25.12.06

O Natal foi um fiascão. A ceia chegou 11 da noite - porque famílias normais comemoram à meia-noite. Nós, às nove. Muito bem, meus filhos sairam antes do rango chegar. Pra passar a outra metade na casa do pai. Já começou por aí. Segundo: ninguém gostava de bacalhau (só a Bel) e meu irmão não gosta de presunto. Ele não gosta de comida de Natal. Umas onze e pouco chega o resto da minha família: tia, prima, marido da prima, etc, no total de oito pessoas. Atenção: que já tinham jan-ta-do. Resumindo, a festa foi uma zona, e eu tinha bolado tudo arrumadinho. De repente já tinha caçamba de gelo na mesa, coca-cola quente, falta de lugar para sentar, e virou Homer total. Natal dos Simpsons. Se eu soubesse dirigir eu levaria a comida para os sem-teto, é muita, não tenho condições de comer, nem de guardar tudo. E ia ser uma festona pra eles. O bacalhau estava delicioso - sim, eu como, porque não considero peixe, por ninguém nunca ter visto sua cabeça.

Mas ficou uma bagunça só. Não sei como minha prima consegue fazer um Natal tão perfeito. Tudo de prata, louças maravilhosas, árvore enorme, guardanapos de linho, mil sobremesas. Acho que é um dom, saber fazer uma festa onde a coca esteja sempre gelada, muito gelo, mesa de doces. Só tinha rabanada, que eu comprei na padaria da esquina. Não é para me gabar, mas o Davi Moraes toma café da manhã no balcão. Sacou? Quando eu cheguei lá, putzgrilo. Fila que não anda. Uma mulher ficou uma hora e meia na fila, te juro, fila pequena mas que não anda. Com senha e horário marcado. Quis fazer uma rebelião, mas uma senhora me olhou com rabo de olho desaprovando. E ninguém comeu rabanada nenhuma e a ceia ficou lá, vou te contar. A gente ficou vendo os dvds das crianças pequenas, por isso quase não conversamos. Na verdade minha familia deu um pulinho aqui, por causa do meu tio de cama, etc, etc. E eu comprei brindes para os adultos (sabonetes deliciosos ) e para as "crianças", moedas de chocolate. Festa meia-bomba e eu falando "Espírito natalino! Espírito natalino!", feito uma louca.

Acho que o Natal anda meio desacreditado.

blowg

3.12.06

Escoteiros

Sempre achei que eles fizessem parte do folclore. Sei lá, pra mim, escoteiros eram uma alucinação coletiva, ou alguma coisa do tipo que assusta de tão bizarra, sabe?. Mas, não, eles existem. E como são chatos!

Desde a semana passada, eu trabalho com um escoteiro. Carioca. Com o pior dos sotaques. E ele é chato demais.
Ele é solícito. O mais solícito. Só ele quer ser solícito no mundo todo.
Ele tem cabelo tigelinha. Comprido. E franja.
Ele fala das crianças que ele cuida (ensina, brinca, tutela, come, sei lá...). O tempo todo. Só disso.
Ele fala. Muito. O dia inteiro.
Ele está a um passo de mim. Oito horas por dia. Cinco dias por semana.

Folclore por folclore, podiam ter contratado a Mula-sem-cabeça. Pelo menos ela não fala.

Update:
Ele fala ao celular no viva-voz. Numa sala onde mais quatro pessoas estão trabalhando. Diz bye bye quando desliga.
Ele diz que vai "papá" quando sai pra almoçar. Todo dia.

calaboca que eu tô falando!

Procurando rostos no desembarque

Para aqueles que vivem sozinhos, difícil não é partir,
mas chegar.

vizionarios

1.12.06

Descobertas

Sinto o seu corpo ainda, de quando mal sabíamos o que era um corpo. O mundo tinha esse brilho bobo das coisas que acabam de nascer. Descobertas que engolíamos sem ver, sentir o gosto ou explicar: por que a fome não terminaria nunca? Nem ousaríamos perguntar. Talvez devêssemos?
Agora não, já não importa mais. E na memória as nossas pernas não se entrelaçaram tanto, nem estreitamos tanto os nossos braços, nem respiramos o mesmo ar impregnado de suor, saliva, instintos e ternura. E fica essa impressão de que mal chegamos a nos conhecer; de que o toque era somente o reconhecimento de onde terminava um e se inventava o outro.
O que talvez seja exatamente o que se passou.
Ah, minha amiga, mas com quanta alma nos iludíamos sobre isso tudo!

diferença nenhuma

Encontro

"Acaso já nã te vi?"
Não, você nunca me viu. Nunca estive aqui, nem nunca fui quem eu sou agora. Se ilude se pensa que o garoto da foto antiga, o adolescente que sentava ao seu lado, o motorista esperando no sinal vermelho são a mesma pessoa que eu hoje, não sou mais, tenho outros planos, outros sonhos, outras cicatrizes. O que importa se meu rosto ainda se assemelha ao que era antes, se tudo dentro de mim é novo? Não se iluda, você também não é o mesmo, apenas acostumou-se a pensar que é. Porque não aproveita que é novo, e faz o que, quem você era, nunca faria?

souvenirs do inferno