15.6.07

Você ainda vem aqui?

catarro verde

14.6.07

Marcha para Jesus

Tem um bando de gente desocupada fazendo uma mega algazarra aqui dentro da minha casa. Eles berram em alto-falantes, cantam hinos, gritam "Jesus, Jesus, Jesus" o tempo inteiro, buzinam e apitam. Tudo isso dentro da minha casa!
Tá, não é deeeentro da minha casa. É na esquina. Mas a gente mal sente a diferença. Juro.

Além dos desocupados na terra, temos os desocupados do ar: helicópteros que sobrevoam a minha casa bem baixinho com a desculpa de estarem acompanhando a falta do que fazer dessa gente toda. Não, não é UM helicóptero. São pelo menos três.

Obviamente, eu acordei com essa putaria dos infernos.

Agora, com tanta gente chamando, eu fico imaginando o humor de Jesus quando conseguirem acordá-lo.
Só espero que seja logo.
Ô bichinho pra dormir pesado...

CALABOCA que eu tô falando!

Eu estava aqui em casa, com uma crise no ar,
o outro lado da crise sentada no sofá e eu no computador.
Eis que toca o interfone. Eu atendo.
"Floricultura para a Srta!"
Fiquei puta. Então ele achava que era assim que se resolvia as coisas, depois de me encher o saco a semana inteira? Nem olhei pra ele ali no sofá e mandei:
"Ah, não quero"
Bati o interfone na cara do pobre entregador de flores.
Não disse mais nada. Achei que o moço sentado no sofá, que evidentemente tinha mandado as flores, tinha sacado. Mas ele não disse nada. Nem esboçou reação.
Aí eu falei, né.
"Porra, me mandando flores? Eu já disse que..."
"Que flores? Não mandei flores. Não mandei nada."

:|

Alguém me mandou flores.
E eu mandei as flores embora achando que vinham da pessoa errada.
E agora eu nunca vou saber quem foi.

Adiós Lounge

Pterodactylus Blues

Quanto mais eu olho em volta – e olha que eu evito ao máximo : nunca vejo TV aberta, não leio jornal nem revistas há mais de um mês, só leio blogs de gente que pensa e escreve mais ou menos igual a mim e só sei (pouco) do que acontece no mundo quando vejo, quase sempre sem querer, as inevitáveis chamadas na página de abertura do UOL – e percebo quais são os valores, comportamentos, interesses e “virtudes” valorizadas no mundo de hoje, seja em termos profissionais, morais, políticos ou o cazzo alato, sabe como eu me sinto ? Como uma excelente, talentosa, capacitada, bem-treinada, virtuose, insubstituível, inigualável e imbatível... fabricante de agulhas de gramofone.

cyn city

4.6.07

Na Paulista

Eu gosto tanto da avenida Paulista que, quando vou pra Consolação, chego a descer na Brigadeiro só pra poder andar a pé pela avenida e não perder nada do panorama. Vou como sempre, mão no bolso, periscópio ligado, absorvendo o espaço pelos olhos, nariz e ouvidos, sentindo perfumes nacionais e estrangeiros, observando as moças se equilibrarem nos saltos finos sobre as pedras irregulares do calçamento, parando nos camelôs e entristecendo-me por não usar relógio (cada Rolex lindo por 15 pratas!), por não gostar de música popular (dvds da banda Calypso por 7!), por não precisar de uma multi-lanterna-sirene-bússola-cantil (por 12!).
Por isso tudo, venho sorrindo — ou quase isso — e, ao chegar ao Masp, vejo pessoas de branco, dezenas, centenas de pessoas de branco como num congresso de pais-de-santo, mas de estetoscópios no pescoço — pescoçoscópios —, entristeço-me novamente ao perceber que haveria mais pretos se fosse mesmo um congresso de pais-de-santo, e vou olhando a meninada em baixo do Masp, ao lado do Masp, por cima do Masp (são mesmo muitos), e as faixas a oferecer saúde, previna-se, cuide dela, é uma campanha pela boa saúde promovida por uma universidade particular — e por isso há tão poucos pretos —, meça sua pressão gratuitamente, avalie seus níveis glicêmicos, mesmo que não saiba o que é isso, e a meninada de pescoçoscópio em punho — punhoscópio? — a pescar passantes, a laçar reses distraídas, a medir suas pressões, a assustá-los um pouquinho, e eu sorrio enquanto ensaio o não, obrigado, minha pressão é uma merda mesmo, e vou passando por dois, cinco, quinze moças e rapazes de branco, vinte, mas eles, trinta, ao contrário dos bêbados — que têm por mim uma atração quase mágica — ignoram-me, e cem pessoas de branco deixam-me passar sem moléstia, como se fosse invisível, como se não estivesse ali.
Das duas, uma: ou transpareço saúde, ou já estou visivelmente desenganado.

Branco Leone, um blog sem conteúdo