28.2.03

Olá poucos amigos leitores do Sersupblog! É com certo pesar que sou forçado a deletar meu blogue pessoal na web. Um covarde anônimo ameaçou devassar minhas particularidades aqui escritas nesse blogue para pessoas que estudam comigo na Faculdade, o que penso ser inadmissível. A web é aberta a todos, mas nem por isso a privacidade de alguns deve ser desrespeitada (vide incidente da Fgv ano passado; quem esteve plygado no mundo blogueiro sabe disso). A partir de março o Sersupblog! estará de endereço novo, na esperança (espero que não vã) de ter um pouco de paz. Ter seu tagboard tomado por inscrições do tipo "seus passos estão seguidos bem de perto" é uma experiência arrepiante, lhes garanto. Mais arrepiante ainda é, ao chegar em sua sala de aula, ver que o anônimo escreveu no quadro: "Acessem: http://sersupblog.blogspot.com M*** (meu nome)". Tenho medo; minhas mãos tremem um pouco agora, mas rirei por último quando o covarde souber que meu blog foi pulverizado da web, mas as memórias nele escritas não. Elas estão muito bem guardadas nos meus arquivos pessoais. Talvez eu dê meu novo endereço a alguns fiéis leitores, mas é só. Não pretendo mais divulgar minha vida aos quatro ventos e ser ameaçado como fui nesses dias.
Mas para quem quiser ler meus arquivos, não se preocupem: talvez abra uma página pessoal num serviço qualquer de hospedagem de sites, para eternizar tudo que o Sersupblog! produziu em seus seis meses de existência.
Obrigado por suas visitas. Isso não é uma desistência. É um retiro estratégico.

Sersupblog!

Tony Blair, moderador: Bem-vindos ao primeiro debate televisionado entre George W. Bush e Saddam Hussein, ao vivo do QG da ONU, em Nova York. Começaremos com cada um de vocês fazendo uma breve declaração de abertura.

Bush: Gostaria de dar boas-vindas ao meu amigo do mal na ONU, uma das grandes instituições americanas para a propulsão da liberdade no mundo todo.

Saddam: Obrigado, Grande Satã. Espero que no debate de hoje possamos encontrar algum denominador comum entre o comprometimento do povo iraquiano com a paz e o progresso humano e o desejo dos Estados Unidos de destruir o Oriente Médio.

Bush: Tenho de responder a isso?

Blair: Não. A primeira pergunta é bastante simples: o senhor tem alguma ligação com a Al-Qaeda?

Bush: Não tenho.

Blair: Essa pergunta foi para o presidente Saddam.

Saddam: Como disse ao senhor Tony Benn, se eu tivesse ligações com a Al-Qaeda e apreciasse essas ligações, então não me envergonharia de contar ao mundo, mas já que tenho vergonha de contar isso ao mundo, sucede que eu não tenho tais elos.

Bush: Nem eu.

Blair: A segunda pergunta é para o senhor Bush: se os EUA e o Iraque forem para a guerra amanhã, quem ganhará?

Bush: Essa é fácil. Os EUA, certo?

Saddam: Essa até eu sabia.

Bush: Isso porque os poderosos EUA estão do lado da corretividade e da americanidade, contra um eixo do mal composto pelo Iraque, Coréia do Norte e ... quantos há neste eixo? Três?

Blair: Acho que o senhor tem direito a quantos quiser.

Bush: OK, Iraque, Coréia do Norte e França.

Saddam: Vou lhe dizer franca e diretamente que o Iraque não faz parte de nenhum Eixo do Mal.

Bush: Em quem estou pensando, então, no Irânio?

Blair: Vamos para a próxima. Saddam, o senhor está disposto a destruir seu estoque de mísseis Al-Samoud-2 em cumprimento às ordens dos inspetores de armas da ONU?

Saddam: Se o Iraque possuísse essas chamadas armas, eu nunca as destruiria, mas já que não as temos, é uma satisfação cumprir a determinação, embora essas armas não existentes certamente não excedem o alcance proscrito de 150 quilômetros. Eu mesma as testei e nós não temos nenhuma.

Blair: A última pergunta é para George Bush. Senhor presidente, há alguma maneira de Saddam Hussein evitar uma guerra? E que medidas ele precisa tomar agora para chegar a uma solução negociada?

Bush: Primeiro, Saddam tem que compilar 200% com os inspetores da ONU, e eu quero dizer compilação ativada, não compilação passivista. Segundo, ele tem que se desarmar completamente, em cumprimento à Revelação da ONU 1441 e a próxima, a 1441B, que vai exigir que ele se desarme ainda mais completamente. Depois, tem de destruir todos os mísseis Al-Samoud e quaisquer outras armas de destruição em massa que forem encontradas, ou não forem encontradas, de posse dele, sem ser solicitado. Por último, há mais uma tarefa que ele precisa executar, que não tenho permissão para desvelar.
E mesmo isso não será suficiente.

Blair: O intérprete gostaria de levar sua resposta para casa e trabalhar nela durante o fim de semana.

Bush: Ótimo, mas nós exigimos nada menos que a total desarmação.

Saddam: OK.

Blair: Desculpe, mas não tenho certeza que "desarmação" seja a palavra.
Passo a palavra ao Encarregado do Dicionário da ONU, sr. Richard Stilgoe.

Stilgoe: Sim, podemos usar desarmação.

Saddam: Se isso significar a paz, eu o farei.

Bush: Tarde demais.

TIM DOWLING, The Guardian

Surra de Pao Mole

Acho até Ok e très chic bombardear uma clínica de aborto (ouço os pacifistas indignados: mas e as criancinhas?), mas queria que alguém inaugurasse o digno esporte de explodir clínicas de cirurgia plástica estética. Essas clínicas pegam mulheres bonitas, feias e insossas e as igualam na feiúra peituda. E os seios saem excessivamente redondos, como uma bexiga cheia de água, e às vezes, repare bem, até quadrados. O sorriso de uma mulher que colocou silicone nos seios é sempre feio.

Querer uma mulher siliconada é parafilia. É como querer uma mulher chamada Edinéia. Elas são mostradas no alto dos carros alegóricos justamente para causar o frisson do horror - é a nossa versão dos freak shows americanos. Os camarotes VIP também são a nossa versão dos freak shows americanos. Bem, temos muitas versões de freak shows americanos: nosso presidente engole seus próprios dedos, um a cada 50 anos.

Nenhuma mulher que se balança pelada num carro alegórico tem mente. Foram criadas num buraco de um metro de largura por dois de profundidade, onde ficam pulando à espera de comida (carne crua), como as criaturas monstruosas em O Caso de Charles Dexter Ward, de Lovecraft.

Sem contar que me dá nojo. O silicone, digo. Bom, acho que a todos nós... Tenho a impressão que se uma mulher dessas chegasse perto de mim, com sua cara amassada (elas têm sempre a cara amassada, devem apanhar muito), eu cutucaria o seio dela com um galho comprido.

Homens que gostam de seios siliconados gostam exatamente disso, de seios siliconados – e não propriamente de mulher.

Alexandre Soares Silva

Sabe o meu avô, aquele que eu coloquei uma foto há pouco tempo?? Meu avô de quem eu tava morrendo de saudade?? Meu avô idolatrado, salve, salve??

Pois bem... Meu avô é um nazista.

Vim almoçar aqui com ele hoje (a minha avó que largou a faculdade viajou, ele está solitário). Sente o diálogo durante a refeição:
- Sabe o que a gente tem que fazer prá acabar de vez com a violência nesse país?
- O que, vô?
- Pegar um daqueles Hércules - você sabe, aqueles aviões da FAB - botar uns 500 marginais lá dentro (500 não que não cabe tanto, uns 200), voar até a Amazônia e mandar todo mundo descer. Lá de cima mesmo, entende? (odeio quando ele fala igual ao Pelé)
- ...
- Outra coisa que eu não me conformo nesse país é esse Movimento Sem-Terra...
- Vô, seu café é com ou sem adoçante??
- Com.

me Jane you Tarzan

Trocando de biquini sem parar

Em tempos dantes navegados, 31 de março era celebrado na escola como o Dia da Revolução (sic) de 1964, e éramos obrigados a pintar bandeirinhas do Brasil e a cantar o Hino Nacional no pátio do colégio. Com as mãos encostadas no peito, soltávamos nossas vozinhas agudas em uníssono, repetindo mecanicamente uma letra hermética, como se isso fosse capaz de despertar ufanismo em alguém. Oras, é como esperar que um moleque de 11 anos vá criar gosto pela leitura depois de ser obrigado na escola a ler Iracema ou Eurico, o Presbítero. Mas, no meu caso, o Hino soava mais nonsense ainda. Porque, na maior das convicções pueris, eu cantava a seguinte pérola: "Elvira do Ipiranga às margens plácidas". Passei anos intrigado com o misterioso papel de Dona Elvira na proclamação da independência, especulando se não era um pseudônimo da Marquesa da Santos.

Anos mais tarde descobri uma expressão, aparentemente criada por Paulo Francis (na época do primeiro Pasquim), para definir essas ocasiões em que a cabeça da gente viaja longe e recria maionesicamente letras de música: "virundum". Inspirada, bobviamente, pelo fatídico verso inicial de nosso hino, que até hoje causa lapsos em patriotas incautos e jogadores da Seleção, ao cantarem coisas como "verás que um FILISTEU não foge à luta" ou "do que a terra MARGARIDA". Há uma expressão mais contemporânea: "dibikini". Originada pelo velho hit do grupo Brylho, Noite do Prazer: "na madrugada vitrola rolando um blues/ tocando B. B. King (ou: trocando de biquíni) sem parar".

Os americanos também possuem um termo para isso: "mondegreen". Para que vocês vejam como a história é antiga, a expressão data de 1954, quando a jornalista musical Sylvia Wright confessou, em um artigo, que havia entendido "lady Mondegreen" no verso de uma canção que dizia "and laid him on the green". No site Kiss This Guy é possível encontrar mais de 2.500 exemplos de letras involuntariamente modificadas. Eye of the Tiger, a música-tema de Rocky, o Lutador, tornou-se "Ivan the tiger". Love in an Elevator, do Aerosmith, virou "loving an alligator". E daí pra pior.

Aqui no Brasil, o "mondegreen" mais hilariante que conheço foi descrito por Mário Prata. Uma amiga dele confessou que, ao ouvir Ciranda Cirandinha, entendia que o verso "o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou" significava "o amor de Tumitinha era pouco e se acabou". Para ela Tumitinha era o diminutivo carinhoso de Tumita, um garoto japonês que se decepcionava demais toda vez que se deparava com a volatividade de suas paixões. Quando descobriu que o tal garoto não existia, sofreu pra burro. Parece que ela faz análise até hoje.

Outra amiga minha que repassou exemplos ótimos de virunduns é Maria João Amado, a mãe da Júlia. Repasso a palavra a ela:

"Eu tenho 2 músicas que juropurdeus que ouvia diferente: uma é 'Como Nossos Pais'. Naquela parte do 'contando o vil metal', eu entendia 'cortando fio dental'. :) E a outra é uma música de Luiz Gonzaga que diz: 'Luiz respeita Januário.../ Respeita os oito baixos do teu pai'. Eu entendia, e cantava: 'respeita os 'ovo baixo' do teu pai'. KKKKKKKKKKK

Tem uma outra historinha bonitinha de meu irmão mais novo. Um belo dia saímos em família para lanchar na McDonald's recém-inaugurada (isso foi em 87), e Jonga, meu irmãozinho, do alto dos seus 7 anos falava que os Beatles isso, e os Beatles aquilo. Meu Big Brother (irmão mais velho), já de saco cheio da falação, intimou:

- Você conhece os Beatles?
- Claro. conheço muito.
- Ah, é? então diga pelo menos 1 música deles.
- Fácil. Tilóptium!
(todos juntos) - O quê?
- Tilóptium!
- E que música é essa?
- Aquela... Tilóptium yeah, yeah, yeah..."

No Pensar Enlouquece. Pense Nisto.
(publicado originalmente no Spam Zine 058)

27.2.03

-vi gabriela.
-viste?
-me encontrei com ela.
-em sonho?
-vi gabriela no trópico.
-nos campos?
-nos portos.
-nos mastros?
-nas galeras, eu vi gabriela nas auto-estradas, no marfim da lua nova eu vi gabriela em cinemas, vi gabriela em boates.
-pois viste.
-eu vi. gabriela dançava ao som do último blues. eu entrava com uma rosa na lapela e bailava com ela até sermos expulsos do bar.
-ora! e onde mais a encontraste?
-eu a encontrei nas oferendas, nas encruzilhadas e nos cemitérios. encontrei gabriela nas praças: uma pedra de rubi.
-de rubi?
-sim, ela é vermelha.
-oh!
-eu quero a gabriela máxima. eu quero a gabriela sôfrega. pois todos sabemos que a polpa da gabriela é a mais ácida.
-você está enganado. a polpa da gabriela é agridoce.
-como você sabe?
-eu já experimentei.
-conversa!
-juro! a polpa da gabriela é fluorídrica. ela é toda composta de hidrocarbonetos. as sardas são dipeptídeos e os seios são pluri-valentes, se é que você me entende.
-não entendo.
-vou explicar: conheci gabriela era de manhã um dia. depois fomos passear juntos como dois bebês chapados pelas ruas e planejamos a era cibernética. ela era clubber nessa época.
-clubber?!
-bem, mais ou menos. ela gostava de se divertir pondo modelos e makes fluor-glamour e depois saíamos pra dançar.
-certo. mas nada parece se encaixar.
-em gabriela nada se encaixa. ela usa esquemas variáveis e cambiáveis de análise. seu lema é: problematize, se possível. e se conseguir, problematize mais do que eu, que sou o mau-humor de sardas.
-não acho a gabriela tão mal humorada assim.
-ela não é mesmo. mas faz parte da lenda. dizemos que ela é mal-humorada porque temos em nós a gabriela-idéia, a gabriela concebida em nós, gerada em nós, engendrada através nosso amor sangrento. a gabriela profunda está vivendo.
-e onde é que ela vive?
-no planeta Vênus.
-nada disso. ela vive em Londrina, seu brócolis!
-a gabriela vive no mundo real.
-ela vive em Porto Alegre!
-um erro: a gabriela vive em Foz do Iguaçu.
-em São Paulo!
-ora, mas veja: o que importa o lugar onde a gabriela mora? devemos nos concentrar na essência de gabriela e não ficarmos somente atentos aos aspectos superficiais de sua personalidade múltipla.
-você está com a razão.
-a gabriela pertence ao reino dos fungos. ela vive em uma união simbiótica com as bactérias rizomáticas que habitam a raiz da sequóia.
-já eu diria, com mais cuidado, que a gabriela pertence ao reino dos invertebrados: ela é uma libélula. e sobrevoa os espaços. e antevê as tormentas. e alimenta os escravos. e fortifica as placentas.
-você está dizendo coisas sem sentido.
-só através da nulidade de sentido é que poderemos chegar ao centro de gabriela. preciso me fazer de bobo e surpreendê-la quando ela estiver distraída. se eu for racional demais, ela nem vai querer olhar pra minha cara.
-a minha opinião é que a gabi é uma marmota.
-uma marmota? ora, mas quem você pensa que é para tratar a gabriela de “gabi”? mais respeito, seu repolho! saiba que a gabriela é uma pessoa de prestígio!
-eu chamo ela de gabi e vou continuar chamando. aliás, ela nem gosta que a chamem de “gabriela.” ela vai ler isso aqui e vai odiar todos esses “gabrielas” espalhados por esse diálogo ridículo. além do mais, pra ser bem sincero, acho que você já está se repetindo com essa história de diálogo. porquê não tenta um outro jeito de dizer oi pra gabi?
-qual outro?
-ah, não sei, escreve um poema.
-um poema?
-é, idiota, um poema!
-vou tentar: gabi querida do meu coração\me dá um beijinho\e eu te dou meu...er...meu...hum...meu...bosta! não sei o que rima com coração!
-muita coisa rima com coração.
-o quê, por exemplo?
-afeição. paixão. explosão. lambão.
-gostei do “explosão”!
-então faz.
-gabi querida do meu coração\me dá um beijinho\e eu te dou minha EXPLOSÃO!
-muito bom!
-você gostou?
-claro, ficou ótimo!
-espero que a gabi goste!
-mas o que você quis dizer com “te dou minha explosão”?
-quis dizer que eu amo tanto a gabi que chego a querer explodir de amor!
-isso foi brega pra caralho. parece música da Roberta Miranda.
-bobagem. isso é entre eu e ela.
-mas você vai publicar e todo mundo vai ler e todo mundo vai rir da sua tolice.
-que leiam, que riam, estou me lixando.
-outra coisa: este diálogo está todo desigual. você começa com as personagens se tratando na segunda pessoa, descamba pros termos científicos, conta um pouco do passado da gabi e depois só fica no blá blá blá. ela nem vai agüentar ler isso até o final. acho que você devia pôr agora uma parte mais substanciosa, mais poética.
-então tá: gabi gástrica. gabi-gandaia. gabi gotícula. nascemos e morremos dentro da gabi holística, padecemos dentro da gabi numérica, gozamos dentro da gabi algébrica, parimos dentro da gabi sumérica, brincamos dentro da gabi lúdica, crescemos dentro da gabi antiprática e aprendemos a contar dentro da gabi aritmética.
-arrasou.
-espero que ela goste.
-ela vai gostar.
-sim, vai.
-vai mesmo.
-é.

a surdez lasciva da a maçã no escuro

Maldita internet e suas consequências nefastas.

Nesses últimos 21 dias de abstinência na web, consegui enxergar como a vida é boa sem esse mundo paralelo formado por pixels.

Tive mais tempo pra conhecer meus filhos que antes eram estranhas figuras que quebravam tudo pela casa, pude descobrir melhor a minha esposa na qual também era uma figura na minha vida que só me enchia o ouvido de lamentações, pela primeira vez em 5 anos voltei a praticar um esporte regularmente, e minha cor epidérmica que antes era palida e sem vida, hoje está mais corada graças ao sol e suas radiações cancerígenas.

E aqui estou eu de volta, a frente desse computador e esse blog maldito na qual eu vou ter que ficar publicando até os dias em que eu me curar dessa minha insanidade. Mas vou tentar ficar apenas 8 horas em frente do computador, chega de ficar 12 horas me alienando nessa merda.

Eu até comprei um bloco de anotações para escrever as merdas que eu publico aqui substituindo o Word do meu PC, mas vi que me tornei um analfabeto na escrita, então tive que comprar depois um caderno de caligrafia pra minhas palavras voltarem a ter forma. Maldito teclado.

num fala Abobra

A disseminação...

Depois de trezentos e cinquenta e sete brejas, conseguimos finalmente, disseminar obrigada, pois ligamos para a Ju e agradecemos por ela existir. Obrigada, Ju. Obrigada. Estamos escutando "Hey Joe", muito embora, a Camila não queira, mas tudo bem. É carnaval e as pessoas acabam aceitando tudo que aparece!

(...)

Já estamos bêbadas! Obrigada.. Obrigada, Aninha. Por proporcionar este momento. Obrigada. Agora na passarela, Camila. Com seus 64 anos, signo de peixes procura compromisso sério. Obrigada Camila. Obrigada. Já é o suficiente. Você já demonstrou as suas qualidades. Saia da passarela, por favor. Obrigada Camila. Segurança, por favor!!!!!
AninhaB

Querido Frank Zappa,

Estas singelas mal traçadas linhas, tem a intenção de encher o seu genial saco. Pôxa Frank, caí na sua lábia sensitiva e me fodi. Lembra daquele bendito dia, lá pelos idos de 1976, quando te conheci?
Era uma tarde bem quente, típica do interior de São Paulo. Minha prima Mirian, que namorava um cara de rádio da capital, chegou lá em casa com uma montanha de discos que ganhou do namorado.Como ela só gostava de Maria Bethania, perguntou se eu queria escolher alguns pra mim.

Lembra Frank? Eu fiquei com todos. Até aquele dia, eu era muito feliz amando os Beatles, Elton John, Rick Wakeman, Rita Lee e os Mutantes.
De repente, a desgraça. A perdição. Na mão de um garoto amalucado e sensível ao cubo, um mundo se descortinou: Marvin Gaye, Credence, Robert Fripp, Mahavishnu, T.Rex, David Bowie, Animals, Zeppelin, Yes, Jethru Tull, Dixies, ELO, Steve Miller, Elvis Costello e...você.

Eram exatamente 51 discos. Entre eles, dois eram teus.
Pôrra Frank, ouvindo as coisas que tu fazias, tive a certeza de que todo mundo devia, no mínimo, aprender a pensar por si mesmo. A ler bons livros, a viver uma vida mais livre e interagir inteligentemente através do discurso, da prosa. A questionar e buscar. Vc me afirmou que a música era um meio poderoso de chegar a um lugar mais...interessante. Não importa o quanto a gente fracasse.Errar também é um tesão, vamos rir disso também. Escrever, ler, ouvir, cantar, fazer, buscar, buscar, buscar.

Ainda acho que vc estava certo, brother Zappa.Mas o que é que deu errado?
Não aguento mais Quéli-kí, Funquebosta, biguebróder, revista caras e filosofia barata. Onde está a juventude que pulsa e morde? Somos muitos calados ou somos poucos e fracos?
Porra Frank, toque a trombeta aí de cima e acorde nossa tribo. Eu espero um sinal teu. Ainda tenho vontade de brigar. Ainda quero aquele mundo que vc me mostrou.

Do seu amigo bem naif,

Enio Sam.

Patos e Fotos - Radio blah!

Vais ficar assim, dentro de mim, algo torto, meio morto, como um espinho que a pele não rejeita, cobre de tecido e com o tempo, a gente nem sente mais. Vais ficar silente e imóvel, como uma jóia perdida no mar, enterrada na areia, de resgate impossivel. Vais ficar esquecido como um poema escrito em um caderno em desuso, metido no fundo de uma caixa qualquer, dentro de uma estante no sótão. Vais ficar inerte e seco, como uma rosa prensada dentro de um diário antigo. Uma ameaça inócua e longínqua. E não vou mais lembrar de ti, e não vais mais doer, e meus olhos não serão mais fonte das lágrimas com teu gosto, e não vou mais gritar teu nome, nem amaldiçoar tua casa. Não vou calçar mais teus sapatos, meus dias não serão mais sombras dos teus sóis, não vou mais acordar à noite sentindo tua presença ao meu lado até que alguma onda revolva a terra e vomite na praia o teu tesouro, até o dia que a pele inflame e o espinho coloque a ponta para fora, até o dia em que um poema, uma música ou a vida, por qualquer circunstância, te arranque de lá e te esfregue na minha cara, para minha imensa vergonha. Então me surpreenderei com o quanto consegui me enganar e por quanto tempo.

Have a Sit

Sabe de uma coisa que me deixa à beira do pânico?
- O fato de haver uma grande possibilidade de você ser considerado louco e demente, e, por isso, ser isolado do convívio social?
Não, eu até compactuo bem com isso.
O que realmente me assusta.
Imagine que você está em uma sala de aula. Você e mais quarenta. E você olha para alguém. Depois para outra pessoa. E mais outra. E até você olhar todo mundo.
Vocês já pararam pra pensar que diversas pessoas também olham para você, e nem repara? Elas estão te olhando, você nem tem noção disso! E todas elas olham para você e criticam seus defeitos em seus respectivos conscientes.
E você saí no meio da rua, e esse número de encaradores misteriosos aumenta consideravelmente.
E todos pensam como você é feio, como eles te odeiam.
Eu sempre tenho a sensação de uma conspiração.
Na boa, se você for olhar pra mim, me avise. Essa é mais uma das minhas paranóias.
- Primeiro de tudo: você é doente! Segundo, ninguém olha pra você, porque você é feio. Desencane.
Não consigo... O dia está chegando! Socorro!


nóia do Kobe's Surreal World 3.0

Essa teoria não é nova, ela nem é minha, mas volta e meia ela me preocupa: e se a vida for um seriado de TV? E se na verdade nós estamos sendo assistidos constantemente, como um Big Brother intergaláctico ou interdimensional? E se tudo que você diz ou faz é parte de um roteiro do qual você não pode fugir? Já imaginou, alguém olhando toda vez que você vai ao banheiro, tira meleca do nariz, rouba uma balinha das Lojas Americanas? Sem edição, non-stop, 24 horas, sua vida sendo transmitida por aí, todas as manhãs que você acordou descabelado e com remela no olho. Será que nós devíamos estar nos preocupando com o Ibope da série? Será que é tudo um grande seriado coletivo, ou cada um é a estrela de seu próprio programa e somos todos concorrentes? E quem diabos estaria assistindo isso?
Tantas perguntas, tão pouco tempo.

nóia da Oba Fofia

26.2.03

Caros amiguinhos e amiguinhas,

Aproveitando o enésimo pau do HaloScan
anunciamos que

O CONCURSO DE JANEIRO ACABOU!

Antes dos comentários sumirem o nosso estimado colega de trabalho Pedro Nunes estava ganhando da Oba Fofia por uns três corpos de vantagem.

Todos os votos aparentemente foram legítimos, de IPs diferentes.

Que mais? A eleitora sorteada foi a Criss. Que para minha infelicidade mora na Itália. Mas vai ganhar um treco legal que eu também gostaria de ter.

É isso. Eu diria que o concurso foi um semi-fracasso, mas tudo bem. O objetivo era conseguir saber quais destes textos selecionados os leitores acham mais interessantes. Fiquei mais ou menos na mesma. Mas foi engraçado.
Palmas pro Pedro e pra Criss também.
Por hoje é só. Amanhã voltaremos com a programação normal e, se Deus quiser , nenhum Carnaval.

atenciosamente,
a gerência dessa birosca.


...Minha mãe arranjou 300 pila prum cara
...Aqui perto de onde a gente mora, ela tava passando pra vir pra casa, lá pelas 20:30.
...Um cara esbarrou nela, com o dedo na camisa, e a minha mãe pensou que ele tinha uma arma.
...Deu toda a grana que tinha, 300 contos.
...Eu dei uma grana no mesmo local uma vez, mas eu só tinha um real. E eu tava bêbado. E foi por três caras. Fazem alguns anos.

...Hoje em dia se um cara vier com essa, sem mostrar arma, eu sorrio, e peço pra ele mostrar. Depois se eu achar que pego ele na porrada caio em cima, e se forem muitos, eu tento correr. A minha mãe, coitadinha. É mulher. O Joon quer pegar o cara. Eu acho que vai ser difícil, mas ele falou que quer ir lá amanhã por volta dessa hora, pra ver se pega. Se ele for eu vou também.

Life sucks

Mulher estuprada dentro de igreja - O Popular, Goiânia

O vendedor Mauro Gonçalves da Silva, de 39 anos, que cumpre pena no regime semi-aberto da Agência Prisional por estupro e assalto, foi preso no noite de segunda-feira depois de violentar a funcionária pública C., 41. O crime ocorreu na Igreja Comunidade Missionária Boas Novas, no Setor Universitário. Detido por populares, ele escapou por pouco do linchamento. Levado pela Polícia Militar para a Delegacia da Mulher, Mauro foi autuado em flagrante por estupro. Ele confessou o crime. C. estava prestando serviço voluntário à igreja, por volta das 17 horas de segunda-feira, quando Mauro Gonçalves, segundo testemunhas, chegou pedindo informações sobre o pastor Cleôncio. A funcionária pública explicou que ele estava ausente e o vendedor saiu, mas voltou minutos depois. Ele envolveu um fio de eletricidade no pescoço da vítima e a violentou. Depois, ameaçou matá-la caso o denunciasse. O acusado saiu arrumando as calças e foi visto pelo comerciante Márcio Campos de Souza, que tocava violão nos fundos da igreja. A vítima contou-lhe o que havia ocorrido e Márcio ligou para a pastora Daria Cristina Garcia, que o orientou a ir atrás do criminoso.

Vida de cão

Chegar em casa bêbado de madrugada é quase sinônimo de comportamento irracional. Fui fazer um lanchinho pra matar a larica da ceva e, por algum motivo bizarro que não consigo rastrear, comi uma linguiça calabresa fria (inteira) e um ovo cozido antes de tombar na cama. Acordei hoje com uma desagradável sensação de completude existencial.

Gorgomilhos & Perdigotos

Contas

Cerveja = uma grana violenta
Cigarros = uma grana boa
Gasolina = uma grana braba
Alimentação = uma grana preta
Possíveis gastos com senhoritas = uma grana alta

Total = uma grana que eu não tenho.

Alea Jacta Est

Na semana do meu casamento, quando ainda estava no Fred, um episódio qualquer de uma dessas séries a que a gente assiste freneticamente me fez relembrar um lance ocorrido comigo faz uns doze anos. Literalmente, trata-se de um caso de polícia.
Em 90 ou 91, já não me lembro bem quando, Paracambi vivia seus últimos anos como uma cidade alegre, festiva e cheia de opções em termos de entretenimento. Era sábado e dia do Baile do Cowboy, organizado pelo bloco Pulei o Muro e Biquei o Balde, teoricamente o grande rival do nosso bloco, o Quem Não Bebe Não Vê O Mundo Girar. Digo teoricamente porque nossa rivalidade era sadia e só aparecia mesmo no carnaval. Como sempre fazíamos, organizamos um churrasco na casa de um amigo para nos "concentrarmos" para o baile. A casa escolhida naquele ano foi a do Sander, que hoje é crente mas continua sendo um dos meus maiores e melhores amigos, tendo, inclusive, me convidado pra ser seu padrinho de casamento, o que aceitei de prontidão. O Sander mora na Barreira, tradicional bairro de Paracambi e que é também a porta de entrada da cidade. Em frente a sua casa fica a Delegacia de Polícia, mas, até aquela data, jamais havíamos tido qualquer problema. Enchemos muito a cara durante toda a noite e lá pela meia-noite seguimos para o clube. Era uma legião de adolescentes bêbados vagando pela rua. Ao passarmos em frente à Delegacia, notei que a placa de "Não Ultrapasse" estava de cabeça para baixo. Com a melhor de todas as intenções, procurei ajeitá-la. Entretanto, por me encontrar muito louco, não reparei que não havia um parafuso, prego ou outra coisa qualquer que pudesse segurar a puta da placa no lugar certo. Sendo assim, a placa voltou a cair e ainda fez um esporro filho da puta. De dentro da DP me sai um policial todo esquentadinho e vai logo mandando: "Tá fazendo o que aí moleque?". E eu respondi: "Peraí, seu polícia. Eu só tô querendo ajudar.". "Ajudar é o caralho, tu quer é quebrar essa porra!", ele disse. Eu insisti que não, que eu queria mesmo era arrumar a placa torta. Mas ele continuou berrando comigo e eu então não consegui mais ficar calmo e disse: "Vai pro caralho, seu palhaço, que eu sou filho do prefeito.". Não prestou. O homem me catou pelo braço e me arrastou pra dentro da DP. Mas antes ainda gritou bem no meu tímpano: "Então vamos lá falar com o papai.". A essa altura todo mundo que tava no churrasco resolveu comprar o barulho e invadir a Delegacia. Sobrou tapa na orelha de geral. Um colega nosso, o Marcelo Zulu, um neguinho que muito mal devia ter a quinta série mas que era um dos únicos ali com mais de 18, entrou berrando que era o advogado da família. Tomou um direto no peito que a caixa torácica foi parar nas costas. Fiquei aliviado quando vi que o detetive de plantão era o Roberto, amigão do meu vizinho que era tenente do Exército e conhecido dos meus pais. O Roberto, então, me passou um sabãozinho e me aconselhou a pedir desculpas ao Petrúcio, o policial que me segurou. Humildemente, com o rabinho entre as pernas, fiz o que ele me disse pra fazer. "Poxa, seu Petrúcio, eu sei que vacilei com o senhor, mas não dá pro senhor entender que eu tô meio zoado e que tava com a cabeça meio quente, não? Pô, não tem necessidade de a gente acordar meu coroa agora só por causa de um probleminha desse. Me libera aí, seu Petrúcio.", falei pra ele, com lágrimas nos olhos. E ele: "Liberar é o caralho. Quero que se foda se teu pai tá dormindo ou se tá acordado. Eu tô trablhando e não tô aqui pra aturar desaforo de pirralho com o rabo cheio de cachaça.". Inconformado e sem noção do perigo, devolvi: "Emtão você vai tomar no olho desse teu cu, filho da puta, que eu também quero mais é que você morra. Isso é que dá a gente não estudar. Depois fica revoltado por tá numa merda de profissão dessas e vem descontar em cima de quem tem a chance de ser algo na vida.". Aí fodeu tudo, porque com isso eu passei a ser odiado por todos os caras que estavam de plantão naquela madrugada. O tempo fechou de vez. Tomei gravata de um russão troglodita lá que, não sei por quê, quis evitar que o Petrúcio me arrebentasse na porrada. Nisso o Roberto já tinha metido a mão no telefone e ligado pro meu vizinho, pedindo que ele fosse pra lá com o meu pai. E o Marcelo Zulu continuava dizendo que era meu advogado e era disparado quem mais apanhava.
Quando meu coroa chegou os ânimos já estavam mais tranqüilos. Para o meu desepero, meu pai não falou nada, só ouviu. O tal troglodita que me deu uma gravata, mas que me salvou da ira do Petrúcio, disse que ele tinha que tomar cuidado com o marginal que estava dentro da sua casa. Falou ainda que só não deixou que eu entrasse na porrada ali porque eu era menor, estava doidão e sendo eu de Paracambi e filho de quem era, podia acabar trazendo problemas pro colega dele. Mas que eu ficasse esperto, pois eu não ia ficar em Paracambi o tempo todo, que uma hora eu tinha que sair de lá. Foi bizarro.
Bem, em casa foi aquele show que vocês imaginam. Esporro, ameaças de cortar a mesada, castigo, etc.. Fui pro meu quarto e esperei ele dormir. Lá pelas três eu comecei a ouvir os roncos. Pé ante pé, fui até o quarto deles pra conferir. Vendo que já estava nos braços de Morfeu, troquei de roupa, pulei a janela e fui pro baile. Chegando lá, todos me tratavam como se eu fosse um herói ou mesmo um rei. Hoje, entretanto, vejo que não passava de um playboyzinho marrento e de um filhinho de papai escroto. Pena não ter entrado na porrada mesmo. Quem sabe assim não teria aprendido mais cedo o que é ser homem de verdade?

surra de rabo de Tatu

25.2.03

Experimentos de final de semana

Voltando para casa, tinha acabado de desligar o celular após falar com a Lydia, quando passei por um pedaço de pista coberto de gelo e perdi o controle do carro. Depois de passear pelas duas pistas, dar cavalos-de-pau, virar muito o volante para todos os lados e ficar pensando se a Lydia ia ficar muito brava se eu destruísse o carro, consegui recuperar o controle do veículo antes que o pessoal que vinha em sentido contrário, árvores nas calçadas, hidrantes e outros obstáculos presentes tivessem a oportunidade de me acertar.

Conclusão do experimento: o gelo realmente é muito, mas muito escorregadio.

Entre Quatro Estações

Estava lendo uma matéria neste final de semana no Estadão on-line sobre um site dedicado à pessoas que querem cometer suícidio. O site ensina melhores formas de se matar e tem um chat para as pessoas ficarem discutindo por que querem se matar ou, até mesmo, encontrar outras pessoas para se matar junto. Sim, parece coisa de louco e, eu imagino que ninguém que tenha um suicida na família (eu sou o da minha) gostaria de saber que existe um site desse por aí mas, eu não sei se é tão errado assim alguém se matar... Eu lembro de quando eu tentei me matar... sei que à princípio não queria de fato morrer mas, sei o tamanho do alívio que me ocorreu quando eu percebi o começo do efeito dos medicamentos no meu corpo. Tomei uns 60 - 70 comprimidos diferentes de praticamente tudo que eu tinha no meu armário e encontrei na minha frente. E, acho eu - não cheguei a perder completamente a consciência - que uns 10 - 20 minutos depois meu corpo começou a adormecer e eu já não conseguia reagir a mais nada... o que foi de fato triste nisso tudo é que eu fiquei feliz quando achei que estava indo embora... fiquei feliz quando comecei a sentir meu corpo formigando e, nos dois dias que se seguiram já que, evidentemente eu não consegui me matar, eu desejei mais do que antes ter de fato conseguido... Concordo que eu precisava de ajuda na época e, sinceramente não sei como consegui seguir em frente e passar por cima disso... é muito louco... vira um momento triste no seu passado mas, acima de tudo, te dá outra consciência sobre a morte... eu continuo não tendo medo de morrer... não achava que iria parar num lugar melhor... não acreditava e ainda não acredito em céu e inferno só que, naquele momento que eu comecei a ir embora, eu fiquei feliz de me livrar da minha vida... sim, era um fardo. Ainda mais pela sucessão de eventos que aconteceram na sequência... sei lá... eles só serviram para corroborar o que eu já achava sobre uma série de outras coisas... Minha mãe me arrancou a tapas do quarto me xingando muito por que eu estava fazendo aquilo... a impressão que eu tinha e, às vezes tenho até hoje é que ela estava irritada com o trabalho que tudo aquilo daria a ela (dadas as coisas que ela falou no momento) e não triste por que eu estava morrendo... meu pai... bom, meu pai foi me ver pela manhã no hospital público (minha mãe ligou para ele mas, ele não se incomodou de se abalar no meio da noite) e, na sequência levou meu irmão mais novo pescar... Não sei o que eu esperava deles... talvez eu não esperasse nada diferente disso e, talvez por isso eu tenha tentado me matar... por que na época isso era tudo que eu sentia que eu tinha e, eu não conseguia viver com isso... Não sei se consigo explicar e na verdade não vejo nem muita razão para fazer isso... fiz, é um fato. Aconteceu à 5 anos atrás e, hoje em dia me sinto responsável demais para fazer isso de novo... muita coisa depende de mim para que eu possa sequer considerar isso... Essa minha razão para excluir a possibilidade pode parecer insana ou preocupante para alguns de vocês mas, é de fato o que me afasta completamente dela nos piores momentos... a certeza de que pessoas precisam de mim e, por isso eu não posso me dar ao luxo de bater as botas... Isso pode estar parecendo mais triste do que na verdade é já que, para mim, pensar dessa forma não é triste... não me entristece... não me deprime... só é um fato... sei lá... é mais prático do que emocional... muito mais prático...

Estou para escrever sobre isso faz tempo... talvez para exorcizar... talvez para me livrar do peso de ter um "segredo"... sei lá, por alguma razão estranha as pessoas (eu também) tem vergonha disso... eu continuo tendo só que agora eu falei em voz alta...

Muito loucamente às vezes a vida dos demais nos parecem muito mais importantes que as nossas... passei por um susto muito grande no fim do ano passado no qual eu tive que lidar com a idéia de uma pessoa que eu conhecia e gostava me dizendo pelo telefone que estava morrendo... que tinha tomado sei lá quantos comprimidos... surtei.... Juro, sai de mim.... naquele momento eu precisava salvá-la... a pessoa que eu liguei naquela noite sabe qual era o meu estado... A "incoerência" de tudo isso é que, aparentemente, por mim, eu não faria a mesma coisa... Vai entender... o ser humano é um bicho muito louco...

oooooooops!

Explodiram uma bomba num ônibus em Botafogo [onde faço meu curso de francês]. Metade do comércio de copacabana [onde a minha avó mora] fechou. Uma granada explodiu em Ipanema [meu bairro] com 3 bombas caseiras na Vieira Souto [extensão da minha rua]. E um ônibus incendiado no Rio Comprido [onde minha mãe trabalha].

Ainda bem que não saí de casa.

na colméia de Free Bee

Meeeeu!!!
Agora phodeu de vez!

Lembra do lance da Márcia? A minha amiga que bateu o carro e o cara morreu, de ataque cardíaco?

O cara que morreu é sargento da AFA. E foi meu professor de matemática na 8ª série! E meu primeiro professor de informática. Se não fosse pela oportunidade que ele me deu de PRATICAR o que eu aprendia nos livros, talvez minha profissão fosse garçom... Nada contra garçom, nem contra nenhum outro emprego digno, absolutamente. Só que o pouco que eu ganho seria ainda menos... : /

Depois esse mesmo cara - Délio, ele se chamava - foi meu parceiro de farras. Tomamos várias em Pirassununga, nos ranchos da Cachoeira de Emas. Sempre muito bem acompanhados... hehehe... :) Que não sirva de pena pra ele... hehehe... Vai que alguém esqueceu de anotar na conta dele, e lê aki agora...

Pô Delião! Vai com Deus, cara! Vc sempre será lembrado!

atropelamento e fuga em ré menor 3dv's diary

PILEQUE

Fico impressionado com a quantidade de gente que não sabe beber. Saber beber, de fato, é uma arte e exige alguma teoria antes de entornar aquela Canjibrina braba - do contrário, está-se sujeito a pagação de mico generalizada, cadeia ou, muito pior, aparecer no Programa do Ratinho para fazer exame de DNA.

Como é meu Dever perante DEUS trazer algum lume às mentes entrevadas, apresento aqui a Fabulosa Escala Levedo de Potencial Destrutivo Etílico, para que vocês não saiam por aí fazendo besteira.

Nível 1: Cerveja. Tem pouco álcool e é fácil de controlar. Claro, sempre tem alguém que é desacostumado a um copo e fica troncho com dois goles de cerva. Juro por São Jorge, se eu fosse assim já estaria milionário. Mas para a média do populacho, é preciso beber bastante para tornar-se um quadrúpede(1), portanto a cerveja é relativamente inofensiva, desde que o sujeito não liquide com uma caixa inteira de Sapporo sozinho.

Nível 2: Vinho. Como as mulheres, existem vinhos que enganam. Chegam de mansinho, são agradáveis, cheiram bem, tem gosto bom mas, meu amigo, no outro dia pode haver surpresas desagradáveis. Creiam, crianças, poucas coisas são tão terríveis na vida do que uma ressaca de vinho. Padre Onofre, meu colega de Santo Ofício, resumiu muito bem a sensação: dá um desgosto de estar vivo. Porém o vinho também é fácil de controlar, e não deixa tanto bafo quanto a cerveja.

Nível 3: Saquê. Bebida traiçoeira, feito um Ronin(2). Posso dizer, sem Jaça na Consciência, que já pude aplicar meu Cajado em muita gente graças a este vinho de arroz. Se for de boa qualidade, é tão suave que não se percebe a quantidade de álcool que contém. Quando você vê, BANZAI! Existem alguns energúmenos que fazem caipirinha com saquê, o que acho uma estupidez sem tamanho - a bebida é saborosa por si só, não precisa de aditivos. 

Nível 4: Cerveja acompanhada de Destilados. É uma espécie de cursinho pré-vestibular antes de partir para coisas mais fortes. O destilado pode ser pinga, vodka, steinhager ou gin. Tem gente que mistura a cerveja e o destilado no mesmo copo, o que julgo ser uma heresia - inclusive encomendarei a Alma destes infiéis à Boca do Lúcifer Maior. O correto, segundo o Concílio de Trento, é dar uma bicada no destilado e depois tomar um gole da breja. Dá para ficar numa boa com apenas duas cervejas e duas doses de vodka, o que, convenhamos, é uma pechincha.

Nível 5: Uísque. Para os que estão adentrando no Maravilhoso Mundo dos Destilados, é aconselhável sempre diluir o uísque em água gelada e botar bastante gelo. Principalmente se o uísque for uma querosene daquelas brabas, tipo Oldêiti, Drury's, Teacher's e outros sucedâneos de Pinho Sol. Já se for uísque dos bons, beba puro pois é pecado estragar com água ou gelo obras de arte da Fina Arte da Destilaria. O uísque exige mais controle por parte do usuário, pois já vi muita gente fazendo revelações estarrecedoras depois de uns tragos, mas não posso dar mais detalhes pois isso é Segredo de Confissão.

Nivel 6: Gin. Diziam os Peçonhentos Tablóides Londrinos que o Sorriso Perpétuo da Rainha-Mãe era decorrente do fato de que ela enxugava um litro de gin por dia. E vejam bem, a Matrona viveu até os Cento e Um Anos. Claro que se você quiser viver muito, não deve tentar fazer isso, a não ser que você seja a Rainha da Inglaterra. O gin é forte pacas e normalmente não é bebido puro, mas combinado com outras coisas, como no caso do Gin-Tônica e o Gin-Fizz. Curiosamente, essa bebida surgiu como remédio tonificante. Depois que o farmacêutico que a inventou percebeu que aquele monte de marmanjos que ia comprar Gin fazia uso recreativo do seu "tônico", passou a fabricá-lo em quantidade e a vendê-lo pros pubs. Isso é que é tino comercial!

Nível 7: Smurf. Esse é um drinque de minha autoria e conta com minha Bênção. Em primeiro lugar, passe na farmácia e pegue três vidrinhos de água de melissa. A título de curiosidade, veja a composição da água de melissa (vidro de 50 ml):

- Essências (erva cidreira, cravo da índia, jaçapé, limão, noz-moscada, coentro, canela): muito pouco
- Álcool: 37, 5 ml
- Água: o suficiente para 50 ml

Se você consegue fazer contas de dividir, já percebeu que 75% da inocente água de melissa é puro álcool potável - aí é que está a diversão. Passe no supermercado e compre uma garrafa de Curaçao Blue e um maço de hortelã. Chegando em casa, amasse umas folhas de hortelã com açúcar. Pegue uma coqueteleira, coloque a pasta de hortelã amassada, uma dose de Curaçao, a água de melissa e uma dose de água gelada. Chacoalhe bem. Pegue um copo alto cheio de gelo e, usando um coador, despeje nele o drinque. Espere o gelo derreter um pouco e então mexa com uma colher comprida. O resultado final é um creme azul gelado com álcool suficiente para descontrair até o mais carrancudo Pastor Luterano.

Nível 8: O Quinto Cavaleiro do Apocalipse. Bem, se você conseguiu chegar a este nível vivo, é sinal que está à procura de encrenca. Tudo bem, não vou decepcioná-lo. Pegue meio tablete de manteiga sem sal. Derreta em uma panela em fogo bem baixo. Quando a manteiga estiver liquefeita, apague o fogo. Vá mexendo com uma colher de pau enquanto despeja devagar um litro de rum. Misture bem e então beba. Você não vai sentir nada, pois a gordura da manteiga retarda a absorção do álcool. Vá bebendo. Beba tudo. Você ainda não sentiu nada. Espere só um pouquinho. Só um pouquinho.

(1) Tem gente que não precisa beber nada.

(2) Samurai sem Senhor. Depois do final do shogunato, no Japão, esse pessoal ficava ao léu, andando pra lá e prá cá, alugando seus serviços para quem quisesse, por exemplo, capar o folgado que engravidou sua caçula.

sacramentado e comungado pelo Padre Levedo

24.2.03

Simplesmente estou gravida! Me dei conta disso na verdade no dia 1 de janeiro quando estava de ferias no Brasil. Pirei claro porque foi uma surpresa total, foi um acidente que eu nem dei por mim que tinha acontecido. Moro sozinha no exterior, trabralho em algo incerto e o pai eh alguem com quem saia ha uns 9 meses mas que nao esta nem ai. Nunca me senti tao sozinha.

Aqui o aborto eh legal desde 1967 e provido pelo sistema publico de saude. Levando em conta a situacao vi que nao tinha muita opcao; aqui as mulheres nao dao a luz se realmente nao planejaram a crianca.

Tomei todas as providencias necessarias- nao eh so chegar la e fazer-- e fui, sozinha a clinica no dia marcado. Mas me sentia tao mal, tao incerta de estar fazendo aquilo que na primeira chance de adiar o procedimento ( eu nao havia tirado todos os meus piercings e um deles eu nao consegui eu mesma tirar), pedi para ser marcado outro dia, dali a 4 .E decidi nao voltar nesse outro dia.

Nao sou , teoricamente, contra o aborto. Confesso ate que, anos atras, bem mais jovem ja recorri a isso sem remorsos. Mas por alguma razao, nao sei, acho que comecei a acreditar em outras coisas, a sentir diferente o mundo e a vida. ; por alguma razao nao consigo aceitar a ideia de arrancar uma vida que se desenvolve a cada minuto de dentro de mim.

(...)

Sinto-me estranhamente tranquila.Sei que o futuro sera uma batalha mas , por enquanto, estou disposta a enfrenta-lo com toda a disposicao.

Procurei saber com outras strippers que deram a luz e das tres a quem perguntei a experiencia foi a mesma: eh possivel trabalhar ate completar o quinto mes de gestacao, que eh quando a barriga comeca a aparecer. E dependendo de cada uma, em media com 2 ou 3 meses depois do parto eh possivel voltar a dancar.

Amanha completo 12 semanas. Claro que nao aparento estar obviamente gravida mas meu corpo mudou sim. Os seios estao o dobro do tamanho - ouco coomentarios o tempo todo (as meninas perguntando se botei silicone e os clientes elogiando) e a minha cintura engrossou. Sinto enjoos e o cheiro da fumaca dos pubs me eh desagradavel mas no mais tenho conseguido levar normal.

(...)

Ontem encontrei com uma brasileira que esta fazendo mestrado em jornalismo aqui em Londres e que havia me visto na festa do Stripper of The Year ano passado. Como trabalho final ela esta fazendo um documentario sobre brasileiros vivendo e trabalhando nessa cidade. Aceitei participar e vou falar com o dono de um dos lugares onde trabalho para conseguir permissao de filmar algumas cenas la. Ela , por coincidencia, esta gravida de 11 semanas.

A marcha contra a guerra sabado passado arrastou um montao de gente. So nao sei o o Tony Blair se sensibilizou muito.

Naked Emotions

6 num vão acreditar. Eu vou contar aos poucos pra ver se dá pra entender: ontem a passa mal da Marcia tava saindo daki da Auto Escola pra buscar um aluno. Daí um senhor bateu na traseira do carro dela. Os dois bateram boca, discutiram e talz. O cara disse q voltaria mais tarde pra conversar com o Zé Maria (boss). Só q 10 min depois q o cara saiu daki ele MORREU INFARTADO DENTRO DO CARROOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!! A passa mal da Marcia é uma assassinaaaaa!!! Credo! Num é não! Mas se pá foi mesmo por causa disso! Mas q agora eu vou pensar duas vezes antes de brigar com ela eu vou! Já pensou se ela me manda pro inferno??? Hehehe... mas falando sério, tá todo mundo meio passado aki com essa história toda... tá estranho...

urucubaca da Danipepita

Queria eu ter quarenta anos para acreditar que ainda se tem muito o que viver e a vontade bruta de fazê-lo, que ainda se tem muito caminho a percorrer, e que por mais simples que se possa ser, a felicidade plena continua sendo buscada com uma procura que não cessa.

Queria eu ter quarenta anos para entender que aos dezesseis eu não podia nunca ter posto um cigarro entre os lábios pensando que aquilo me faria mal, mas crendo que o prazer era maior. Para entender que os momentos realmente são únicos e caso não resolva aproveitá-los, aos sessenta e cinco farão-me falta maior.

Queria eu ter tantos anos a mais para entender o que é diferença deixando de lado os superlativos e encarando idéias como complementos, para saber o gosto bom que tem a compreensão e os benefícios que o equilíbrio poderia ter me trazido tão mais cedo.

Queria eu ter quarenta anos e sentir no mais íntimo desse corpo fútil aquilo que me faria mais humano, queria saber que eu vou embora daqui, mas que preciso deixar as portas abertas, porque meus filhos virão e precisarão de espaço. Ainda que as pessoas continuem a ir embora ou insistam em arranhões, queria eu compreendê-las, uma vez que faço parte delas.

Queria eu ter esses anos para rir de mim mesma quando era aos dezesseis, a mais infantil e mesquinha das pessoínhas.

Queria ainda assim, ver que o mundo está dentro de mim, que as escolhas são unicamente minhas e que as opções estão mais que disponíveis, mas queria conciliar tudo isso com um saudável relacionamento com uns bilhões tão egoístas e ambiciosos como eu.

Queria eu ter quarenta anos.

Quarenta anos para diferir bom gosto de qualidade e maldade de mentira.

E queria ter quarenta anos sem pensar que tudo veio tarde de mais.

dentro de seu umbigo

Marasmo....

Estou sofrendo de tédio crônico. Isso mesmo: um tédio tão animal que está me deixando de mau-humor. Fico pensando como era legal, em São Paulo, sair para bater perna no Shopping, pegar um cineminha, olhar uma boa livraria. Mas a metrópole Stenungsund tem um shoppinho mirrado que simplesmente fecha as 14h. Alguém pode me explicar como, em sã consciência, alguém pode fechar uma loja em pleno sábado, dia de suposto maior movimento? E assim todas as coisas funcionam nessa cidade. A farmácia fecha também, não tem plantão... está com febre? Pegue um ônibus ou dirija seu carro até Kungälv, a cidade mais próxima.

Aqui, qualquer um pode ter uma crise de Janela Indiscreta, já que dá para ver o apartamento todo de quem mora logo em frente. Agora mesmo eu estou observando o vizinho, colocando uma camisa. Ainda que a visão fosse generosa, mas o homem é um balofo.... A mulher entra na cozinha, o chama na sala e aponta para a parede. Eles param, conversam durante um tempinho e ele retorna à cozinha, abre a geladeira e pega uma garrafa de vinho. Ela tira o gato preto de cima da mesa. Estão mexendo em algumas coisas, levando a vidinha interiorana deles, sem sequer imaginar que, no prédio em frente, eu os observo. Em outro apartamento, um rapaz loiro cozinha... São tvs, abajures, descontração enquanto comem, afinal, é hora do jantar, é dia do Bingo no no Kanal 4. Também é o dia do Schlager - Melodifestivalen 2003, que é o programa mais assistido do ano na Suécia, onde o público escolhe a canção que representará o país e concorrerá no Eurovision Song Festival, com os vencedores de outras nacionalidades, e surgirá a canção do ano na Europa. É um festival concorrido, e foi onde o ABBA foi catapultado para o sucesso com a música Waterloo, na década de 70. Em outras palavras: eles adoram essa competição.

Estou sozinha aqui, o Daniel saiu para ensaiar com a banda dele, o Astroqueen, já que eles vão entrar em estúdio para gravar algumas músicas..... Ter coisas para fazer, eu até tenho, mas não acho que lavar a louça seja algo divertido num sábado à noite.

Ai, ai.... só me resta suspirar......

muito gelo mesmo na caipirinha sueca

Assédio Sexual em Miniatura

Vi uma menina sábado no Bar de Baco que eu juraria ser a menina do Chico. Faz quatro anos já que isso aconteceu. Mas poderia jurar que era a própria. O Chico... bom... o Chico..., a primeira coisa que se percebe nele é a aparência. Não dá pra ignorar. Beleza que pára o trânsito se o motorista for mulher. O típico moreno de olhos verdes, mas ele tem tudo lindo. Corpo de atleta com boca, nariz, cabelo, pele, voz perfeitos. O que mais? Tudo. Tem gente assim. Que nasce, sei lá, perfeita. É bom de olhar pro Chico. E é bom estar com ele. É um cara tranqüilo, bom papo, mente aberta, viajado, cheio de histórias pra contar. Fotógrafo dos melhores, hoje o Chico não mora mais no Brasil. Mas há quatro anos, ele estava aqui e nos presenteava com sua companhia lá no Baco.

Uma noite, devia ser mais de dez horas, entra pela porta a garotinha, cerca de treze anos. Carinha de anjo e bonitinha que só ela. Fica parada ali na entrada, olhando pra nossa mesa, e logo depois começa a fazer sinais, chamando uma pessoa ¿ o Chico. Passa o garçom, deve ter perguntado o que ela queria. A garota cochichou alguma coisa, escreveu um bilhetinho com a maior categoria, caneta cor-de-rosa na folha da agendinha, O garçom chega na nossa mesa e entrega o torpedinho pro Chico. O Chico ficou chateado com aquilo. Dispensou o garçom sem dizer nada, pegou o celular e discou um número. Aí ele fala com uma tal Rosana, fala "olha, sua filha tá aqui no Baco, acho melhor você vir pegar ela, que eu não vou levar ela pra casa de novo..." A mulher disse alguma coisa e ele: "É... não depois da última vez." Quando desligou o telefone, tava todo mundo esperando o Chico esclarecer. No início, ele até tentou desconversar, mas não teve jeito e contou.

A mãe da menina, Rosana, morava ao lado da casa do Chico. Mas foi sua amiga de infância também. Explico: o Chico vivia na casa que fora de seus pais, e a Rosana, depois da separação, voltou pra casa da mãe dela, trazendo a filha, Cristina. Assim, foram vizinhos desde sempre, com um intervalo de uns cinco anos, o tempo em que a Rosana ficou casada. Com essa amizade, o Chico sempre era convidado pros aniversários da menina. Mas o problema tinha começado mesmo no ano anterior, no aniversário de doze anos da garota. Ela encasquetou que queria dançar com o Chico. Ele adora crianças e foi com o maior prazer. Dançou com a Cristina e com as outras meninas, tirou fotografias, conversou com os adultos.

Depois disso, pela manhã, na ida para o trabalho, o Chico encontrava a menina, que pedia uma carona para ir à escola. "E o teu ônibus?", perguntava. "Eu perdi", dizia a garota. E assim foi uma semana, até que o Chico ligou pra Rosana. A Rosana, claro, não sabia de nada, mas contou uma coisa pro Chico que deixou ele espantado. A Cristina estava apaixonada e só fazia falar do Chico. A mãe não sabia mais o que fazer pra conter a pestinha, pegou a garota de binóculo espionando a casa dele, interceptou cartinhas, ralhou e xingou. Pensava que estava acabado. Agora ficava sabendo que a coisa estava só começando. Ia colocar a Cristina de castigo. Mas, como toda mãe separada, carregava uma grande culpa pela falta que fazia o pai da menina... O Chico nem soube o que dizer, depois logo esqueceu. Só não ia mais dar carona pra garota.

Então começaram os telefonemas. E os e-mails. A menina ligava pro Chico o tempo inteiro, no estúdio, em casa, no celular, uma loucura. E os e-mails entupiam a caixa de correspondência do Chico. Ele disse que pedia pra garota parar com isso e ela era só juras de amor eterno. Nem aí pro que o Chico falava. A coisa toda, disse o Chico, começava a assustar. Porque dois dias seguidos a garota fugiu de casa e foi parar no estúdio no Chico, do outro lado da cidade. Fazer o quê? Duas vezes, ele teve que largar tudo e levar a menina pra casa. O Chico é muito boa gente. Depois dessa, a Rosana deixou outra vez a garota de castigo, diz o Chico que ela chegou a chorar, não sabia mais como conter a menina. O Chico quase chora junto porque a garota tava deixando ele maluco e a coisa até começava a pegar mal.

E aí a garota fez pior. O Chico acorda no meio da noite e pensou que estava tendo um pesadelo. Sentiu uma coisa estranha, abre os olhos, alguém beijava sua boca. A Cristina tinha entrado em sua casa durante a madrugada. Até hoje, ele não sabe como. Bom, com essa, o Chico perdeu a paciência. Pegou a menina pelo braço, levou ela pra casa e intimou a Rosana. Nunca vi o Chico brabo, nem imagino como seria... Mas funcionou, porque, dia seguinte, a Rosana liga se desculpando, falou que ia se mudar, única forma que via pra segurar a sua filha. Já ia pro quarto mês que a coisa tinha começado. O Chico disse que teve pena, mas não falou pra ela ficar, respondeu que era o melhor a fazer. Ele devia estar incomodado, porque o Chico é aquela pessoa que se preocupa com o bem-estar dos amigos. Mais um mês ele teve que agüentar a menina aprontando e, depois, a Rosana se mudou mesmo. Fazia mais de dois meses que o Chico não via as duas. Estava livre do assédio. Nunca mulher adulta o importunara tanto e olha que o Chico tinha muitas namoradas. Ele pensou que, não sendo mais vizinhos, estaria livre do assédio... Até aquela noite...

Como podia a pestinha saber do Bar de Baco e que ele estaria lá aquela hora? Nós não tivemos o que dizer. Até o Mark, que sempre vinha com solução pra tudo, ficou pensativo. Depois não sei mais o que aconteceu. Ano seguinte, o Chico foi pra Inglaterra e, quando ele vem pra cá, eu nunca toquei no assunto. Agora, a menina deve ter uns dezessete e, se era ela sábado no Baco..., puxa! Fosse eu homem e bonito, ficaria com medo. Olhando pra Cristina hoje, ninguém adivinha, ainda tem a mesma carinha de anjo.

no butiquim de Angel 7000

22.2.03

Sou a favor da guerra. Confesso sem medo. Não da guerra do Iraque, nem da Coréia do Norte, nem da Chechênia, nem de Angola. Nenhuma em especial. Sou a favor de todas as guerras e por um motivo muito simples: a guerra torna o homem mais forte, mais honrado e mais nobre. Tentarei expor aqui meus motivos a respeito de algo tão controverso. Confesso de antemão que acho que falharei. Espero estar enganado.

Só peço uma coisa, por favor: não me venham com discursos pequenos. Não subestimem minha inteligência. Eu sei que a guerra é uma coisa monstruosa. Eu já vi cenas de judeus sendo enterrados aos pedaços em campos de concentração, muitas vezes vivos. Eu já li Primo Levi, Anne Frank, Isaac Bashevis Singer e tudo o que me caiu nas mãos sobre a Segunda Guerra Mundial. Eu já assisti ao Nascido para Matar e ao Apocalyse Now. Sei que mulheres são estupradas, homens torturados, crianças mutiladas. Sei disso tudo e ainda assim sou a favor da guerra.

Sei que você, leitor, deve estar me achando um monstro. Afinal, são tantos os protestos pacifistas no momento, não é mesmo? E é uma tentação mesmo fazer coro contra Bush e os tais imperialistas americanos. É uma tentação usar lugares comuns uns atrás dos outros e exibir a foto daquele menininho iraquiano cheio de cicatrizes pelo corpo ou e uma mãe que perdeu os doze filhos num ataque durante a Guerra do Golfo, no início da década de 90. Digo, porém, que sou a favor da guerra e, se você, leitor, canta em dó maior o Make Love Not War (sem perceber, creio, que se está falando das mesmíssimas coisas), eu canto em si menor a urgência de um conflito. Seja no Oriente Médio, seja no extremo Oriente ou seja aqui mesmo no Brasil, na Floresta Amazônica, como prenunciam alguns.

(...)

Honra. É uma palavra em baixa, hoje em dia. Ainda mais no Brasil. Honra. Se dois homens são amigos, hoje em dia são homossexuais. Não há um comprometimento extremo entre dois homens — na nossa estreita e pacifista visão — sem este tipo de conclusão porque não há honra. Tudo é reduzido a sentimentos baixos e nada nobres. Aliás, a palavra nobreza é outra que está em baixa. E quando falo em nobreza não faço menção a um rei balofo com um cetro de ouro na mão. Penso, por outra, no olhar elevado do homem diante de situações extremas, como a da perda e da morte. Ora, mas por que é que insisto em fugir à honra, assunto destes parágrafos?

Novamente: honra. Quem prestou serviço militar garante que esta é uma palavra que passa a integrar o vocabulário do ex-recruta. Olha os homens com os quais se mijou junto por alguns meses com admiração e respeito. Com os olhos nos olhos, sabe enfrentar o sofrimento, próprio ou alheio, com altivez. A guerra gera honra que por sua vez gera homens fortes, sem a galhardia que nos é característica e sem o apego mundano a coisas medíocres. A honra torna a vida digna em todas as suas privações. Honra, porém, não combina com hedonismo, que por sua vez não combina com a guerra, que combina com a honra.

(...)

Sou a favor da guerra. Entendo, no entanto, o apelo destes protestos pacifistas, que reduzem o conflito que se aproxima a um simples interesse comercial. Afinal, vivemos numa era em que predomina um sentimento absolutamente efêmero: o prazer. E guerra não combina com prazer e prazer não combina com honra, que por sua vez combina com prazer. Portanto, não é estranho que drag queens ou mulheres nuas na Austrália se digam contra a morte de iraquianos. Afinal, eles não podem entender a complexidade de um conflito e reduzem tudo a lágrimas e sangue. É próprio da nossa era também reduzir tudo a uma meia-dúzia de palavras fáceis.

Pode soar estranho o que vou escrever agora, mas digo mesmo assim: a morte ainda tem muito o que nos ensinar. Uma bomba caindo, várias vidas se perdendo, famílias sendo divididas, pessoas sendo mutiladas, desesperos sendo desencadeados, tudo isso se parece como um verdadeiro inferno, quando na verdade creio que seja apenas um caminho algo mais pedregoso que leva a um Paraíso próximo. Até que um novo caminho espinhoso se interponha no destino do homem.

o texto integral está em O Polzonoff

Atrasado pra ir trabalhar. Atrasado pra ir almoçar. Atrasado pra voltar do almoço. Atrasado pra ir dormir. Atrasado pra pegar o avião. Atrasado pro show. Atrasado pra pagar conta. Atrasado pro cinema.

Sou mole o maior competidor da Clarah na "Milenar Arte de Perder Vôos". Perdemos também juntos o show do Echo ano passado por estarmos...atrasados, oras!

Já foi aplaudido no escritório por ter conseguido chegar antes das 10? Você já teve seu nome anunciado em aeroportos internacionais? Já parou um avião na pista por meia hora por ter perdido seu cartãozinho de embarque? Já foi levado pelo braço pela comissária (duas vezes) até o avião, por ser o último a embarcar? Já ganhou upgrade pra classe executiva pra Europa por fazer o check-in faltando 20 minutos pra decolagem e já estar lotada a classe dos pobres? É, nem sempre o atraso é tão ruim.

Contra tudo isso, instaurei a tática do atraso virtual. Adiantei todos os meus relógios em 15 minutos, então sempre que olho a hora estou com aquela sensação de atraso. Mas durou pouco tempo porque naturalmente você começa a computar esses 15 minutos de crédito. Resultado, meus relógios agora estão 30 minutos adiantados (15 pros que já estão na conta + 15 pro atraso natural).

Ou seja, estou condenado a viver no meu próprio e eterno "horário de verão".

outra Surra de Pao Mole

...hj acordei com os seios enooormes...fiquei com vontade de me comer....eu já amo peitos e os meus hj estão do jeito que eu gosto...grandes, firmes, do tipo que não cabe numa mão só!...e doloridos também....é que tá pra descer...o sangue!...aí eles ficam assim...gostosos...lindos...fazendo a linha "silicone provisório" (????), ai, jisuis me chicoteia! ... queria que as mãos dele estivessem aqui pra apalpá-los....agora!...

(...)

...sabe de uma coisa que nós achamos muuuuito engraçada? ... a cara de bobo dos nossos amigos todas às vezes que nos encontram...cada dia é + surpreendente, eu explico, acho que eles ficam tentando disfarçar que não lêem o blog e tal...mas, não conseguem.... meeeesmo...e me poupem de comentários sórdidos, hein! ... preferimos que continuem leitores discretos...como sempre foram...é, uns +, outros - ...mas gente, óh...sem constrangimentos, não precisam nos olhar com cara de interrogação...mesmo que a pergunta que não quer calar, seja...." e o próximo post?!..." hehehehe....

Safadinha...e o Safado ao lado....

estuprado no Breathing sex... 1.2 version

De repente seu melhor amigo se toca de que você é uma péssima influência pra ele, e que ele nunca agiu tão errado na vida inteira dele, a não ser quando estava na sua companhia. Aí seu melhor amigo te chuta pra bem longe. Mas você sabe que é exagero, e tem consciência de que esse seu amigo também te fez agir de maneira errada algumas vezes. Mas na sua concepção de vida, você acha que ninguém vai para o mal caminho influenciado por alguém. Você acha que o mal caminho é talhado a cada atitude por livre e espontânea vontade. Quer dizer, você até duvida de algumas mentes mais fracas, mas esse seu amigo em especial, sempre teve uma boa cabeça, e jamais iria para o mal caminho só porque você tem essa tendência à autodestruição. E mesmo que você tenha ido no embalo dele algumas vezes, você foi porque quis, e não porque ele te influenciou. Mas aí já é tarde. Teu amigo já te chutou e você está sentindo saudade. Você deve pedir perdão por uma coisa que não fez? Você deve continuar longe porque essa é a vontade dele? Ou você deve insistir, porque você o ama, e sente saudades, e a vida não tem graça sem ele?

do penico da Maria Mijona

NÃO, eu não vou ficar postando fotos da minha barriga,
nem vou escanear o ultrasom do meu filho,
nem ficar falando de como é legal e um inferno estar grávida e ser o hospedeiro da festa dos hormônios.
Se meu filho quiser, ele que faça um blog quando crescer. Afinal, falo do meu umbigo, não do dele, que é uma tripinha esquisita. O umbigo, não o Beanie.
Ou não.

De volta às férias,

pitada de leia meus labios: e-u-n-a-o-t-e-n-h-o-i-n-t-e-r-n-e-t

Ontem eu descobri que uma barata pode viver até nove dias sem a cabeça. Puts. Meu sonho hoje era virar uma. Pra não pensar em nada até sexta-feira que vem. Cansada. Acho que tô com falta de ferro no sangue. Preciso comer feijão e dar um jeito de "perder a cabeça" esses dias. Mas sempre eprfumada, óbvio. Porque cheiro de barata é o que há de pior.

Sorvete de Casquinho

...Rolaram uns conflitos aqui entre a mãe, o Joon e eu. A mãe tem medo de me atacar, então só ataca o(ao?) Joon.

...Bom, pra começar, o prédio aqui de casa é bem antigo. As fiações e tubulações estão caindo aos pedaços.
...Bom, a dona que mora no apartamento de baixo, o 304, veio aqui hoje dizendo que aqui havia um vazamento de água. O Joon tentou explicar pra ela que a tubulação que está vazando ou passa pelo apartamento dela, ou por algum apartamento mais em cima, porque até a nossa parede do quarto de empregada tá com uns mofos, sinais de infiltração.
...Ela nos convidou pra ir ver no apartamento dela, como está a situação, o Joon recusou.
...Minha mãe ficou com raiva ao saber, porque ela "não quer que ninguém entre aqui". Logo vi que essa imposição é um medo estranho, e uma coisa que deve ser trabalhada. Ela não cedeu. Ela acha que a dona do 304 vai dizer que o problema é aqui mesmo. Eu falei pra ela que a dona do 304 não pode afirmar isso, e se afirmar, podemos dizer o mesmo dela. Ela falou que o condomínio pode nos acionar na justiça. Eu falei que a dona do 304 é uma leiga, e não entende de tubulações. Ela não cedeu. Falei que podemos usar o mesmo argumento que ela usar contra a gente, e podemos até ir no apartamento ver como a situação lá é caótica(não vi ainda, mas pelo que ela falou o vazamento lá tá ruim, e lembro que até nos convidou para ver).
...Não entendo o comportamento da minha mãe. Ela falou que ela é quem manda aqui. Eu falei que sou eu. Eu e o Joon demos risada. d:
...O que eu quero dizer é que, todos mandamos aqui, porque todos moramos aqui... Ela tem essa mania de autoridade, e quer de qualquer jeito defender isso.

...Eu ainda nem falei pra ela que vou fazer uma conta no banco com a Sônia, pra eu pegar a minha pensão todo mês para mim... Quando eu apenas falei que estava pensando nisso, e que queria uma mesada, ela já ficou com muita raiva... É engraçado como os pais pensam que sempre estão certos, sobre todas as coisas. Estou tentando mostrar pra ela que ela não está. Infelizmente eu fui o único filho, dos três, com coragem pra isso. O importante é aprendermos a cada dia... E mantermos cada caso racionalmente elaborado, para um entendimento geral... O mundo vai evoluir, e eu estou tentando assim.

(...)

...Depois de mais conversa
...Ela admitiu que não é infalível. Ela disse que admite sempre os erros, de acordo com a parcela que lhe cabe.
...Eu disse que ela sempre acha que está com a razão. Ela disse que sempre faz tudo com a melhor das intenções.
...Eu disse que uma boa intenção não faz uma boa ação. O que ela acha ser bom, pode ser ruim pra outra pessoa, pra mim, por exemplo.
...Acho que ela entendeu. Eu não tenho mais nenhuma barreira com a minha mãe. Posso falar sobre qualquer coisa. Falei que talvez eu pegue a pensão pra mim. Ela disse que um filho que segue sempre o que ela diz só tem a ganhar. Eu tentei dizer que o "ganhar" dela não significa ganhar pra mim.

...Eu tenho uma suposição de que os valores dela são morais. Não monetários. Mas ela nem sabe o que passa na cabeça da mulher do 304. Ela tira muitas conclusões precipitadas. Tudo bem que devemos estar sempre preparados para o pior, mas impedir o diálogo entre vizinhos creio ser um extremo. Ela ficou com raiva do Joon e eu termos deixado a mulher entrar, porque ela viu que a nossa parede tem uma infiltração. Ela já acha que o problema é aqui, mas ela não quer admitir a possibilidade do problema ser aqui... É um orgulho estranho.

maybe Life sucks

Videotexto (Post VIII)

Vida nova. Será?

Meu sentimento de incompetência foi embora no instante em que o contrato foi assinado pelo bebum. O mais engraçado é que, o que era pra ser um contrato bobo entre empresas, se tornou um evento. Saímos para beber: eu, ele e a recepcionista-esposa. O Claudio tinha a incrível capacidade de embriagar todos os seres a sua volta. No final, a noite foi tão boa que juramos amizade eterna e nos ver mais vezes - nunca mais nos falamos.
Fui fechando um contrato atrás do outro. Meu primeiro mês de trabalho me rendeu um carro, um vício terrível em lojas de shoppings e uma neura louca de arriscar dinheiro em ações e outros tipos de investimentos de risco.
Minha vida tranqüila de fotógrafa, amigos e tardes nos bares da Vila Madalena foi substituída por doze horas de trabalho diárias, amigos empresários e temporários e fins de tarde em casas de chá com dança do ventre. Pois é, por obra do acaso fui parar na região do Brás, Pari e 25 de Março e acabei colocando o raio do videotexto em quase todos os estabelecimentos comerciais daquela região. Descobri que os tão mal falados comerciantes de lá eram pessoas maravilhosas, divertidas e cheias de histórias pra contar. A maioria imigrantes, batalhadores, apaixonados pelo Brasil e por mim (eles iam tanto com a minha cara que me apresentavam para todos os "primas". Cada apresentação um contrato, era incrível.)
Com o tempo comecei a ganhar tanto dinheiro que a vida começou a perder um pouco da graça e, quando o a diversão com a conta bancária acabou, pensei em largar tudo e voltar a ser pobre e feliz. Mas tinha o problema de perder o terminal de videotexto e dele eu não queria abrir mão de jeito algum.
Meu único divertimento era chegar em casa, esticar as pernas, ligar o videotexto e conhecer gente virtual no videopapo. Se eu pedisse pra ser mandada embora, teria que devolver minha maquininha de fazer amigos, então decidi que antes que isto acontecesse, eu faria dos amigos virtuais, amigos reais e tudo estaria resolvido.
Era fácil: passaria a trocar telefones e conhecê-las ao vivo e a cores. Passei um fim de semana inteiro pendurada no videopapo e com a agenda lotada para o resto da semana: segunda, às quatorze horas, almoço com o Loiro27a; terça, às dezoito, shopping com o GatãoSP; quarta, às sete da noite, passar na faculdade da Loba; quinta, depois do expediente, passar no escritório
do (a) e, na sexta, ligar para o Locutor e confirmar.

>> Continua

AMARULA COM SUCRILHOS

É claro que o povo não quer a guerra, seja na Rússia ou na Inglaterra, nos Estados Unidos ou na Alemanha. Isso é compreensível. Mas, no fim das contas, são os líderes do país que determinam a política, e é sempre uma coisa simples arrastar o povo junto com ela, seja numa democracia, uma ditadura fascista, um parlamentarismo ou uma ditadura comunista. Tendo voz ou não tendo, as pessoas sempre podem ser trazidas para junto das apostas dos líderes. Isso é fácil. Tudo o que você tem a fazer é dizer-lhes que estão sendo atacados, e denunciar os pacifistas por falta de patriotismo e por exporem a nação a grande perigo. Funciona da mesma maneira em qualquer país.

Hermann Goering (1893-1946), vice-chefe supremo do Terceiro Reich e comandante da Luftwaffe. Declaração dada durante o Tribunal de Nuremberg; 18 de abril de 1946

citado pelo Mario AV

É pecado terminar com alguém uma semana antes do carnaval? E -durante- o carnaval? Pode parecer luxúria momentânea, definitivamente não pega bem. Fico imaginando a cena:
"-Olha amor, a semana que vêm é carnaval.
-Sim, e daí?
-Que tal se a gente terminasse por duas semanas?"
Os sentimentos não escolhem data certa ou fase lunar, acontecem a hora que lhes der na telha. Por isso ninguém escolhe para se apaixonar no Dia dos Namorados ou para se separar na Páscoa!
Voltando ao assunto, o sujeito fica sem saída. As malas prontas, a casa paga, os amigos cobrando, a namorada feliz e você, vai indo.. nesta altura já conhece até o irmão dela do interior. A melhor saída é respirar fundo, relaxar e aproveitar. A semana na piscina passa rapidinho. Sua integridade moral não é abalada e a defesa, sensacional:
"-Terminaram mesmo? Ela era tão boazinha!
- Pois é.
- Mas você gostava dela?
- Claro! Fomos até para o carnaval juntos!"
Namoro gasto é como pegar o Bateau Mouche no reveillon: ou você sai a tempo e pula fora, ou ele te leva junto pra sempre.
Irremediavelmente.

NaTurALbOrnEDgeOGraPheR

pretendo escrever 30 linhas.

Não é redação mas bem que poderia. Hoje foi assim desse jeito chuvoso, meu irmao tomou banho de chuva mas eu medroso de piorar as doenças desta vez nao o acompanhei. caiu muito raio e muito trovão. Segundo o Sebastião Belmino, sua mae dizia que trovao era quando estavam arrastando os móveis lá no céu. acredita quem quer.

Outra coisa intrigante que eu vim a saber é que não existe estrela cadente. É, elas nao caem. Rá!
Como? ora, mas é claro meu pikeruxo, veja que pra cair tem q ter uma direção e as estrelas cadentes não caem em linha reta, elas descrevem uma trajetoria curvilinea. E mais, as estrelas nao caem, elas morrem e tornam-se anãs-brancas.. o sol tá caminhando pra isso. quando a gente tiver mais idoso a gente vai perceber os calos no sol.

Pois sim, as estrelas cadentes me ajudarão com as 30 linhas e comecou a chover agora! chuva grossa barulhenta e quem quiser conversar ou ver tv aumenta o volume. Pena que aqi em casa tem goteira e pinga ni mim, na minha rede, na minha mae e no chao. A gente usa uma tecnologia desenvolvida por nós mesmos, panelas, baldes, forma de assar bolo e etc pra aparar a água. é um barulho kafkiano do gotejar da água a cair sempre vertical sob a panela posicionada no chao.
Melhor quando nao falta energia e a gente tem que achar coisas com as canelas. Tatear as paredes.
Mas voltando ao assunto, as estrelas cadentes, segundo eu vi um dia alguém dizendo, são meteoritos que entram na atmosfera e tal qual COlumBia sao queimadas pelo atrito com o ar. Elas incadescem e parecem aquelas coisas de fogo que são.

Eu vim saber dessa noticia aos 18 anos de idade, razoavelmente um tempo. Até aí eu acreditava nas estrelas cadentes. preferia nao conhecer essa verdade. Se Têm a verdade, Guarde-a consigo.

Ah e há tambem uma coisa a dizer ainda. é o afastar de quem se gosta. afastar as pessoas de que gostamos. estranho? é isso aí. nao sei porque nem se faço mas eu já ouvi alguém dizer que faz isso e sempre tenta brigar comigo afim de me afastar. mas eu sou macho que só preá do reino, enfesado e tal. Já tá perto de acabar as linhas e eu vou já dormir porque amanhã eu escreverei a história do que poderia ter sido.

Se vocês ainda não leram é que ninguém ainda escreveu. iquei incubido desta missao, é este meu mister. meu metier.

Hoje algumas pessoas faltaram: MABN que ja ta de ferias do frances, jersu, allisson, henrique, thomas. nao que eu sentisse a falta deles, mas a dela, sim. rá. desde onti. ou :~(

fiquei triste. só de pensar que serao meses até reve-la. e que vai mudar de horario e talvez nunca mais.
não pode ser.

tiau, vo dormi.

O que é o tempo que eu aproveite-o ?

habitando o pitombeiras lar mazela

Cê acredita que ainda tá pingando?
Fui fumar um cigarro lá fora, entre a lavanderia e a garagem, um friozinho gostoso.
Bacias cheias de água de chuva.
Não sabia não? Aqui a gente apara água de chuva pra beber (muito mais gostosa que aquela vinda dos canos), pra lavar roupa branca, branquíssima. A da primeira chuva a gente despreza, que é suja, lavou a telha. Depois dela é só sair correndo, distribuindo bacias de alumínios areadas, potes imensos de barro, devidamente coroados com paninhos brancos limpinhos amarrados na boca para filtrar qualquer pozinho (essa é a de beber) pelas biqueiras toda vez que o tempo fica bonito. Porque diferentemente do sul, tempo bonito aqui não é sol, céu de brigadeiro - é nuvem cinzenta pesada, prenhe, querendo desabar.
E cabelo lavado com água de chuva?
Melhor do que aquele feito no computador.

Arroz-de-leite Versão Chegou Chuva

E eu hoje peguei um pano de chão para limpar a sujeira que tinha feito na cozinha. Quando olho bem para o pano de chão vejo uma velha camiseta minha, antiga companheira de guerra. E olha o seu destino! Virou pano de chão, limpando a sujeira que faço quando derrubo café no chão. Fiquei condoído com esse triste final da minha velha camiseta, destinada a ser manchada, arrastada e amassada no final de sua vida. Justo ela, que em tantas alegrias me acompanhara.

Ela estava lá quando eu dirigi sozinho pela primeira vez, secou o meu suor e me cobriria e proegeria caso eu me acidentasse. Ela estava lá naquela tarde histórica em que fiz os 21 pontos da minha dupla no basquete, com 3 cestas de três. Quantas cervejas long neck ela não me ajudou a abrir? Ela foi o meu padrão de identificação durante algum tempo. Éramos uma dupla infernal, ela escondendo o que eu tinha - e tenho - de feio, a minha barriga, eu cuidando bem dela, deixando-a dobrdinha, vestindo-a com cuidado, sempre. Era como se fosse minha segunda pele!

E agora, alguns anos depois, vejo ela lá jogada, toda puída, rasgada, rota, sem as mangas, servindo como pano de chão. Chorei abraçado àquela camiseta fedida, acarinhei-a com ternura em meus braços e me lembrei de tantas outras roupas que haviam me marcado e que tiveram o mesmo destino. Minha roupinha do batman, minha camiseta azul-hiperlink da Fiorucci, minha velha calça jeans com um furo no joelho, aquele meu primeiro tênis Nike Air... tantas roupas que fizeram parte da minha vida, que foram, de certa forma, minha vida, e que acabaram sendo descartadas como se fossem objetos inanimados.

Mas a vida continua e a minha velha camiseta branca, hoje meio bege, de certa forma continua me servindo para fins menos nobres. Hoje ela também serviu para enxugar minhas lágrimas, como já fizera nos bons tempos.

O Descrente

21.2.03

O poder do bronzeamento das lâmpadas brancas do escritório é infinitas vezes maior que o do próprio sol, eu digo.

Não há nenhuma "cor do pecado" adquirida honestamente (em câmara de bronzeamento não, sua perua!) que resista a três dias tomando irradiações de luz fria e de dois monitores à sua frente.

Se você é daqueles que alimenta direitinho seu bronzeado com cremes hidratantes, sabonetes de leite do cu da cabra transgênica do Himalaia, poupe-se. Sua cor irá desaparecer de qualquer maneira e no mesmo tempo, em um processo apenas pouco menos traumático que ter aquelas placas de pele emborrachada despencando do seu corpo como se fossem aqueles mármores que caem dos prédios do centro do Rio. Mas não pense que há escapatória; o seu embranquecimento será inevitável no curto prazo.

Bendita a marca que se ligar nesse problema e lançar no mercado um Protetor "Solar" Para Escritórios. Afinal, ninguém merece ter esse bronzeado-Excel/Explorer em pleno verão escaldante. Nem mesmo um paulista.

irradiado na Surra de Pao Mole

"Ninguém agüenta viver sem beber. Quem consegue é porque é insensível."
Truman Capote, em entrevista a Paulo Francis, 1974.

Eu penso seriamente em começar a beber, e encaro isso como um ato político, dentro da minha esfera pessoal. Beber, pra mim, não é algo banal. Não encaro as pessoas que bebem da mesma forma que encaro os abstêmios; notando que separar as pessoas em compartimentos desse tipo é uma forma muito abstrata e inconclusiva de observação das pessoas.

É uma droga, como qualquer outra oficialmente classificada como tal. Faz mal, custa dinheiro, tem efeitos colaterais. E tem prós. Dá pra saborear o sabor da bebida, a visão distorcida, os sentidos alterados, o humor sublinhado. A inconsciência - fundamental - é uma bênção. Dizer as coisas sem intenções e subintenções entranhadas nas palavras (ser cínico cansa demais). Se eu beber o suficiente posso esquecer das angústias mais imediatas?

A bebida talvez seja a grande promessa da humanidade, depois do microondas. Dizem que é aglutinador social. Poderei ter meus amigos da cerveja, amigos de uísque, amigos de vinho, amigos de vodka, amigos de pinga. Espero que a maioria seja de verdade. Digo: que não sejam alucinações.

Talvez o auto-aperfeiçoamento não seja a saída, quem sabe. Ninguém melhora com o tempo, realmente, apenas degrada-se com mudanças e declínios de personalidade. (As crianças tendem a ser gentis e sinceras, mas não é regra.) Se eu começar a beber e me tornar desprezível, o que mais estarei fazendo a não ser adiantar o inevitável? Todos somos desprezíveis mesmo, em algum cômodo da casa.

Tomarei vinho, pois então. Goles curtos. Admirarei os rótulos. Fineza. Vômito róseo.

sorvido em temperatura ambiente pelo genérico incolor

Quando eu era pequeno, um dia apareceu uma reportagem no Jornal Nacional sobre o Cascão. Mostrava um menino fraco, abatido, prostrado. As pessoas choravam em volta da cama, segurando velas e rezando. Mas eu me surpreendi mesmo quando vi meu tio Paulito na televisão, no canto esquerdo, segurando um salame aceso e entoando um fado português de olhos fechados. Num dos seus momentos, concedeu uma entrevista a Glória Maria.

— Esse moleque pode não tomar banho, mas é muito mais limpo do que certas pessoas que toma banho e passa perfume francês!

Cascão estava com câncer no reto. Alguns médicos culpavam a sujeira. Os reikianos diziam ser culpa dos ecologistas que faziam constantes protestos em frente à casa dele. O Capitão Feio fugiu para a Holanda, culpando as estatísticas. O comediante Costinha também se pronunciou:

— O Cascão é um coitado. Agora eu vou contar uma da bichinha.

Até a Dona Jura da novela foi ver o moribundo na cama.

— Que cu é esse.

Eu disse a minha mãe que precisava ir até lá, dar meu último adeus àquele menino. Ela ficou comovida e me levou até a rua do Limão. Demorou, chegamos meio tarde da noite, chovia muito, a casa já estava quase vazia. Tive um mau pressentimento.

— Onde ele está! Onde ele está!
— Calma, Davizinho.
— Bêbado petulante! Desapareça!
— Calma, moleque! Olha que eu enfio um pirulito no seu ouvido!

Choraminguei um pouco quando me dei conta do que tinha acontecido.

— Eu queria pelo menos ver o corpo.
— Não vai ser possível, filho. O Cascão foi reciclado.

Foi quando entendi a decoração abundante do quarto com esculturas, cestas e esses pintos.

Meu tio me disse que a Ana Maria Braga era quem tinha coordenado essa imortalização. Vi que o mundo havia mudado e corria novos riscos, agora que o Capitão Feio tinha partido. Enquanto meditava sobre que atitude tomar, senti um cheiro de feijoada e ouvi aquela bruxa loira dizendo "Hummm". Corri pro banheiro e vomitei uma tênia de duas cabeças. Os fotógrafos me cercaram e eu acabei começando minha vida de celebridade naquele ano, entrando para o livro dos recordes como o garoto que vomitou a tênia com o maior número de cabeças na história universal.

bemvindos ao Clube da Comédia

Apesar de ser paraplégica há quase 30 anos, apenas há pouco mais de um ano que tomei real consciência de minha condição física, com todo seu peso e responsabilidade.

Depois que sai da AACD, nunca mais tive convivência com outros portadores de deficiência, meu mundo foi entre os "normais". Nunca me interessei por assuntos que seriam de interesse de todos os outros portadores de deficiências. Se ia a um lugar com degraus ou escadas e a pessoa ficava meio sem graça, eu dizia, olhando para o Bene "tudo bem , estamos acostumados". Mas, não estava tudo bem. Eu deveria era me indignar e reclamar por melhores acessos, mas nunca o fiz, pois o Bene sempre esteve comigo para me carregar escadas acima. Nunca pensei naqueles que não tinham um Bene, ou mesmo em querer não precisar da ajuda dele.
De certa forma, acho que, inconscientemente, negava minha condição física, não pensando em assuntos específicos a ela. Ficava irritada quando alguém me citava como exemplo de força, superação. Não via nada de exemplo em levar a vida como qualquer outra pessoa.
Meu mundo era pequeno demais e girava em torno de mim e daquelas poucas pessoas que me rodeavam. Não via ou não queria ver que o mundo era muito maior e que eu tinha obrigação de fazer parte dele, preocupando-me com assuntos que pudessem benefiar o maior numero de pessoas.

Foi, então, que, há pouco mais de um ano, através do chat, passei a ter contato com outros portadores de deficiência e suas realidades. Fiquei envergonhada com minha ignorância. Não conhecia meus direitos, benefícios, nem mesmo sabia sobre minha saúde, sobre qual o nível de minha lesão. Depois disso, minha vida mudou completamente. Comecei a me informar, conversar, trocar experiências, enfim, a fazer parte de uma realidade que eu fazia de conta que não existia.
Aguns meses depois, do início dessa revolução em mim, comecei o Maré, que a princípio não tinha um rumo certo, mas aos poucos suas águas foram achando o caminho do Mar. Passei a usar o blog como instrumento contra preconceitos e como forma de mostrar às pessoas coisas sobre a vida de quem tem necessidade especial (usando a minha vida, muitas vezes, como exemplo) que a maioria não sabe pelo simples fato de não ter convívio com ninguém assim.

O retorno tem sido mais que compensador, tenho sentido que minhas palavras não são jogadas à toa, mas que atingem meu objetivo.

Escrevi isso tudo (era pra ser uma pequena introdução), para contar que fui convidada a contribuir como voluntária no site da Rede SACI (cujo conteudo maior é sobre deficiência física), depois de um post que escrevi aqui e que foi citado pela Su, num e-mail que mandou ao repórter saci, cuja matéria foi base para meu post.

A responsabilidade é grande e dá um certo medo, mas aprendi nesse último ano a usar o medo para seguir adiante, e, como não quero mais parar de seguir sempre em frente, aceitei o convite.

Minhas águas, que no início nem sabiam para onde ir, agora atingirão novos mares.

trazido pela Maré

Pertinência. Sentir que pertenço àquela equipe, que a minha casa é minha, que os meus amigos me solicitam na chegada, que dá para arranjar uma outra empregada se a atual não der certo pois há uma rede de amigos, que se intercomunicam e da qual faço parte. Pertinência é a palavra que sempre foi um tabu para mim e que nesses dois anos de São Paulo parece que vai sendo conquistada. Tudo para mim é sempre difícil. E possível. Esse é o paradoxo. E por isso essa fé inabalável na ocorrência do improvável me acompanha pela vida. Pelo simples fato de que o improvável insiste em acontecer. Pois é, este que te escreve agora é um homem feliz.

Será que devemos confessar nossa felicidade? Há algo mais desinteressante que o amor que dá certo, por exemplo? As estórias que se contam são todas sobre os sofrimentos, as traições, as dificuldades. E quando acabam bem isso se resume ao burocrático "e foram felizes para sempre". Tá bom, há em cada gol um quê de eternidade. Em cada meta alcançada ou superada. Há uma história sendo escrita e inscrita em quem a faz. E cada história guarda uma eternidade assiim como cada segundo guarda seu apocallipse. Esto tergiversando. E quem sabe o que é tergiversar? Sei lá, eu chuto. Às vezes entra. Acho que eu queria dizer que estou digressando. Ou não será isso uma digressão? Ou será que a palavra não é essa. Há sempre tanto a saber. E como diria a famosa escultora: há sempre algo de ausente que me atormenta.

Algumas artes são de por e outras são de tirar. Por as palavras no papel virgem, por exemplo. Ou as linhas. Os sons no silêncio. Por. Há também o entalhar das madeiras, tirando as lascas e formando as imagensss. Nas pedras. Esculpido em carrara, o mármore, quando um filho guarda semelhança melhorada à figura do pai. E o povaréu chama de cuspido e escarrado. Foi assim que se ouviu na cozinha e assim vem se reproduzindo. Mas voltemos à arte de tirar. Michelangelo disse, ao ser indagado como é que ele fazia para esculpir um cavalo gigantesco de uma pedra imensa de mármore. Como era possível? Ele disse: é simples. Eu olho o cavalo e tiro tudo o que não é cavalo da pedra.

do Bloco de Notas do Leo Jaime

E se demorei muito para escolher a roupa hoje?
Se achei, por umas duas vezes nos últimos meses, que as minhas roupas não refletiam quem sou agora?
E se, depois disso, saí pra fazer compras urgentes?
Passei algumas horas e gastei o que achei necessário?

E quantas vezes já voltei para trocar a roupa que, na loja, tinha achado perfeita?
E se, às vezes, troquei pela segunda vez?
E quantas vezes isso participou de uma crise existencial.

E quantas vezes você tentou entender?
Quantas vezes achou isso normal?
É... quantas vezes?

Não precisa responder.
Eu sei quantas.

vai ver as figurinhas no Moidsch

Valéria

Eu estava na loja de discos, vendo uns vinis do Simon & Garfunkel, ela disse que adorava a versão do Lemonheads pra "Mrs. Robinson". Eu disse que também gostava, mas que nada era melhor que a original de "America". Ela me perguntou se eu era um burguesinho qualquer, eu respondi "não somos todos?" Ela sorriu. Eu disse que ia ver um filme, ela disse que também. Não, não era o mesmo filme, mas combinamos de tomar um café depois da sessão. Eu saí no meio, fui na bombonière, peguei dois cafés e voltei pra sala - a dela. Ela estava na primeira fila, eu disse que preferia a última, ela riu com desdém e disse que assim eu perdia os detalhes. Disse que ela perdia a visão global e ela ficou intrigada. Enquanto ela decidia se eu estava certo, sentei e derrubei o copo de café dela - em cima de mim. Ela gargalhou, eu pulava de dor, e ela me acompanhou pra fora do cinema passando o braço pelas minhas costas - pelo ombro, como se ela fosse maior que eu (e ela talvez era agora, que eu estava me contorcendo ainda). Ela me deixou na porta do banheiro dos homens, eu me sequei com duas folhas de papel de alta absorção e troquei a camisa manchada por um casaco que eu carregava na mochila. Ela riu quando eu saí e disse que eu ia morrer de calor. Eu disse que a gente podia ficar no cinema até a última sessão (eram muitos filmes), ela disse que ia ter que tomar um café antes, mas que dessa vez ela pegava.

Sentamos numa mesa da praça de alimentação, e ela enfim perguntou meu nome. Valéria, esse era o nome dela, e ela trabalhava no departamento de marketing de uma companhia de energia elétrica. Eu disse que era jornalista, ela riu com desdém de novo, mas dessa vez um riso carinhoso, um "eu sabia". Eu perguntei "o que é engraçado?", ela desconversou, e voltamos pro cinema, e ela não falou uma palavra ao longo do filme, e eu não lembro nem quem eram os atores, mas nunca vou esquecer que ela tinha acabado de fazer as unhas naquele dia - tão bonitas, pintadas de azul-claro. Eu ia fazer uma piada ruim, ela fez "shhh", e eu entendi que já estava chateando. Me acuei e quando o filme acabou ela não parava de falar e falar e rir, e eu me envolvi de novo e retrucava coisas inteligentes e ela ria mais, até que pegou na minha mão, como se fôssemos velhos amigos. Eu me assustei, e olhei pra ela, que na hora entendeu o que tinha feito e eu vi aquele sorriso se transformar num olhar esbugalhado de surpresa e eu ri e peguei de novo na mão dela, e ela parou, pensou (rapidinho, rapidinho, e não pareceram horas, foi rapidinho mesmo), apertou minha mão com força e voltou a rir, e eu voltei a rir também.

Assistimos ao filme todo de mãos dadas, mas depois do "shhh" eu fiquei com medo de interromper ela de novo. Era um desses filmes de estrada, e ela me perguntou se eu tinha carro, e eu não tenho. Ela não ficou desapontada, ficou pensativa, e eu juro que li naquela curva das sombrancelhas algo como "hmmmmm, então ainda precisamos descolar um carro". Pensando nisso perguntei "por quê?", e ela me respondeu que "precisamos descolar um carro se algum dia resolvermos fazer uma dessas viagens". Eu fiquei abobalhado e pensei que ela era perfeita demais, ela leu meus pensamentos e riu, e me deu um beijo na bochecha. Eu corei, ela me puxou pra próxima sessão, e naquele meio segundo entre o apagar completo das luzes e o início da projeção dos trailers, ela me beijou de novo, e dessa vez, beijou mesmo, e era macio, lento, ritmado. Eu beijei ela de volta, e beijei, e beijei, e quando fiz menção de interromper o beijo pra poder ver o que olhos dela me diriam que tinham achado, ela botou a mão na minha nuca e cochichou com os lábios colados nos meus que a gente já tinha visto esses trailers mil vezes hoje.

Quando o último filme acabou, ela me disse "hei, e agora o quê que a gente faz?", e eu disse que se já tinha passado de meia-noite, era meu aniversário. Ela sorriu, enfiou a mão na bolsa e me deu metade de um chocolate. Eu ri e disse que era o meu favorito, e ela não acreditou - mas ela estava certa, eu odeio côco. Ela tomou da minha mão, deu uma mordida tirando quase todo o pedaço com recheio e me devolveu a pontinha, dizendo que eu tinha que comer "pelo menos esse pedaço, que tem mais chocolate". Eu comi e ri, e ela começou a cantar parabéns pra mim, com as pessoas saindo do cinema olhando como se fôssemos loucos. Eu tive o impulso de pegar nas mãos dela, e não só interromper meu constrangimento mas poder sentir aquela mão macia e quente de novo, e as unhas pintadas de azul. Mas desisti, e joguei a cabeça pra trás, rindo e pensando "ah, como eu sempre quis alguém assim". Acho que acabei pensando alto demais, e ela parou no "é pique..." pra olhar pra mim e abaixar a cabeça devagar, sorrindo com o canto da boca, meio envergonhada, meio lisonjeada.

Ela disse "se você quer namorar comigo, eu quero conhecer sua avó primeiro". Eu ri, e ela disse que a avó do ex-namorado dela fazia de tudo pra separá-los, e eu ri mais porque a minha avó é legal e eu tenho certeza que elas vão se gostar. Eu disse isso pra ela e ela riu também e pegou na minha mão de novo, me deu mais um beijo na minha bochecha, e foi me conduzindo pra fora do shopping já fechado. Fomos conversando amenidades até o ponto de ônibus e ela disse que morava no Catete. Eu disse que morava em Copacabana, mas já tinha morado no Flamengo, e ela disse que adorava Copacabana, mas detestava o Flamengo porque torcia pro Fluminense. Eu disse que também torcia, e ela me chamou pra ver o próximo jogo nas Laranjeiras, e eu topei. Ela disse que precisávamos trocar telefones, e trocamos e no meu, ao invés de escrever meu nome, escrevi só "seu", e ela no dela deu um beijo com o batom fraco que ela usava, marcando de rosa quase invisível o papel que me entregou dizendo "eu sempre quis fazer isso". Mal ela terminou de dizer e o ônibus dela chegou. Ela me deu mais um beijo e foi, eu fiquei um tempo parado vendo o ônibus ir embora.

fredleal.com