30.6.03

Experimentações Gastronômicas: O Diagnostico

A receita demorou cerca de 25 minutos para ser concluída. Os ingredientes usados foram creme de leite, espaguete, bacon, presunto, amido de milho e leite.

A quantidade de molho branco feita foi insuficiente para untar todo o macarrão cozido. O amido de milho deveria ter sido dissolvido antes de ser colocado na frigideira com o leite para evitar a formação de “aglomerados” de amido de milho cru dentro do creme.

O bacon foi cortado em pedaços muito grandes o que produziu um certo embrulho no estômago.

O macarrão ficou cru.

O espaguete ao molho branco ficou com gosto de maisena. Não foi possível comer mais de 3 colheradas que foram suficientes para me causar um mal estar e entupir meu estomago (sensação esta provavelmente causada pelo excesso de maisena).

Conclusão:

Voltar ao estágio anterior na minha escala de gourmet italiano: preparar um miojo.


Receitas cocofônicas no Cacofonia

Ônibus. Um padre senta ao lado de um sujeito completamente bêbado, que tenta, com muita dificuldade, ler o jornal. Com voz empastada, ele pergunta ao padre:

- O senhor sabe o que é artrite?

Irritado, ele responde:

- É uma doença provocada pela vida pecaminosa e desregrada, mulheres, promiscuidade, farras, excesso do consumo de álcool e outras coisas!

O bêbado calou-se e continuou com os olhos fixos no jornal.

Alguns minutos depois, achando que tinha sido muito duro com o bêbado, o padre tenta amenizar:

- O senhor tem artrite?
- Não, o Papa.

Na cabeça que é pra não mancar: BloWg

Carne de soja. Ontem cozinhei uma panela cheia disso. Custa pouco mais de três reais o quilo, e você nem pense em comprar um quilo a não ser que tenha um grande porta-malas no carro. É muito leve, lembra flocos de isopor. Comprei 200 gramas. Hidratei por meia hora, espremi para retirar a água e cozinhei com pomarola. Duas latas. O líquido desapareceu, absorvido pelos flocos esponjosos de soja. Por via das dúvidas acrescentei caldo de carne e a soja chupou também. Meia hora depois, comi uns pedaços cozidos. E compreendi que não precisava ter comprado aquilo. Bastava ter cortado em cubos a esponja de limpeza da cozinha e mandado pra panela. Também não teria sabor, mas ao menos seria coloridinha. Apesar de tudo a panelada de carne de soja está se mostrando útil. Espremi fora o molho de tomate e já limpei o teclado e a privada com as esponjinhas. Ficou tudo brilhando. Agora pretendo comprar carne de soja moída. Deve ser muito boa como recheio de almofadas.

Preparado por Catarro Verde

Jogo de damas

Se eu disser que te quero
Acredite
Se eu disser que é de qualquer maneira
Duvide

Se eu disser que gozei
Acredite
Se eu disser que como nunca
Duvide

Se eu disser que te amo
Acredite
Se eu disser que é para sempre
Duvide

Se eu disser que você é demais
Acredite
Se eu disser que é tudo para mim
Duvide

Se eu disser jamais
Acredite
Se eu disser que te esquecerei
Duvide


despedida em Elas por Elas

velhice

percebeu que estava ficando velho no momento exato em que viu o out-door que desenhara, com tanto capricho, nas cores erradas, todas pelo menos dois tons mais fortes e berrantes do que havia planejado. não, nesse momento percebeu que a gráfica tinha babado o trabalho. não, nesse momento percebeu que algo saíra errado, e só podia ser culpa da gráfica. foi até ela e reclamou, reclamou e reclamou, o cliente, surtando, ligava de dois em dois minutos, apavorado com a cores excessivas. num pedido de tempo, aí sim foi até a gráfica pedir explicações. um dos gráficos, na cozinha - a saber, local onde ficam os computadores - disse que nada haia de errado com as cores, talvez só com a pecinha atrás do mouse. ele, no caso, que estava perto de perceber que estava ficando velho. somando todos os fatores numa progressão simples, lembrou-se que as pessoas enxergam as cores em tons mais suaves conforme vão envelhecendo. conforme ele envelhecia, via os tons mais suaves, e errara tudo no out-door porque envelhecia aos poucos, como eu, tu, e o camundongo que devorou todo o pacote de club social que eu escondi debaixo da cama, e espero que ele morra de congestão. o que fez? largou a criação e migrou, sem rancores, pra literatura. escreveu um livro sobre como envelhecer com dignidade, deu entrevista no jô e comeu uma menininha que o confndiu com o carlos manga.

claro que o livro saiu em cores de tons berrantes, já que ele mesmo fizera o projeto gráfico, capa inclusive.

como assim dois uísque?

29.6.03

Ter uma crise depressiva no meio da semana, usar o pretexto do horário, a fila que não anda, o frio, a chuva ou sal que passou da medida...
Feriado, sem horário, sem fila, aquecida, sem chuva e tempero correto.
Ter crise depressiva sem tormento externo aumenta meu tormento interno.
Dizem que precisamos ouvir mais alto o barulho da rua para calar os próprios gritos.
Com razão espero o recomeço das horas porque meus gritos não se abafam nos silêncios de domingos
Reciclando a própria dor, revertendo o medo de si mesmo em medo dos outros?
Medo é medo e é ele que me corrói por dentro, quando não existe perigo lá fora.
Esse medo infantil ao abrir a porta e encontrar no outro, eu mesma estampada em muitos medos estranhos.

Depressão não enlouquece. Depressão não tem sentido, é um terceiro olho visionário ou a vida sem fantasia.
É a realidade de quem não sabe mais sonhar.

Lembrete: Não ir mais ao cinema para assistir filmes brasileiros com tema social e politicamente (argh) correto. Ver todos os filmes fantasiosos, iluminados, água com acúçar, viajar numa sessão da tarde e só ler pokemóns.

sem saída

Mariazinha

Hoje, quando sua mãe ligou para casa e pediu para falar com você chamando-lhe pelo nome diminutivo, senti-me estranhamente próximo a ela, sua mãe. Porque percebi que eu e ela – e só nós dois no mundo todo - sabemos algo muito caro e precioso a quem a ama. É que você jamais deixará de ser um nome diminutivo.

- Alô. A Mariazinha está? – perguntou sua mãe. E eu fiz um silêncio instantâneo, praticamente imperceptível, durante o qual fui tomado por uma luz celeste, destas nas quais você crê e eu não.

- Não. Está trabalhando – respondi. Mas era uma mentira. A Mariazinha com quem ela queria falar (e com a qual eu gostaria de estar naquele momento) não estava no trabalho. Nem no cinema, nem fazendo as unhas, nem jantando, nem em lugar nenhum. A Mariazinha havia desaparecido.

Ou melhor, fora seqüestrada. E eu quis dizer para a sua mãe – e teria dito, se não me sentisse tão culpado – que todo o seqüestro se desenrolou na minha frente. Sem que eu tivesse reação alguma.

Mariazinha acordou e me abraçou como em todas as manhãs e me deu um beijo no pescoço, coisa que ela sabe que eu adoro. Disse bem baixinho, cuidando para não me acordar, ainda que saibamos sempre os dois que já me acordou:

- Vou levantar. Fica dormindo.

Não consigo ficar dormindo quando Mariazinha levanta assim tão linda. Virei-me para vê-la despertando. Ela andou em passos infantis, levantando demais os joelhos, numa simulação caricatural de pressa. Deu uma olhadinha para trás ainda, antes de desaparecer no banheiro.

Foi aqui que surgiu Maria. Eu devo ter pegado no sono, sei lá. Saiu do banheiro num terno preto, toda arrumada. Parecia-se com Mariazinha, mas logicamente era mais velha. Tinha o cabelo amarrado atrás, num rabo-de-cavalo maduro. Semi-desperto, perguntei por Mariazinha, mas a mulher já havia consumido a criança.

- Daqui a pouco Mariazinha deve estar aqui – disse eu à sua mãe. Não era uma promessa, claro. Para tanto, eu dependia da boa-vontade de Maria, que ela jogasse os sapatos de bico quadrado para o alto, tirasse a calça do terninho e ficasse à vontade, correndo de lá para cá, respondendo, quando eu pergunto se ela sabe que eu a amo:

- Eu sabo.


sequestro-relâmpago no Polzonoff

Baby Nóia está deitado na minha cama, e o Eddie Vedder está gritando no meu ouvido, fazia tempo que não ouvia essas porcarias. Depois de ter passado horas gastando a minha Internet, o Nóia está dormindo com a minha touca do Scott Weiland, falando, falando, falando, falando, deve estar começando a dormir, babar e ter delírios com a gostosona aqui. Sério, por quê Baby Nóia, você não fica quietinho quando eu quero estar do teu lado te curtindo? Puta merda! De fé, como esse piá consegue ser tão irritante, e tão lindo, fofo e gostoso em questão de segundos?

Hoje nós fomos no Malhação, e nós nos destruímos, rolou muito roquenrou, violência total. Cara, que viadagem ficar escrevendo sobre namorado em blógue, mas vou dar um desconto, porque o Nóia e eu tivemos uma conversa boa hoje, e eu QUERO ACREDITAR que nós vamos nos entender.

Agora o puto tá me xingando, me atacando a touca, que putão, tendo ataques infantis. Que lazarentinho. Lazarentinho que eu amo. Cocô é o seu cu.

edredom de catavento & montanha russa

28.6.03

— Cara, você viu minha mãe por aí. Faz dias que não a vejo.
— Xi, meu! Você não leu no meu blog. Morreu. Estranhei mesmo que você não estivesse no enterro...
— Mas eu avisei no meu blog que ia viajar por uns dias!
— E eu disse no meu que estava sem tempo de ler os blogs do outros. Sabe como é, dá muito trabalho essa história de ter um blog? Peraí, onde você vai?
— Vou xingar você no meu blog!
— Mas eu já disse que estou sem tempo de ler!

você leu no Chez Nigro's?

O diabo e a cura

Uma mulher tinha em casa um filho que ia morrer.

Ele estava num equipamento que o ajudava a respirar, mas mesmo assim cada vez que aspirava dava para ouvir o peito chiando, como uma mesa de metal sendo arrastada por um chão de pedra. Naquela noite ele arregalava os olhos tentando absorver o ar, e a mulher ia sentindo que ia sufocando também. Uma hora ela não aguentou e teve que ir até o quintal respirar.

Estava lá quando viu um homem escondido entre as orquídeas da estufa. Ela estava tão cansada que não sentiu medo; e da mesma maneira que nos sonhos temos certeza de certas coisas, o cansaço fez com que ela tivesse certeza de que aquele homem era o diabo.

O diabo falava baixo, e tinha um jeito tranqüilo. O diabo disse que ela estava sofrendo porque o filho ia morrer, e depois disse que podia ajudar.

Ninguém tinha dito ainda aquilo, que o filho ia morrer - mas ela sabia que era verdade. Ela perguntou se ele podia curar o filho. Ele disse que não, mas que podia fazer algo quase tão bom quanto isso:

-Posso fazer com que você deixe de amá-lo.

Ela achou a idéia horrível e pensou em xingar o diabo, mas estava tão cansada que não disse nada. O diabo disse:

-Pense bem. Há quantos dias você está nisso? Semanas, já. Ainda se dissesse que a sua preocupação ajuda o seu filho em alguma coisa. Mas você sabe que não é verdade.

Ela disse:

-Vou entrar.

-Se você mudar de idéia, vou estar aqui amanhã de novo.

Durante uma semana ela desceu à noite para o quintal, entrou na estufa e fumou em silêncio na companhia do diabo. Uma noite ele disse:

-O seu amor não adianta nada, só te faz sofrer. Grande coisa. Joga isso fora, joga isso fora, Kátia...

Ele falava de um jeito tão compreensivo, tão bom.

Na oitava noite ela não aguentou mais e disse:

-Está bem.

No escuro da estufa o diabo olhou para ela como se estivesse um pouco surpreso. Depois sorriu.

-É melhor assim, você vai ver.

-Como é que você vai... –ela ia perguntar como ia ser o procedimento, mas o diabo a interrompeu baixinho:

-Já aconteceu.

Ela de fato se sentia diferente. Perguntou ao diabo o que ele ia querer em troca.

-Nada! Está pensando que eu sou como aquele ali? Aquele ali é que só faz as coisas em troca de algo, uma oração, uma caridade, um arrependimento. Eu faço as coisas de graça, porque não suporto ver as pessoas sofrendo. A minha recompensa é ver você sorrindo de novo, Kátia...


psicografado por Alexandre Soares Silva

27.6.03

Se liga:

Quando você começar a receber spams citando um texto de Bill Gates sobre spam, pode pedir pra parar a Internet e descer.

mario av

Pôr-do-sol

Como falar de um pôr-do-sol à beira-mar sem cair naquela malha inarredável de clichês? A lembrança da linguagem do hemisfério boreal de Tlön me traz algumas idéias.

Aquosa ondulação espelhada. Mais adiante, líquida crepitação passadiça. Muito além e acima, ofuscante luminescência incandescente. Algum tempo depois, brilhante auréola amarelada. Já próxima da linha do cume da montanha, intenso círculo laranja-avermelhado. O pôr-do-sol diante da baía norte de Florianópolis é um esplendor. À frente, uma extensa faixa de mar calmo, aprisionado entre o continente e o perfil da ilha. Às minhas costas, calçadão, ciclovia, três largas faixas de rodovias e uma cidade limpa, com grandes prédios de janelas espelhadas e sacadas mirando o mar em reverência, cidade coadjuvante.

Depois que o sol se põem, a água assume uma coloração cobreada, brilhante, quase gelatinosa, um tanto surreal. Talvez algo a ver com a poluição, que envolve esse cenário paradisíaco com um cheiro de esgoto. Aos poucos, a luminosidade vai desaparecendo e a água começa a enegrecer. Atrás, a cidade emerge de sua timidez subalterna e começa a brilhar intensamente em mercúrio e neon.

Não é por acaso que Florianópolis é o sonho de moradia de muitos gaúchos e um destino cada vez mais procurado por aposentados que buscam uma espécie de substituto do paraíso ainda durante sua estada por aqui.

O que, aliás, me remete a outro pensamento: não seria uma atitude das mais recomendáveis procurarmos com mais freqüência pedaços de paraíso por aqui mesmo, de preferência agregando-os à nossa rotina?

Sexta-feira é um bom dia para pensar nisso.


fim de semana nO Jardim do Diabo

Da série: só com muito silicone

Ela tenta me convencer a usar decotes Ligações Perigosas como os dela.
Ela não entende que eu confio muito mais nos meus olhos que nos meus peitos.

Coletânea de Pensamentos Desconexos

Salgadinho

Salgadinho é o "street dog" daqui de casa.Tem pose de pastor alemão, só a pose porque não chega nem a irmão.
Só me faz passar vexame,desde pequeno, quando ainda não sabia direito a sua sexualidade e dava o rabo pros outros cachorros da rua.Depois que cresceu virou garanhão e começou comer toda cachorrada da vizinhança.
Eu saio pra rua, ele foge e já corre atrás do primeiro que vê, querendo avançar e morder , só pressão.
- Filha da mãe, num olha teu cachorro não?
É assim que começa.Eu mando ele embora ele não vai,atiro pedrinhas ele desvia e ainda ri da minha cara e continua me seguindo.Na rua de trás todo mundo conhece o Salgadinho.
- Olha o Salgadinho , Salgadinho vem aqui...
Meu nome ninguém sabe e nem eu sei como sabem o dele, acho que ele mesmo tratou de se apresentar, não tem outra explicação.
Vou no Supermercado e a praga também vem,entra junto,em pouco tempo já tá o guardinha correndo atrás do Salgadinho pra colocar pra fora.
- Moça, esse cachorro é seu?
- Num é não.
Aí o filho da puta pula em mim,parece que faz de propósito, só pra não ser expulso.
Dia desses ele resolveu arrumar um amigo.Aí não era só ele atras de mim. Eram os dois. O Salgadinho e o amigo.
Fui sair com um amigo pela primeira vez, um pretendente a namorado e os dois vieram atrás.
- Porra Débora, precisava trazer o cachorro junto, dois ainda por cima?? (educadíssimo)
- Ah fugiu.Paciência.Educado você hein?
- Não é questão de educação.Como que a gente vai entrar num restaurante com esses dois cachorros atrás, latindo e chorando na porta?? Tão fedendo ainda por cima.Eu tenho alergia, você sabe , eu não vou mais em lugar nenhum também.
- Salgadinhoooo....-
- Ah não, teu cachorro mijou na minha revista você vai me comprar outra e.... pára de rir !!!!(gritou, "furiosa")
- Tchau.
- Onde vc vai?
- Vou embora comer lanche com meus cachorros.São mais educados que você. Estúpido.
Fomos embora os três. Paramos num carrinho de lanche:
- Nossa moça , esse cachorro é seu? Ta sempre por aqui querendo roubar lanche..
- Num é não.
E pularam os dois em mim.

cachorradas em Casos e Acasos Virtuais

uma longa e entediante apresentação

coloquei meu nome na lista da direita. vários novos sub, co-editores num site de copy&paste. me pergunto: "pra que tanta gente pra ficar copiando?" e me lembro do filme o homem que copiava. qual a relação? não sei. não me pergunte. sou cheia de idiossincrasias e adoro esta palavra.

me considero uma velha vanguardista e o pulguento do editor megablaster supermaster ratapulgo copiou a minha idéia e botou no subtitle desse pseudoblog aqui. que infame! a cópia da cópia...

espero poder trazer coisas pra cá. nem sei porque estou aqui. eu leio o c&p, acho alguns blogs interessantes e vou a eles. mas raramente tenho algo interessante pra colocar aqui. quando coloco ainda tem comment: "mas este texto não tem nada a ver com c&p!". eu mereço!

minha vida nos últimos tempos só eu que sei. tenho um blog bem deprê, o [boop it] que de vez em quando vem parar aqui. mas não reclamo: estou colecionando histórias.

poderia dizer que meu blog anda meio sem identidade como a "dona". mas esta é a identidade dele, como da dona, claro.

nas horas vagas, que ultimamente têm sido as oras de ocupação, me interesso por assuntos relativos à ociosidade como psicologia, religião, leitura de blogs, filosofia. não me interesso por política, assuntos internacionais ou economia é igual acompanhar a novela: um monte de drama diário, mas a gente sempre sabe como vai acabar.

venho me dedicando ao que cecília meireles já nomeou bem: "a arte de não fazer nada". nutro uma paixão dessas bem loucas e dramáticas por clarice lispector [é a paixão do momento, pelo menos]. tempos atrás entrei numa busca alucinada pela compreensão do tempo, da vida, do ser humano e de outras coisas menores, mas estou chegando à triste conclusão que o homem precisa mesmo é de pão e circo. coisa tão óbvia, mas só eu que não entendo mesmo. sou burra! confesso...

nesta minha busca cheguei até a ler o calhamaço entediante do thomas mann: a montanha mágica. sabe o que é pior? eu gostei...

acho que não precisa dizer, mas quem não me conhece pensa que sou louca e arrogante. quem me conhece, tem certeza. mas sou gente boa, apesar de tudo. perguntem ao masterblaster, meu amigo pulguento.

agradeço a oportunidade de fazer parte do blog mais original do brasil. é isso!

abs

kk

26.6.03

passeando de trem

um moço trabalhador sentou ao meu lado na van da orca. estava lendo poemas de florbela espanca.
deu uma olhada no que lia: o que se diz e o que se entende de cecília meireles.
ele me ofereceu biscoito de polvilho uma hora. agradeci. me disse que não estava gostando muito da florbela. que acabou comprando errado. já estava pra mais de metade do livro lido, no entanto.

me perguntou se eu conhecia florbela. disse que nunca tinha lido. falei que talvez ele não estava gostando por ser poema. não. nunca subestime alguém!

pegamos o trem juntos. ele me perguntou ainda na estação se eu conhecia algum bom poeta. ele gosta de poesias, mas achou florbela pesado. pelo que entendi ela deve usar um pouco de vulgaridade em seus versos. sugeri drummond. espero que ele encontre algo legal dele assim baratinho, numa edição da lpm - como a que lia da florbela. e quem disse que o povo precisa só de comida? precisa alimentar sua alma de letras.

ele parece ser daqueles moços românticos, sensíveis, sonhadores. a hora que achar uma namorada legal, vai enchê-la de versos amorosos.

e eu fui pensando nas relações humanas. em como me encontro. as pessoas emanam uma energia, uma "aura". e eu me encontro assim. e gosto disso. hoje quem senta ao meu lado não é um louco, maníaco, obcecado, mauricinho, mas um moço trabalhador que quer alimentar sua alma.

acho mesmo que pessoas em estado de espírito parecido acabam se sintonizando de tal maneira que se reconhecem no meio da cidade. acredito também que hoje estou muito mais ligada ao mundo ao meu redor. não apenas o trânsito, a correria, os afazeres. mas principalmente nas pessoas, na cor e na luz do dia, no ar, na brisa, neste vasto mundo de sentimentos, emoções, dores, alegrias, tristezas: tudo que paira leve na camada atmosférica e que pode ser captada pelas minhas antenas de borboleta.

captado no boop it

A tout asservie, Par délicatesse, J'ai perdu ma vie. Rimbaud

Tenho esperado o telefone tocar, tenho ansiado por olhares e pelo toque desajeitado de mãos. Tenho esperado pelo roçar dos lábios no rosto, a pele fresca. Tenho esperado sorrisos e sextas-feiras como se fossem a saída do labirinto de espelhos. Tenho esperado por um sinal que decifre uma vida inteira. Pelo pouso dos aviões, pela proximidade impessoal dentro dos elevadores, pelas reuniões de última hora e pelas nossas pernas sob a mesa de reuniões, pelos cigarros e cafezinhos e aniversários de colegas e cartas como se espera por uma sentença. Tenho esperado a madrugada, a cerveja, o Bailey's, o hálito quente dele na minha nuca, tenho esperado pelo roçar dos corpos, da mão dele na minha cintura na pista.Tenho esperado pelas palavras dentro das palavras, pelo gesto dentro do gesto, pelo sentido dentro sentido. Um ano que é como um barco à deriva dentro de toda minha vida, o ano que comecei a envelhecer, em que as rugas ao redor dos meus olhos foram fotografadas pela primeira vez, um ano de alegria em alegria, de corpo em corpo, de sono em sono, sem que houvesse qualquer verdade nisso tudo, sem que precisasse haver. Um ano inteiro suspenso por um gesto distraído, por milésimos de segundo.

um anos de Nadas

Estávamos todos conversando animadamente na sala da casa da Catarina quando ela recebeu um telefonema de seu paquera e ficou ainda mais feliz: "Culpa do Santo! Está dando certo! Traz o Tonho! Vamos rezar mais!"

Tudo estava tranqüilo, até a Cathy acender a vela e me passar o livretinho: "Você lê a Oração Preparatória". Eu, que tinha acabado de aprender a Ave Maria, iria comandar a reza na qual também estavam presentes a Vó da Cathy e o Diego... Os três olhando para mim, esperando. "Ai, meu Deus!", pensei. "É melhor eu imaginar uma cena bem trágica, um futuro marido dando beijo na Tininha, porque eu não posso rir de jeito nenhum!" "Não vai começar, não?" E eu comecei: "Meu desvelado e solícito Protetor Santo Antônio...", seriamente. Até que na terceira linha... "para que me alcanceis da Divina Majestade o perdão dos meus pecados, as virtudes cristãs que praticastes em grau tão erótico" e depois que eu disse isso eu nem consegui consertar meu erro, tamanha foi minha vergonha e, simultaneamente, meu nervoso ataque de riso! Todo mundo muito sério na salinha - talvez pensassem na minha falta de respeito com o heróico santo - e eu não conseguia encarar ninguém, nem parar de rir. "Não tem problema rir", o Diego tentou amenizar a situação, "se você tiver fé". E eu fui obrigada a continuar. Mas depois deste ato falho, como dizer seriamente, dez linhas depois, "que enfim tenha a dita de o amar e gozar em vossa companhia, na glória" ou "conservai-nos o uso perfeito dos sentidos do corpo"... Muito difícil. Mesmo pensando na Tininha.

Foi assim a oração inteira. Quanto mais eu rezava, mais eu pecava. Até que, no final, a Vó da Cathy comentou muito brava que eu não sabia rezar. "Eu tentei", respondi, "mas confesso que realmente não consegui...". "Por quê?", ela perguntou mais brava ainda. Eu só tinha uma resposta possível: "Acho, Dona Mara, que é porque eu sou filha do Alan."

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(só pra você entender melhor este texto, saiba que meu pai conseguiu desviar metade de uma procissão imensa na Semana Santa, em Perdões! Ele e um amigo, cada qual numa fila da procissão, seguravam velas e fingiam rezar baixinho... Até que o Padre virou à direita, comandando a procissão, e meu pai e o amigo viraram à esquerda, só pra bagunçar. Todos atrás, muito concentrados, rezando, nem repararam e seguiram os hereges. Os dois fizeram milhares de pessoas passear por um monte de ruas, até encontrar o Padre, muito depois, cara a cara. O começo da procissão deu de cara com a outra metade, por obra de meu pai, que passou semanas se gabando deste feito! E este é só um dos exemplos que comprovam que eu não poderia mesmo ter nascido beata...)

heresia em Despropósitos

A Arte da Guerra


É assim: enfie a faca sempre abaixo do peito, três ou quatro dedos abaixo do centro. É nesse ponto que fica o diafragma. É o ponto mais macio dessa área, porque não tem osso. Enfiar um objeto perfurocortante no peito de alguém é algo que só pode fazer quem tem muita força no braço, porque senão corre o risco da faca ficar presa no esterno, e pra tirar não é fácil. Mesma coisa nas laterais: acontece muito com baionetas. Se você enfia a baioneta no flanco de um sujeito, tem que ser abaixo das costelas, na região dos rins. Caso contrário, a ponta da baioneta fica presa na carcaça do morto e você tem duas opções: ou deixa a arma onde está e corre o risco de uma corte marcial por deserção ou comportamento covarde em batalha (faziam isso muito na França, na época da Primeira Guerra) ou tenta retirar à força e morre tentando, porque logo vem um compatriota do cadáver e enfia a baioneta nas suas costelas. E aí começa tudo de novo.
Entendeu? Enfie a faca sempre, mas sempre abaixo do peito. O cara vai sofrer, e não vai morrer na hora. Mas sem ar ele não tem força, e vai ficar incapacitado. Aí é só terminar o serviço com calma. E limpeza, que é fundamental.
Entendeu tudo mesmo? Então pode ir. E não me volte aqui sem a cabeça daquele filho da puta.

mais instruções no Pequeno Dicionário de Arquétipos de Massa

Parada Gay na TV. Aquelas drags lindas, montadíssimas, de mãos dadas com as mãezinhas, umas velhinhas fofas de cabelinhos brancos. Minha mãe vira pra mim e manda:
- Minha filha, eu adoro o seu irmão, você sabe. Mas felicidade mesmo é ser mãe de viado. Olha que glória!

materno Drops da Fal

tia Sandra

Foi minha professora de natação por uma data, uns oito anos. Lá no colégio, o das freirinhas. As freirinhas que, reza a lenda, todas iam tomar banho na piscina lá do colégio aos domingos. Fora a irmã Clorofila, que tinha o cabelo verde de tanto nadar, era atleta, e assim tava sempre na piscina lá pelas madrugadas.

Mas tia Sandra era das melhores criaturas. Era, porque eu soube hoje que ela morreu, vítima da loucura das células que querem ser imortais. :(

As melhores lembranças, eu tenho dela. Sempre lá com aquele bonézinho, dizendo pra gente ir, ir, ir, tirando uma com a minha cara e me chamando de tomatinho porque minhas bochechas ficavam vermelhas quando era prova de velocidade com reloginho, o ponteiro no sessenta e a gente saía nadando feito uma bando de doidos. mas eu gostava, eu gostava muito. E tia Sandra que me ensinou o antídoto para as cãimbras, que de vez em quando me pegavam. Levanta os dedinhos do pé com o joelho flexionado que passa. É um santo remédio, sim, depois a gente descobre que é porque os gastrocnêmios relaxam quando se faz isso, mas eu achava ali no início que era mágica de tia Sandra.

E ela disse que eu devia mudar pra um Clube, pra ser nadadora profissional, competições, medalhas, uhh, mas é claro que eu não quis, deusquemelivre, tia Sandra! aqueles revólveres que eu odeio? eu não!, e fiquei lá nadando com ela e com os pivetinhos até não poder mais (um dia você conclui o segundo grau, é).

Minha mãe soube da notícia e chorou tanto, e eu chorei porque minha mãe tava chorando e a gente lembra daquelas terças-feiras loucas, quando eu saía às pressas da natação e tinha 10 minutos pra vestir a roupa do balé, veja que complicado, meias e tutus e coques e redinhas, enfim, eu saía toda torta da natação e toda desmantelada, porque em 10 minutos era impossível vestir aquela meia e ficava então impossível pra minha mãe fazer um coque direito, porque eu me mexia e pulava e me enroscava, e quando a gente saía correndo do vestiário, tia Sandra sempre dava risada.

Tão filhadaputa isso das células ficarem loucas e as boas pessoas morrerem assim tão cedo.

Minoria de Dois

25.6.03

Não tô afim de escrever aqui hoje.
Gastarei minha noite fazendo o trabalho de química e lendo o Romeu e Julieta que adquiri por míseros dérreal pela editora LPM.
Eu só vi o Romeu e Julieta versão Turma da Mônica. Eu realmente duvido muito que os dois morram no final. Porque o Mônica Capuleto e o Romeu Montéquio Cebolinha ficavam juntos no final cantando uma musiquinha muito brega mais ou menos assim:
"O amor pode estar perto de você sem que você perceba nada / Olhe em volta e você verá / Tem gente agora olhando pro seu lado com um jeito interessado / Olhe em volta e você verá / Só o amor pode transformar o mundo / Você vai ver que os seus dias cinzentos vão ganhar mais cor!"
Querer que eu me lembre de todos os versos seria exigir demais da minha parca memória.
Mas é isso aí. A Julieta não morre.
Se morrer, ninguém avise.

Mistérios da literatura inglesa no Kobe's

Outra história...
Quando tinha 20 anos, fazia estágio na CVM (comissão de Valores Mobiliários) e posso dizer com toda certeza foi uma época inesquecível na minha vida! As pessoas que me relacionava eram ótimas, tinha um nível cultural diferente das que eu conhecia, eram pessoas formadas, abertas a novas experiências, claro, haviam excessões, mas não importava... Eu amava aquele lugar... Me sentia bem com as pessoas e com tudo que aprendia, tanto profissonalmente quanto no lado pessoal.
Tinha uma secretária na sessão que trabalhava que se chamava Célia. Ela era uma mulher alegre, profissional e muito esotérica. Foi há Índia duas vezes, andava com roupas indianas, acendia incensos de sândalo e tinha fotos e Jesus Cristo, Buda, Shiva e Sai Baba atrás da sua mesa. Mas não fazia o estilo paz e amor não. Era na dela.
Um belo dia, uma senhor que trabalhava em outro andar, chegou perto da mesa dela e olhou, olhou e fez a pergunta fatal:
- Porque vc tem uma foto da Aracy de Almeida na sua mesa?

Foi decretada e 3ª Guerra mundial!!

- Você tem que respeitar a religião dos outros!!! Eu nunca brinquei com você assim!!! Respeito é bom e eu gosto!!! (Célia)

- Ué! Mas porque você cultua Aracy de Almeida? Até agora não entendi!!! (o senhor)

Nisso eu tive uma crise de risos e tive que sair de perto, mas analisnado friamente, até que parece... Com todo respeito!!!

Por Bla bla bla da Vida...

"Não são os tempos mais alegres que deixam as melhores lembranças, mas os tempos mais intensos." - Antônio Callado.

"Do you miss me, Miss Misery, like you say you do?" - Elliott Smith.


O professor de inglês

Por trás do vidro fumê adivinho o que eles vêem. Nada, atrás de nada. Sinto que desse jeito não vai. Trabalho, uma pilha pra corrigir, mas não consigo. Um terço da manhã pensando na cidade vazia essa época do ano. Como é que devia estar, doceira na praça à noite ainda? Os mais novos rodando, rodando aquela roda onde nada acontece, e os velhos sentados nos bancos de cimento que a prefeitura dá de presente. Nunca se faz nada por aquele lugar. E aqui é tudo espelhado.

- Fabiano, Fabiano... vai aonde todo bonito?

E me deu um beijo na cabeça. Muito diferente, nunca tinha me dado beijo, nem no rosto, nunca nenhum, só um puxão no braço uma vez, subindo o morro, pra eu não pisar na merda.

- Estudou pra prova?
- Que prova? - Ela vivia esquecendo e eu, que era de outra série, decorava o calendário colado na porta da sala de aula. Eu cobrava. Era minha coisa superior.
- Inglês.
- Eu sei tudo de inglês, não preciso estudar. Leio revista americana. Meu primo trouxe. - Ela tinha esse tal de primo de São Paulo, aparecia pra passar lá o Natal. Chegava cheio de novidade.

- Burra, revista não é aula.
- É muito melhor, palhação.

Burra, palhaço. A gente cresce e se torna cada vez mais o que é. Só que ela nunca foi muito burra.

- Nem agradeceu o elogio.

Sacudi a cabeça porque palhação não era elogio.

- Bonito.
- Que que é bonito?
- Você, eu cheguei e disse que você tava bonito.

Meu silêncio.

No dia do morro e do cocô, me deu um puxão e eu aproveitei pra encostar nela. Fez que não sentiu. Uns dias depois me beijou no alto da cabeça. Eu não sabia se estava cheiroso, mas como ela não disse nada, nem que cheirava bem nem que fedia, eu também não perguntei. Só disse que eu era bonito. Cada vez mais maluca, cada vez mais maluca, era o jeito de São Paulo que pegava com o primo, eu achava o cara besta. Sabe dois vinténs de uma coisa e se garante nisso o resto da vida.

- Vontade de comer jabuticaba. - Todas as minhas camisas manchadas de roxo, de jabuticaba, de sacolé de uva. Comia muita besteira roxa. Tinha açúcar e manchava, eu queria.

- Pega no pé, ué.
- Tá com marimbondo, seu Bill avisou.
- pffff... seu Bill não sabe de nada, não sai daquele bar.

Vai dizer que nunca pensou sair daqui? Ela no portão, já com peitos e pêlos, e essa janela aí, que parece que não tem ninguém dentro e quase não se vê o lado de fora. Eu acho que as pessoas lá fora tinham o direito de me ver aqui dentro vendo muito mal elas lá fora, querendo tudo ao contrário que eu quis quando eu só pensava em fruta. Comecei a pensar bastante nela. Foi na primeira viagem que fez pra São Paulo. Ia ficar na casa do primo, 15 anos, ela, ele, eu pequeno, invisível. passou um mês lá, as férias quase todas, eu sozinho, sozinho, quase não saía com os meninos. Ficava sozinho de noite no quintal bebendo vinho tinto que eu comprava com a mesada, era muito barato e muito tinto, manchava tudo, quando bebia e quando vomitava

uáááááá,

- Tá diferente, emagrecida.
- Você também tá diferente, agora tá tudo diferente. Eu não quero mais ir pra São Paulo não.
- Mas só vivia falando em São Paulo. Ia pra lá, queria fazer faculdade lá...
- Agora eu quero ir pro Rio, Fabiano, São Paulo não tem praia. A gente passou dois dias no Rio no carnaval e tem praia à beça, eu fiquei o tempo todo de biquíni. A praia é enorme, tem um monte de gente e a água é quentinha.
- E onde tem faculdade melhor?
- É tudo igual, garoto, mas a do Rio é a maior.
- Você vai fazer concurso?
- Só quero isso. E você, vai fazer o que da vida?

Toda noite eu bebia meu vinho, ela vinha. Fabiano, vai acabar que nem seu Bill! Fabiano, vai acabar com o fígado! Mas não achava mal de verdade, bebia um pouquinho também. A gente ficava rindo alto, às vezes dormia mesmo no quintal, na minha casa ninguém reparava e na casa dela ninguém sabia. Trazia revista, a gente lia com dicionário.

Lá todo mundo bebe o dia inteiro. Ela trazia livros que comprou em São Paulo, as férias acabando, os últimos diazinhos. Vimos e revimos as fotos do Rio, de biquíni o dia inteiro. São Paulo me parecia mais perto porque eu já tinha ouvido falar muito mais que do Rio. Rio quase não existia. Só passou a existir naqueles dias antes de voltar pro colégio. Só passou a existir naquelas fotos. Fiquei com uma, de biquíni. Ela me deu.

- Não vai fazer besteira com a minha foto.
- Besteira, que besteira? Vou botar na gaveta.
- Ah, pra botar na gaveta eu não dou.
- Boto no porta-retrato então.
- Aí tá.
- Mas vão dizer que você é minha namorada.
- Vão dizer quem? Só quem vai no seu quarto é a sua mãe e a sua tia.
E eu com a camisa manchada de vinho. Ela ficou mais perto, eu vi um risco de luz na mecha de cabelo dela perto e perto a gente foi ficando um tempo, até hoje, eu não sei quanto. Eu não queria entender, ela do lado de fora podia ver como eu estava do lado de dentro? Eu achava - thought - thththththth língua entre os dentes - que não precisava agarrar logo, eu queria, mas não sabia se era certo, eu com 11 anos tinha muito mais vontade, mas o jeito que eu fui criado - eu tinha a mãe, a tia e o seu bill, seu bill nunca disse nada que prestasse e eu achava que o que ele dizia era sujo. Ela saw-via o que eu via, uma mecha? Eu achei que vi uma luz verde saindo do sutian dela, mas eu estava bêbado. Uma vez ela falou sobre a cor dos chacras que ela viu numa revista e o chacra cardíaco era verde e era o chacra do amor. Eu nunca tinha sentido gosto de vinho na boca de outra pessoa, whine wine não era como o gosto de vinho na minha boca. Não sei por que fico pensando aqui, a janela me distrai, esse vidro fumê que me reflete um pouco. Queria vir pro Rio, passei a aceitar o Rio, a achar o Rio... melhor que lá em casa, melhor que qualquer coisa, ela ia me convencendo. No meu quintal ninguém ficava de biquíni... ficamos nus debaixo de árvore com ou sem marimbondo mas butt de biquíni ninguém, não tinha sol também que não fosse filtrado pelas folhas do pomar. Era tanta folha que não dava pra bronzear a gente direito, ia acabar malhado igual cow.
Como é que tá o céu hoje lá? Pequena, pequena sempre, a vida toda a cidade vai continuar diminuta, invisível? Eu não vou ver se ela encolhe mais ou se pára no tempo ou se dão mais que banco de cimento pra praça, eu só vou saber por carta e eles lá quase não ligam pra escrever, preferem telefonema, e no telefone ninguém diz muito bem o que acontece lá, só querem saber do que acontece aqui. Quando dá pra abrir a janela, eu vejo melhor o céu e os prédios, ainda perco os olhos no morro e tiro um pouco a cabeça de lá. Mas depois de um tempo até o morro me lembra. Tem gente que não devia mudar de lugar. Aqui o ar-condicionado fica ligado o dia todo, quase não posso abrir a janela. Pergunto sempre se alguém sabe dela mas lá eles só querem falar de mim, eu nunca encontrei ela na praia, a foto na gaveta aqui. Corrigir pilha de prova, mas desse jeito não vai. Aprende dois vinténs de uma coisa na vida e só sobra isso.

mais (entre parênteses)

... e o silêncio como um envelope enfiado debaixo da porta, shhh, shhhh...


(entre parênteses)

Acordei me sentindo meio estranho hoje. Talvez fosse porque eu estava transformado em um Ogro de três cabeças, o que tem lá suas compensações. Por exemplo, se eu ensaiar um pouco, vou poder cantar "Besame Mucho" na versão do Ray Coniff, sozinho.

Claro que nem tudo é essa maravilha toda. Acordar transformado em um Ogro de três cabeças pode ser um pouco chato, principalmente quando você acordou mais cedo com o ronco da cabeça da direita. Também pode se tornar uma complicação enorme nas estatísticas de renda per capita do país.

Vim trabalhar mesmo com as três cabeças e, na hora do almoço, depois de alguma discussão, acabamos indo a um rodízio de empadinhas. O dono do restaurante quis cobrar o triplo, argumentando que eu tinha três cabeças. Tive que explicar que, com um só estômago, não estava levando nenhuma vantagem em levar três cabeças ao rodízio, exceto pelo fato de eu poder falar e comer ao mesmo tempo sem passar por mal-educado. Chegamos a um acordo: aceitei que ele cobrasse três rodízios contanto que eu pudesse levar o triplo de balinhas na saída.

Estou indo agora pedir um aumento pro chefe. Vou explicar que agora que tenho três cabeças minhas despesas ficaram muito maiores. Tenho que comprar o triplo de xampu e condicionador. Ainda mais agora que a cabeça do meio diz que precisa mudar de óculos e a da direita quer um chapéu da guarda inglesa, igual ao da cabeça da esquerda.

cabeçadas de uma vida + ou -

Era ruim antes. Era muito ruim.
Era ruim não saber qual a sensação de segurar suas mãozinhas pequenininhas nessas minhas mãos alongadas, desajeitadas e feias e não saber como era sentir você dentro do meu abraço.
Era ruim desconhecer seu beijo.
Era ruim não conseguir sincronizar sua voz com sua boca, seus trejeitos e suas expressões faciais.
Era ruim não ter na memória, ao fechar os olhos, uma figura sua de corpo inteiro e o brilho desses seus lindos olhos castanhos.
Era ruim não fazer idéia de onde você batia em mim.
Era ruim não saber qual a textura, o cheiro e a cor dos seus cabelos.
Era ruim nunca ter visto você fazendo bico, porque você faz mesmo.

Era ruim sentir saudades suas sem nunca ter te conhecido de verdade.

Agora eu te conheço de verdade.
E sinto falta das suas mãos nas minhas, dos seus olhos nos meus, dos seus beijos, do cheiro e da textura dos seus cabelos, da sua voz sincronizada com sua boca, dos seus trejeitos, da sua risada, do seu sorriso, do seu abraço...
E quer saber?

Ainda é ruim pra caralho.

Mas antes era muito pior. Eu acho.

pura Utopia Dilucular

24.6.03

Toalha Higiênica

Desde pequena minha avó faz meu enxoval, ja contei isso aqui.
Pois então, eu sempre achei uma gracinha aquelas toalhinhas pequenininhas e eu queria uma pra mim, mas vovó não deixava, dizia que era só pra quando eu casasse.
Eu não sabia pra que servia aquilo e ela não ia me explicar, claro que não.
- Isso é só pra quando você casar. Coisa de casado, num te interessa agora.
- Ah tá.

Uma empregada em casa que escutou a conversa , esperou minha avó sair e disse assim:
- Essa toalhinha é pra passar na "brachola" depois de fazer "as coisas" com seu marido entendeu? Por isso chama toalha higiênica.
- E porque que eu tenho que passar a toalha na "brachola" depois de fazer "as coisas" com meu marido?
- Ah ja ta querendo saber demais.

E nunca ninguém explicou as coisas direito pra mim.Cresci assim, meio traumatizada com a situação e não entendendo até agora , porque é que eu tenho que usar as benditas toalhas higiênicas que pra mim de higiênico não tem nada.
Faz "as coisas" e depois passa a toalhinha?
Poxa..alguém poderia ter me explicado isso melhor, custava falar?
Parece até que não existia língua na época.

Casos e acasos da vó da Fafa

Quanto estou estressado, triste ou apreensivo faço uma coisa bem legal, mas que todo mundo vai achar idiota:

— Apago todas as luzes do apartamento (isso tem que ser feito à noite);
— Abro bem a janela da sala;
— Prostro-me a um metro do vão aberto da janela;
— Invoco o mantra da reverberação extenuante;
— Respiro fundo;
— Reúno todo o ar, força, poder e energia do meu corpo e libero um urro que pode ser ouvido há quilômetros.

Sim, grito como um desesperado suicida que acaba de se jogar do último andar e se arrependeu no meio do caminho. E é daqueles urros que deixam a garganta doendo por uns 5 minutos.

É claro que toda a vizinhança sai na janela para ver o que está acontecendo.

Daí como não sou macaco, dirijo-me ao meu quarto, acendo a luz, coloco o cabeção para fora e, com ar de cínico, comento com os vizinhos de baixo e de cima, sobre essa coisa sem graça que alguém, de algum apartamento, vive aprontando. Auto-flagelação. Auto-reprimenda. Auto-crítica.

Mas que é bom, isso é.

cuca cheia de ÓPIO

23.6.03

Tinha a vontade fraca. Não era anemia, nem verminose. Faltava-lhe vocação para o fazer. Murcho. A cabeça também não ajudava muito. Servia só para negar. Mas de que serve o não? Por que no fundo tudo se resume a realizar. E era o que não podia. O outro lado da moeda é a distância. Supunha que não existe algo como unir-se. Talvez tocar, de leve, quase como o vento. Um fio de cabelo fino e quebradiço que enlaça as pontas de dois dedos. Gostar é mais quimera ainda. Sabores se misturam e depois evanescem, rápido, rápido. Coisas do corpo, que atropelam a si mesmas, que se enfileiram na mecanicidade do hábito. Um corpo é um copo, cheio de uma substância que reage ao ambiente e pronto. Um caldo biológico. Triste. Mas a vida não. "So keep your high hopes". Regurgitando ar.

diagnóstido direto da Bolha de Sabão

A enfermeira entrou no quarto com o pequeno embrulho azul em seus braços e uma cara de quem comeu e não gostou.
A nova mamãe fez uma careta ainda pior ao ver que a portadora parecia não ir com a cara de seu pimpolho. Onde já se viu? Todos nascem com cara de joelho, pra que fazer boca de nojo?
Pegou o menino Danilo dos braços da mulher com delicadeza suficiente para não machucar o bebê, mas com determinação para que a enfermeira notasse seu desgosto.
Abriu o pacotinho para ver melhor o rosto do recém-nascido e viu a pelota.

- Ahhh!! O que é isso no olho do meu filhinho?
- É, minha senhora, um pequeno probleminha....
- O quê? Meu Deus! O quê?
- Tersol.
- Mas como pode um bebê nascer com tersol!!??
- Ah, poder pode tudo, né dona? Vai entender a providência divina...
- Não tem nada a ver com providência divina, eu quero é um médico aqui já!

O diagnóstico foi tersol de nascença. Do tipo que não sai com água boricada nem com aliança quente. Fica lá pra sempre. Pareceu muito grande só até o menino crescer. Depois, naturalmente, não cobria mais seu olho inteiro.
O pequeno Danilo foi um felizardo, porque pôde ver o mundo com outros olhos. Ou melhor, o enxergava em outro formato. Tudo era coberto parcialmente pelo tersol, que deixava as imagens côncavas no lado superior direito. Para enxergar aquilo que estava coberto, ele erguia o rosto. Logo, tinha curiosidade para ver o que mais estava coberto e o erguia mais ainda. Conseqüentemente caiu muito durante sua infância, por viver caminhando com a cabeça erguida, quase tombada para trás.
Com isso viu mais coisas que todos os meninos e meninas que conheceu. Cresceu observando tudo que o cercava com uma curiosidade infantil.
Ninguém nunca o entendeu muito bem. Mesmo adulto, continuava caminhando fazendo rotações com a cabeça e registrando em sua memória a cor do teto, o formato da nuvem, o ninho do pássaro.
Um dia conheceu Guida, a menina por quem se apaixonou. Antes do noivado ela fez uma simpatia, umas bruxarias, para ver se aquela coisa sumiria do olho de seu amado (tinha uma profunda aflição daquilo). Deu certo, e ele acordou sem o tersol. Viu o seu quarto com os dois olhos bem abertos, e de repente, tudo havia perdido a graça – inclusive Guida, que agora lhe parecia feia, mais por dentro que por fora.
Danilo terminou o namoro e fez um curso de bruxaria especializando-se em tersol. Colocaria um no olho de cada pessoa que não entendesse nada da vida, e Guida foi a primeira.

histórias macabras en el Salón Comedor

Símbolos

- E a bússola?
- É sobre a bússola mesmo que eu queria falar com você.
- Gostou, né? Idéia genial, modéstia a parte.
- Bem, desculpe lá, mas eu achei simplória.
- Simplória?
- É, a comparação da bússola com a personagem principal, a metáfora de aquilo ser um rumo pra vida dela, em busca de norte que não existia. Dela estar perdida, confusa. Achei ingênuo, entendi o significado logo no segundo paragráfo. Me senti até logrado.
- Norte? Confusa a vida dela? Não! A personagem tem um foco e um objetivo definido em todo decorrer da história! Não é por que ela encontra uma ou outra dificuldade pela frente que pode-se deduzir que ela está perdida, de forma alguma! Seu “norte” está muito bem indicado!
- Mas eu pensei que...
- A bússola aparece com um símblo para quem domina a vida dela. É para mostrar que ela não comanda nada, que todos os seus passos são marcados em busca de um só fim, e que todo esse fim é regido por uma “força”, uma entidade muito maior que a gente.
- Como Deus?
- Ou como você quiser chamar. Marialva não se perdeu nehuma vez, só era levada por vontades maiores que a dela, como uma agulha a balançar, para no fim fazer sempre as vontades de um “campo magnético”, tornando-se como uma bússola. Entendeu?
- Agora sim! Mas teu livro tinha que vir com notas, com um manual para o leitor leigo como eu. Dizendo assim eu entendo a relação da Marialva com a... Genial! Mas que metáfora!
- Foi boa, não? Uma em mil.
- Em dez mil! E logo depois do capítulo da bússola, quando as pernas cruzadas mostram ao leitor o verdadeiro significado do amor! A receita definitiva para um bom relacionamento enter um homem e uma mulher. Que maravilha!
- Verdadeiro significado do amor? Aonde?
- Logo depois da bússola, quando eles conversam no bar. Que díalogos, que cruzada de pernas simbolicamente costurada! Pensei em mil coisas nas entrelinhas com ela arrumando a saia, realçando as coxas e dizendo “Mais um chopp então?”. É o arquétipo feminino como causa da desintegração dos adjetivos andrógenos culturamente incravados na sociedade.
- Não tem simbolismo nessa cena não. Só a descrição das perna da Marialva.
- Só? Nem uma metáfora?
- Nenhuma. Só um belo par de coxas mesmo. Um tesão não?
- E não? Até fechei o livro nessa hora e fui tomar um banho frio.

teoria da literatura by Zazoeira

Hunting High And Low

Hoje em dia a garotada tem de tudo: computadores superpotentes, lambretinhas envenenadas, videogames em 3D e mais um monte de porcarias que todo adolescente deseja. Mas os meninos de século XXI pecaram ao eleger o techno como o ritmo do momento e acabaram perdendo uma das melhores coisas que as gerações anteriores curtiram muito na adolescência: a música lenta. Ok, eles podem achar careta todo mundo juntinho ao som dos discos de vinil. Mas eu que usei All Star posso dizer: era muito mais legal do que hoje. Hoje em dia o cara olha prá moça, a moça olha pro cara, eles se beijam e vai cada um pro seu lado, vomitar em seu canto. Nos tempos das camisas da AIPA as coisas eram bem diferentes: era na música lenta que as coisas aconteciam.

Quando a agulha alcançava a faixa da música lenta, o rapaz ia até a moça e a convidava prá dançar, mas quem acha que se ela topasse a coisa estava encaminhada, se enganou redondamente: dançar agarradinho era uma operação delicadíssima, onde qualquer movimento brusco significava passar a noite sentado em um banco bebendo guaraná e comendo salgadinho. Prá começar, havia uma certa distância que deveria ser mantida entre o casal; tentar um sarro era pedir prá tomar um tapa na cara e ser banido das festas. Outra: as mãos só ajudavam quem mantivesse o limite entre a nuca e o início da lombar (na vertical) e entre as extremidades das escápulas (na horizontal). Mais do que isso era pedir prá ser chamado de babaca e virar gozação do resto da molecada na hora do recreio. E quem fizesse tudo bonitinho até aí tinha que enfrentar a pior parte: conseguir um beijo da moça, antes do fim da música. Quem assistia Pirata do Espaço lembra muito bem como era desesperador esse momento, onde podia-se mudar de maioral prá bunda mole em menos de um segundo. Quem nunca sentiu esse frio na barriga que atire o primeiro Atari.

Sedução. Havia sedução naqueles tempos. Hoje em dia é só bate-estaca, bolinhas e pocotó. Onde foi que erramos? Será que devíamos ter dado mais ou menos cascudos nessa molecada?

Tocado por Márcio Silva no seu Alea Jacta Est

Emprego

Estou uma semana atrasado. Cheguei no escritório, pendurei meu paletó nas costas da cadeira segunda-feira passada, saí para tomar um café e voltei hoje. Ainda em ritmo funcionário público, não me acostumei a trabalhar em empresas multinacionais como essa. O chefe entendeu, mas como castigo, o salário esse mês não tem aumento: continua Zero rublos. Não é muito, mas dá pra pagar o ar que eu respiro, a paisagem que eu vejo e dois ou três drinques pra Luana Piovani, em sonho.

Ainda não sei o que fazer aqui. Tem um manual em cima da minha mesa, com mais de 5000 páginas, em letrinha miúda e em inglês. Não sei falar essa língua não, mas além do plano dentário, vale-refeição e vale-transporte, a empresa paga duas aulas semanais de inglês para mim. No livrinho estão todos os métodos, artimanhas, macetes, trapaças e jogos sujos dessa grande instituição que é o Copy&Paste; só o FAQ tem mais de 3000 perguntas. Ainda Não li... e nem vou ler. Quando as reclamações chegarem, boto a culpa no estagiário, na D. Rosalva (a secretária) ou no decote da D. Rosalava - que desconcentra qualquer funcionário filho de Deus, não deixando o serviço render nem os ânimos acalmarem.

De obrigação mesmo, tenho que me apresentar. My name are Henrique...
- Is!
- What?
- My name IS Henrique.
- O seu também? Somos xará então. Xará, you mean? Brother, friend, mano!
- That’s gonna be a long class...

Escrevo periodicamente no Zazoeira, janto as vezes em boa companhia em cantinas da Bela Vista*, estudo, trabalho, lavo, passo, cozinho, sou repleto de vastas emoções e pensamentos imperfeitos e plagio vez ou outra o Rubem Fonseca sem citar a fonte.

Acho que era isso. Deixa eu continuar aqui que a pilha de “Entradas” está infinitamente maior que a de saídas, visto que não assinei nada! Qualquer coisa, o email esta na coluna da esquerda!

- Go!
- Cuma?
- Say it!

Ah é, o professor de inglês mandou eu terminar assim:

“That’s all, folks!”

Abraços,

Henrique



* - Proibido o uso de piadas internas nesse blogui! Essa será a primeira e última vez, esteja de sobreaviso!

Esta noite nao tem sido diferente das tantas outras noites dessa minha existencia. Nao posso me queixar da vida, nao mesmo. Apesar de, de vez em quando, me deparar com gente muito ruim, gente pilantra, tenho o prazer de conhecer uma monte de gente legal. Tenho o prazer de dizer que tenho, pelo menos, 10 amigos daqueles que, numa briga, ja entram com a voadora, sabe? Tenho o prazer de dizer que li tres livros perfeitos e eles mudaram minha vida... os outros todos sao ate legais, mas nao precisava, os tres bastavam... tenho o prazer de dizer que tenho um emprego, que tenho dinheiro, que tenho tempo, que tenho quem me queira bem e tenho a quem querer bem...
mas eu nao sei porque uma expressao nao sai do meu rosto, nao sei mesmo... vai ver que, depois de tanto tempo, ela se cristalizou por aqui e tira-la, so quando meu filho nascer...

there´s a message inside this bottle!!!

22.6.03

Ensaio de bolso – um parágrafo para cada bolso:

“Tenho, confesso, medo de metafísica. Esse é o termo, medo; e desde criança, depois de ler duas ou três páginas de algum metafísico alemão, sinto que a nitidez do mundo vai se borrando, e a realidade some.

Em criança criei uma heresia, acreditei que todo pensamento abstrato é um pecado. Tenho certeza que filósofos podem me provar o absurdo dessa idéia, mas ainda sinto esse medo da metafísica; e depois de algumas páginas de filosofia, tenho que sair, e me concentrar em detalhes concretos, na maioria visuais: a luz do sol na grama, o reflexo do sol na janela de um edifício, etc. A filosofia não explica a realidade, ela destrói a realidade.”

miniensaio em Alexandre Soares Silva

Videotexto (Post XV)

O casal do videotexto

(...)

- Uma festa? Mas fotografar a festa ou vocês?
- Nós e a festa.
- Explica melhor.
- É uma festa de amigos, amigos muito próximos. Pensamos em presenteá-los com as suas fotos. Olha, eu não tenho certeza, mas acho que você vai adorar essa nossa turma. Por favor, aceite.
- Claro. É que, por conta do meu trabalho na Teletel, sinto que estou um pouco enferrujada para fotografar eventos. E, pra ser sincera, eu odeio fotografar festas. Vou fazer porque vocês que estão pedindo, mas não acostumem.

Fui sincera, sorrindo pra não parecer mal educada, mas era a mais pura realidade.

- Festa é jeito de falar, Ale. Será uma reunião de amigos muito íntimos, não pense neste encontro como quem pensa em uma festa de casamento. Não terá vestido de noiva, só o bolo. Considere que os nossos amigos serão, certamente, seus amigos porque eu tenho certeza de que todos irão adorá-la.
- Está certo. Quando e a que horas?

A casa era um desbunde! Uma fortaleza cercada por um lado pela cidade, por outro pela Serra da Cantareira. Dois seguranças na porta pediram minha identidade, conferiram os dados e pediram que eu encontrasse com os demais convidados no saguão da casa. Um deles, estranhamente me encarava, mas fingi que não era comigo e dei-lhe as costas.
Logo na entrada encontrei o casal . Apresentaram-me os anfitriões e todos os convidados que esbarrávamos. Musica boa, vinho bom, gente bonita e de repente um cara que mais parecia o Michel Jackson assumiu o controle dos equipamentos de som e luzes e transformou o ambiente sóbrio em uma discoteca. Não me pareceu numa primeira impressão, mas depois percebi que tudo tinha sido preparado para aquele momento. As bebidas ficaram mais fortes, o jogo de luzes na casa ficou muito mais intimista e ritmado e as músicas faziam todos dançar. Não sei se por intuição ou sabe-se lá o quê, mas havia uma grande pulga atrás da minha orelha. Tinha algo no ar que me escapava... Minhas fichas só começaram a cair quando eu quase tropecei em um casal transando peladão em um canto da sala. Olhei para os lados, ingenuamente, tentando alertá-los de que eles estavam sendo vistos. Olhei para os lados, arregalei os olhos e...

- Caraca! Tá todo mundo trepando!

------>> Continua

não perca o próximo capítulo de AMARULA COM SUCRILHOS

21.6.03

Bom humor

Eu adoro quando eu saio de casa atrasada para o trabalho, vejo na porta do meu hotel uma grande fila de táxis novinhos e limpinhos cujos motoristas eu já conheço (tem um de sessenta e tantos anos que está estudando para ser diácono, outro dia eu conto isso) e que já sabem onde eu trabalho, e descubro que o primeiro táxi da fila, sim, o que eu serei obrigada a tomar, é um calhambeque imundo com os bancos carcomidos por bundas banquívoras de passageiros pretéritos, um verdadeiro museu de todas as quinquilharias jamais inventadas para adornar táxis, desde o ridículo bloquinho de anotações preso ao painel, até o saquinho de lixo nas costas do banco do carona, passando pelo cachorrinho que balança a cabeça que me desperta ímpetos assassinos.

Eu adoro, também, quando, apesar de eu pedir para ir ao prédio da Academia Brasileira de Letras, o motorista com pelos na orelha conclui, por alguma divina obra de seu cérebro (não duvidem, ele possui um), que eu sou atendente do CVV, e começa a me contar todos os seus ploblemas, fazendo questão de saber a minha opinião sobre o assunto. Claro, moço, claro que vai dar tudo certo assim que a sua esposa passar no curso de instrumentadora cirúrgica da Santa Casa e um vulcão derramar uma enorme quantidade de lava sobre a sua casa e esse seu calhambeque com capinha de bolotas no volante, depilando, inclusive, de uma vez por todas, esses pelos repugnantes que saem de dentro da sua orelha, porque a orelha é, de fato, uma coisa feita para o som entrar, e não para os pelos sairem, entendeu? Entrar, bom. Sair, não bom.

E como eu adoro quando o motorista, além de me achar com cara de psicanalista, me acha também com cara de atleta e resolve me deixar do outro lado da rua, aquela grande avenida sem sinal onde eu já vi uma kombi realizar o sonho de um homem, fazendo-o voar como o super-herói americano - ele caiu morto cinco metros adiante, mas isso não vem ao caso. E, me deixando no lugar errado, tem a desfaçatez de desejar que eu "tenha um bom dia de trabalho". Ora, senhor motorista cheio de ploblemas e dono do cãozinho de cabeça de mola, tenha um bom dia de trabalho o senhor também, nesse seu táxi imundo e fétido.

E eu adoro quando eu acordo de bom humor.

have a nice day, Epinion

Fui infiel à mim mesma, e de madrugada um raio cortou a linha telefônica. Sentei com um pacote de bolachas e café, e tentei de novo. Então funcionou. Os farelos caíram um a um sobre o tapete, pequenos flocos em slow motion, e nenhuma lembrança. Sensibilidade é o avesso do avesso. Mesmo despedaçada. Não sei ficar sem o afeto dos livros de cabeceira e nem sem Márcia cantando. E há também as trilhas antigas de pequenas ruas, conversas baixas ao pé do fogo, quando trocamos segredos ancestrais e nomes cifrados.

A moça da barraca do pastel me deu o de calabresa, que eu havia pedido, e perguntou: — não tem trocado? Nem sempre temos.

O Diário Lilás de Karim Blair

Bom, tem uma fulaninha que jura ter visto meu nome na lista fatal... Mas a dona do pub até agora nada me disse e essa semana tenho trabalhado como previsto.
Pode ser terrorismo da galera mas pode ser verdade, afinal estou nesse pub há tempos. Não é dos lugares mais organizados e justos mas é bom de fazer de dinheiro, tem uma localizaçao central, shifts com poucas horas e já sei onde estou pisando. Emfim, é coveniente. Por segurança, já foi fazer audição para uma agência que faz strip pubs e clubs fora de Londres.

Meu plano era passar julho trabalhando na Grécia mas até agora não recebi a confirmação da agência norueguesa que fez o contato nem do club grego. E mais com essa incerteza do que vai rolar aqui. Esse momentos de o-que-será-que-vai-acontecer me deixam ansiosa.

Naked Emotions

20.6.03

Neguinha

Fui ao oculista ontem. Fiquei impressionada com o exame minuscioso que o cara fez no meu Urso Polar e resolvi ir ver qualé. Ainda mais porque de uns tempos pra cá venho sentindo uma dor de cabeça insistente, localizada predominantemente por trás - por cima, por baixo, ao lado etc - do meu olho direito. Achei que poderia ser o excesso de idiomas, estresse, saudade etc. Mas ficou provado que minhas dores de cabeça não são, como diria herr Freud, meros reflexos de minha mente levemente histérica.

Além de um grausinho mixuruca de astigmatismo (- 0,75 em cada olho), desenvolvi uma hipermetropiazinha chata (+0,75 grau) apenas no olho direito, o que me deixa maluca às vezes. Meus óculos, feitos em 1998, já não dão mais conta. Encomendei uma armação linda, imitando tartaruga (meus óculos são esses aí da foto), só que no estilo sueco, com lentes menores. O engraçado foi o "argumento" que o oculista usou pra me convencer de que a armação que escolhi era mesmo a melhor. Ele disse: "Você é tão escura que a armação realça um pouco".

Ainda não sei se foi um elogio ou não, mas acho que foi. Isso porque esse povo vive se metendo em camas de luz para garantir uma corzinha durante os longos invernos de dias escuros. Todos ficam meio amarelados, com exceção da pele ao redor dos olhos, que continua branca por conta do protetor usado. Eu nunca vou me sujeitar a isso, ainda mais porque mesmo sem o tal banho de luz já estou tomada de sardas. O engraçado é que no Brasil sou branquelérrima. Mas aqui, por conta do cabelo e dos olhos castanhos, já posso responder à pergunta do Caetano: sim, eu sou neguinha! :cDDD

Por Montanha Russa

Que fim levou a chilena?

Já que o assunto é entrevista coletiva, vou desencavar uma história do fundo do baú e mostrar como sou velho.

Meu debut como jornalista aconteceu no Rock In Rio, em 1985. De certa forma foi algo inédito para toda a imprensa brasileira e latino-americana, pois nunca tivemos tantos artistas de peso ao mesmo tempo. Por conta disso, as entrevistas coletivas, todas no Hotel Rio Palace, foram concorridíssimas. Perguntou-se (e respondeu-se) muita besteira, mas uma personagem ficou na memória de todos: uma jornalista chilena cujo nome estava em algum cluster queimado do meu HD cerebral.

De qualquer forma, a chilena tinha uma missão espinhosa. Mais que fazer perguntas, ela tinha que divulgar o festival de Viña Del Mar e fazer com que os artistas falassem sobre o Chile. O problema é que o país vivia ainda a brutal ditadura do general Pinochet (que ele morra lentamente e reencarne como couro de repinique num sábado de Carnaval), e qualquer menção à situação política lá seria censurada.

A diversão começou logo no primeiro dia, na entrevista do Whitesnake:

Chilena: Vocês conhecem algo sobre o Chile que não seja política?
David Coverdale (fazendo cachinhos nas pontas da cabeleira): não.

Foi aquele silêncio constrangedor...

Logo em seguida entrou na sala George Benson, e lá foi ela de novo:

Chilena: Você está a par do grande festival que vai acontecer em Viña Del Mar, no Chile?
George: Não.

Dessa vez um ou outro não conseguimos segurar um risinho.

Mas o melhor do dia ficou por conta de Nina Hagen:

Chilena: Você conhece algo sobre o Chile que...
Nina (sem nem esperar a tradução e num espanhol impecável): É uma ditadura fascista e assassina.
Chilena (quase tendo um filho): Não, algo que não seja política.
Nina: É só o que me interessa.

Assim os dias se passaram, com a chilena repetindo suas perguntas e recebendo variações mais ou menos gentis de “não”, até que chegou o ponto alto, na entrevista do Iron Maiden.

É preciso dizer que essa entrevista em particular foi um desastre, pois o tradutor era extremamente ruim. Para se ter uma idéia, um coleguinha perguntou qual era a melhor coisa no Iron Maiden. O infeliz traduziu primeiro como “qual o melhor disco do Iron Maiden” e depois como “quem é o melhor no Iron Maiden”. Foi preciso que um dos jornalistas traduzisse corretamente a pergunta para que a banda respondesse serem os shows.

Mas, voltemos a nossa heroína...

Quando ela perguntou se eles conheciam algo sobre o Chile, o tradutor mandou “what do you think about Chile”, numa pronúncia apavorante.

Confundido pela pronúncia, o baterista Nicko McBrain abriu um sorriso de respondeu: “Adoro chili com feijões.”

Pra quê? A mulher se ofendeu e começou a berrar que exigia respeito com o país dela etc. Nicko (simpático como a maioria dos bateristas) pediu mil e uma desculpas e a paz pareceu voltar.

Só que aí o assunto passou para Eddie, o cadáver-mascote do grupo, o que motivou o seguinte diálogo:

Chilena: Vocês não acham que as crianças de assustam com Eddie?
Bruce Dickinson: Não. É como o monstro de Frankenstein, foi concebido para ser assustador, mas as crianças gostam dele.
Chilena: Mas os meus filhos se impressionam com o Eddie.
Bruce Dickinson: Olha, minha senhora, criança quando é bem educada não fica se impressionando à toa.

A gargalhada geral que se seguiu marcou o fim da participação da chilena no festival. Não sei se ela prestava como jornalista, mas foi uma das melhores comediantes que já vi.

Espírito de porco

19.6.03

As estradas eram feitas de olhos. Ao passar, eles piscavam de dor. Era tudo que podiam fazer. Um kamikaze desceu pela esquerda, explodindo-se com seu avião. Nulo efeito, já que errou o alvo. Inhô sabia que o alvo era ele. Sabia que novos kamikazes não tardariam a chegar.

Era por isso que Inhô corria pela estrada de olhos, agarrado à sacola, sentindo o precioso volume lá dentro - volume que finalmente voltava às suas mãos, depois do assalto à sua casa, na calada da noite passada; depois da busca frenética, mais frenética que a do Polanski; depois de encontrar o volume nas mãos de Igaraô, o demônio de um olho só; depois da luta sangrenta com Igaraô; depois da morte ainda mais sangrenta de Igaraô; depois da fuga do castelo do Igaraô (ele tem um castelo, falou?); e depois do ataque idiota do kamikaze.

Inhô estava quase em casa. Fecharia o portão tetra-dimensional e estaria salvo. Poderia dormir.

Ao chegar no portão, Igaraô-San - o filho bastardo mais amado por Igaraô (o pai) - o esperava. Outra batalha sangrenta o esperava. Sua cama o esperava.

Na entrada do portão os dois mundos se mesclavam. Inhô apertou a mochila contra o peito e rezou ao deus dos contos curtos e idiotas, William Wilson, para matar Igaraô-San com alguma explosão nuclear ou outro absurdo qualquer que encurtasse a história. William Wilson acatou bondosamente a súplica de sua fiel criação e matou Igaraô-San com uma cusparada no monitor do computador, exatamente sobre o nome dele.

Segundos depois, Inhô atravessou e fechou o portão, tirou seu ursinho de pelúcia - o Teddy - da mochila e pôde dormir em paz.

conto de fadas básico do MegaZona

máquinas que eu queria ter inventado

O Supremo Contador . é só você encostar o polegar no sensor e o Supremo Contador calcula com absoluta precisão quantos grãos de arroz você já comeu na vida, quando litros de cuspe já produziu, quantas vezes pronunciou a palavra "que", em quantas formigas já pisou involuntariamente, quantos sonhos passados em estacionamentos de aeroporto você já teve, etc. O problema deste aparelho é seu grande potencial para virar entretenimento de salão.

O Exímio Leitor de Embaraços . é só você encostar o polegar no sensor, pedir um minutim pro seu interlocutor, e ELE traduz com objetividade e clareza aquele raciocínio que você simplesmente não consegue desatar. O problema deste aparelho é não garantir que o outro vá entender o resultado.

O Indiscutível Cefezbem . é só você encostar o polegar no sensor, visualizar o dilema que você porcamente acabou de resolver, e o Indiscutível sentencia se você fez bem ou se você fez mal. O problema deste aparelho é que só funciona depois da cagada já feita.

Patenteadas por Nervocalm gotas há algum tempo

SEDE NÃO É NADA, "NORDESTINIDAD" É TUDO

A Goiaba's Enterprises tem três projetos para aproveitar a onda Nordeste is cool e, quem sabe, conseguir subsídio do governo. Quero saber qual desses projetos é o mais viável, na opinião de vocês. 1) A rave "Jegue Hypado", que levará astros do tecno para três dias de great fun, sem água nem comida, no sertão piauiense. Apresentações conjuntas de Clemilda e Prodigy, Sandro Becker e Chemical Brothers e por aí vai. 2) A banda Rapadura Elétrica, intrigante mistura de forró universotário e psicodelia sessentista, cabelinhos empastados à britpop e sandálias de couro cru, pífanos de Caruaru e samples dos White Stripes. 3) Uma tese de mestrado, "A importância da farinha com LSD na alimentação do nordestino e sua influência na obra de Zé Ramalho [autor do imortal verso 'os meus gametas se agrupam em meu som']". Tenho para mim que a tese será o mais divertido desses três. O que vocês acham?

refrigerantes PuraGoiaba

Ah, sim, me agradaria que Deus deixasse a sala. É chato ter de falar sobre essas coisas na presença dele, além do mais fico constrangida só de pensar em ter de falar baixinho na minha própria casa. Não que ele seja mais sensível do que os outros. Nem que esteja particularmente interessado na minha conversa. O fato é que nos conhecemos praticamente agora, e não sou afeita a intimidades logo de cara. Admito manifestações mais ardentes na juventude, não ficaria bem, na minha idade, me expor assim, como o filho dele fez, por exemplo. Podia estar coberto de boas intenções, vá lá, mas foi um bocado tolo e exibicionista. A humildade pomposa dos profetas chega a parecer arrogância. Você não acha? Bem, a verdade é que toda aquela história já não nos interessa. Sabia que o filho do homem costuma me visitar sempre à tardinha? Tomamos chá com biscoitos. Ouvimos um pouco de música, ele não gosta dos clássicos. Fez cara feia quando ameacei um canto gregoriano. Mas, no geral, pelo que pude notar, ele não mudou nada. Cheguei a estremecer quando desandou a expor os mesmos princípios de sempre. Sem qualquer alteração. Disfarcei, para não bocejar, servi mais um pouco de chá e desviei a conversa para plantas. Sinto-me mais reconfortada assim. Confesso que ainda hoje perco o fôlego ao lembrar-me de cruzes, chagas, pecados, milagres e, que horror, a tal da ressurreição. Sabe como é, as mulheres não esquecem com facilidade. Já os homens, eles são tão pragmáticos. No fundo, confundem trabalho com calvário. Quanto a mim, sei que minha vida pode parecer um pouco sem propósito, é o que ele sempre me diz. Mas que propósitos teriam propósito? Ele disfarça, serve-se de mais chá e desvia a mão para os biscoitos. Às vezes me acho desprezível. Nestas horas faço longas caminhadas até meus pés cobrirem-se de bolhas. Não chega a ser um flagelo, mas uma forma de espairecer. Como fazem agora nossos três cães no jardim. Reparou como eles cresceram?

stigmatas da Prosa Caotica

Spam do Herbalife:

"Nossos hábitos alimentares comprometem o perfeito funcionamento das nossas células".

Nossos? O cacete. Alto lá, cara-pálida. Não sabe dos meus hábitos e vem bostejar no meu computador? O único hábito alimentar comprometedor que eu tinha era comer a mãe do dono da Herbalife. Mas parei faz tempo, a velha era muito arrombada. De tanto beber Herbalife, afrouxou as células anais.

expelido por Catarro verde

18.6.03

Câmara Municipal de São Paulo
Gabinete da Vereadora Dra. Angélica Freitas

Projeto de lei n.º 34762384234284/2003

Dispõe sobre o veto à expressão "dantesco/dantesca" e dá outras providências.

A CÂMARA MUNICIPAL DECRETA:

Art. 1.º Ficam proibidos de usar a expressão "dantesco/dantesca" em artigos, reportagens sensacionalistas, bulas de remédio e mesmo entrevistas a publicações femininas aqueles que não tiverem lido a obra de Dante.

Art. 2.º Quem desobedecer ficará sujeito à leitura completa da obra do poeta italiano e a 200 horas de trabalho de telemarketing para organizações não-governamentais, sem poder empregar o gerúndio (ex.: "Você vai poder estar preenchendo nosso formulário na internet" e "Nós vamos estar enviando o boleto bancário".)

Art. 3.º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

São Paulo, 17 de junho de 2003.

Dra. Angélica Freitas
Vereadora

faça lobby e Tome uma Xícara de Chá

Na ida pra SP, segunda de manhã: eu, uma poltrona vazia, uma senhora, o corredor e o Antonio Fagundes, lendo "Stupid White Men".

Sinceramente? Ele não é lá nenhuma brastemp.

Esperando minha "malinha" em Congonhas, na mesma manhã: chegando do Rio na ponte aérea, Olivier Anquier, caindo de charme.

Aahh! Ele, sim, é uma brastemp, uma electrolux, uma prosdócimo... e põe na cônsul!

lista de noivas do Vita Brevis

A saga do primeiro beijo (Post VII)

- Te peguei!
- Tira a mão de mim!
- Você está presa.
- Eu sei. Pode deixar que eu sei o caminho da cadeia.
- Não... espera. Quis dizer que você está presa no meu coração.

Meninos apaixonados perdem a noção de ridículo. Que papo era aquele? Que o Murilo era o garoto mais mulherengo do bairro, isto eu sabia, mas daí para se tornar o Don Juan da breguice era um pouco demais! Mais brega que isto só se eu caísse naquele papo... E foi exatamente isto que aconteceu! Fiquei toda derretida. Convenhamos, ouvir aquilo aos treze anos de idade de um garotinho lindo de olhos azuis era pra derrubar qualquer adolescente de primeira viagem. Perdi a voz, a respiração e desatei a gaguejar:

- Ma-ma-ma...
- Ale, quer namorar comigo? - Ele era rápido e, naquela época, se pedia em namoro.
- E-e-eu? Eu não.

Eu sei, eu sei. Eu sempre fui uma anta indecisa e confusa, mas pensam que é fácil tomar uma decisão dessas? No meu caso, era humanamente impossível. O "não" saiu antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa. Mas, diante do olhar tristonho do Murilo, eu ganhei forças para tentar balbuciar outras palavras:

- Calma, espera. Não é um "não". Quer dizer, não é um "não" pra sempre. É um "não" mais ou menos. Um "não" do tipo "preciso pensar", sabe?
- Bem que o Ivo me disse que você era meio maluquinha...
- O que?
- Maluquinha. Você é um pouco maluca, mas eu gosto de meninas malucas. Maluca no bom sentido, não maluca de lelé.

Nunca entendi o porquê, mas desde que eu me entendo por gente sinto que as pessoas se sentem atraídas por pessoas que possuem um leve grau de desequilíbrio. Na dúvida, deixei que ele acreditasse no queria. Era melhor do que deixá-lo ciente de que minha forma confusa de expressão, não passava de insegurança. Sorri um sorriso de reprovação e deixei que ele falasse por mim já que dos meus lábios quaisquer sons saíam picotados.

- Você quer um tempo?
- Anh?
- Um tempo pra pensar, quer?
- Que-ro! Quero sim...
- Quantos dias?

Pode parecer ridículo, mas o tempo para dar a resposta a um pedido de namoro determinava se a garota era fácil ou não. Uma bobagem que, só de lembrar, me faz querer morrer de catapora preta.

* Dizer "sim" na hora: galinha
* No dia seguinte: garota fácil
* De dois a três dias: mulher pra casar e ter filhos
* Até cinco dias: menina difícil.
Mais do que isto, achei eu, deveriam ser dias suficientes para fazê-lo partir pra outra...

- Uma semana!
- Uma semana? Por que tanto tempo?
- Porque sim!

Olhou-me fixamente, suspirou e ...

- Ok, uma semana.

Nevou dentro de mim naquele instante. Eu tinha sete dias pra pensar no que fazer. Sete dias pra aprender a beijar na boca... Mas, antes que ele percebesse a minha aflição, encerramos o assunto e voltamos a brincar de polícia e ladrão.

----------> Continua

pré-ósculo do AMARULA COM SUCRILHOS

Era tão feio que quando nasceu, o médico bateu em sua mãe.

curta Alea Jacta Est

17.6.03

Há coisas inaceitáveis que tentamos corrigir apelando para todos os recursos possíveis, chegando a exageros de radicalismo reativo histérico.

Um vizinho que ouve ópera aos berros, por exemplo. Um cocozinho preso nos cabelinhos do cu. Um cocozão que fica entalado na porta. Uma criança protodelinqüente correndo e gritando desembestada entre as mesas do restaurante que você julgava ser um oásis de sossego, enquanto os pais, modernérrimos, não dão a mínima. Aquele maldito banheiro público que não tem trinco e a porta fica a uma distância enorme da privada, obrigando-nos a contorcionismos ridículos para tentar manter a porta fechada e evitar que alguma bêbada cistítica tenha um vislumbre de sua perseguida em pleno ato mijatório, e você de cócoras sobre a latrina, como convém. Aquele velho enfisematoso que se aboleta na janela do seu carro sempre que você tenta sair do estacionamento para tentar te vender uma pasta limpa-tudo. Uma meleca grudada na narina que não permite que respiremos sem fazer "fíííííííííííínnn" a cada expiração. A velha no caixa do supermercado contando centavo por centavo para pagar a conta "certinha". O gordo que acha que todo mundo gosta de cheiro de charuto (já repararam que fumante de charuto é tudo gordo?). A vizinha que sempre comenta, "A noite foi boa ontem, hein?" A mãe que telefona a cada aniversário de cada fulano da família para lembrar você de também telefonar para o fulano e dar os parabéns. O bar que nunca tem gelo. Aquela chefe no trabalho que faz questão de dizer "Amanhã é meu aniversário! Adoro meu aniversário!", só pra te deixar constrangido e tentar te obrigar a comprar presente (nunca comprei. Deve ser por isso que sempre sou demitida). A fila do banco que não anda porque tem um office-boy no caixa com um container de documentos para pagar. Gente burra desinibida que vomita 74 clichês por segundo e se julga interessantíssima (estas costumam aparecer em fila de banco, e são ubíquas na televisão). O Ruindows que sempre dá pau. Aquele post ENORME que você escreveu com tanto cuidado e desaparece quando você vai publicar porque a conexão caiu e você não reparou (quem manda ser imbecil e não usar um processador de textos?). Uma preguiça tão grande de escrever que você acaba lançando mão do que recebe por mail.

Mas há outras com que temos de nos conformar, dado o enorme número e o peso com que aparecem, coisas contra as quais não temos forças para lutar, e a elas sucumbimos qual iraquianos em dia de invasão ianque.

...

processado por All about Eve

a noite poderia ter sido melhor. ou pior. depois de chegar a ganhar cinco partidas seguidas, deixando costela zerado, comecei a perder e, a dois pontos de fechar a noite, só fiz patetices. e além de jogar como um idiota, meus adiversário ainda começaram a jogar bem, ter sorte e, o fabio inverídico, fazer jogadas do arco da velha, matando uma sequencia incrivel de bolas seis, sete e sete. que puxa!

Mas novamente temos um novo velho líder. Destaque para a acirrada disputa pelo quarto lugar.

Após a 11ª rodada, ficamos assim:

Nasi: 66
Costela: 65
Vini: 51
Scott: 29
Villas: 29
Fabio Inverídico: 22
Nani: 4

frases da noite:
"caralho!" , "merda!", "puta merda!", "buceta!", "o porra!", "mãe do caralho!", "merda de quatro!", "aí é foda!", "se fuder, porra!", "ai meu caralho!", de todos. menos do scot, que é mais limpinho.

diálogo da noite:
"foi mal, costela. hoje so vim aqui pra te fuder", fabio, parceiro de costela, se descupando pela má fase.
"e, até agora, tá conseguindo", costela, compreensivo.

No Veríssimos

entre partidas e chegadas, somente ela permanecera ali.
conhecia de cor todos os detalhes da casa, em cada canto uma lembrança.
abriu a janela, deixando que o sol entrasse sorrateiro, esquentando o frio que existia dentro dela.
andou pelos cômodos, o silêncio como companheiro. por um momento, pôde rever detalhes da infância feliz que lá tivera.
lembrava-se das brincadeiras no jardim, da casa cheia, risos pelo ar, cheiro de bolo de canela (ah, adorava esse em especial); recordações que lhe apertavam o peito, e faziam seus olhos marejarem.
mas não era tristeza o que sentia, era uma saudade boa, daquelas que tocam na alma.
andou mais um pouco, e deu com seu antigo jardim, quanto tempo não o via.
sentou-se no degrau da escada, e ficou admirando o que hoje era somente capim crescido. lembrou-se imediatamente da beleza que ali existia: sua plantação de girassóis, que cultivava com carinho e dedicação, como se cada um deles representasse para ela uma vida, um de seus filhos imaginários.
aos poucos, foi retornando à realidade, voltando para seu mundo. levantou-se e fez menção de retornar à casa, quando avistou um pequeno girassol, indefeso, solitário. quase sucumbindo ao sol escaldante e à falta de cuidados.
com o coração disparado, correu para pegar um vaso e, com paciência e maestria, retirou-o do solo e o colocou cuidadosamente no vasinho cor de laranja.
trancou tudo, virou-se e olhou a casa pela última vez.
com seu vaso nas mãos, e o coração em paz, caminhou em direção ao horizonte. não estava mais só. seria agora mais uma na caminhada.
entre partidas e chegadas...

vá junto e Understand me

Clarice Lispector costumava escrever contos em que os personagens experimentavam epifanias. "Epifania" é uma descoberta interior, é o momento em que se põe a vida em frente a um espelho e se observa algo que não se havia observado antes.

Odeio epifanias, nem sempre elas mostram o que queremos (ou o que não queríamos) ver. Ontem, em companhia de algumas criaturas do cursinho, paramos em frente a uma loja de bijouterias e observamos os brincos. Elas escolhiam qual seria o mais bonito e eu constatava que eram todos grandes demais e cafonas demais. Enquanto elas estavam no "bibibi", sofri uma epifania.

Comecei a me lembrar de que,certa vez, li que existiam três tipos de solidões :
- a primeira, acontece quando se é só no mundo porque todos os parentes e conhecidos já morreram (e ,geralmente,quem sofre dessa solidão vai jájá morrer também).
- a segunda, é a solidão por opção, como quando sentimos necessidade de nos isolarmos para refletir sobre algo(ou simplesmente não refletir sobre nada).
- a terceira.. A terceira ocorre quando nos sentimos sós mesmo estando cercados por pessoas que estão conversando entre si( e, às vezes, estão conversando conosco!), e a única coisa que ecoa na cabeça é a nossa própria voz, repetindo(gritando)seguidas vezes " EU QUERO SAIR DAQUI".

Não deu tempo de gritar. Alguém me cutucou e, como sempre, fui a palhaça que faz todos darem risada enquanto a única que sente vontade de chorar nessa festa sou eu.

pífias epifanias do BooBlog

16.6.03

DIVINO AMOR

No primeiro dia depois que ela me deixou
rasguei sua foto, guardei sua carta,
escondi seu presente, quebrei seu copo.

No segundo dia depois que ela me deixou
voltei a fumar, joguei no lixo o livro dela,
pela janela sua escova de dentes.

No terceiro dia depois que ela me deixou
coloquei veneno no peitoral da janela,
esperei pela agonia do pombo,
morreu uma rolinha.

No quarto dia depois que ela me deixou,
picotei com a tesoura o lençol de seda,
queimei a fronha, virei o colchão pelo avesso,
entupi o vaso com a sua calcinha.

No quinto dia depois que ela me deixou
chamei o bombeiro com desentupidor,
resgatei a calcinha, a lavei na pia,
chamei o SEDEX, exigi comprovante da entrega,
meu amor pelo correio,

No sexto dia depois que ela me deixou
disquei o numero dela dez vezes,
desliguei umas tantas vezes,
na décima primeira vez, voz de homem,
quebrei o telefone.

No sétimo dia depois que ela me deixou
sequei as lágrimas, ajeitei o cabelo,
pintei as unhas, enfiei o biquíni
e fui à praia.

inspiração do Yehuda

Pois bem eu sou a estonteante Criss, tonta demais pra escrever algo decente,
mas me apresento: sou paulistana e atualmente vivo em Verona, a cidade de Romeu e Julieta.
Meu blog é esse aqui e espero contribuir para o crescimento do Copy & Paste :)

Respeitável público,

Adentrarão ao picadeiro em instantes os novos co-editores no Copy & Paste.

Agora, além do espantoso Ratapulgo,
da brilhante Ticcia
e da fulgurante Anita

teremos a companhia

da espetacular KK Boop,
da estonteante Criss
e do incrível Henrique.
Todos desfilarão por decâmetros de seda rasgada.

Favor alimentar o ego dos co-editores de vez em quando.
Mas não se aproximem muito das grades.
O uso de flashes é proibido.
Obrigado.

atenciosamente,
o editor dessa birosca.

Objeto mais desejado pelas brasileiras daqui...

(ralo)

Um dia vesti um short
desenrolei a mangueira
abri a agua
e so depois de inundar a casa
descobri que nao tinha ralo.

Inundado por Farofa na neve

Burocrácia

- Boa tarde, é aqui que é pra conseguir licença poética?
- Não, licença poética é ali com o Fonseca. Ali, no terceiro guichê.

(no terceiro guichê)

- Boa tarde, eu vim aqui pra pegar a licença poética. Aqui os documentos.
- Qual é o caso?
- É um caso de redundância, pra um pagode que eu fiz.
- (lendo) "Dor que dói"? Infelizmente não posso conceder.
- Como assim?
- Casos de redundância aguda são proibidos, não posso fazer nada.
- Peraí, mas essa aí nem é original! O Renato Russo já usou!
- Olha, nessa época eu ainda não estava aqui, mas creio que uma portaria de 1993 proibiu redundância aguda.
- Isso é porque eu sou preto e pagodeiro! O Chico Buarque vocês deixaram até rimar "sol" com "rock´n´RÓLL!"
- Ah, mas o Chico pode tu-do!

Nem só à alma feminina fala o Chico Buarque.


mau humor

Que merda, que merda, que bosta! Foi horrível, horrível, tenebroso! Cada vez que me lembro tenho vontade de enfiar a cabeça dentro de um buraco. Porque há muito tempo não tenho 16, 17 anos, e agora eu agi como se tivesse. Se for parar pra pensar, eu era muito mais responsável nessa época. Eu não queria que isso acontecesse, eu sabia que ia acontecer, eu poderia ter EVITADO, e não adianta culpar a cachaça, nem eu mesma, nem aquele mala do meu namorado, porque ninguém sozinho tem culpa. Mesmo que aquele tosco venha querer jogar toda a responsabilidade nas minhas costas. Na verdade nós dois temos culpa. Eu tenho culpa, sei disso, mas ela não é só minha. Ele tem tanta culpa quanto eu. Eu tenho culpa por não querer ter sido apresentada à "família" antes. Ele tem culpa por ter tido essa "idéia espetacular" da gente ficar invadindo a casa dele de madrugada. Mas eu tenho meus motivos, eu tenho os meus porquês de tudo isso, sem contar que eu sou uma anti-social aperfeiçoada, não gosto mesmo de conhecer sogra, acho isso péssimo, horrível, uma desgraça. Ainda mais com pouco tempo de namoro. Eu acho horrível começar a namorar e imediatamente ser apresentada para a família inteira. As coisas tem que acontecer aos poucos, como foi entre ele e os meus pais.

Senão, traumatiza.
E eu já sou gata escaldada nessas histórinhas de conhecer sogra.

Por quê? Por que eu sou do jeito que sou, e não fui feita pra ser avaliada por mãe de namorado. Parece que quando vou conhecer mãe de namorado é que nem participar de um concurso de miss, onde ficam medindo teus peitos, tua bunda, tuas carnes, e fazendo uma série de perguntas I-D-I-O-T-A-S, e por aquela meia dúzia de perguntas toscas, avaliam toda a tua bagagem de vida, teu interior, tua história, teus valores. Dá aquela sensação de estar num concurso de miss, e não ter corpo para ser miss. Falta tudo, falta bunda, peito, carne. E aí, eu me recuso a responder perguntas I-D-I-O-T-A-S feitas por mãe de namorado.

Porque mãe quer que o filho namore uma menina que além de ser uma princesa sem um fio de cabelo fora do lugar, sem vícios, seja inteligente, bem vestida, escolada e tudo o mais. E eu me recuso a enquadrar em padrões estéticos cretinos. Eu me recuso a conhecer mães de namorados, porque já conheci ZILHÕES delas, e elas são todas iguais. Querem sorrisos plastificados que eu sou impossibilitada de dar. Eu me recuso a falar mal do Ratinho, eu me recuso a dizer que tenho pena de iraquiano, eu me recuso a dizer que me emocionei com a história da menina de 5 anos, que limpa toda a casa, porque a mãe é problemática. Eu me recuso a dizer que torço pro coxa. Eu me recuso dizer o porque que até hoje eu não terminei o segundo grau. Eu me recuso a dizer porque não tenho irmãos. Eu me recuso a contar a história da minha vida pra uma pessoa por obrigação. Eu me recuso a tudo isso.

Sou cabeça dura sim. Mas não sou a única culpada de, às 7:49 da manhã, bêbada ainda, impossibilitada de responder qualquer pergunta, com os olhos borrados de delineador, com o cabelo desse tamanho, com gosto de cabo de guarda chuva na boca, ter dado de cara com a mãe do meu namorado na cozinha da casa dele.

Mas ele insistiu demais nessa história, quem iria imaginar que a gente fosse capotar de sono? Sei lá, se eu tivesse meus 18 anos, naquela época eu era intocável, o mundo era meu, e o resto das pessoas que se fodesse, eu não devia satisfação pra ninguém, eu era a poderosamegalossaura de 18 anos. Mas agora eu já sou uma senhora, e sei que isso é foda. Eu me preocupo mais com as consequências dos meus atos inconsequentes. É, eu estou perdendo a graça. Com 18 anos, eu daria risadas de toda essa história. Mas agora, eu me sinto péssima com a impressão que causei. Que grande merda! Horrível, não tenho outra palavra. Parece até um pesadelo, que qualquer hora dessas ou eu acordo, ou eu me mijo. Desgraça!

Sei lá, de repente a mãe dele pode ser a pessoa mais gente boa da face da Terra, mas quem, me diz quem, quer dar de cara com o filho acompanhado, no café da manhã, sem ter conhecimento disso?

Aí ele me diz: "Esquece, agora já foi, o que interessa é a gente e que se foda o retso do mundo". Muito pelo contrário baby, nós não temos mais idade pra pensar desse jeito. Não nós com quase 23 anos na cara. Nós dois somos culpados. Ele por me propôr uma cagada, e eu por topar a cagada. Cara, de fé, eu pensava que esse tipo de coisa só acontecia na Malhação, e não comigo.


Cata Vento & Montanha Russa

Vá atrás do seu sonho.
E quando voltar me traga uma cerveja.

-- Tomás Creus

Prosa Caotica

15.6.03

Até 10 de agosto

As costas doem. A vida de grávida cansa. Carandiru é uma bosta.

Achei que seria diferente, que escreveria um diário grávido, que de fato comecei, mas nunca passei do primeiro dia. Achei que leria todos os livros que faltavam, que mudaria para uma casa ensolarada com todas as minhas coisas em ordem e um certo lugar para o Beanie, os gatos disputando espaços com ele e com o sol. A música nas caixas, os discos nos lugares, os livros todos juntos. Achei que ficaria calminha em casa, lendo e escrevendo.

A casa é uma maçaroca das minhas coisas com as do Marcelo e as do Beanie, não tenho mais disposição de ficar limpando nada, como tinha com as outras casas. Esta não era para ser minha casa, mas acabou virando. Então tem um ar temporário, e é muito pequena, e não cabem todas as coisas, e o fogão ainda não foi ligado, vivemos de um forninho e um esquentador de acampamento. Já faz 7 meses que estamos aqui e nada acontece. Minha inspiração foi sugada pelo útero, minhas noites já não são as mesmas. Às vezes as vozes da insanidade me visitam, e às vezes não consigo mandá-las embora, então eu fico louca. Mas passa. Já disse que escolhi chocar. E essa vai ser minha maior criação.
O Beanie se mexe muito. Não engordei quase nada, tenho novas estrias que coçam. Todo mundo tem um conselho inútil para dar, todo mundo fala que agora é que vai piorar, mas nunca piora e falta só dois meses. Meus pés não incharam, não fiquei com papada, só tive uma variz, que nem existe no singular. Não vomitei em ninguém, tive alguns poucos desejos e fiquei viciada em suco de tomate. Saí normalmente, bebi um pouco, fumei um pouco e meu filho continua lindo e perfeito. Essas mães que param de respirar porque engravidaram e vivem de fazer enxoval, elas me dão pena, porque em algum momento, jogarão toda a frustração em cima dos filhos, que nada têm a ver com isso e terão que freqüentar psicólogos por causa das mães loucas. Pessoas que param de viver só para serem mães não são normais. Gravidez não é doença. Não significa perder a vida e a juventude. Só se você quiser, e eu não quero.

Finalmente entendi que minha vida não vai voltar a ser o que era. Mesmo antes do Beanie, eu ficava querendo que a vida fosse como quando morava com um amigo na Vila Madalena, depois como quando morava sozinha na Vila Mariana, ou quando bebia quatro dias a fio sem dormir, só escrevendo, ou quando passava noites fora de casa, de férias. O presente nunca me satisfazia. É tão fácil romantizar o passado, as coisas ruins ficam tão pequenas que quase não dá para lembrar. E eu vivia querendo voltar. Agora eu quero agora, a barriga mexendo, cada dia maior, cada dia que nunca mais vai voltar e que eu vou lembrar com gosto, os dias em que o Beanie foi Beanie e morava em mim.

Achei que seria diferente. Não costumo fazer planos, aliás, continuo não fazendo. O Beanie vai nascer em algum dia de agosto e ainda não temos nome e nem berço e nem espaço. Mas achei que seria diferente. Assim não é perfeito, mas do outro jeito eu moraria sozinha. Por um lado, seria ótimo. Por outro, uma bela merda. Não é hora de solidão. Agora eu quero dividir tudo, porque o Beanie é só metade meu. E apesar da falta de espaço, da falta de grana, da falta de roupas que me caibam, era exatamente assim que tinha que ser. Inclusive a parte do semi-abandono do brazileira!preta. Estou mudando meus métodos, porque minha vida também mudou. Nada que fica igual muito tempo é bom. E não adianta bater o pé por causa das mudanças. Quando elas têm que acontecer, nem pílula impede. Então agora é assim. Tenho outras coisas a fazer, uma vida que nunca vivi. A anterior está aí, para todo mundo ver, para quem quiser escavar meus arquivos, para quem quiser ler meu passado. O futuro está lá na frente, e o presente é silencioso. Pelo menos agora. A vida é uma puta louca e imprevisível, nunca dá pra saber o que vai acontecer amanhã quando você abrir os olhos. Por isso que vale. Senão seria uma vida de merda.

before you accuse me take a look at yourself, brazileira preta