26.11.07

Lá fui eu novamente para o ponto lotado da Consolação com a Paulista. Peguei o Jardim Macedônia, lotado, abarrotado, craudeado. Fiquei um pouco na parte da frente, já que passando a catraca tava show de horror, todo mundo grudado um no outro.
Quando estava chegando perto da minha casa (faltavam uns 4 pontos) resolvi passar. Passei e fiquei grudada na catraca. Na minha frente havia uma moça interativa, ela olhou para mim e disse: ônibus lotado e a gente ainda têm que agüentar isso!
Eu pensei: isso o quê?
Quando vi tinha um bêbado bem ao meu lado. O cara tava mals gente, falava cuspindo, todo inchado e pelos movimentos dos olhos percebia-se que tudo rodava. Ele tava bem perto mesmo de mim, quase encostado, fedia cachaça.
Assim que percebi a existência do maldito ele começou a fazer movimentos estranhos (alguém aqui já viu um gato vomitar? Se viu sabe, ele estava fazendo esses movimentos).
Pela posição do homem o jato de vomito não só cairia em mim como direto na minha cara. Entrei em pânico e comecei, em vão, tentar sair do lugar que eu estava, mas tava difícil não tinha para onde correr.
De repente, o cara faz uma cara de alivio e notei que não havia vomito. GENTE, O CARA SE CAGOU TODO EM PLENO JARDIM MACEDÔNIA, LOTADO, ÀS 6:30 DA TARDE.
Vocês não fazem idéia de como o pessoal achou lugar rapidinho, parecia que haviam dado um tiro dentro do ônibus, todo mundo começou a se apertar para o fundo e gritar. Um moça bem baixinha que estava próxima de mim colocou o rosto nas axilas de outro moço, eles não se conheciam.
Uma outra, que tinha cara de ser uma pessoa divertida, gritava e colocava a mão na boca e dizia com sotaque nordestino: ai gente, não posso com essa caatinga acho que vou vomitar. Uma senhora, coitada, que estava bem ao lado do moço no momento do alívio não teve dúvidas, pegou sua bolsa e agrediu o homem na cabeça diversas vezes. E dizia: rá simbora seu bebo, tu tá é fedeno que nem um porco.
Era o inferno de Dante em Plena Rebouças. Pessoas desesperadas, uma coisa horrível.
O motorista percebeu o motim, abriu a porta do ônibus no meio da avenida e o homem começou a passar pelas pessoas para chegar até a porta, nessa hora a gritaria foi geral, algumas se penduraram, outras sentaram no colo de quem estava nas cadeiras e o moço desceu e caiu coitado.
Nessa hora fiquei até com dó, o cara caído no chão todo cagado, que situação né! Mas o que eu podia fazer? Ajudar ele? Sou até que uma pessoa bacana, mas ajudar esse sujeito era demais!
Enfim, não consegui comer mais nada durante aquele dia e nem me esquecer daqueles momentos de horror.

gente, foi horrível!

23.11.07

reflexões de fim de ano

Voltando para casa, com as luzes das árvores natalinas piscando em minha memória, comecei a pensar sobre o que estou realmente fazendo neste mundo, vasto mundo, em que fecho os vidros do carro e me escondo atrás do insulfime, em que recebo e-mails quase diários sobre "como se proteger do falso telefonema de sequestro", o "golpe do flanelinha que some com o rádio do seu carro", os "meninos dos faróis que esguicham ácido na sua cara", e por aí vai. As ruas e avenidas que atravesso em São Paulo não lembram exatamente o morro tomado pelo BOPE e seu Capitão Nascimento... mas não pude evitar o pensamento de que tiros ecoam na periferia paulista, no centro da cidade, em arrastões nos condomínios do Morumbi, tão rápido como as primeiras luzes de Natal.

daqui prá frente tudo vai ser diferente

Grandes questões da humanidade

Alguém sabe por que não existem animadores infantis homens? E por que os Paquitos foram um grande fracasso? Eu te digo: é por causa da altura das crianças. É, isso mesmo. Porque se você perceber, essas pequenas e agitadas criaturinhas ficam EXATAMENTE na altura do seu saco. Dançar ilariê, brincar de pega-vareta, andar de patinete, qualquer uma dessas inocentes atividades pode ser fatal. É só a criança fazer qualquer movimento que... uau, vai de encontro direto aos seus bagos. E enquanto você se debate no chão, como um salmão fora do rio, o desgraçado fica lá, orgulhoso de si mesmo e se achando uma merda de Power Ranger.

lições do loser

22.11.07

Ontem tive meu próprio momento proustiano

Encontrei no supermercado petits pains suédois, que são pãezinhos cortados ao meio e torrados. Lembrei que gostava deles, fiquei toda alegrinha e comprei um pacote.
Cheguei em casa e já fui experimentando um. Hm, crocante e nutty. Mas fiquei meio decepcionada, porque não parecia a mesma coisa. Deixei o pacote pra lá e fui fazer outra coisa.

Mais tarde, fui tirar os queijos da geladeira pra fazer fondue, que era o jantar programado. Gruyère, emmental, e comecei a ralar. No finzinho do emmental, me deu um clique e pensei : hm, isso deve ficar bom com um dos petits pains. Cortei um pedacinho dele e comi com uma das torradinhas suecas.

Era isso! A combinação de sabores me emocionou, e de repente lembrei o porquê : foi a primeira coisa que comi em Paris, na minha primeira vez na cidade, há mais de dez anos. Um fato que eu tinha esquecido completamente, encoberto por tantos outros que se seguiram nesse tempo todo. Mas que, pelo visto, nunca deixou de ter importância.

Em 96, fui a Paris pela primeira vez, para fazer um curso de verão na Sorbonne - Langue et Civilisation Française. As residências estudantis já estavam todas ocupadas, mas consegui alugar um apartamento normal no 7ème através de um anúncio pregado não lembro onde. Cheguei na cidade num domingo, e fui pegar a chave com o administrador, um senhor brasileiro muito tranquilo. Ele foi comigo me mostrar o apartamento e como funcionavam as aparelhagens, código da porta, etc.

Fiquei pasma, porque o lugar que aluguei sem ver era um apê grande, lindo, com quarto, sala, cozinha equipada e banheiro - na verdade poderia ser dividido com mais gente, mas consegui alugá-lo sozinha. Das janelas se via a Torre Eiffel, e a rua tinha a mistura exata de movimento e calma. Não podia querer mais nada.

O administrador então se despediu e explicou que, por ser domingo à noite, ele previu que seria difícil eu conseguir comprar comida naquele horário - e deixou umas coisinhas pra que eu não ficasse sem nada.

Abri a geladeira e encontrei - sim, um pedaço de emmental e um pacote de petits pains suédois. Fiquei comovida com o cuidado inesperado, e senti que aquele período ia ser um dos mais felizes da minha vida.

E assim, na minha primeira noite de verão em Paris, sozinha frente às janelas abertas mostrando a Torre iluminada contra o céu escuro, consciente da minha tremenda sorte de estar ali, tocada pela beleza e gentileza, comi queijo suiço, pão sueco e água - e nada pareceria mais gostoso.

annix

Credo in card, monster card

Quase 25 anos de profissão, centenas (ou milhares, sei lá) de campanhas bem-sucedidas feitas por mim ou com a minha colaboração, milhões ou bilhões de campanhas muito mais criativas e vendedoras que as minhas feitas por anunciantes nacionais e internacionais provando o contrário, e até hoje eu ainda sou obrigada a ouvir de clientes e curiosos - e até do ocasional profissional da área, por increça que parível - que não se deve usar a palavra "não" ou outras igualmente negativas, tais como "nunca", "jamais" e outras desse tipo em propaganda.
Sim, até hoje, a esta altura, em que até as pedras sabem, ou deveriam saber, que isso é uma bobagem, uma palhaçada, uma picaretagem de neurolingüística mal-costurada ou de auto-ajuda empresarial de 8ª categoria, ainda tem quem diga, repita e defenda isso.
Se acontecer de novo, não sei o que eu faço :
se finjo um ataque de nervos e saio gritando e arrancando os cabelos ou se faço o papagaio que repetiu essa besteira engolir, sem cortar e sem dobrar, meu exemplar de domingo da F*lha (não dá pra não ler – wow, a double negative !) ou meu Am*rican Express (não saio de casa sem ele).
Pensando bem, melhor que seja meu Cre*iCard MC. Porque o prazer que isso vai me dar... não tem preço.

cyn city

20.11.07

Procrastinadores do mundo, uni-vos!

Mas não agora, OK?
Me deixem dormir mais um pouco...

puragoiaba e go to heaven

19.11.07

Kátia

Se há um momento de dor ou de riso, uma empadinha vai bem. Uma forma de empadinhas. Ou um pote de sorvete. Se há uma espera, uma coca-cola. Um medo, um sanduíche. Uma angústia, mingau.
O sim, o não, o frio, o escuro, nada é maior que um prato de miojo, não existe mal incurável frente à uma fatia de torta de limão.
Que a comida invada e preencha e ilumine e anestesie e defenda e justifique e traduza.
Que ela defenda a coragem, que é pouca.
Que ela embale o calor, que não há.
E invente um amor que não existe, nunca existiu.

nomes só

18.11.07

Um último olhar sobre a cidade

Malas prontas, depois de ter jogado tanta coisa fora. Dez anos não se apagam fácil... Nem é questão de apagá-los, afinal, tanto a dor quanto a delícia de um dia ter estado aqui partem comigo para o sul do mundo, independente do que for levado. Mas sempre a sensação de algo incompleto - será que alguma vez estamos prontos...?

Ficou-me esta lembrança, quase uma sensação, de uma noite de chuva no banco de trás de um carro, numa carona para casa: uma menina, com quem eu procurava reatar o namoro, escreveu no vidro embaçado da janela, letra a letra, enquanto eu esperava uma declaração de amor:

Você está ciente do que já é mágoa?

E eu acho até que estava. Ainda que esperasse uma declaração de amor. Eu sempre tive essa mania besta de querer por souvenir mais do que mágoa.

E agora eu me pergunto, honestamente ingênuo: responder bastava?

(Mas não cabia na janela nem mais uma palavra.)

diferença nenhuma

13.11.07

A seqüência lógica dos fatos

Há umas três semanas.

Arrombam o carro da minha namorada e roubam, entre outras coisas, meu computador, minha agenda e umas besteiras mais. Duas horas depois, chego ao aeroporto e descubro que o vôo foi cancelado. A TAM paga o hotel em que fico, mas no dia seguinte, logo cedo, me acordam avisando que uma amiga morreu. Chego ao aeroporto e descubro que o avião em que vou viajar é um Fokker 100 -- o único avião no mundo que me mete medo. Pouso no Rio e, não mais que de repente como num soneto de Vinícius, chove em um dia o que deveria ter chovido em um mês.

Agora eu vivo com medo de que finalmente descubram que foi por minha culpa que o Rebouças foi soterrado.

rafael galvão

Duríssimo

Tive um namoro que acabou por excesso de Junior. Ela gostava do Fabio Junior, do Sandyjunior e do Amaury Junior.
Aí é jogo duro...

catarro verde

12.11.07

sonhando

Encantamento ao te ver ali a sorver-me os caldos, sou a provedora que te sacia, a presa que te mata a fome, banquete e banqueteada, nosso festim de ais e silêncios, tua boca a desvendar-me os sabores todos - amor e lágrimas comovidas-, em reverência e posse te debruças e me entrego mansa. Tua língua a abrir caminhos que eu sigo tonta, lucidez e desejo escorrendo rio caudaloso em que me lavo e te banho, soçobramos juntos, à tona voltamos para mergulhar em beijo úmido porque eu quero em mim o meu gosto em ti; água, azeite, mesclados mas ainda sou eu e é você, e nessa hora, nós.

leftovers

Mini 91

Dobrou o papel bem no meio e manteve-o assim por um segundo, só para ver a perfeição fugaz da dobra, feita apenas para marcar a linha do meio. A partir daí, dobra após dobra, construiu mais um avião. Como com os outros, o pôs de lado, sem tentar fazê-lo voar. Partiu para o próximo. Dobra, desdobra, dobra de novo, formando o primeiro triângulo, depois o outro, simétrico, espelhado, depois o seguinte, mais estreito, sobreposto ao primeiro, então seu gêmeo cis-trans e, de dobra em dobra, mais uma nave. Colocou-a delicadamente sobre as outras e começou o trabalho novamente, cada jatinho mais perfeito que o outro. Já havia um pequeno monte deles sobre o chão, dando forma, a sábia esquadra, à sua medida edificante: para cada aeronave a mais, um poema a menos. Até o nascer do sol estaria livre daquele peso.

dito assim parece à toa

Ontem à noite descolori e pintei o cabelo.
Dizque laranja é a cor deste verão. Pois então.

reverberações

8.11.07

acho super legal as pessoas rezarem e cantarem e louvarem.
só queria que fizessem isso em silêncio. ou que as músicas fossem do nível do 'mudança de hábito'.

objeto abjeto

5.11.07

Noite dessas tava andando pelo Bixiga na chuva, passo por uns dez neguinhos de rua sentados na calçada embaixo de uma marquise, ao redor de uma pizza. Um dos farrapinhos, magrelo e molhado, pedaço de pizza na mão, me olha nos olhos e manda:

- Tá servido, moço?

Às vezes o ser humano me comove. Mas passa logo.

catarro verde