte... e um, vinte e dois, vinte e três, pim, vinte e cinco, vinte e seis, vinte e sete, pim, vinte e o...nove, trinta!

A-há, eu sempre fui bom nisso!

A vida tem dessas coisas

Rapadura é doce, mas não é mole não!

Ontem preparei-me para ser embalada nos mais belos sonhos (de preferencia com o bombeirão da Luma). Coloquei o celular para carregar, e o fdp ligou sozinho. Às 23;15 ele toca:

-Alô, Dra. tati, sua cliente xpto acaba de ser presa, o flagrante será lavrado no XXo. DP, a senhora pode ir lá, dar uma assistência?

- O que? Como? Onde? Quem? hã? Aquela ruminante, galinácia, filha de uma rapariga destentada. Pô eu já tô de pijama....

- Dra, a coisa é séria, a senhora vai?

(momentos de reflexão....sim, não, não sei, pô..... a essa hora!!)

- Eu vou. Me troquei, precisava de outra roupa, meu vestido quase novo e lindíssimo estava sujo de esfirra, pego um outro de alcinhas - tá calor - em 15 minutos já estou lá. Faço meu trabalho com esmero, volto para casa, praticamente congelada. Chego em casa e a mãe da Tati indaga:

- A senhora sabe que horas são?

- Três da manhã?

- Não fofa, são 4;30, você não disse que teria que levantar às 6 da manhã?

-Não só disse como hei de fazê-lo.

E o fiz, acabo de chegar de Tremebé, e não fica perto de Aparecida porr* nenhuma, fica perto de Taubaté.

Estado físico: podre.

Estado mental: esgotado.

Perspectivas para os próximos dois dias: CAMA, CAMA, CAMA

veleidade

19.3.04

Papos entre amigos

- Carnaval foi bom ?
- É, foi.
- Não senti segurança.
- É que houve um dia em que eu briguei com a namorada ,ela acabou comigo e até agora não estamos bem.
- O que houve ?
- Ela caiu, eu estava do lado e eu não a amparei.
- Por que não ?
- Por que fui eu quem causou a queda, na verdade. Pisei no pé dela.
- Acontece.
- Mas eu só caí porque tentei segurar a garrafa de cachaça que estava na minha mão.
- Hum.
- E ainda caí em cima dela(da namorada, a garrafa ele segurou).
- Hum.
- E o chão estava barrento, tinha chovido, sabe, melou todo mundo.
- ...
- E ela estava de saia, todo mundo viu a calcinha, imagina.
- ....? Não quero imaginar.
- E eu estava vestido de mulher,roupa dela aliás, rasguei a saia que estava vestindo, enterrei a cara dela na lama, foi uma coisa.
- Acabou?
- Não, de noite, enquanto dormíamos, eu vomitei em cima dela.
- Bêbado, na lama, vestido de mulher, e a única coisa que você pensa é em salvar a cachaça. Cara, eu sou tua fã.

Sabem, às vezes as pessoas abusam do amor alheio.

BooBlog Um blog inútil para voce passar o tempo útil (ou o contrário)

Já que não posso falar isso pessoalmente... aqui vai:

TE AMO!!

Nhacs e Slepts

Oficina de loucos 

O que você diria de uma pessoa que, com quase 30 anos nas costas, fica trancado um dia inteiro dentro do próprio apartamento porque a mãe saiu e não deixou a chave?
E se uma pessoa fica trancada pra fora de casa, das 14 às 23 horas porque sua mãe e irmã saíram e não deixaram a chave de casa?
O que acharia de um vizinho que bate na sua porta às 22 horas pra pedir a geladeira emprestada porque sua mãe muito lúcida (definição própria) quebrou a porta da geladeira e resolveu doá-la para catadores de lixo, impossibilitando gelar as cervejas?
E se isso tudo fosse a descrição de uma pessoa só? Pois esse é o meu vizinho. Vermelho de cabelo, rosado de pele e totalmente cara-de-pau.
Pediu nossa geladeira emprestada, dissertou sobre os problemas psicológicos de sua mãe, pegou gelo, falou sobre sua infância traumática, sobre as oportunidades perdidas, as faculdades não terminadas, a antiga namorada que lhe causou um prejuízo financeiro enorme (que inclusive foi o responsável por fazê-lo voltar a morar com a mãe). Tudo isso em suas três últimas visitas num curto espaço de tempo de menos de vinte minutos.

Até então a impressão que ele me passava era a de uma pessoa fraca da cabeça que, apesar da idade, não tem a chave de casa. Agora além disso, percebo que ele tem sérios problemas, que, quem sabe, anos de terapia poderiam amenizar.
"É... a minha vida é muito difícil" foi sua frase de despedida.
Pena que ele vai se mudar em breve. Com certeza renderia textos interessantes sobre o universo psicológico de uma alma perturbada.

Admirável Blog Novo

CONSULTA MÉDICA

- Bom dia, doutora.
- Bom dia.
- Direto ao problema. Quero que a senhora me receite aquela pomada que eu vi na TV. Aquela que o cara passa na barriga e fica com abdominais perfeitos.
- Desculpe, senhor... Mas isso é impossível!
- Não é, não. Depois de passar a pomada o cara ainda esquia por planícies verdes floridas, e acaba numa praia com muitas mulheres bonitas.
- Senhor, isso realmente não existe.
- Existe, sim! Eu gravei e trouxe a fita. Vamos assistir.

(cinco minutos depois)
- Uau!
- Eu te disse que era legal! E aí, vai me fazer uma receita.
- Sinto muito, mas para isso eu precisaria prescrever LSD, e isso seria ilegal.
- Não é, não. Eu trouxe um artigo. Leia aqui.
- Mas... Isso aqui está escrito a mão.
- Não, não está. A fonte que é assim.
- E por que está rasurado?
- Não sei. Pergunte pra eles!
- Posso te ajudar em mais alguma coisa, senhor. Por favor, não vale repetir o que o senhor já pediu.
- Droga. Tá certo. Então... Pode me dar o seu carimbo? É pro meu sobrinho.
- Não, não é. É pra você, você vai forjar uma receita falsa.
- Diabos, você é boa mesmo mulher! Fez USP?

ChickenDog

Ocupações maravilhosas*

* Título plagiado de J. Cortázar - Histórias de Cronópios e Famas

Quando era criança, uma de minhas ocupações preferidas era pegar um mosquito, desses caseiros, e colocá-lo próximo a um formigueiro para que as valentes formigas o levassem para dentro.


A operação

Primeiro passo: captura do inseto. Colocava a mão direita aberta, em posição vertical, a uns trinta centímetros da presa. Após alguns segundos de concentração, movimentava a mão rapidamente em direção ao alvo. Quando a mão estava a uns dois centímetros do mosquito, fechava-a. O fechamento da mão devia coincidir com a tentativa de fuga do pequeno animal. Quando tudo era feito com precisão cirúrgica, tinha o mosquito preso em minha mão.

Segundo passo: preparação do inseto. Introduzia os dedos da mão esquerda na mão direita ainda fechada. Pegava o mosquito. Então, com a mão direita, retirava-lhe as asas. Nesta etapa o bichinho fica muito parecido com um Fusquinha. Algumas variações: Quando queria uma batalha mais violenta, deixava o mosquito com uma das asas. Quando queria dar uma chance ao inseto, deixava as asas e lançava-o à parede com alguma força de modo que ficasse atordoado. Com isso, caso se recuperasse do impacto a tempo, poderia escapar das formigas. Acontecia, às vezes, de o mosquito voar levando uma formiga presa a uma de suas patas. Gostava de ficar imaginando a sensação da formiga ao voar pela primeira vez na sua curta vida.

Terceiro passo: colocação do inseto no formigueiro. Colocava então o mosquito próximo à entrada de um formigueiro. Era preciso cuidar para que o formigueiro fosse de uma espécie que inclui mosquitos em sua dieta alimentar. Depois disso bastava esperar que as formigas achassem o inseto e começassem uma árdua batalha para levá-lo para dentro do formigueiro. Várias delas pegavam-no pelas patas e arrastavam-no, não sem alguma dificuldade, para a sua despensa. Freqüentemente, uma formiga subia nas costas do inseto e de lá observa a movimentação. Até hoje não sei se era a líder que orientava as demais ou se era apenas preguiçosa e gostava de participar sem fazer força.

Em breve:

Como fazer um lança-chamas com uma seringa de injeção (não façam isso em casa, crianças).

Como fazer uma armadilha muito pouco funcional para matar ratos (podem fazer em casa, mas não dá certo).

Como matar (involuntariamente) uma galinha de hemorragia interna (para estômagos fortes).

PS. Meus pais diziam que quando eu morresse sofreria muito ao passar pela "terra das formigas". Mas essa ameaça me soava um tanto abstrata e não tinha um efeito dissuasório dos mais significativos.

neosaldina com coca cola