31.8.03

O Edifício

corta ou não corta o mal pela raiz?

Estou de saco cheio da edificação verticalizada que resido. Não é meu apartamento, é alugado, é frio, não bate sol, as paredes são de papelão, a vizinha abaixo é uma mal-comida solitária que dorme ás 21:00 e reclama se o gato afia as unhas no pé da minha mesa de jantar, reclama porque caiu um objeto no chão, reclama se alguém respira, se alguém peida, se alguém vê o Jô Soares, se alguém ri, se beija, nem que que seja um beijo no rosto da minha tia.
O prédio é mal planejado, o condomínio é caro e têm pouco segurança. fica numa região " nobre" da cidade onde 456 motos Harley Davidson passam á partir das 3 da madrugada sem escapamentos ao que parece, jovens fornicam no solé da portaria, têm um porteiro evangélico que me acha o demônio e culpa tudo de horrível que acontece no prédio á minha pessoa. Têm uma velha chata na porta da frente que sempre acha que roubamos a bolsa dela, 2 poodles gigantes no apartamento da síndica que devem sofrer o diabo naquele cubículo de 40 metros quadrados (se fossem poodles toy, sofreriam menos). Enfim, quem souber de um apê para alugar sem carpete, com solzinho, tô me indo.

Karen Carpenter

30.8.03

Engraçado como as horas, principalmente as menores, têm um peso tão grande sobre mim.

São 5 da manhã e faz tempo que não me sentia tão sozinho.

Tenho lembrado de tantas pessoas, e o horário me ajuda a me indagar se o inverso tem acontecido.

Estou com pesos que não entendo a origem. Tenho andado cansado demais e com mais vontade de pedir férias do que de arranjar um emprego melhor.
Meu cansaço acaba me tirando a motivação para outras coisas que gosto. Faz tempo que nem pinto, nem leio. O único antídoto tem sido a música.
A própria vontade de sair cessou. Eu dormir cedo da noite não é costume antigo.

Mandei um e-mail agora a pouco para uma amiga de quem gosto muito, com um título que só ela vai entender.

Deixei minha linda me esperando para sair e peguei no sono. Acordei às 3:30 com um arrependimento tão grande que está doendo até agora. Deus do céu, me dê forças ou uma cara nova. Esta velha está bem gasta.

São 5 e 20 e vou ver o sol nascer com um sentimento de melancolia e saudade. A última vez que eu parei para assistir o sol nascer (das outras, nasceu sem mim como platéia) tem dois anos exatos. E eu chorei, também por saudade.

Silenzio, No Hay banda.

Agora que somos uma família (contando, é claro, os gatos), resolvemos, um pouco tarde, procurar uma casa maior do que nosso apartamento-de-um-quarto-de-frente-para-a-feira-numa-rua-barulhenta, perto do centro da cidade. Rodamos como loucos enquanto eu ainda estava grávida, vimos milhares de casas, todas com algum defeito. Balançávamos a cabeça, desolados, e continuávamos a busca pela Casinha Perfeita. Finalmente encontramos, e ela era branca, e ela era em uma rua silenciosa, e ela era linda, e soubemos, mesmo antes de entrar, que era ali.
Marcelo juntou documentos, convenceu o fiador, enfrentou bravamente a burocracia do mal e foi fazer uma reunião com o advogado responsável pelo imóvel. Ressaltando que não somos o que se pode chamar de pessoas arrumadinhas, sabe, nós somos roqueiros e nos parecemos com pessoas que gostam de rock. Nada de piercings pendurados na cara ou moicanos, nada de exageros. Só que eu não uso terninhos, a não ser que esteja me sentido mod, e o Marcelo não é um penteadinho fedendo a loção de barba, diferente do Senhor Advogado que o atendeu. Ele sim, fedia a loção de barba e usava um vidro inteiro de gumex no cabelo. E eu que achava que ninguém mais usava gumex. Se fosse só no cabelo, tudo bem, mas aparentemente o gumex vazou para o cérebro do tal indivíduo. Vamos chamá-lo de O Cuzão, por razões óbvias. O Cuzão olhou para a jaqueta de couro do Marcelo, para o bigode do Marcelo, para o All Star do Marcelo, como se ele estivesse vestindo um macacão sujo da prefeitura, aqueles que os lixeiros usam. Ele usava um terno bem alinhado, sapatos impecavelmente engraxados, a pele cuidadosamente raspada com Gillette Mach 3 e aquele cabelo absurdo lambido e grudado na cabeça, com a marquinha do pente e uns cachinhos que sobravam na nuca, também duros de gumex.
Depois de apresentar o contrato, o Cuzão olhou de novo com aquele nojinho e aquele ar de superioridade que só os legítimos Bundões conseguem ter e perguntou:
- Você toca alguma coisa?
Marcelo, todo feliz, respondeu que sim, guitarra e violão. Talvez O Cuzão não fosse tão Cuzão, afinal de contas. Mas era, e respirou, contrariado.
- Vocês não vão ficar tocando guitarra em casa, né? Porque o inquilino anterior trouxe muitos problemas. Eles tocavam rock o dia inteiro, faziam festas, levavam pessoas, ficavam cheirando cocaína até de manhã. Os vizinhos reclamavam muito. Vocês não vão fazer essas coisas, não é mesmo?
Marcelo, rangendo os dentes, respondeu que se ele tocasse um acorde alto, acordaria a Catarina. O Cuzão ignorou, como se o fato de ter uma criança recém-nascida em casa não impedisse que nós, os roqueiros sujos, mal-vestidos e pervertidos, ficássemos tocando rock muito alto e usando drogas e fazendo orgias e incomodando os vizinhos. Aliás, eu tenho uma dúvida. Como eles sabiam que as pessoas cheiravam cocaína até de manhã? Tinha um buraco na parede? Uma câmera? Os vizinhos tinham um binóculo? Ou será que os inquilinos anteriores simplesmente tinham cara de quem fazia essas coisas? Eu acho que sim.
De qualquer forma, o Cuzão entregou o contrato e Marcelo disse que levaria para casa, para analisar, e traria de volta com uma proposta de melhoria na casa, que apesar de ser perfeita, não tem banheiro no andar de cima. Foi mencionar “reforma” que O Cuzão literalmente arrancou o contrato de volta.
- Não senhor. Nada de reforma. Ou assina o contrato como está e entrega na segunda-feira, ou se manda. Vai, vai embora. Não quero mais alugar essa casa para você. Volta aqui com o seu pai. Tem um monte de gente querendo esse imóvel. Se manda.
Isso tudo enquanto espanava a mãozinha manicurada no ar, como quem espanta uma mosca. Cuzão. Marcelo, urrando por dentro, apaziguou O Cuzão e seu ataque de bundice e recuperou a papelada, com vontade de rasgar tudo, queimar e entregar junto com uma fralda suja da nossa filha na porta do escritório d’O Cuzão.
No fim, tudo deu certo, a casa é nossa e teremos que apresentar uma proposta formal à proprietária sobre o tão temido banheiro. Se pudéssemos, também avisaríamos a pobre senhora de que o advogado que ela escolheu para administrar seu imóvel ficará para sempre imortalizado em nossos corações como O Cuzão. Meu objetivo aqui é eternizar O Cuzão, seu cabelo penteadinho com gumex e seu preconceito babaca contra qualquer pessoa que seja diferente dele e sua vida de advogado engomado. Talvez um dia, daqui a muitos anos, quando ele for velho e não sobrarem mais cabelos para pentear nem clientes nem dentes, ele abra um livro, encontre esse texto e se arrependa amargamente. Tomara. Não vai acontecer, mas tomara.

Apêndice

A casinha estava longe de ser perfeita. Quando os especialistas (leia-se encanadores e eletricistas) foram fazer a vistoria, descobriram que estava tudo podre por dentro. Tudo. A água estava cortada da rua. O relógio de luz havia sido roubado. A Eletropaulo acusava uma dívida de 700 reais. O encanamento estava completamente destruído. Tudo podre. Tudo errado. O Cuzão nos engambelou. Marcelo fez um super relatório, com fotos, com tudo, pedindo rescisão de contrato. Eles tiveram que aceitar. Claro que não foi fácil assim, mas isso fica para a semana que vem, só para obrigar vocês leitores a comprarem o jornal. Sexta-feira, hein. Tribuna da Imprensa. Não esqueçam. Estou falando com vocês, leitores do blog. O jornal é baratinho. Não tenho decência nenhuma, estou mendigando. Leite da Catarina, não esqueçam. Leite e fraldas. Tô pedindo, não tô roubando.

Histórias da vida da brazileirapreta


29.8.03

VOCÁBULOS QUE NÃO SÃO PALAVRÕES, MAS BEM PODERIAM SER

Pleura - É apenas uma membrana que envolve o pulmão, tudo bem, mas para mim há algo de obsceno na sonoridade da palavra... Talvez pela forma explosiva como o ar sai de nossa boca, no momento de pronunciá-la: PLEUra. É como se a cuspíssemos na cara do interlocutor... Sempre a associo a expressões como "vai tomar na pleura", ou "pleura que pariu".

Catraca - Esse mecanismo giratório pode oferecer alguma resistência inicial, mas acaba permitindo nossa penetração; a maioria aceita que atravessemos em um único sentido; algumas condescendem acesso pelos dois lados... Mas, além de remeter a uma simbologia sexual óbvia, a palavra em si tem uma força quase ofensiva, que me parece perfeita para palavrões que funcionam como advérbios de intensidade... Algo como "é longe pra catraca".

Genuflexório - É um estrado de madeira onde os fiéis ajoelham-se para orar, porém remete-me a imagens bem menos sacras... É irônico, mas a palavra sempre me faz pensar em flexão da vagina... Posso até visualizar num folheto de educação sexual: "movimentos genuflexórios", com ilustração ao lado. Eu sei, não é GINOflexório, mas é parecido. O único inconveniente é que não atende a um pré-requisito básico dos palavrões: serem curtos, para que possamos gritá-los sem muito esforço intelectual. Talvez possamos usá-la, entretanto, para substituir palavrões compostos, como puta que pariu, por exemplo. Vejamos: pu-ta-que-pa-riu. Ge-nu-fle-xó-rio. Ambas tem cinco sílabas...

O quê? Não gostou? Então vai tomar na pleura!

Coisas sobre as quais uma dama não comenta

Biografias Praianas V
MARCO AURÉLIO, DO JESUS ME CHICOTEIA!

Que ninguém se engane: Marco Aurélio é na verdade o pseudônimo do famoso Judeu Errante: foi ele quem escreveu a Bíblia - e conta hoje com 5763 anos de idade! Só que, justamente por ser Errante, foi acusado pelos Doutores da Igreja de ter errado demais nas transcrições dos fatos bíblicos, tendo assim sua versão integralmente rejeitada.
Mas a Praia, depois de exaustivas pesquisas (e de molhar a mão dum picareta sírio que contrabandeia antigüidades na Cidade Velha de Jerusalém), descobriu as verdadeiras, as originais, as definitivas Escrituras segundo Marco Aurélio - cuja biografia se confunde com a história bíblica, que ele presenciou ao vivo e em cores! Aliás, a biografia confunde é todo mundo, pois vai ter hebraico misturado com aramaico assim lá na Palestina.
Desta forma, desde o Antigo Testamento vemos a presença instigante de Marco Aurélio. No jardim do Éden, foi ele quem subiu na macieira e mostrou sua descomunal serpente pra Eva. A donzela, vendo aquele fruto estranho, provou e o mostrou pra Adão, que também quis uma bicada - ao que Marco Aurélio, pulando fora, gritou: "Ei, eu sou espada!" Dessa confusão nasceu a história de que o casal foi expulso do paraíso por um anjo com uma espada flamejante. Tem a ver.
Mais tarde, Marco Aurélio chegou-se a Abraão e abriu: "Cumpadi, essa cidade de Ur não tem futuro. No máximo vai virar verbete de palavra cruzada. Por que tu não tenta a vida vendendo camelo lá em Canaã?" Daí surgiram os hebreus, nome que em sumério significa "Aqueles que não queriam acabar como verbete de palavras cruzadas".
Muito mais tarde, mas ainda no Gênesis, Marco Aurélio intermediou a venda de José ao Egito, passando a perna nos irmãos deste, ao ficar com as luvas e 10% do valor do passe.
Já no Egito, em pleno Êxodo, foi Marco Aurélio quem convenceu Moisés a voltar pra Canaã, falsificando os passaportes dos hebreus por intermédio de um famoso atravessador conhecido por Omar, o Vermelho. Só que houve um erro de tradução e Moisés é que ficou conhecido como o "Atravessador do Mar Vermelho". Confusão lingüística, óbvio.
As peripécias de Marco Aurélio não pararam aí: como cafetão, lucrou horrores, apresentando Dalila a Sansão (o famoso "Queixadinha" - ou vocês acham que o Schwarzenegger foi o único queixo de bidê que matou milhares de inimigos numa tacada só?), Betsabá a Davi (cujo boquete fez o rei ver estrelas - vindo daí a expressão "Estrela de Davi") e a Rainha de Sabá a Salomão. Aliás, a tal rainha era tão foderosa que quando voltou a Sabá o soberano viu-se reduzido a Salominho.
Já no Novo Testamento, Marco Aurélio comentou com JC, quando este carregava o pesado madeiro rumo ao Gólgota: "Te pegaram pra Cristo, hem, cumpadi?" JC então parou e rogou a praga: "Andarás ininterruptamente pela Terra até eu voltar." Marco Aurélio, interessado, quis saber se a maldição incluía um programa de milhagem e traslado, mas JC encerrou o assunto: "E pela tua insolência, como castigo suplementar suportarás no futuro chicotadas minhas, em um blog". E, abrindo um risinho, antes de ser levado pelos soldados romanos: "Um blog no Brasil, sacaste?".
Aí já não era castigo. Era suplício mesmo.

perambulando na praia do Nelson

O Mal

Não digo que a culpa tenha sido daqueles tênis laranjas fosforescentes. Certamente eles foram importantes. Deram o ponta-pé inicial. O tiro que anuncia a largada na corrida. Mas não criaram os corredores, não inventaram a corrida. Os corredores estavam lá. Deus sabe há quanto tempo eles estavam lá, curvados, à espera dos tênis laranjas fosforescentes. Ou de qualquer outra coisa que apitasse, que explodisse, que gritasse: vai!

*

Eu havia ganho aqueles tênis.

É claro que eu havia ganho.

Deus, como eram horríveis. Horríveis, mas confortáveis – the american way.

Eu acabara se sonhar que corria pelado atrás de mulheres maravilhosas. Não totalmente pelado. Calçava tênis de corrida. Laranjas. Fosforescentes. As mulheres apontavam para a minha barriga e gargalhavam. Eu nunca conseguia alcançá-las.

Levantei da cama transtornado, fui pegar o jornal na porta e lá estava a caixa da Nike, com um bilhete da minha ex-mulher: Não é pra correr de mim, hein? Beijos, Andréia.

Apalpei minha barriga. Aquele não era um presente apenas de minha ex-mulher. Era evidente. Deus me dizia: faça cooper! Abandone essa vida sedentária, seu idiota. Cooper! Essa é a palavra: cooper!

Mas com esses tênis? Laranjas?

Sim, com esses tênis. Horríveis, mas confortáveis. Mas confortáveis, mas confortáveis, mas confortáveis...

*

Eu me sentia um homem verdadeiramente iluminado quando saí de casa calçado naqueles espetaculares faróis de milha. Cooper seria só o começo. Em breve, São Silvestre. Fichinha. Depois Nova York, Paris, Berlim. Os cadernos de esporte dariam a manchete: Desempregado Ocioso Corre Atrás da Vida – e a Ultrapassa. Olá, Pan-americano! Como vai, srta. Olimpíadas? Sabe, Jô, eu acho que correr é simples, basta colocar várias vezes um pé na frente do outro, só que rápido. Obrigado, obrigado. Desfile em caminhões de bombeiros. Autógrafos a ninfetinhas. Caviar a trinta e cinco mil pés de altitude. O Corredor Laranja Vence Mais Uma. Obrigado, obrigado.

Depois de correr três ou quatro minutos pelo Ibirapuera, fiquei ofegante e me perguntei: que diabos estou fazendo? Correndo de quem? Atrás do quê? Isso é simplesmente ridículo. Um homem dessa idade saltitando pela grama. Acendi um cigarro e lembrei do Renato. Renato morava ali perto e nunca recusava uma cerveja. Decidi lhe dar um alô. Para aliviar um pouco o sentimento de culpa pelo abandono precoce da minha carreira de corredor e pela manutenção de minha barriga (minha barriga é meu reino e eu pretendo expandi-la, disse Falstaff, meu ídolo), caminhei balançando os braços como um velho esportista, um connaisseur da circulação sanguínea.

Toquei a campainha. Renato abriu a porta. Seus olhos imediatamente miraram meus tênis.

Bang!

Era dada a largada.

*

- Não olhe agora, mas há algo laranja brilhante nos seus pés.

Antes mesmo de terminar o gracejo, um fio de sangue começou a escorrer do seu nariz.

(...)

a maratona continua em F D R

28.8.03

Um amigo meu, o Pierre, é um cidadão do mundo. Ele se sente bem em qualquer lugar do planeta. É dele a seguinte informação catada nos tempos em que morava em Estrasburgo: em Bruxelas, quando os termômetros apontam 33 graus, o prefeito decreta ponto facultativo. Ninguém é obrigado a ficar nas repartições. É bom, no entanto, se ressaltar que esta temperatura só é alcançada na Bélgica uma vez a cada 215456 anos.

Baseado nestes fatos, venho propor ao Governo brasileiro exatamente o contrário: toda vez que a temperatura não ultrapassar os 16ºC, ficaríamos em casa, embaixo de confortáveis cobertores, tomando um chocolate quente* e assistindo o Boomerang**. Isso nos deixaria mais perto dos civilizados europeus...

* Quem quiser pode substituir o chocolate pelo vinho.
** Quem preferir pode fazer um nheco-nheco totoso com a patroa.

Eu concordo com o >leite de pato

Ok, eu admito. Eu tenho um problema. Quer dizer, um não. Vários... Mas um particularmente importante (pelo menos nessa semana): Eu gosto de apertar botões. Ainda não sei o maldito motivo desta compulsão, talvez seja apenas pelo desejo incontido de ver as coisas funcionando e, afinal de contas, é para colocar as coisas pra funcionar que servem os botões. Então, toda vez que eu me deparo com um maldito botão, um lado irracional do meu minúsculo e imbecil cérebro toma conta de mim e, em milésimos de segundos, meu dedo em riste parte em velocidade ultra-sônica, tal como ferro em imã, em rota de colisão com qualquer botão que encontre pela frente. É desnecessário dizer que isto é o terror dos motoristas de ônibus e dos atendentes de hotel com aquelas maravilhosas campainhas. O pessoal do prédio também não fica feliz quando eu chego, bêbado, as três da manhã. Também é desnecessário dizer que essa compulsão por apertar botões é um dos motivos pelos quais eu nunca vou poder trabalhar numa sala de controle de uma usina nuclear. O outro motivo é que eu não tenho formação acadêmica em Física Nuclear, mas isso, em Angra I, ninguém tem mesmo...

De qualquer forma, o maldito estava lá. Vermelho, imponente, se exibindo como um pavão no cio pra mim. As primeiras 37 vezes que eu passei por lá eu resisti. Focava meu pensamento em qualquer coisa que eu pudesse e que não tivesse a mínima relação com botões vermelhos. Até que ele resolveu apelar. Primeiro atacou a minha masculinidade. Toda vez que eu passava por lá, ele disparava: “Tu não é homem de me apertar, sua bichinha”. E eu resistia... Depois apelou para a chantagem emocional: “Olha como eu sou vermelhinho... Me aperta, só um pouquinho, vai...”. E eu resisti. Não por muito tempo. Tive pesadelos horríveis, onde milhares de botões vermelhos, de todas as formas me atacavam. Quando o sonho começou a partir pra conotação sexual associada à forma fálica daquele botão em especial, eu não resisti. Acordei gritando, corpo coberto de suor, pupilas dilatadas e dedo ereto. Meu subconsciente sabia o que tinha que ser feito e fez. Em segundos estava tudo acabado. O maldito botão vermelho tinha sido finalmente apertado. E eu pude dormir em paz.

Dias depois veio a constatação final das conseqüências imediatas que um ato irresponsável deste pode causar. Uma pessoa histérica reclamando que estava tudo molhado no congelador. Que o queijo tinha derretido e grudado no freezer. Que as coisas tinham estragado e que ela tinha que limpar tudo. Ora! Maldição!!! Como eu poderia saber que um maldito botão vermelho com “descongelamento rápido” escrito em volta ia fazer tudo isso!

Obsessões do >7 regras básicas

Andando pelas ruas do bairro na hora do almoço, concluí que os crentes do Brooklin Novo são mais criativos que os outros: não se contentam com adesivos do tipo Deus é fiel ou Propriedade de Jesus. Ali mesmo na esquina com a Berrini sempre tem um carro estacionado cujo adesivo no vidro de trás é um primor:

DEUS É JÓIA
O resto é bijuteria

E ontem vi num Santana velho uma frase que quase vira Credo aqui do JMC:

DEUS NOS DEU A VIDA
Pra cada um cuidar da sua

Heresias do >jesus, me chicoteia!

Com essa história de estar nas últimas, decidi viver perigosamente. Extrair o máximo de risco de cada momento. Desafiar a morte. A partir de então, minha vida seria pura emoção.

Por exemplo, quando a escada rolante tinha uma plaquinha que avisava "não pise na linha amarela", eu às vezes ia lá e pisava um pouco. As pessoas ao meu redor ficavam chocadas.

Por fim, resolvi tentar minha maior ousadia: pedir uma picanha bem passada em um tradicional restaurante japonês. Mas antes que eu pudesse chamar o garçom, meu médico ligou dizendo que haviam acabado de descobrir a cura para a minha doença. Imediatamente, voltei a ver a vida sob a perspectiva de antes e valorizar cada segundo de tédio e monotonia que tivesse.

E deixo aqui o meu aviso: crianças, não tentem isso em casa.
Ousadias em uma > vida+ou-

Eu numa festa, falando com alguém que tinha sido me apresentado ali.

Eu: ...é, tem bastante bichos lá em casa.
Ele: Bicho em casa só tem os que eu não matei ainda.
Eu: Como?
Ele: Lá em casa só sobrou os bichos que ainda não consegui acertar tiro.
Eu [minha expressão se esvaziando de qualquer empatia]: Hã.
Ele: É, eu passo fogo em tudo que é bicho que aparece por lá.
Eu [já pensando numa maneira de ir embora]: Hã.
Ele: Tem uma marmota lá que já estou tentando pegar faz tempo, mas ela tem sexto-sentido. Outro dia escapou por um tantinho assim de levar chumbo, eu estava me virando com o revólver quando ela sumiu.
Eu: A gente tem marmota em casa, mas não se incomoda com elas. Nós deixamos ela lá.
Ele: Ah... mas eu me incomodo porque elas estragam a fundação da casa. [detalhe, a fundação das casas aqui é de quê mesmo? Certo, concreto]
Eu: ...
Ele: E onde eu moro tem muito mato, eu acabo com uma leva já chega uma leva nova de bichos.
Eu: ...
Ele: A marmota fez um túnel por baixo do meu shed... eu enchi de cimento mas ela atravessou enquanto estava molhado ainda. [detalhe, encheu de cimento com a marmota dentro]
Eu [vendo a cadeira vagar do outro lado da sala, ao lado da Lydia]: Deixa eu ir sentar ali do lado do ar-condicionado.

entre quatro estações

Havia um passaralho nos cabos telefônicos. Ele, impacientemente, esperava pelo começo da convenção programada para ocorrer no prédio em frente ao fio que ocupava. Batia o pé ansioso, e nada dos convidados começarem a chegar. As pancadas freqüentes de sua pata contra o cabo causavam uma ondulação na freqüência de onda da conversa entre duas fofoqueiras do bairro, que acabavam por entender errado tudo o que escutavam. Mas isso é tema pra outra história. O fato aqui é o passaralho aguardando o evento.

Havia uma faixa enorme sobre a porta do Centro de Convenções, onde lia-se REUNIÃO ANUAL DOS CUS. Sim. Cus. Era uma convenção de cus. E o passaralho, na verdade, não era um passaralho qualquer: era um autêntico Carolho, ave da área Setentrional da Nova Zelândia, onde essa história se desenrola. O Carolho tem uma forma um tanto peculiar, que lhe rendeu o nada simpático apelido de Caraidiasa. Como o termo Caraidiasa pode ser considerado de mau tom ao ser usado em ambientes mais pudicos, convencionou-se chamá-lo apenas CAROLHO.

Às 13:47, pontualmente, começaram a chegar os cus. Vários cus, de todos os tamanhos e formatos e cores e, por que não dizer?, cheiros. Cus com cabelo, cus sem cabelo, cus com pregas, cus sem pregas, cus novinhos, cus já muito gastos, cus bem limpinhos, cus nada higiênicos, cus profissionais, com muitos anos de estrada, cus que ainda estavam na entrada da vida. Era cu que não acabava mais. Reuniram-se todos no enorme saguão e começaram aquelas conversas de cu. Falavam de hemorróidas e novas técnicas de tratamento, de exames de próstatas e novos formatos de supositórios. Alguns argumentavam que proctologistas são apenas medicuzinhos, enquanto outros riam dessas piadinhas infames. Enquanto isso, do lado de fora do Centro de Convenções, toda a população estava absurdamente corajosa. Afinal, quem não tem cu não tem medo, oras.

Nosso camarada Carolho, atento aos acontecimentos, sacou seu walk-talkie e imediatamente comunicou o resto da tropa que a convenção havia começado. Outro Carolho, infiltrado no local do evento, cortou o ar condicionado, e aí o calor neozelandês, opressivo, começou a incomodar os cus. E os cus suavam. E cu suando, todo mundo sabe, não é das coisas mais agradáveis do planeta. E então tiveram a idéia de abrir as janelas.

Era a deixa que os Carolhos de tocaia estavam esperando. Imediatamnte, uma revoada de Caraisdeasas invadiu o saguão. E foi aquele deus nos acuda. Cus em abundância, correndo de um lado pro outro. E os Carolhos fazendo a festa, comendo cus indiscriminadamente, sem o auxílio de qualquer KY que fosse.

Um dos cus, muito sagaz, aproveitou pra saltar pela janela, enquanto nenhum Carolho mirava nele seu olhar cíclope. Saiu do recinto, subiu numa árvore, entrou num ninho, cobriu-se de penas e ficou ali. O que ele não esperava era que o Carolho Passaralho, aquele mesmo, que vigiava disfarçado a porta do local da estranha convenção, visse toda a sua operação. E o Passaralho, muito do velhaco, aproximou-se do ninho.

Fitou o cu com seriedade. E o pobre do cu, coitado, vendo a aproximação de inimigo tão rombudo, encolheu-se de tal modo que por ele não passaria sequer agulha com vaselina. O Carolho então disse, em sua voz tonitruante:
– Cê é cu.

E o cu, cada vez mais encolhido, prestes a sumir em si mesmo, afirmou, com uma vozinha fina de dar dó:
– Sou não. Sou passarinho.
– Passarinho, é?
– É. Passarinho.
O Carolho piscou de contentamento. E o cu piscou, em pânico.

O passaralho aproximou-se. Farejou. Balançou-se pros lados, em êxtase, ao perceber que aquele era um cu ainda jovem. E disse, cinicamente:
– Tô achando que cê é cu.

O cu, pobre coitado, aflito e carregando todo o medo que seu dono levava consigo, já prestes a irromper em prantos e implorar misericórdia, manteve a pose e afirmou, veemente:
– Sou nada! Sou passarinho!
– Passarinho?
– É.
– Que passarinho? Filhote de carolho é que não é.
– Sou sabiá.
– Onde já se viu sabiá roxo?
– É que eu nasci há pouco tempo.

O Carolho, de saco cheio daquela história, querendo logo papar aquele cu e ir participar do banquete no saguão, resolveu jogar sua cartada final.
– Cê é passarinho, então?
– É.
– Sabiá?
– É.
– Então pia.
– Brrrrfffttt.

utopia dilucular

27.8.03

Alguns nomes e sobrenomes nunca me saíram da cabeça. Fatos e pessoas muitas vezes se perderam, mas alguns nomes sobreviveram aos dias e ficaram talhados na minha memória.

Uma mensagem antiga deixada em uma lista de discussão, pedia que orassem por ele. Eu não soube. Não naquele dia. Soube ontem. Soube porque não durmo, porque passo muitas noites em claro, noites que me remetem a um silêncio tão alto que, para ignorá-lo, deixo minha mente repetir nomes e lembranças.
Pensei nele algumas vezes nos últimos dias - ontem, antes de ontem e na semana passada. Não por acaso, mas porque nunca deixei de pensar. Há mais de uma década não o via. Durante este período nos falamos pouquíssimas vezes. Soube que ele mudou de São Paulo, casou pela segunda vez, que a primeira mulher tinha o meu nome... Ele vivia reclamando da quantidade de "Alessandras" que surgiam no seu caminho.

Quase não entrei para a lista. Ele insistiu. Insistiu que beijos de praia podiam subir a serra, que podiam acabar em namoro, que não morávamos tão longe um do outro, que não éramos tão jovens e que não havia nada de errado em dizer "eu te amo" na manhã seguinte. Arrastou-me para uma festa que atravessou a noite, me apresentou a sua cidade, seus amigos e uma família que eu adorei desde a primeira impressão. Algumas pessoas a gente não conhece, mas sim reconhece e ele me fez acreditar que eu era uma delas. Quando acordei, já estava na lista.

Foi um namoro rápido... Tão explosivo quanto nós dois. Perdi as contas de quantas vezes me meti em encrencas durante os poucos meses que namoramos escondido dos meus pais. Quatro ou cinco meses inventando estórias, dando desculpas e matando aulas para que pudéssemos nos encontrar. Imaturos e inexperientes, fomos, um para o outro, um bom test-drive de relacionamentos amorosos.

Quando acabou tentamos não nos perder de vista, mas as namoradas seguintes não deixaram. Infelizmente, pessoas apaixonadas não lidam bem com amores passados. Foi uma pena...

Disseram que foi um câncer, um câncer raro aos trinta anos de idade. Ele não me contou - estava longe demais pra contar - e dizer o quê, depois de tantos anos? Dividir a dor? Pra quê? Ele não quis dividi-la, não nos poucos interurbanos que trocamos. Mesmo sentindo que havia algo errado, me limitei a aumentar a distância e achar que era o jeito triste dele de ser.

É a primeira vez que eu sinto um pouco da minha história se desfazendo. A primeira vez que alguém que me fez sorrir e chorar de paixão vai embora. E foi embora tão cedo que ando com medo. Medo da minha história (que é o alicerce onde eu tento me segurar) ser tão frágil quanto a minha memória, o tempo e a própria vida.

Depois de passar o dia com os olhos grudados na minha pequenez e na minha saudade, me sinto vivendo uma ilusão estúpida e sem sentido. E, mesmo sabendo tanto da vida quanto eu sei da morte, ainda me sinto com toda a arrogância daqueles que acham que sabem alguma coisa. Até meu ceticismo tornou-se uma fórmula. Sempre achei que viver intensamente bastaria, mas hoje eu me contentaria com qualquer teoria que me convencesse de que viver é algo mais do que respirar e seguir em frente. Hoje, qualquer "intensamente", soa distração e consolo. Ao contrário de todos os dias, estou cagando pra idéia de viver. Talvez eu nunca tenha feito isso direito. E não quero mais escrever porra nenhuma; escrever me consola das minhas dores existenciais e eu não quero mais amenizá-las. Não hoje. Hoje quero que as minhas dores simplesmente se fodam. Hoje eu só quero morrer de saudades em paz. Só isso, nada além disso. E mesmo assim já está tudo escrito...

amarula com sucrilhos

Alguns nomes e sobrenomes nunca me saíram da cabeça. Fatos e pessoas muitas vezes se perderam, mas alguns nomes sobreviveram aos dias e ficaram talhados na minha memória.

Uma mensagem antiga deixada em uma lista de discussão, pedia que orassem por ele. Eu não soube. Não naquele dia. Soube ontem. Soube porque não durmo, porque passo muitas noites em claro, noites que me remetem a um silêncio tão alto que, para ignorá-lo, deixo minha mente repetir nomes e lembranças.
Pensei nele algumas vezes nos últimos dias - ontem, antes de ontem e na semana passada. Não por acaso, mas porque nunca deixei de pensar. Há mais de uma década não o via. Durante este período nos falamos pouquíssimas vezes. Soube que ele mudou de São Paulo, casou pela segunda vez, que a primeira mulher tinha o meu nome... Ele vivia reclamando da quantidade de "Alessandras" que surgiam no seu caminho.

Quase não entrei para a lista. Ele insistiu. Insistiu que beijos de praia podiam subir a serra, que podiam acabar em namoro, que não morávamos tão longe um do outro, que não éramos tão jovens e que não havia nada de errado em dizer "eu te amo" na manhã seguinte. Arrastou-me para uma festa que atravessou a noite, me apresentou a sua cidade, seus amigos e uma família que eu adorei desde a primeira impressão. Algumas pessoas a gente não conhece, mas sim reconhece e ele me fez acreditar que eu era uma delas. Quando acordei, já estava na lista.

Foi um namoro rápido... Tão explosivo quanto nós dois. Perdi as contas de quantas vezes me meti em encrencas durante os poucos meses que namoramos escondido dos meus pais. Quatro ou cinco meses inventando estórias, dando desculpas e matando aulas para que pudéssemos nos encontrar. Imaturos e inexperientes, fomos, um para o outro, um bom test-drive de relacionamentos amorosos.

Quando acabou tentamos não nos perder de vista, mas as namoradas seguintes não deixaram. Infelizmente, pessoas apaixonadas não lidam bem com amores passados. Foi uma pena...

Disseram que foi um câncer, um câncer raro aos trinta anos de idade. Ele não me contou - estava longe demais pra contar - e dizer o quê, depois de tantos anos? Dividir a dor? Pra quê? Ele não quis dividi-la, não nos poucos interurbanos que trocamos. Mesmo sentindo que havia algo errado, me limitei a aumentar a distância e achar que era o jeito triste dele de ser.

É a primeira vez que eu sinto um pouco da minha história se desfazendo. A primeira vez que alguém que me fez sorrir e chorar de paixão vai embora. E foi embora tão cedo que ando com medo. Medo da minha história (que é o alicerce onde eu tento me segurar) ser tão frágil quanto a minha memória, o tempo e a própria vida.

Depois de passar o dia com os olhos grudados na minha pequenez e na minha saudade, me sinto vivendo uma ilusão estúpida e sem sentido. E, mesmo sabendo tanto da vida quanto eu sei da morte, ainda me sinto com toda a arrogância daqueles que acham que sabem alguma coisa. Até meu ceticismo tornou-se uma fórmula. Sempre achei que viver intensamente bastaria, mas hoje eu me contentaria com qualquer teoria que me convencesse de que viver é algo mais do que respirar e seguir em frente. Hoje, qualquer "intensamente", soa distração e consolo. Ao contrário de todos os dias, estou cagando pra idéia de viver. Talvez eu nunca tenha feito isso direito. E não quero mais escrever porra nenhuma; escrever me consola das minhas dores existenciais e eu não quero mais amenizá-las. Não hoje. Hoje quero que as minhas dores simplesmente se fodam. Hoje eu só quero morrer de saudades em paz. Só isso, nada além disso. E mesmo assim já está tudo escrito...

amarula com sucrilhos

.u.m.a.f.a.l.h.a.n.a.c.o.m.u.n.i.c.a.ç.ã.o.
.é.i.s.s.o.q.u.e.a.c.a.b.a.c.o.m.q.u.a.l.q.u.e.r.e.l.a.ç.ã.o.
.d.e.p.o.i.s.c.o.m.e.ç.a.o.a.c.h.i.s.m.o.
.d.e.t.u.r.p.a.e.d.e.s.t.r.o.i.
.e.u.v.i.v.o.m.e.r.g.u.l.h.a.da.
.n.o.m.e.i.o.d.e.u.m.m.o.n.t.e.d.e.i.g.n.o.r.a.n.t.e.s.
.
.
.
...
.


(...)

Ponto-e-vírgula.
- Que música é essa?
- Sei lá que palhaçada é essa.

Ridícula. Já foram na Sudameris?
Ridículo. Você vai passar naquela porta giratória e toca uma música idiota. Me senti no sítio do pica-pau amarelo.
Assentos preferencialmente para idosos, gestantes, portadores de deficiência e mulheres com crianças de colo.
Ora. Sou deficiente. Visual. To quase lá. Sentei.
Facinho assaltar isso aqui.
Câmera 1, câmera 2, câmera 3, gerente. Opa. Não é fácil não.
Se tivesse alguma câmera me filmando eu poderia fingir orgasmos, sei lá.
bubablabuba.
Pedras! Sabe, eu colecionava pedras quando menor. Muitas pedras, pedras coloridas, pedras lindas, várias pedras.
Vou roubar uma. Não.
Então doutor.. eu comecei roubando pedras de um vaso de um banco.
Que começo de vida criminosa patética.
Não resisti.

- Vamo.
- Roubei uma pedra.
- Ah, dessa vez não tocou a musiquinha.
- Cadê sua mãe?
- Sei lá.
- Tá ali.
- Ah.

Esses estacionamentos, esses ditadores fascistas comedores de papel moeda.

- Nossa, essa música é de mil novecentos e guaraná de rolha.
- É Pink Floyd. Mãe, gostava de Pink Floyd?
- ahw?
- HAHAHAHAHA
- É uma banda.
- Ah. Eu só gostava de Rolling Stones e Beatles e não dessas bandinhas.
- Não é bandinha.
- há.

Anda muito irritada. Ela não quer fazer a outra cirurgia. Teimosa feito eu. Não. Eu que sou teimosa feito ela.


supurou no abscesso

Quando se percebe que a vida virou de pernas para o ar ?

Talvez quando os pais lhe socam numa psicóloga e você não pára de pensar "muito provavelmente, neste mesmo assento já se sentaram um pedófilo, um pedólatra e um esquizofrênico..e agora, EU."
Ou quando você assiste Bob Sponja e sente que o Patrick e o Lulla Molusco lhe seriam companhias mais agradáveis do que a própria psicóloga(que pensa que tudo na vida é fácil e só depende de você. Mas não depende, PORRA)
Também é estranho quando a menstruação atrasa mais de duas semanas e você tem certeza de que não está grávida. Mesmo certa disso, obriga o namorado a comprar o maldito exame e realiza o teste no banheiro de um shopping center,não o fazendo em casa porque teme que sua família descubra essa possibilidade. E o testo dá negativo, claro, não haveria explicação caso desse positivo !(a não ser que você esteja esperando uma criança do Divino) E aí, estresse ? Será que se você arrancar seu maldito útero, será que se você simplesmente sumir, as coisas voltariam ao normal ?

Tantas hipóteses, tão poucas respostas concretas.
Aquele que chora por si mesmo é ridículo.
Eu sou ridícula.

BooBlog um blog inútil para você passar o tempo útil (ou o contrário)

26.8.03

anestesia

Existe uma espécie de lagarta (taturana, para os íntimos), da espécie Lonomia obliqua, cujo veneno altera o fator de coagulação do sangue. É pavoroso. Se deixar o veneno correr, sem antídoto rápido, a pessoa morre de um jeito horroroso. Visualize todas as feridinhas que você já teve na vida. Todas elas, incluindo o arranhão do gato, a mordida do cachorro, o dente que você extraiu, o joelho ralado da queda da bicicleta. Imaginou? Então. O veneno da bichinha parece que altera a memória do corpo e tooodas as feridas se abrem, ao mesmo tempo. O infeliz morre de hemorragia e insuficiência renal, além do puta refresh na memória.

Já repararam como eu gosto de introduções científicas?

Essa pequena aula de biologia junto com o resumo fático é pra contar que encostei num ninho emocional dessas taturanas.

Durante muuuito tempo, desenvolvi um fascinante mecanismo de defesa contra a dor emocional. Não vou contar o que causou a dor emocional, isso é assunto pro Márcio. Só vou contar que o mecanismo é fascinante. Tudo aquilo que causa alguma dor emocional e que eu possa explicar numa relação de causa e efeito (a mais bê, um mais dois igual a três, etc) não vai me atingir. A dor nem chega perto. Só fica comigo aquela dor que não explico, aquela que não entendo por que foi causada. Essa, carrego (carregava?) socada no fundo de algum canto do meu corpo, acreditando que, se ficasse bem quieta e não mexesse nela, ela iria embora. Nessa época, eu também acreditava em Papai Noel, no coelhinho da Páscoa e em príncipe encantado. Com o tempo, deixer de acreditar neles, mas continuei botando fé no meu método.

Até que comecei a perceber que além de anestesiar a dor, eu anestesiava todas as outras sensações. E que não sentir a dor me impedia de perceber onde estava me metendo - afinal, a gente só sabe que está pisando em pregos quando sente o furo no pé. E lá seguia eu, pisando em pregos e vidros e achando tudo lindo. E estranhamente passiva, esperando que a vida - assim como a dor - se resolvesse por si mesma, com um sorriso meio besta e sem território nenhum.

Com o Márcio, percebi que estava envolvida num imenso e poderoso sudário emocional. Sudário emocional é forte, eu sei, mas é isso mesmo - hoje estou mexicanizando as coisas, leve a mal não.

E então, decidida a sentir a dor e a delícia da dor, toquei no ninho das taturanas. Meti a mão com gosto, apertando todas as lagartas e olhando minha mão vermelha. O veneno tá correndo pelo meu corpo, rápido. Tá tudo aberto.

Estou aqui no meu canto, lambendo as feridas, uma por uma, chorando enquanto escrevo, orgulhosa da minha saliva abundante e curativa, querendo gritar daqui do décimo andar do prédio, sair correndo, sentir o vento frio no rosto, ser contida pelos seguranças, morder todos eles e continuar correndo e chorando e rindo feito louca, só porque estou me sentindo perigosamente viva.

Mas é essa vida sem anestesia que eu quero. Bem vinda, dor. Esse corpinho te quer e te pertence.


a dor perolada

RETRATOS

- I -

Começo de tarde em São Paulo. Parada, à espera do metrô atrás da faixa amarela de segurança, olho distraída para as pessoas que me rodeiam.

Chama-me atenção um adolescente, trajando calças largas, jaqueta jeans surrada, ostentando um piercing na sobrancelha de sua cabeça raspada. Ele anda de cá pra lá, impaciente à espera pelo próximo metrô, segurando uma rosa, um único botão, com todo o cuidado do mundo, como se tal rosa pudesse desfalecer ao menor toque. Fiquei imaginando quem seria a pessoa merecedora de tal rosa, carregada com tanto zelo pelo jovem rapaz.

- II -

Tarde fria em São Paulo. Os termômetros marcam 14 graus. Saio do metrô e tento apertar o passo rumo a um velho prédio no centro de São Paulo, situado na Rua Benjamin Constant. Ocorre-me um pensamento: quem foi Benjamin Constant?

Cruzando a Praça da Sé, diminuo o passo e paro em frente à velha Catedral. Nas escadarias, pessoas sobem e descem, cada uma carregando sua fé, sua dor, seu grito por socorro divino, estampados no olhar distante e nas mãos já cansadas de fazer o sinal da cruz. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém ao Deus distante, porém tão real.

- III -

Caminho mais um pouco pela Praça tomada de camelôs vendendo despertadores que apitam estridentes, pessoas apressadas e policiais armados. Avisto uma pequena multidão ao redor de um homem que grita, movimenta efusivamente os braços e se move com grande desenvoltura, como se estivesse num grande palco de teatro.

Alega este homem que com o poder da mente, fará com que um toco de braço (isso mesmo, um toco que começa no cotovelo e se estende até a mão) caminhe em sua direção. O toco não parece ser verdadeiro, talvez seja um pedaço de um manequim, destes que vestem roupas e ficam expostos nas vitrines. De qualquer forma não espero o tal toco se mexer. Vou embora, com medo do Exu baixar no homem que grita cada vez mais alto: "venha, eu rogo, venha".

- IV -

Problemas resolvidos, volto a tomar o metrô rumo a Av. Paulista. Sentada, ao meu lado, uma mocinha de rosto alvo e bochechas saudavelmente coradas, carregando muitos livros em seu colo. Mais uma espiada na moça e vejo que ela carrega livros de Direito Penal. Livros que eu também carreguei um dia com o mesmo cuidado que a jovem estudante, como se daqueles livros fossem surgir uma vocação para a defesa dos direitos fundamentais a qualquer ser humano. A tal jovem começa a folhear um dos exemplares em seu colo. Talvez estivesse passando por sua cabeça que ela se formaria e seria uma operadora do Direito em prol da Justiça. Eu já tive esta ilusão. Torci para que à tal moça, minha ilusão tornasse realidade.

- V -

Avenida Paulista, o sol acanhado ensaia um pouco de calor na tarde seca e fria. Nas largas calçadas da avenida, camelôs vendem bichos de pelúcia, passes, chocolates, perfumes importados, gorros, luvas, bijuterias. É difícil andar em meio à multidão, driblando as bancas dos ambulantes e os buracos na calçada.

Uma mulher, aparentando uns cinquenta anos, está parada em frente ao BankBoston. Seguranças a observam de longe. A mulher está rodeada de sacolas e trouxas sujas. Ela está suja. Grita palavrões a esmo, agacha-se com a cabeça entre os joelhos, levanta-se e berra impropérios em direção ao céu. Seu rosto todo encrespado denuncia a solidão dos loucos.

Entro no prédio onde eu trabalho, guardando os retratos da tarde de uma sexta-feira.


daqui pra frente tudo vai ser DiFeReNtE

De Hermes a Tat

Saiba então, criança, que tudo o que está no mundo, tudo sem exceção, está em movimento, seja por diminuir, seja por crescer. Ora o que está em movimento também está em vida, mas não há necessidade que todo ser vivente conserve sua identidade. Pois sem dúvida, considerado na totalidade de seu conjunto o mundo é imutável, minha criança, mas as partes desse mundo são todas mutáveis, sem que nada por isso pereça ou seja destruído: são esses termos apenas que turbam os nossos espíritos. Pois não é o fato de nascer que é a vida, mas a consciência, e a transformação não é a morte, mas esquecimento. Se é desta forma, então todos esses elementos são imortais, a matéria, a vida, o sopro, o intelecto, de que se compõe cada vivente.

abre-se o portal Claudio Téllez

25.8.03

Ônibus 474

Ontem, voltando para casa depois de alguns uísques (dois) na Livraria da Travessa, com meu amigo Bruno, peguei o 474, o famoso Jacaré, para voltar para casa. Ainda na Visconde de Pirajá, entraram no ônibus quatro cinco crianças. A maior delas devia ter uns dezesseis anos. Negra, gorda, com um lenço na cabeça, ela carregava uma criança. Entrou pela porta da frente, como todo mundo, mas foi advertida pelo motorista de que deveria pagar passagem.

— Estou grávida — foi a desculpa.

O motorista, então, mandou que ela e as crianças menores entrassem pela porta dos fundos. No começo eu achava que este tipo de coisa era camaradagem, mas depois me disseram que, no Rio de Janeiro, se o motorista não deixa estas pessoas entrarem no ônibus sem pagar, no dia seguinte acorda com a boca cheia de formiga. Não sei o quanto disso é mito e, sinceramente, não quero nem saber.

Entraram, então, pela porta dos fundos. Além da negra gorda, que usava um lenço amarelo na cabeça e que se passava tranqüilamente por uma mulher adulta da minha idade, havia ainda a filhinha dela, de nome Samira, dois menininhos de no máximo dez anos e uma menina púbere.

Como o ônibus estivesse vazio, sentaram-se nas janelas. A mulher gorda com a filha sentou-se no banco à minha frente; os dois meninos do banco atrás de mim e a menininha púbere na outra fileira, no corredor. Uma vez instalados, colocaram a cabeça para fora. Foi um dos menininhos que anunciou:

— Vou zoar.

A partir daí começaram todos, exceto pela menina púbere, a xingar os que passavam pela rua. Inclusive a menina que era mãe.

— Aí gostosa filhadaputa — gritava um dos meninos.
— Olha o bonde putada — gritava o outro.
— Ô Maria macumbeira, pé de bode — gritava a mulher mais velha.
— Bando de viado. É tudo puta — gritavam os meninos.

A certa hora, o motorista se manifestou e mandou que calassem a boca. Ninguém deu bola para aquela autoridade improvisada. E continuaram gritando seus impropérios.

Não sei se era efeito do álcool (acho que não, já que a impressão se mantém hoje, passadas algumas horas do ocorrido), mas não conseguia pensar em outra coisa senão na danação destas pessoas. A menina-mãe ria, chorava de tanto rir, enquanto xingava as pessoas e mandava Samira calar a boca. A menininha, de não mais que um ano, tinha duas marias-chiquinhas no cabelo pixaim, e aceitava os calabocas com um silêncio maduro, cheio de temor.

E eu passando pela Nossa Senhora de Copacabana com travecos, pela Princesa Isabel cheia de malabaristas de semáforos àquela hora, tentando arranjar uma, só uma, solução para estas pessoas. O trajeto até o ponto onde eu desceria não era tão longo, no entanto.

Havia um rancor, um ressentimento, um ódio na voz daqueles menininhos que silenciavam qualquer desejo utópico que pudesse habitar meu espírito embriagado àquela hora. Marx não é capaz de sobreviver a uma violência precoce, ainda que tão-somente verbal, destas.

Mas foi só quando cheguei em casa e coloquei os travesseiros de pena de ganso dentro da fronha que tive a exata medida da distância entre mim e aqueles que andaram comigo no 474 – Jacaré.

Eles jamais dormirão numa fronha branca, em travesseiros de pena de ganso, sob um edredon quente inútil na noite mais quente ainda. E, por isso, continuarão gritando para as pessoas na rua, com visível maldade e sem inocência alguma, numa vingança emergencial:

— Aí gostosa filhadaputa!
— Olha o bonde putada!
— Ô Maria macumbeira, pé de bode!
— Bando de viado. É tudo puta!

Viação Polzonoff

Eu liguei. O nome dela é Adriane, um negócio assim. Não fui logo dizendo que eu sou uma psicopata-alcóolatra assassina de namorados, dei uma enrolada. Não posso ir dizendo assim tudo de cara. Ela que descubra, é o trabalho dela. Só sei que eu, estarei sentada [ou deitada] no divã na semana que vem, diante de uma psicóloga. Rá! Claro que eu tenho preconceito, psicólogo é médico de louco não é? Porra, psicólogo parece aquelas coisas de gente que não tem o controle da própria vida. Opa! Acho que é aí que eu me encaixo! Não estou muito contente com isso, não estou otimista. Se ela me disser alguma besteira, eu procuro outra. Prefiro mulher. Não sei porque. Quer dizer, eu nunca fui num psicólogo, mas tem coisas que eu me sinto melhor dizendo a uma mulher. Que nem ginecologista. A maioria da mulherada prefere abrir as pernas nessa hora infeliz, pra homem. Eu não. Não e não! Estranho é a preparação psicológica que eu estou fazendo desde já, pra enfrentar a psicóloga. Não me incomoda dizer as coisas pelas quais eu passei recentemente, o que me incomoda é o passado, porque eu ainda tenho a impressão de que pelos acontecimentos recentes, eu possa fazer alguma coisa, mas o passado, parece algo tão perdido..

cata vento e montanha russa

Há mil definições de poesia. E algumas dezenas de teorias. Todas igualmente chatas, enfadonhas de criatividade lógica. Entre os poetas, Maiakovski quis que a poesia arrancasse os caixões das trevas para que caminhassem quadrúpedes de cedro. Emily Dickinson escreveu que a poesia era o mar que nunca viu. Manuel Bandeira queria libertar a palavra de suas mortalhas. Para Eliot o verso nunca é livre. Valéry achava que a poesia dança na mesma pista em que a prosa anda. E como ousar não falar de Pound? O garçom que enche meu copo agora pensa que poeta é o Zeca Pagodinho. Até os psicanalistas sabem definir poesia: uma bela réplica de um self grandioso-exibicionista. Eu fico quieta no meu canto e me lembro da melhor definição que ouvi de alguém que não tinha nada a ver com isso: a poesia deve ser sempre uma embarcação que naufraga ao entrar no porto.

prosa caotica

24.8.03

No metrô

Ontem por volta das onze da noite, estava eu na estação Anhangabaú do metrô esperando o trem que me levaria confortavelmente através da cidade até minha casa. Acontece que o trem demorou e veio cheio demais. Como é anunciado repetidamente nos alto-falantes durante os horários de pico, "Na impossibilidade de embarque, aguarde o próximo trem. O intervalo médio entre trens é de apenas três minutos". Foi o que fiz: resolvi esperar o trem seguinte. E enquanto esperava, lembrei-me do que sonhara na noite anterior.

No meu sonho, eu também estava na plataforma do metrô, só que na estação Santa Cecília. Enquanto os usuários esperavam o trem, funcionários do metrô conferiam os bilhetes de um por um. Uma coisa estranha, já que as catracas existem para isso, mas sonho é assim mesmo. Sei que no meu sonho havia duas ou três pessoas em pé no meio dos trilhos. Eu ouvia o trem chegando e tentava adverti-las, mas elas pareciam estranhamente alheias ao perigo.

Absorto na lembrança do sonho, mal notei o trem que se aproximava. Os primeiros vagões passaram por mim. "Oba, esse tá vazio". O trem parou e eu me postei em frente à porta. Que não abriu, é claro: só metade do trem tinha entrado na plataforma, a outra metade ainda estava dentro do túnel. As luzes dos vagões se apagaram quase no mesmo instante em que um tumulto começou na outra ponta da plataforma. Homens correndo. "Pega!", "Foi ele! Foi ele!", "FILHO DA PUTA!". Passaram por onde eu estava e subiram as escadas.

Ao contrário do que possa parecer, costumo ser otimista em relação à humanidade. Então concluí que o tal "Filho da puta" tinha acionado uma daquelas chaves de emergência da plataforma, parando o trem e atrasando a vida de todo mundo, motivo suficiente para levar uma boa surra. Mas esse meu conto de fadas foi descartado quando vi a funcionária do metrô descendo as escadas correndo, chamando a segurança pelo walkie-talkie e quase chorando. Dois vagões à minha frente, pessoas abaixavam-se e apontavam para os trilhos. O "Filho da puta" tinha jogado uma mulher nos trilhos quando o trem se aproximava. Assalto? Briga? Ninguém sabia dizer.

Não sou portador de curiosidade mórbida, então resolvi sair de lá e pegar um táxi. No corrimão da escada, grandes manchas de sangue fresco. O "Filho da puta" apanhara bastante antes de ser preso. Enquanto eu subia para o vale do Anhangabaú, o Metrô tratava de mostrar sua eficiência: funcionários de roupa verde acionavam os homens de preto que, calçando luvas amarelas, corriam para a plataforma para recolherem os restos da mulher e enfiar tudo num camburão azul. Não procurem a notícia nos jornais. A Companhia do Metropolitano de São Paulo é tudo aquilo que a cidade queria ser: moderna, eficiente, rápida, limpa e assustadoramente hipócrita.

Ando de metrô desde criança, e sempre ouvi falar de gente morta nos trilhos. Estive presente em duas ou três ocasiões em que suicidas sem senso comunitário resolveram se matar na hora do rush. Esse, no entanto, foi o primeiro homicídio de que ouvi falar. Ouvi falar o caralho, eu estava lá. Num caso ou no outro, as ocorrências nunca vazam para a imprensa.

Quanto ao sonho: todos sabem que sou cético, e cito com freqüência a Lei dos Números Muito Grandes, dentre outros verbetes do Dicionário Cético. Sei que ter sonhado com pessoas nos trilhos do metrô foi apenas coincidência. Mesmo assim não consigo evitar uma sensação incômoda, ainda mais por ter estado pensando no sonho no momento em que tudo aconteceu. Foi assustador.

Oh, Jesus, me chicoteia!

Vida Sexual

Nove meses antes de eu nascer, meus pais (sem saberem que seriam meus pais), tiveram a melhor noitada de festa do Hawaii de suas vidas. E a última.

Aos três anos, brincando nu na água, eu rio da minha prima por ela não ter algo que eu tenho.

Aos sete anos essa mesma prima ri de mim ao ver minha cara de assustado quando ela mexe no que eu me gabava por ter. E nunca mais me gabei.

Aos nove anos descubro um cartão postal com um seio à mostra. Foi o primeiro seio que olhei e vi o que antes não via.

Aos dez anos esse mesmo cartão postal me dá o primeiro orgasmo, antes mesmo de eu saber que a palavra “orgasmo” existia.

Aos quinze anos vejo o meu primeiro seio cara a cara. E gosto. Meses depois a primeira muher nua depois da minha prima. E assusto.

Aos dezessete anos sou finalmente realizado na cama.... por durante três segundos.

Aos vinte dois anos, pela primeira vez, faço amor.

Aos vinte cinco anos, fruto de todo esse amor e uma tabelinha errada, nasce minha filha.

Aos trinta anos, desiludido, tenho minha primeira relação fora do casamento. Mesmo culpado, repito.

Aos trinta e três anos realizo minha fantasia de transar com quatro mulheres ao mesmo tempo. Nenhuma delas era minha esposa.

Aos quarenta anos minha mulher me troca pelo dentista. Meses depois minha filha começa a namorar um drogado e perde a virgindade com ele. Me sinto um fracassado.

Aos quarenta e um anos volto a transar com quatro mulheres ao mesmo tempo, e por um segundo deixo de me sentir um fracassado pra me sentir o dono do mundo. Depois passa.

Aos quarenta e cinco anos já sou avô, moro sozinho e me masturbo tanto quanto os meus treze anos.

Aos cinqüenta anos volto a fazer amor, com uma mulher vinte e cinco anos mais nova, mas depois fico com dúvida se ela está comigo pelo amor ou pelo meu dinheiro.

Aos cinquenta e três anos chego empolgado em casa, depois de fechar um negócio da china no emprego e nove meses depois tenho meu primeiro flho, que é mais novo que meu neto.

Aos sessenta anos, me sinto velho, fracassado, mas não demonstro, mesmo depois da minha segunda esposa me trair com o chefe, me chamar de broxa, sair de casa e levar metade do meu apartamento.

Aos sessenta e quatro anos sou cliente assíduo de casas de massagem e prostíbulos de luxo, e fico me perguntando por quê não fiz isso antes.

Aos setenta e um anos, um câncer obriga-me a retirar a próstata e minha vida sexual acaba. Mas compro um filme pornô por semana na banca de jornais, e assisto no último volume. Sempre.

Aos setenta e três anos começo a escrever um blogui, minto minha idade e milhares de mulheres querem fazer sexo comigo. Sem próstata nem ereção, sou apelidado de velho tarado, passo a mão na bunda das enfermeiras e como último recurso cortam meu acesso a internet no asilo.

ejaculado por zazoeira

:: volta a normalidade

parece que a depressão é finda, mesmo.
já tenho vontades, já tenho saudades, já me sinto feliz, alegre, triste e melancólica.
antes era só apatia: "socorro alguém me dê um coração que este já não bate nem apanha"

mas este meu coração que dormiu por mais de uma estação não precisa sentir tanta coisa junta, precisa?


:: perdas e ganhos

ganhei a viagem dos meus sonhos
perdi a mãe na volta

vivi o tão desejado romance,
para dizer adeus em dois meses

vendi carro, saí do emprego,
tudo para mudar de vida e ir atrás do que sempre quis e acreditei

já me esvaziei da velha bagagem,
por que a nova demora tanto a chegar?


no ventrículo de boop it

23.8.03

hoje, na aula de francês, aprendi como comprar, preparar e fumar haxixe na França.

na rua, vi um mendigo "cego" [óculos escuros e tateando o chão com sua bengala] terminando de beber algo, se encaminhando para o lixo e depositando lá seu copo vazio.

cena do dia:
minha mãe correndo pela casa, gritando "eu sou a madona!"

diálogo:
- Isto é café?
- Não, são meus olhos.

enquete:
o que faz uma pessoa usar short e casaco?

poopoo-ree free bee

TOURÉTICOS ANÔNIMOS

Se existe uma porra de profissional que eu desprezo mais do que advogados, essa porra de profissional é um psicólogo. Detesto essas mulherzinhas (a maioria dos psicólogos é mulher) que ficam enchendo meu sacão com testes de grafologia e etecéteras. Em uma merda de uma entrevista, uma putinha que não pesava mais de 50 quilos - mas que eu comeria, certamente[1] - me pediu para escrever uma bosta de um texto de 15 linhas.

Se existe uma porra de coisa que eu detesto é escrever à mão livre. Qual imbecil de merda ainda usa lápis e papel hoje em dia? Depois que comecei a usar o computador, desaprendi a escrever. Mas a pequena vadia queria porque queria uma amostra da minha horrível caligrafia[2]. Depois de escrever uma sucessão de absurdos - propositalmente - entreguei o texto e pedi que ela lesse. A vaca, como eu tinha previsto, respondeu: o conteúdo não importa, é só para o exame grafológico.

Se existe uma porra de coisa que eu odeio são superstições. Perguntei a ela se eu teria que passar por um exame de frenologia. A puta, previsivelmente, não sabia o que era frenologia. Se ela fosse ao menos uma puta de calçada, daquelas que fazem boquete por cinco reáu, eu entenderia. Mas ela era uma profissional, e tinha a merda da obrigação de pelo menos ter ouvido falar da droga da frenologia. Provavelmente estava dando o cu no banheiro da faculdade quando falaram disso na aula.

Se existem porras de pessoas que têm distúrbios psicológicos bizarros são os portadores da Síndrome de Tourette. Esses desgraçados têm a compulsão de entremear palavrões em cada merda de frase que sai das suas bocas ou das suas mãos. Aí vocês vão me perguntar o que isso tem a ver com os parágrafos anteriores. Grande bosta, que diferença faz, caralho? Eu vou chegar ao ponto e não me aporrinhem.

Se existe uma porra de instituição que eu gostaria de frequëntar, seria a Associação dos Portadores da Síndrome de Tourette Anônimos. Imaginem alguém se levantando, subindo ao palco e dizendo: “faz seis anos que eu não falo palavrões, caralho! Ai, merda, escapou”. Isso sem falar na possibilidade de encontrar ao vivo quase todos os comediantes brasileiros, e pode incluir aí a Dercy Gonçalves, Jô Soares - sim, ele não é aquele Larry King que vocês pensam -, Rogéria, Agildo Ribeiro e outros veados cujo nome não me vem à cabeça no momento. Imagino o quanto seria divertido um churrasco promovido pela APSTA. Queria ver alguém se controlar depois de umas cervejas.

Se existe uma porra de um filme que representa de maneira exemplar o quanto padecem os portadores da Síndrome de Tourette, esse filme é “Gigolô por Acidente”. No caso, quem é portador da doença é uma mulher, uma loirinha minúscula que solta o tempo todo pérolas do tipo: “lambedor de cu!”, “tetas! Tetas GRANDES!”, “Cara de mijo!”[3], e por aí vai. Aliás, a atriz é mó gata. Eu gostaria muito de oferecer a ela o Fabuloso Curso de Hebraico em Nenhuma Lição do Padre Levedo. Em cinco minutos, aquela pequena loirinha tesuda estaria Falando em Línguas. Mas agora minha paciência acabou e o post também, e fodam-se!

[1] esses dias, fiz uma lista das mulheres que eu NÃO comeria. gastei menos de um minuto na tarefa.

[2] percebam o delicado ritmo da frase.

[3] é, os americanos são muito pueris em termos de palavrões.

excomungado pelo padre levedo

22.8.03

SEGUNDA IDADE (e meia)

Abaixo, a transcrição literal de uma fita gravada num encontro de ex-coristas ocorrido num Bingo em Porto Alegre, RS.

- É a menopausa, só pode ser.
- Mas tu me empresta um cheque, Jéssica? Eu preciso fazer o teste.
- Deixa de ser louca, Bruna. Uma velha como tu, grávida. Vai criar vergonha na cara.
- 52 e meio, cinco meses mais nova que tu.
- E com quem foi? E sem camisinha, Bruna!
- Jura que não conta pra ninguém? A Bia não pode saber, de jeito nenhum! Nem a Judith! Moralistas, elas e os chuchus na cerca.
- Ai ai ai, Bruna. O que tu tá aprontando...
- Tá bom, Jéssica. Tá bom. Mas não vem querer me encher de culpas. Tu pediu, vai levar. É com o sobrinho do Otávio, aquele meu vizinho de porta, sabe? Ele é advogado, e nos encontramos há umas duas semanas descendo a escada do prédio. Ele tava todo perfumado, precisava ver. Quando abriu a porta da rua ele perguntou onde eu ia e antes de eu responder ele me ofereceu uma carona. Aí eu não podia dizer que eu ia jogar buraco na tua casa, né Jéssica. Eu disse que eu ia pra PUC.
- Pra PUC? Fazer o quê na PUC?
- Eu disse que eu faço Direito. Sei lá, eram umas seis da tarde, foi a coisa que me veio na cabeça e eu tive que dizer. Imagina, buraco na tua casa, Jéssica. É o fim. Nem me lembrava mais como atiçar um homem.
- Atiçar, Bruna? Ele acha que tu é uma velha rica e quer se aproveitar! Uma passa de uva!
- Deixa eu contar, se não não conto mais. Ele falou que tava indo para aqueles lados e eu não pude negar. Tinha que ver o carrão preto dele, acho que era um Chevrolet, desses enormes, sabe? Ele abriu a porta e tudo. Quando girou a chave, me disse que ia passar na casa de um amigo antes, se eu não me importava. Tudo bem, eu disse, mas ele disse isso e colocou a mão na minha perna e apertou de uma maneira carinhosa, só tirava a mão dali pra passar a marcha. Ele foi tão carinhoso.
- E ele te deixou na PUC, e aí?
- Que PUC o quê. Motel, Jéssica. Com cascata, peixinhos e espelhos, um luxo!
- E o amigo?
- Foi junto.
- Eu não acredito! Os dois? Só pode estar doida pra fazer uma coisa dessas agora.
- Deixa disso, Jéssica. Velha é tu. Quadrada. Mas isso com os dois foi naquele dia, só. Agora é um de cada vez. Não deu muito certo, eles não têm muita intimidade, enquanto eu fazia com um, o outro ficava olhando, foi muito estranho pra mim. Queria os dois ao mesmo tempo.
- Eu ainda não acredito! E agora, como é que é?
- Ele passa todas as terças lá na casa do tio dele, aí a gente vai prum motel, sempre um diferente, e depois ele me deixa na porta da PUC e pego um táxi e vou pra casa. Ou pra tua, jogar buraco.
- E o amigo dele?
- Nas quintas. Ai, ele é lindo! É administrador de um escritório contábil na Carlos Gomes. Dos grandes.
- Um cheque, só?

gravação clandestina do Repórter Pinto

Manual dos bons modos do blogueiro de família.

Visando atender às dúvidas existentes dos novatos em relação à demanda comportamental blogueana, eis que crio meu manual da ética do blog moderno e do visitante feliz.
Vamos lá.

Item número 1: Jamais usarás arquivos musicais sem o uso de players. Seja midi, seja wave, seja mp3 ou o raio que o parta, é muito inconveniente uma musiquinha de fundo. O visitante poderá estar ouvindo um CD dos Beatles, e nada justifica o fato de interrompê-lo para ouvir sua midi de "Chariots of fire".

Item número 2: Jamais poluirás. Poluição de qualquer tipo é ruim. Há diversos tipos de poluição: sonora, do ar, da água, da mente e visual, todas são detestáveis. A poluição visual também acontece nos blogs, especialmente naqueles blogs de adolescentes, cheios de gifs animados, borboletas, banners, os tais awards estúpidos "minha mãe gostou", fotos mal tiradas com pessoas banguelas, garranchos virtuais, Hello Kitty, frango com farofa. Não há quem agüente. Use com sabedoria as imagens e os estímulos visuais. Excesso de cocozinhos polui e atrapalha a navegação. Dê ênfase ao conteúdo.

Item número 3: O mais importante de todos - o conteúdo. O conteúdo de um blog é o principal motivo que leva um indivíduo a perder seu tempo lendo seu blog. Blogs com assassinatos linguísticos indecifráveis e dialetos adolescentes repugnantes estão aos montes por aí. É o tipo de blog que apenas as amigas de mesma mentalidade visitam, não atrai um público mais seleto. Qualquer coisa pode ser escrita de modo interessante. Até um dia chato do cotidiano pode ser descrito com criatividade e um bom vocabulário ajuda na escolha das palavras certas. Tenha seu estilo próprio e diferencie-se dos demais pelo modo como escreve e expõe suas idéias.

Item número 4: Não mendigais! Não rasteje até outros blogueiros pedindo que seja linkado. Você gostou do meu blog? Ótimo! Sua visita sempre será bem vinda. Isto não quer dizer que as pessoas que você admira tenham que gostar do que você escreve. Não há reciprocidade sempre e alguns blogueiros podem não querer colocar seu blog na lista de seus favoritos. Eu costumo usar o sábio ditado que diz assim: "foda-se", no caso de blogueiros pedintes. Gostou? Linke, mas não espere recíproca. De mesmo modo, você não é obrigado a retribuir o link alheio. É seu direito fazer a lista dos seus favoritos, e nesta lista colocar apenas aqueles que realmente gosta.

Item número 5: Sempre citais o verdadeiro autor. Se fizer referência a um texto ou imagem que não for de sua autoria, procure citar o mesmo. O bom senso agradece e o autor também. Porém, não fique enchendo o blog de piadinhas que chegam por e-mail só porque achou engraçado. Isso cansa e demonstra falta de criatividade.

Item número 6: Não arrombais o template alheio! Copiar é feio. Muito feio. Você pode usar estes templates padrão que já vêm prontos sem o menor problema, caso não saiba fazer o seu. Mas há pessoas que fazem seus templates para se diferenciar e não gostam de ver um plágio. Bom senso, mais uma vez, é requerido. Há diversos manuais de HTML e CSS pela internet e poderão ser usados para bordar a roupinha sexy de seu blog. Há também pessoas que fazem templates sob medida e cobram um preço simbólico.

E assim, todos serão felizes para sempre, até que o "404 - page not found" nos separe.
Amém.

modos do Sexo com Canetas

Virgínia, branca, freira, católica e pobre, conheceu Jorge, cobrador de ônibus, preto, pobre e evangélico. 12 anos de namoro.
Descobriu-o às atracações com Vilma, espírita, corretora de imóveis, parda e de classe média baixa, no murete da casa de Washington, branco, comerciante, ateu e rico.
Treze golpes de faca ao acordar no domingo.

Jonathan, trombonista, branco, agnóstico e de classe média alta, deu uma piscadela para Zuleide, empregada doméstica, mulata, umbandista e pobre. 17 anos de casamento.
Escondida, viu o beijo na violinista.
Ligou para João, justiceiro, católico, pardo e pobre, que beijou sua esposa na testa, Miriam, pobre, preta, do lar, católica, antes de sair pra cumprir a encomenda.
Um disparo certeiro na cara do músico na quarta-feira à noite.

Patrick, presbiteriano, ruivo, de classe média baixa e professor de história de arte, morou com Capitolina, branca, advogada, metodista, de classe média alta. 35 anos de convivência.
Flagrou-a às cavalgadas em Wilsinho, melhor amigo, tenista, branco, rico e devoto de Santa Rita de Cássia.
Três disparos nele, um perdão, e uma comemoração das bodas de ouro na sexta-feira agora, a partir das dezoito horas.

O amor não tem cor, nem credo, nem classe social.

Absolutamente!

três por Quatro

Os cinco estágios da bebedeira

Essa não é nova, mas me lembraram ontem: os cinco estágios da bebedeira (em espanhol):

1 - Coperos
"Aeeeee... um brinde à gravata do garçom!"

2) Canciones regionales
"Não posso ficar, nem mais um minuto..."

3) Critica a las instituiciones y al clero
"Esse negócio de capitalismo é uma meeeeeeeerda!"

4) Exaltación de la amistad
"Cara, você mora aqui, ó!"

5) Negación de las evidencias
"Eu tô bem para dirigir, me dá a chave!"

chez nigro

21.8.03

Roma e Cartago lutavam pra ver quem é que ia dominar o Mediterrâneo e estavam doudos pra sair na porrada. Vai daí que o romano Quinto Fabio Máximo é mandado a cartago em missão diplomática. But, nada diplomaticamente, ele intima o Senado de Cartago:
"Aqui vos trago a paz ou a guerra, escolhei"
O Senado (burro) responde:
"Escolhei vós mesmos".
Lógico que o Fabão resolve sair no soco. Aníbal, o dos elefantes, lutava por Cartago, mas Roma consegue impedir que o exército dele chegue, e Cartago, como sabemos, sifu.

Fabialosa lição de história no Drop's da Fal
Copy&Paste também é cultura

coisas que só uma mulher consegue...

01) Passar a vida inteira, lutando contra o próprio cabelo;
02) Comprar uma blusa que não combina com mais nada, só por que o preço estava irresistível;
03) Ser tratada feito idiota pelo mecânico na oficina;
04) Fingir naturalidade durante um exame ginecológico;
05) O poder de uma calça jeans para rediagramar a estrutura do corpo;
06) Ter crise conjugal, crise existencial, crise de identidade, crise de nervos!
07) Ser mãe solteira, mãe casada, mãe separada, mãe do marido;
08) Assistir a um videotape de futebol, só para fazer companhia ao namorado;
09) Lavar a calcinha no chuveiro. E depois pendurá-la na torneira, para horror do sexo masculino;
10) Escutar que: mulher no volante perigo constante; homem do lado perigo dobrado;
11) Depilar a perna de 15 em 15 dias com cera!
12) Rasgar a meia de seda na entrada da festa.
13) Sentir-se pronta para conquistar o mundo, quando está usando um batom novo!
14) Chorar no banheiro, se olhando no espelho para ver qual o melhor ângulo.
15) Achar que o seu relacionamento acabou, e depois descobrir que era tudo tensão pré-menstrual.
16) Nunca saber se é para dividir a conta, ou se é para ficar meiguinha.
17) Ser chamada de TIA por uns meninos lindos no Ibirapuera.
18) Colocar uma cinta para disfarçar a barriga.
19) Ficar completamente feliz, por que ele ligou.
20) Dizer não, para ele insistir bastante, e aí dizer: -Sim!
21) Sorrir gentilmente para o cliente enquanto uma cólica louca te rasga como se fosse uma bazuca.

coisas que só as mulheres entendem...

01) Por que é bom ter cinco pares de sapatos pretos.
02) A diferença entre as cores: creme, marfim e bege claro.
03) Que chorar pode ser divertido.
04) Roupas soltas.
05) Uma salada, uma bebida diet e um sorvete de chocolate fazem um almoço equilibrado.
06) Descobrindo um vestido "de marca" em oferta pode ser considerada uma experiência de vida.
07) A inexatidão de toda balança.
08) Achar o homem ideal é difícil, mas achar um bom cabeleireiro é praticamente impossível.
09) Porque um telefonema entre duas mulheres nunca dura menos que dez minutos.

direto do Meninas de 30

Cuecas que entram no cu

Hoje tivemos uma conversação pós almoço sobre roupas íntimas que entram no cu.
Chegamos a conclusão que as mulheres não gostam, mas usam-nas para não marcar a calcinha-da-vovó na calça.
Homens odeiam-nas por tudo que é mais sagrado no mundo.
Cuecas que entram no cu são facilmente identificáveis. Geralmente o tecido de um lado já está gasto, fazendo da peça uma obra assimétrica. É aquela cueca que não adianta você jogar fora, de algum jeito ela vai voltar pra gaveta.
É realmente aterrorizante quando abre-se a gaveta pela manhã e a avista, com o tecido gasto, sozinha e solitária no meio de diversas meias, sungas e demais acessórios que não tem gaveta própria.
Ao perguntar ao responsável pelo asseio dos trajes intímos no recinto sobre o paradeiro das cuecas normais, recebe como resposta a pior possível:
- "TÃO LAVANDO!"
E você começa a olhar para a cueca. Uma trilha sonora de HItchcock começa a aparecer no ambiente. Você reluta, mas acaba vestindo-na. E no primeiro passo após colocá-la; ela vai fadada à cumprir seu destino. E aloja-se no ambiente mais úmido e escuro do seu corpo.
É inevitável. Deve ser feita de um tecido a base de bactérias, só pode ser. Nunca vi nada gostar tanto de cu quanto essas cuecas. Você passa o dia todo arrancando aquele bendito pedaço de tecido do brioco, mas ele insiste em voltar.
Um dos maiores prazeres é tirá-la. Semelhante a tirar sapatos apertados, semelhante ao fim de uma consulta odontológica.

aonde o sol não bate de Kobe surreal world

20.8.03

A contradição colocou pernas onde havia olhos e os olhos foram postos no lugar antes reservado à genitália. A genitália tomou o lugar que antes era dos braços e os braços estavam abraçados ao contraditório, que não agüentava a si mesmo de tanta contradição.

O medo recuou três passos, então a esperança pode alcançar a porta, levando seus móveis e o pouco mais que possuía enquanto ouvia promessas da alegria, prometendo guardar as cartas que chegassem com seu nome escrito no espaço que se referia ao destinatário. A esperança estava de mudança para Havana e logo o medo sentiu saudades. A alegria passou anos sem dar sinal de vida.

Eram cinco da manhã e eu estava sentado no meio fio. Os carros passavam bem perto das pontas dos meus pés. A madrugada se despedia, não que eu me importasse. Estava bem sozinho com o asfalto.

Esse Umbigo Feio não É Meu. Nem meu.

Xô falar uma coisa: eu não sou boazinha.
Eu não sou um amor.
O negócio é o seguinte:

Eu não tenho filhos. Eu ODEIO meu trabalho, odeio, odeio. Eu pago dívidas dum cara que já morreu, e que não dava a mínima pra mim, sejamos bem francos. Eu tenho síndrome do pânico. Controlada, tá bom, mas eu tenho. Eu sou gorda, pobre, rôo unhas em períodos alternados, e meu cachorro faz xixi na sala. Papo sério. Sem drama. Realismo verdade. Meu carro é véio, eu tenho mau gênio e espinhas. Eu sustento a minha mãe e TRES PASTORES ALEMAES. Meu irmão mora longe, e tem lá a vida dele, eu sou a décima quinta coisa na lista dele.. Eu só tenho, de verdade, de bom, de puro, de belo, o Alexandre. E vcs. Dá pra entender? Dá pra captar que minha vida não é exatamente a ilha da fantasia? Vcs são o que eu tenho de melhor, fora o lelê. Eu chego em casa e venho pra cá. Eu tenho tempo livre e venho pra cá. Eu fico pensando em coisas engraçadas pra dizer pra vcs, eu quase morro de feliz, qd alguém me manda um mail falando uma coisa bonita. É, eu sou carente sim. E minha vida é meio vazia sim. Mas eu tenho vcs. Isso me conforta há mais de um ano. Eu venho pra cá e dou risada. E choro, e vejo novela. Sei o nome de cada um, vou ao blog de cada um, sei do irmão, da mãe, da grana qe não saiu, do cachorro que fugiu, da gata que tá doente. Fico feliz com o filho que passa de ano, com a promoção do marido. Se eu vivo um pouco a vida de vcs? Talvez. Se vai aparecer algum psicólogo me analisando? Foda-se. Eu não tou nem aí. É a minha vida. Vcs são os meus benzinhos. Eu penso em forma de drops, negada. Anoto coisinhas no maço do cigarro, pra chegar aqui e contar pra vcs. Ouço histórias na rua e penso, "ai, isso dá drops". Então, por favor, não briguem. Sejam bons uns pros outros. Sejamos, mesmo, uma confraria. Sejamos amigos. Olha que coisa piegas que eu vou dizer, mas tão, tão verdadeira que até dói: o mundo lá fora é assutador. E ruim. E cheio de nego filha da puta querendo te derrubar na cotovelada. Não é bom que exista um lugar, ainda que virtual, onde vc possa ir de mudinha, de pijamas ou - que deus nos ajude- no caso do alexandre, peladão; pra ser feliz, pra falar bobagem, pra chorar umas magoazinhas, pra encontar gente que te ama? Só eu fico feliz, me sentindo abençoada com essa sensação? Eu amo vcs. Atéia até a medula, dou graças a deus qd vejo uma luzinha acesa no msn "oba, tem um amigo on line". Vamos brigar lá fora no mundo, que não tem jeito. Aqui, vamos nos dar as mãos e cantar um treco bem brega, hino de diretório acadêminco, de rodinha de violão. E, se alguém tiver um baseado, e/ou uma garrafa de conhaque, apresente-se na portaria. Fiquem bem, todos vcs.

drops da Fal

O MEU Deus

Tentaram me convencer que pra ser amada por Ele eu tenho que louva-lo e glorifica-lo sempre. Mas me ensinaram que Ele não tem defeitos que está acima do bem e do mal. Tentaram me convencer que eu sou mais importante que um grão de areia, por ser Sua imagem e semelhança. Mas me ensinaram que todas as criaturas são seus filhos, pois tudo foi criado por Ele.
Um dia eu fiz algumas perguntas pra minha professora de religião, e ela além de não me responder ainda me deixou de castigo para que eu refletisse no que tinha dito e deixar de ser incrédula.
-Professora! Porque Ele não vai me amar se eu não o glorificar?
-Pq se vc não glorificar Ele não vai saber que é vc!
-Como Ele não vai saber quem sou eu se ele é meu Pai?
-Ele tem muitos filhos, se vc não o glorificar ele se esquecerá de vc.
-Meu avô tem 15 filhos e nem por isso e nem por isso ele esquece de algum.
(...)
-Professora! Ele não tem defeitos?
-Não minha filha, Ele é a essência do Bem!
-Então porque Ele é vaidoso?
-QUE BLASFÊMIA! DE ONDE VC TIROU ISSO?
-Você que disse que quem gosta de ser elogiado e ignora quem não o elogia é uma pessoa vaidosa.
(...)
-Professora! Pra que serve a raça humana?
-Serve para cuidar do mundo que Ele criou.
-E porque o mundo precisava ser cuidado?
-Pra que tudo ficasse em perfeita harmonia.
-E quem disse que não havia harmonia antes do homem ser criado?
-Ninguém, mas as flores precisavam ser regadas e os animaizinhos cuidados de seus ferimentos.
-Mas pra isso não tem a chuva e as plantas medicinais? Ele é preguiçoso e não cuida direito?
-PRECISO FALAR COM SUA MÃE MENINA!
-Você que disse que quem não faz suas obrigações e manda outro fazer é preguiçoso! Além do mais porque justo o homem é que tem que cuidar de tudo?
-Porque eles são mais inteligentes que os animais!
-Se nós somos mais inteligentes que os animais e precisávamos cuidar deles, porque acabamos matando quase todos, envenenando os rios e destruindo suas casinhas?
(...)
-Professora! Eu acho que Deus é um grão de areia!
-JÁ PRA DIRETORIA! VOU TE DAR SUSPENSÃO DE TRÊS DIAS!
(silêncio)
-Trakinas! De onde você tirou que Ele é um grão de areia?
-Você não disse que Ele está em todas as partes? A única coisa que eu conheço que está em todas as partes, constrói tudo e todos, está acima do bem e do mal e é indispensável a TUDO são os grãos de areia.


Apenas um homem

Não me lembro do seu rosto na época em que eu era criança, não me lembro da sua voz nem das risadas. Lembro apenas que ele aparecia mais ou menos de três em três meses, trazia comida de avião, balas, gibis, gostava de brincar com seus bigodes e com os dois dedos que lhe faltam na mão esquerda.
-Que foi isso pai?
-Um monstro enorme comeu meus dedos, qdo eu tava trabalhando.
-Doeu? Vc chorou?
-Claro que não! Homem não sente dor nem chora.
-Mas o Traquinos (meu irmão) chora o dia todo na barra da saia da mãe.
-Mas é que ele só vai ser homem quando crescer.
-Demora muito? Ele me deixa nervosa com os choros dele.
Não demorou muito, meu irmão cresceu logo, e eu também. Mas mesmo assim ficávamos a sua espera por dias. Minha mãe, a mulher mais forte do mundo, cuidava de nós enquanto o amor de sua vida viajava pelo mundo como mestre de obras para poder conseguir o sustento pra família. Nem a voz dele podíamos ouvir, por que o dinheiro ainda não tinha dado pra comprar um telefone, mas sentíamos sempre a sua presença.
Meu irmãozinho foi um privilegiado, no momento em que ele nasceu não precisou mais trabalhar longe de casa, e logo depois se aposentou. Minha mãe conseguiu, finalmente, dormir abraçada com seu marido como a muito esperava. Dormiu assim por 14 anos, e o deixou nesse mundo sozinho. Para cuidar de nós em nossa vida adulta, com seus bigodes brancos e sem seus dois dedos, que tinha perdido para nos manter vivos.

em caso de coma, me coma

O ladrão

Você abre uma tela nova. Lá no alto, pisca “documento 1”; cá em baixo, o cursor pede letras e palavras com urgência. Esse é o momento mais angustiante da minha escrita: o de ter que colocar a pena para escrever. Acho que é semelhante ao da agonia do goleiro na hora do pênalti. Todos ali olhando para a sua agonia e para o total desequilíbrio da situação. Eu fico atônito e perco para a máquina. Não consigo começar o texto sem lhe dar um nome. O batismo do texto é um ritual sufocante para mim. Penso em milhares de referências e faço mil e uma conjecturas. E nesse átimo, nessa fração de tempo, a minha angustia vai duplicando, crescendo de forma exponencial. Normalmente abro no “documento 1” quando alguma idéia ou mote já amadureceu, ou quando tive uma privação de sentidos e fui invadido por alguma flecha criativa. E todo o procedimento do Word parece me distanciar do propósito de criar. Aqueles segundos que fico escolhendo o título parecem um dreno aberto na minha criatividade. Tudo aquilo concebido segundos antes, todas as palavrinhas enfileiradas, todos os discursos e diálogos vão se esvaindo no procedimento e naquela escolha de nome. Já pensei em só colocar os títulos depois. Fiz isso durante um tempo, mas não funcionou. Pura paranóia e neurose. Eu não consigo começar um texto sem antes salvar o documento no lugar exato em que ele vai repousar no meu HD. O simples ato de começar o “salvar como” já coloca o dreno para funcionar. As idéias vão secando e toda a concepção se desfazendo. Pouco depois eu me prostro numa tela e saio à caça daquelas belas idéias. Rápidas, mas fugitivas. Escorregadias. Verdadeiros sabonetes deslizando de um lado para outro de uma banheira bem lisa. E eu de cócoras, pelado e molhado, tentando pegar aquele lux de luxo que samba de uma ponta à outra. Fico constrangido e encabulado, mesmo estando no silêncio e na solidão dos meus ambientes de escrita. As minhas idéias são assim: fogem de mim e se escondem num lugar que eu nunca consigo achar. Elas existem, estão ali. Elas começam a me invadir no caminho para o trabalho. Na orla engarrafada, com as mocinhas correndo na praia, os cães passeando, motoristas em zigue-zague, a fumaça preta dos circulares, a geografia desse lugar que me esfola todo dia. Elas vão me invadindo e compondo o meu frenesi matinal. A cada esquina uma associação, uma idéia, um enredo. Penso em prosa, em poesia, construo diálogos, falo sozinho. Mato minha família inteira e choro; choro como choraria no funeral, se o evento de fato ocorresse. Peço demissão, digo verdades aos meus chefes, aos amigos. Seduzo mulheres com motes eficientes e articulados. Crio personagens e dou vida às suas ações e pensamentos. Ao fim e ao cabo, vou correndo para a maquineta, com tudo fresco na cabeça e pronto para ser deitado sobre o papel. E então o dreno é ligado e começa a filtragem. Urano e plutão se unem para derrotar a minha ação e para embotar o processo criativo. É a fórmula da bomba a minar a base da minha imaginação e da minha vontade de escrever. Nada melhor que o empecilho do sistema de salvação de um texto para não me deixar liberar a trava. No final do procedimento completo (que vai de ligar o computador até salvar o texto), estou sufocado e derrubei vários cacos pelo caminho. O máximo que consigo e dizer para você, leitor, como é doloroso esse processo. E confirmar que hoje, quando liguei esse computador, tinha idéias mirabolantes sobre um tema que ia prender a atenção de todos vocês. Tema esse que já nem me lembro qual era.

epinion de Claudio Lampert

Por mais esquizofrênico que possa parecer, fato é que temo perder aquilo que não possuo. E inicio, assim, uma espécie de Jogo de Nervos, que consiste em um amálgama de reclamações, carinhos esparsos e atitudes infantis. Fazer o quê? Abrir o jogo do não-me-aconselho-a-ninguém para que ele fuja assustado? Contar meus piores segredos? Abrir caixas, baús, passados e dizer "está tudo aqui"? Não. Ele não suportaria. Mal sei como suporto. Se pudesse, jogaria tudo fora. Atearia fogo no que já passou. Começaria na linha de largada, e não nesses 25 anos cansados de histórias vividas às pressas, às cegas, às avessas. Não posso. Talvez minhas reclamações resultem justamente dessa dor. Talvez elas sejam a única forma de conviver com meus silêncios, com o medo de revelar meus fracassos podres. O passado condena, mas o presente liberta. Mereço um crédito. Que parta dele. Que parta de mim, também. Porque crer em mim não tem sido nada fácil.

quero ser Elke Maravilha!

19.8.03

Santiago, 13 de Maio

Querida Márcia. Deve estar esperando notícias minhas há muito tempo. Fazem quase oito meses que sai pra comprar mais vinho e nunca mais voltei, liguei, noticiei, nada! Isso foi um tanto deselegante de minha parte, confesso! Mas não foi intencional, acredite! O que aconteceu é que, você lembra, estávamos na sua casa, íamos comemorar o fato de termos marcado o dia de nosso tão sonhado casamento com aquele fetuccini que só você sabe fazer. Tínhamos finalmente conseguido juntar dinheiro suficiente para um apartamento, para a festa, a lua-de-mel nos Andes, e para viver uns dois anos sem aperto. Pena o vinho ter acabado antes de começarmos a comer. Então, você lembra, era uma fria e chuvosa noite de setembro. Não poderíamos ficar sem vinho. Coloquei o casaco e fui até o Boticcielli's e estava fechando. Ainda consegui convencer o funcionário que estava fechando a porta me vender uma garrafa de Periquitta pela pantográfica. Foi quando senti algo me encostar à nuca, e uma voz feminina, mas muito imperativa, dizendo que não olhasse para traz e nem reagisse que tudo acabaria bem. O atendente viu a marginal e tentou chamar a polícia, mas acabou morto. Quase fiquei surdo com os disparos sobre o meu ombro. Até hoje não escuto bem com o ouvido direito. Ela me forçou entrar num carro preto e dirigir pra ela. Sempre apontando para minha cabeça. Disse que dirigisse sem fazer perguntas. Passamos semanas na estrada, dormindo em motéis baratos, assaltando postos de combustível para conseguir gasolina e comida. Com o passar dos dias, e a solidão da estrada, fomos nos conhecendo melhor. Ela passou a não mais apontar a arma para mim com tanta freqüência e a fazer perguntas pessoais. Disse que era dentista, tinha noiva, que saíra pra comprar vinho e tudo mais. Ela era bonita, jovem, parecia com aquelas marginais de filmes americanos. Ruiva. Olhos verdes. Atlética. Dentre tantas conversas, ela acabou confessando que na noite que me seqüestrou ela queria assaltar o Boticcielli's para conseguir dinheiro para ir até o Chile sem precisar ficar apontando armas para frentistas. Disse que escolheu a adega porque era menos manjado e tinha uma boa circulação de dinheiro. Estava indo para o Chile para participar de um tipo de golpe, armado por uns outros marginais, que lhe renderia uma boa quantia e poderia passar uns tempos em uma cabana qualquer nos Andes, vivendo de vinhos e comidas quentes. Bem, como nós queríamos a nossa lua-de-mel, lembra querida? Pois é, assim que chegássemos a Santiago ela me libertaria. Quando chegamos, eu revelei a ela que estava apaixonado e não poderia mais viver sem ela. Ela disse que também sentia algo por mim. Então convenci ela de não participar do golpe. Saquei minhas economias, e como deve ter percebido, peguei todo o dinheiro da conta conjunta que eu e você, minha querida, tínhamos. Dinheiro que economizamos durante todos estes anos juntos, mas era para uma boa causa. Compramos um apartamento num bairro tranqüilo em Santiago, onde montei meu consultório. Ela está a quatro meses trabalhando de Relações Públicas de uma fábrica de pescados. Vamos nos casar em Julho, e passar a lua-de-mel em algum lugar nos Andes, com muito vinho e comidas quentes. Desculpe minha querida, mas não pude evitar. Foi um golpe do destino. Eu sinto muito. Sei que deveria lhe dar notícias, mas espero que você esteja bem e que não venha me procurar. Pois mudei de nome, operei o nariz (como sempre quis), estou usando um endereço fictício, e agora sou um homem comprometido. Mas saiba que nunca deixei de gostar de você, e talvez nunca deixe.

Beijos, de seu eterno xonadinho

Flávio.

em proclames da alma

Momento Cristão

Jesus estava resolvendo o caso da Maria Madalena... e disse "Quem nunca errou, atire a primeira pedra".
De repente, um tijolo voou pela multidão e atingiu a testa da Maria. Jesus, espantando, procurou na multidão, e viu um cara de bigodão, parecendo oriundo da península ibérica..
- Filho, você nunca errou ?
E o gajo respondeu...
- Desta distância nunca, pois pois...

cerveja blog

Não há coisa mais desagradável que uma espinha dentro do nariz. Ela dói a qualquer movimento, você não pode coçar o nariz – e por isso mesmo ele coça ainda mais – e qualquer tentativa sua de espreme-la é interpretada pelos outros como uma tiradinha de meleca displicente e repreendida pela espinha com uma dor terrível. Então só resta a você sentar-se conformado com aquela penetra, que instalou-se no seu nariz sem ser convidada, submeter-se a seus caprichos até que um dia ela decida desaparecer.

Portanto concluo que “sua espinha dentro de um nariz” é o que de mais ofensivo há entre os xingos disponíveis na língua portuguesa. O primor do ataque verbal.

Sairei hoje, arrumarei um mal entendido e empregarei meu novo xingamento.

De dentro do nariz do Cacofonia

18.8.03

vida de blog

póde ser um trabalho muito desgastante ter um blog

você faz uma biópsia da alma ao vivo na frente de uma audiência
que come pipocas e não pára de tagarelar
num ambiente que não é lá muito antisséptico

e no final o público – que não desembolsou um tostão – ainda sai fazendo Pfffui
e se dirige para tenda ao lado para ver quem mais está se apresentando

enquanto isso você vai colocando de novo pra dentro as víceras da alma,
costura, passa um algodãozinho com álcool,
para amanhã começar a auto-cirurgia tudo de novo

buchada exposta dO Sinistro no ventilador

– ...então eu só tomo o meu nescau se for com duas colherinhas de açúcar. E leite gelado!
– Que legal. Eu também.
– Sério?
– Sério. Não gosto de leite quente.
– Puxa, nem eu. E só tomo no meu copo. Eu tenho um copo preferido lá em casa, sabe?
– Eu também. E sempre tem alguém que quer tomar café com o meu copo.
– Ah, lá em casa também!
– Então eu tenho um lugar lá em casa, nos armários, que só eu conheço, onde eu escondo minhas coisas. Prato, talheres, meu copo...
– Eu também faço isso!
– ...e tenho o meu lugar preferido na casa, onde eu vou pra tomar meu café da manhã sozinho e ficar olhando pro tempo, pensando na vida.
– Nossa! Eu também gosto de tomar café da manhã assim. Se for ao ar livre, tanto melhor.
– É, eu também adoro tomar café ao ar livre.
– Puxa, nós temos muitas semelhanças!
– É, né?
– Muito legal isso.
– É verdade.
– Qual é seu signo?
– ...
– Heim?
– Eu sou de ofiúco. E você?
– ...
– E você?
– Qual é o seu signo, que eu não ouvi direito?
– Ofiúco.
– Ofiúco?
– É. Ofiúco.
– De que horóscopo é isso. Grego?
– Não. Do horóscopo normal, ué. Aquele que sai no jornal.
– Ofiúco?
– É.
– Fala sério.
– É sério.
– Esse signo não existe.
– Claro que existe.
– Eu nunca ouvi falar.
– Nunca ouviu falar?
– Não.
– Você é uma ignorante.
– E você é um grosso.
– Você que é apertadinha.
– Adeus.
– Já vai tarde.

no azimute da utopia dilucular

Resgate

De helicóptero, o comandante vê:

- Olhe lá na praia, "S O S !", vamos salvar.

Chegando lá, o casal de namorados se recusa a ser salvo, e explica que a onda apagou a verdadeira mensagem:

D E I X E - N O S   A   S O S !

zazoeira

Sem querer, encontrei mais vagabundos que pensam como eu. Why work?

Então no site tem esse link que trata da pergunta terrível "o que você faz?". Pode não ser uma pergunta terrível pra quem trabalha, mas pra mim e para outros adeptos do não-trabalho, é. Porque ninguém entende, por mais que você explique. hahahahahha Me lembro de antigamente ter chocado várias pessoas, mas isso foi no tempo em que eu gostava de chocar as pessoas:

- Você faz o quê?
- Nada.
- Nada?
- É. Não há nada mais revolucionário do que querer ser nada. Todo mundo quer ser alguma coisa, eu só quero ser nada.

Mas não adianta chocar, a única coisa que acontece com isso é que as pessoas passam a te desprezar mais. Digo "desprezar mais", porque elas já te desprezavam de qualquer forma, a não ser que você tivesse um cargo importantíssimo, um título importantíssimo, ou algo que pudesse ser útil para elas. Nem precisava ser tão importante assim, desde que fosse útil. Hoje em dia, por exemplo, eu não sou útil a quase ninguém. A não ser aos que não têm gravador de CDs, aos que não sabem usar o Google, essas coisas. Para algumas pessoas eu ainda sou útil. Mas vejam bem, quem foi que disse que eu quero ser útil a esse bando de chupins?

Não, nem em um milhão de anos alguém vai me convencer de que eu deveria estar trabalhando que nem uma condenada para comprar coisas que eu não quero, coisas que só serviriam para mostrar para os vizinhos que eu tenho, eles não têm êm, la la la la, nha nha nha nha, mas calma, vou exemplificar.

A Márcia. Ela é minha amiga e tudo o mais, mas desde a primeira vez que ela veio aqui em casa, ela ficou babando no meu carpete de madeira. Vejam bem a idiotice da coisa. Ela não sossegou enquanto ela não teve também carpete de madeira, então o que ela fez? Ela tem o véio rico dela. Ela fez de tudo para ele comprar um apartamento novo pra ela (na verdade, ele só pagou a diferença, o que também é uma puta grana). E agora ela mandou colocar carpete de madeira no apartamento dela. Ah, agora ela tem a mesma coisa que eu. Ou melhor do que eu. Ela também comprou um home-theatre, que ela nem sabe exatamente o que é, mas ela sabe que eu tenho. Ela fez alongamento de cabelo, porque eu tenho cabelo comprido e ela não.

Pera aí. Faz sentido isso? Será que eu deveria também sair por aí trepando com véios pra ter coisas melhores do que as dela? Ah, não sei. Tá confuso isso, mas também que se dane. hahahahaa 

Outro dia a Márcia estava cheia de dúvidas e me disse que não suportava mais o véio, que ela achava que agora ela já tem o próprio sustento e poderia se livrar dele, porque ela não agüentava nem olhar mais para a cara dele (que dirá fazer o que ela tem que fazer):

- Ainda tenho umas contas pra pagar, depois eu me livro dele.
- Mas se você pensar assim, isso não vai ter fim nunca. As necessidades são infinitas. Depois você vai querer outro apartamento, redecorar a casa, um carro novo, sei lá.
- É. É verdade.

É.

tem siris demais na ilha de toscos