29.10.06

Feriado

Tédio. Cansaço. Desânimo. E não sei o que é pior. Se ficar em casa ou ir pro escritório. Porque quando estou em casa, quero ir pro escritório e quando estou no escritório quero vir prá casa, então acho que devia ir pr'outro lugar qualquer que eu também não sei aonde é. Parecido com vontade de comer alguma coisa sem saber o quê.
Além disso, o trabalho ultimamente tem parecido uma bicicleta ergométrica.
Não tem servido para nada, nem chegado a lugar nenhum.

E o Zé fica me perguntando porque é que eu não o amo mais.
Tenho preguiça até de dizer que amo. Então sorrio.
O que já me custa um esforço demasiado.

e já era hora da pausa para o cigarro

Não tenho mais idade para:

1. chorar em qualquer filme
2. jogar capoeira
3. paixão platônica
4. ter o cabelo quase raspado
5. culpa
6. roubadas em geral
7. ter vergonha de minhas pernas
8. brigar com meus pais
9. ou com meus irmãos
10. usar aparelho
11. usar substâncias ilícitas
12. mudar de profissão de novo
13. usar sapato de plástico
14. cuidar de neném
15. me achar baixinha demais
16. alisar o cabelo
17. ficar calada
18. topar qualquer coisa
19. virar noite trabalhando
20. trabalhar em agência
21. usar tic-tac no cabelo
22. ir a shows onde se fica em pé
23. viajar 10 horas seguidas de ônibus
24. tomar vinho ruim e não ter ressaca
25. não gozar
26. achar que sou uma farsa
27. usar minissaia
28. usar coturno
29. beber e querer beijar todo mundo
30. ficar contando minha vida em blog
31. passar vexame por causa de filho
32. querer ser outra pessoa
33. acampar
34. me deslumbrar com blogs
35. me levar muito a sério
36. estudar feito estudante
37. achar que não tenho mais idade para.

mothern

Eu fico maravilhada quando alguém me diz que nunca leu um livro na vida. Porque eu penso que bom que você não precisou. Fico querendo ouvir a respeito. Seu coração não dói, como é isso? As coisas não apertam tanto dentro de você?

por mary w, citada em bocozices

Desperate house-hubby & wife

Minha empregada tá de férias.
Pediu quinze dias pra “estar preparando” – eu juro que ela falou des’jeitim – o aniversário do filho. Fiquei imaginando que tipo de festa de aniversário vai ser essa, pra precisar de duas semanas de preparação tão intensa a ponto de a moça, que só trabalha autodeterminadas 4 horas por dia, precisar de tooodas as suas horas de vigília pra isso. Deve ser um festão, periga até sair na Caras. Mas como isso não é da minha conta, paguei as férias e calei a boca. Até aí, tudo bem. Achei que quinze dias passariam rápido, a gente daria conta das tarefas de casa, chatinhas porém simples, e logo ela estaria de volta. Hah. A primeira semana mal acabou e já estamos exaustos. Gatim, de lavar chão e louça. Eu, de cozinhar e lavar roupa – na verdade, estender no varal, porque lavar é fácil quando se tem um sistema como o meu (separar por cor, jogar dentro da máquina, escolher o programa, ligar e sair de perto). Além do mais, é claaaro que nesta exata semana, a pia da cozinha começou a vazar, o feijão congelado tá acabando (e eu morro de medo de panela de pressão), uma caixinha de leite longa vida surtou, fermentou, inflou e vazou um líquido viscoso e abundante que impregnou as outras caixas, o armariozinho de madeira onde ela estava, as latinhas de refrigerante da prateleira abaixo, enfim, toda a área de serviço, a cozinha e parte da sala e do corredor com um futum indescritível (mas que se eu fosse tentar descrever, diria que parecia que um bacalhau com cê-cê, sofrendo de chulé terminal e hálito de tigre louco havia morrido e apodrecido em cima de uma montanha de queijo Limburger com cebola e restos de cerveja choca deixados no sol por uma semana dentro de uma sacola feita de bucho de bode . E isso é só uma pobre tentativa, a realidade foi muito pior.). Por outro lado, desde que a moça saiu de férias, nossos almoços, feitos por mim, andam bem mais gostosos e bem temperados, o vaso do meu banheiro parou de entupir – talvez porque os quilos de cabelos que caem da minha cabeça todo dia agora vão parar no lixo, e não porcelana abaixo – e meus chocolates diet (que custam o triplo dos normais), os únicos que eu posso comer, pararam de sumir por milagre. Mas o mais triste foi que eu descobri, por acaso, por sorte (?) minha e descuido dela, que não eram só chocolates e sabonetes perfumados e bonitinhos da Natura que vinham sumindo, não. Na pressa de sair, ela esqueceu num potinho na área de serviço todos os seus balangandãs – brincos, colar, pulseiras, relógio e um anel de prata, diferente, lindo, caro pros padrões dela, e... inconfundível e irrefutavelmente meu. Que eu não usava há algum tempo, mas sabia muito bem onde estava – ou melhor, onde deveria estar, e não era ali. Quer dizer, a moça em quem confiamos nossa casa e tudo o que temos por mais de um ano, a quem adiantamos todos os vales que ela pediu, demos todas as folgas que ela quis e liberamos de todos os sábados; cujas faltas, prejuízos, coisas quebradas e voracidades específicas relevamos nos rouba, e provavelmente não começou agora. Portanto, além da chateação e do trabalho, ainda teremos um gasto extra : quando ela voltar, vamos ter que torrar uma boa (pra nós, pobrecitos) grana de acerto, inclusive com a multa de dispensa do aviso prévio, porque na minha casa ela não fica mais um dia. E mais a despesa pra trocar as fechaduras, porque quando nós perdemos a confiança, perdemos pra valer. Mas o pior mesmo é imaginar como fazer pra substituí-la. Parece fácil, não somos assim tão exigentes : só o que queremos mesmo é alguém que não seja porca, que não nos roube e que goste de gatas siamesas malucas e levemente histéricas. Mas não tá fácil. Além de não ter muita gente a fim de trabalhar com serviço doméstico – e juro que eu entendo isso de todo coração, esse trabalho é um porre mesmo - , nós também estamos meio ariscos, com a fé no "cerumano" abalada, e vai ser difícil voltarmos a deixar nossa casa inteiramente entregue a alguém de novo sem sofrer. Mas graças a nossas bravas e virginianas mães, sondagens estão sendo feitas, pauzinhos estão sendo mexidos, e se Zeus (e principalmente Hera) quiser, em breve teremos alguém pra manter a casa apresentável e a Nina um pouco menos carente. Meu voto é pela moça crente que atualmente trabalha na casa de um travesti e anda pensando em sair. Se não for por mais nada, porque eu sei que - depois do que já deve ter visto por lá - ela provavelmente não vai ficar escandalizada com as heresias do gatim, nem tentada por minhas pobres bijuterias de tamanho discreto, nem encantada com meus sapatos 37, quase todos pretos, sem brocal nem plataforma.
Tomara que dê certo.

cyn city

Bestiário (2)

Ela tinha longos cabelos negros e morava numa vila. Quando cresceu, cresceram-lhe também dois grandes peitos que ela, brincando, passou a chamar de grândulas, enquanto as amigas a chamavam de analfabeta. Certo dia, apareceu-lhe um namorado português que, cheio de pacífica ternura, deu-lhe um cravo como prova de seu amor. O pai dela, salazarista, meteu dois tiros na cara do namorado porque detestava trocadilhos, mais ainda os de fundo político.

Branco Leone: um blog sem conteúdo

Realejando

E lá eu deixei a menina racional. Em baixo do vão, debaixo de arte, no tapete vermelho da cidade. O papelzinho do realejo na mão, o espanto estampado na cara. Agora a vida tinha um roteiro, escrito sabe-se lá por quem e entregue às mãos da atriz principal pelo bico de um papagaio velhinho, que demorou a escolher um bilhetinho bem amassadinho e amarelinho no meio de outros tantos verdes, azuis e vermelhos. De todos os desenganos restava sempre a esperança com verniz de certeza de que o futuro era aquele mesmo e que mais cedo ou mais tarde o papagaio provaria saber mais da minha vida do que eu mesma. Só que agora o futuro já está passado e nem há mais a chance de voltar e pegar o bichinho de jeito.

Sealvia

A Mansão Foster Para Amigos Imaginários

Sala de espera. Meu deus, eu não deveria, mas vou te dar um conselho: NÃO FIQUE FALANDO DE DOENÇA EM SALA DE ESPERAAAA. TENHA MODOOOOS!!! Ao meu lado as senhouras "Meu-genro-é-médico" e "Sofri-onze-intervenções-cirurgicas" discutiram TODAS as especialidades médicas, com descrições muito vivas de tumores do tamanho de bolas de futebol, tumores cabeludos em pernas (eu juro que ouvi isso), baldes de água purulenta sendo retiradas de estômagos, cistos de seis centímetros nas trompas mais variadas, tosses catarrentas, bicos de papagaio, olhos de peixes de água doce e salgada, abscessos que explodem nos lugares mais incríveis, fístulas repugnantes, pústulas cabeludinhas, úlceras sangrentas, visagens, tonteiras, ataques fulminantes e coágulos inoperáveis. Puta merda. Quando numa sala de espera, meu bem, não dê trela pros mórbidos de plantão - enfie a cara num livro, depois vc reclama que não tem tempo de ler - mas, se for conversar, fale de flores, do penteado do Geraaaaaldo, do tempo, das cotovias. Mas não fale de doenças, pelo amor de deus. Já me mata gente que faz do blog um diário íntimo e sempre atualizado de mazelas, acho nojenta essa gente que fica "hoje fui ao médico e ele disse....e aí eu fiz um exame....", pelo amor de deus. Mas enfim, o blog é seu, se eu não gosto eu não leio. Mas ao vivo e a cores? Poupe o mundo da sua inebriante vida pessoal e da sua assombrosa ficha médica. É dum mau gosto indescritível.
(não, não tou falando de contar um ou outro fato isolado, mas tem blog que.... ah, vc sabem, o cara descreve a cor do xixi, santa maria mãe de deus)
De qualquer forma eu tou sentindo tudo que elas descreveram, até minha próstata dói, caras.

*

O Sistema Caiu

Parece nome de livro de economista.
Que sistema?
Como assim "o sistema"?
Quem é “o sistema”.
É Sistema, sistema?
É o sistema solar?
É o sistema Anhangüera-Bandeirantes?
É um sistema operacional?
É um sistema que adota políticas descentralizadoras?
É um sistema que auxilia a preparação e a composição de alternativas às soluções ortodoxas?
O sistema que oprime?
O sistema militar?
É o Sistema Único de Saúde?
Ou é “Senhor Sistema para você – sabe com qual Sistema tá falando?”
Cai-cai-cai-cai, que eu não vou te levantar.
The Sistema left the biulding.
O sistema subiu no telhado.
O sistema já foi tarde.
O sistema era tão moço, tão bom filho.
Se o sistema caiu, ele que aprenda a levantar.
“Ama, com fé e orgulho a conectividade em que nasceste! Criança! Não verás
nenhum sistema como este! Olha que servidores! Que aplicativos! Que bancos de dados! Que links!”
O sistema caiu.
Machucou?
Fez dodói?
Quando o sistema casar, sara.
Quebrou algum osso?
Alguém acudiu?
O sistema caiu de maduro.
O sistema descansou.
O sistema foi em paz.
O sistema parecia tão sereno, parecia estar dormindo.
Cai, cai, sistema, cai, cai sistema, aqui na minha mão.
O sistema é solar?
É neurológico?
É nervoso, coitado?
Cai onde, como foi?
Escorregou no xixi do gato, caiu, bateu a cabeça?
Torceu o pé no estacionamento do Carrefour e ficou engessado 50 dias ?
Foi mordido por um cachorro furioso, caiu e teve que reconstituir o tendão?
Se estabacou no banheiro, entalou no box, tiveram que chamar a vizinha do 403 pra levar o sistema ao pronto socorro?
O Sistema caiu, quebrou os dentinhos da frente, mas tudo bem, eram dentes de leite?
O Sistema caiu lamentavelmente nas mais recentes avaliações do pessoal?
Despencou do oitavo andar?
Caiu na rede? É peixe?
Caiu no meu conceito?
Caiu em si?
Caiu em desgraça?
Caiu na boca do povo?
Caiu no crime?
Caiu como uma luva?
Caiu na gandaia?
Caiu na real?
Caiu na malha fina do imposto de renda?
Ele que levante, sacuda a poeira e dê a volta por cima

*

Eu, que nunca soube o nome da dor. Eu, que não semeei os campos, que não colhi os frutos, que não mantive o passo, que não errei, que não soube quando errei, que perdi o pé, que trinquei a taça, que sobrevivi ao império, aos meus filhos, ao vento noroeste, que não sobrevivi. Eu, que não escutei a voz da razão, que sabotei a lei das probabilidades, eu que matei, que surgi, que desapareci confinada que fui às visões românticas do colonizador, que refiz pegadas, que apaguei traços, que me enfureci e sacudi lapelas. Eu, que apontei dedos acusadores, eu que não sabia coisa alguma, eu que tinha tantas certezas, eu que sorria para a multidão que atirava rosas, eu que dava tchauzinho de miss. Eu, que respeitava o nosso gentil patrocinador. Eu, que tive medo e coragem, que amei e odiei na mesma frase, no mesmo segundo, no mesmo toque. Eu, que estabeleci motivos para a guerra e assinei tratados e capturei os chefes das outras tribos e cortei tendões dos inimigos e que não fiz prisioneiros. Eu, que embalei crianças mortas, lutei por causas perdidas, rendi-me a cada lugar comum, ou clichê, ou armadura brilhante, ou cão de ataque. Eu, que consultei os astros e os sábios da cabala, que entendi os mapas, que tracei as rotas, que tirei conclusões, que reuni a tropa, que segui os relatos dos vitoriosos. Eu, que patrocinada pela rainha, lancei-me e aos meus ao mar, enfrentando monstros, chacinando sereias, despencando de bordas e perecendo sem laranjas. Eu, que quis laços cor-de-rosa e chuteiras, tortas de maçã e cervejas, doença e guerra, instâncias individuais e direitos intactos, jujubas e drama, água potável e fontes decorativas. Eu, que enterrei os que partilharam de minha juventude, escolhi ignorar o óbvio, que preferi não notar o desmoronamento do improvável, que vaguei sem rumo, que temi o inexato e cantei durante o verão. EU, que grito das janelas ignorando os vestígios do impacto, chegando a extremos, capitulando, chegando a extremos, capitulando, chegando a extremos. Eu, que reuni fragmentos. Eu, que não pude ver os dizimados pelas armas e que, dizimada, não quis acreditar. Que, que não me identifiquei com os vencidos, que não tive culhões para ser o vencedor e nem caráter para apenas observar. Eu, que nunca soube o nome da dor.

Três, sem tirar de dentro, do ¡Drops da Fal!

23.10.06

Lendo atingi bom senso

Vontade de ter uma livraria só pra ofender os autores. E o leitor também, claro.

Nada de organização por tema e ordem alfabética. Agruparia livros em estantes assim:

Véio broxa

Morreu virgem

Recebeu bolsa-família

Analfabeto funcional

Ele era mãe

Carecas de bigode

Nem parece peruca

Olavetes de Chevette

Conservadores que dizem cu

Passou a vara em Che

Controla o calendário sem utilizar as mãos

Pega na teta do titio

Tá com pena? Leva pra casa

Cigano Igor já leu

Livros que o Tiririca não gosta

Comi muito

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Leitor: - Onde eu acho Machado de Assis?

Vendedor: - Na prateleira Carecas de Bigode.

Leitor: - Mas o Machado não era careca!

Vendedor: - Percebo que o sr. não conhece muito Machado de Assis.

Leitor: - Como não?! Já li praticamente tudo dele!

Vendedor: - E não percebeu a calvície? Tsc, tsc...

Leitor: - O sr. está ofendendo um clássico da literatura MUNDIAL!

Vendedor: - Daqui a pouco o senhor vai me dizer que os clássicos não envelhecem.

Leitor: - Mas é isso mesmo: eles nunca envelhecem!

Vendedor: - Envelhecem e ficam carecas. Só um cego pra não perceber a calvície de Machado de Assis.

Leitor: - O Machado tinha cabelo e até topete! Não era careca.

Vendedor: - Tá certo, não era careca. Qual a próxima barbaridade que senhor vai me dizer a respeito do Machado de Assis? Que não tinha bigode?

Leitor: - Bigode tinha. Careca eu não admito!

Vendedor: Tá bom, não vamos mais discutir, o cliente tem sempre razão. Vou mudar o Machado de Assis para a prateleira Nem Parece Peruca, ok?

Colorina

22.10.06

Fernando Rodrigues

O debate do SBT flopou – sejamos francos: foi um nada eleitoral esse debate de ontem à noite no SBT entre Lula e Alckmin. Hoje, as repercussões de cada um dizendo que venceu, que foi melhor, que apresentou mais dados... Baboseira pura.

Como era previsível, o tucano baixou o tom. Lula ficou naquela cantilena de números e números de seu governo. Nenhum dos dois explicou, de maneira convincente, o mais importante: como faria para que o Brasil cresça mais do que os níveis atuais.

E no final? Aquele bando de áulicos dos dois candidatos louvando a iniciativa maravilhosa e democrática do canal de TV que promoveu o encontro... No fundo, o maior ganhador é só a TV, que pode dizer com orgulho que rebocou os dois políticos para seu estúdio.

A maior contribuição do SBT foi oferecer um elemento extra para confirmar a falência do modelo em vigor desse tipo de debate. No primeiro turno, há aquela regra demencial de ter nanicos presentes. A pretexto de produzir democracia, a exigência é mero democratismo sem sentido. No segundo turno, todas as emissoras de TV querem fazer debate com regras complicadas que inviabilizam o verdadeiro embate entre os políticos.

“Candidato, o tema é educação. O sr. tem dois minutos”, diz o (a) moderador (a). Dois minutos para falar de educação?? Em seguida, o candidato fala sobre o que bem entende...

Por que não ter apenas uma única regra? “Candidatos, o srs. têm uma hora e meia para debater sobre o que quiserem. Podem começar. E cada module o seu tempo como quiser”.

Ah, mas daí seria uma carnificina, dirão os adoradores de regras e leis. Hummm, pode ser. Mas ficaria mais fácil saber quem é quem nesse deserto de idéias que se transformou a política. Até porque, falar sobre educação ou infra-estrutura em dois minutos com mais um minuto de tréplica é obviamente uma insanidade.

Fernando Rodrigues

20.10.06

...

eu gosto de gente que faz e de gente que pensa.
se você pensa e não faz, não serve.
se você faz e não pensa, também não.

Todaperplexa

18.10.06

Intervalos da navegação

Entrei na era da mp3. Downloads de graça. (Quantos desavisados não chegarão aqui pelo google por conta dessas palavras mágicas?) Alguém perguntou se a minha consciência não pesava. Por quê? Não pesa. E não é porque o CD está muito caro (e está) ou porque no fim das contas os artistas ganham uma porcentagem muito pequena da venda de CDs (e ganham). Os que me conhecem de outros tempos sabem que meus motivos não seriam jamais tão mundanos assim. Deverão supor que minha consciência está limpa por motivos puramente metafísicos, e estarão redondamente certos. Pois bem, a conveniente metafísica da vez é:

VOCÊ É O QUE VOCÊ COMPARTILHA (PONTO)

Como não haveria um amplo terreno do céu reservado à boa alma que acaba de compartilhar comigo um CD do Miles Davis? E que monstro seria capaz de censurar um dos gestos mais nobres que o século XXI é capaz de testemunhar? Eu respondo! Aquele mesmo canalha que acabou de repassar um e-mail com um texto lindo do Manuel Bandeira que o próprio Bandeira nunca teria a indelicadeza de escrever.

diferença nenhuma

Faça Você Mesmo: Ministério de Notáveis

Ministro da Saúde: Paulo Cintura
Ministro da Defesa: Júnior Baiano
Ministério das Relações Exteriores: Jane Mary Corner

dies iræ

16.10.06

etiqueta de rompimento – edição (quase) mensal

um guia prático de boas maneiras para pessoas que desejam pôr um fim na sua relação amorosa sem perder o decoro.

fim de caso para quem já leu o manual (qualquer um, pode ser o da geladeira. nunca se sabe o que existem nesses livretos, ninguém lê mesmo)

- bom dia.
- bom dia. fique a vontade. deseja beber algo? café, água?
- sim, claro. café.
- diga-me, o que ocorreu para marcar um encontro tão cedo? alguma saudade extraordinária?
- não. trata-se de um assunto delicado.
- sendo assim, prossiga.
- recebi uma proposta e vou me desligar de você...
- hmm...
- e, já conhecendo o seu perfil de negociação, prefiro não arriscar uma contraproposta.
- entendo. não posso oferecer muito e a competição é acirrada. é só você esquecer um aniversário-de-qualquer-coisa que já vem a concorrência prometer não somente lembrar, mas também levar pra jantar.
- está difícil pra todo mundo. tive muita sorte em ficar com você, lembra? aquela sua antiga pretendente era bem mais multidisciplinar...
- isso é verdade, entendia de um tudo... o problema foi ela já querer que eu assinasse uns contratos que lhe davam direito a metade dos lucros... inegociável. mas então apareceu você, recém dispensada de um estágio mal-amado, inexperiente, com vontade de mostrar serviço, não pensei duas vezes.
- isso eu não posso negar, mas meu foco mudou. resolvi arriscar um sonho antigo e fiz os meus contatos. conversamos e ele me ofereceu o dobro do que você me oferece.
- o dobro? acho difícil alguém oferecer mais do que eu já ofereço, mas se você prefere assim... poderia, antes de ir, porém, preencher esse formulário com sua opinião a respeito do meu desempenho, sua avaliação, críticas, sugestões, elogios. é uma forma que estou adotando para o auto-aperfeiçoamento.
- lógico, por que não? foi um prazer, enquanto pôde ser um, estar ao seu lado.
- o prazer foi meu. desejo que encontre muito mais para onde você está indo.
- muita gentileza da sua parte. desejo o mesmo para você!
- ah, outra coisa...
- diga...
- enquanto procuro outra... pode cumprir trinta dias de aviso prévio?

plastic surprise - por karla nazareth

13.10.06

ontem fui a la serena

ontem fui a la serena com as poetas argentinas. vao dizer que só ando com as argentinas. mas sempre me perco das chicas del cono sour, sempre combinamos un mango sour e acabo seguindo mis amigas da terra de thénon e pizarnik. fiquei na praia com gabriela bejerman e romina freschi, molhando os pés no pacífico e escutando as conversas das gaivotas (que bichinhas barulhentas!). e só ontem fui notar como as gaivotas comem mariscos. é assim: esperam as ondas retroceder, pegam os mariscos, voam alto e deixam o bicho cair na areia. assim a concha se quebra e elas comem o interior. mas nao é de primeira, nao, elas tem que deixar cair várias vezes. aí bejerman olhou pra mim e disse: "imagina o que o marisco está pensando agora? puta madre, de nuevo noooooooooooooooooo!" eu disse pra ela escrever um poema sobre o assunto. falando nisso eu vou ali comer uns mariscos no mercado. aqui é o epicentro dos mariscos, como ela diz.

de nuevo siiiiiiiiiiii

8.10.06

diz q. a gente veio do macaco, mas alguns ainda vêm vindo

amigos, um sábio amigo fala q. a estupidez humana divide-se geométrico-democrática/:
1-o imbecil elementar
2-o besta quadrada
3-o anta cúbica
4-o lorpa terminal, q. assim o é pois elevado a 'n'.
este último grau final/ reconhecido na alvissareira premiação.
creiam, o amigo fala 'de cadeira'.

de rodas, posto q. os percorreu um a um.


HIPOPÓTAMO ZENO

7.10.06

"Discutir na internet é igual competir nas olimpíadas especiais, você pode ganhar, mas continua sendo um retardado."

Flamewars Survival Guide

1 - Não eleve o tom da discussão.

2 - Posts agressivos podem ter respostas agressivas, sim. É isso que eles pretendem; é isso que eles merecem. Como Mel Gibson nos ensinou, as guerras podem ser muito divertidas.

3 - Um brogue é a casa de alguém. Mas se esta pessoa abre a janela de sua casa e começa a gritar que todo sãopaulino é viado, por exemplo, ela não pode esperar sinceramente que as paredes não apareçam pichadas no dia seguinte (ou cheias de pó-de-arroz, no caso).

4 - Sarcasmo é bom, ironia melhor, wit is jolly good. Ter argumentos é também recomendável, mas opcional.

5 - Só altere de forma jocosa os nomes de seus contendores se eles se irritarem com isso.

6 - Uma boa discussão está sempre no limite de se discutir mutualmente a profissão das progenitoras mas nunca o faz.

7 - Se uma metáfora infeliz foi usada pelo oponente, não tenha pena. Explore-a, torture-o.

8 - Releia seu texto antes de apertar o "send". Repita o processo. Novamente. Quando você estiver quase se arrependendo aperte o botão.

9 - Esqueça os erros de português e de digitação do adversário. Gramaticismos são a melhor forma de provar que você não tem argumentos.

10 - Sim, é possível dar um ippon simplesmente torcendo o mindinho. Atenha-se a um pequeno ponto que você tem razão e o oponente não tenha e vá determinado até o final. Exija uma resposta direta. Ele jogará diversos outros argumentos em sua direção, mas não se desconcentre, você pode retomar as discussões tangenciais mais tarde. Continue torcendo o dedinho.

11 - Cimente uma placa de bronze na parte interna do seu crânio com a inscrição: "por mais idiotas que os oponentes sejam você é muito pior pois está discutindo com eles." Tenha claro isso antes de entrar em qualquer debate. Você não está solucionando os problemas do mundo, está apenas os alimentando.

12 - Um corolário da Lei anterior: Tenha claro que na discussão você jamais irá convencer o oponente. Veja bem: ele é uma pessoa que acredita que a desregulamentação do mercado vai resolver o buraco da camada de ozônio; é com gente assim que você está lidando. Sua esperança reside em que um jovem leitor decida-se pelo seu lado (que é sempre o lado da Luz, da Razão e da Sabedoria) ao ver os argumentos de seu oponente solenemente pulverizados.

13 - Chiliques, faniquitos e fricotes são sinais óbvios que você já ganhou a discussão. Não os aponte, no entanto; não só não é educado como provocará mais chiliques, faniquitos e fricotes.

14 - Nunca reclame de ter um comentário deletado de uma caixa de comentários. Ela não é sua. Quer democracia? Discuta lá no seu brogue.

15 - Divirta-se. Se sua neurose não permite que você se divirta em uma discussão de internet, procure um analista ou arranje uma namorada; ou namore seu analista, sei lá.

16 - Em dúvida, crie confusão. Frases enigmáticas, vagamente relacionadas ao assunto, terminando com uma piscadela ;) são ótimas cortinas de fumaça para fugir definitivamente de uma discussão.

17 - Last but not least, the Golden Rule:
Shoot all the sitting ducks, shoot the nests, shoot the eggs. That's the real hunt!

O Sinistro

Cemiteriedade

O Pessoal lá do cemitério, está meio encanado com a gente desde que começou a reforma do túmulo do meu avô.
O primeiro que começou a reforma faleceu e deixou a gente na mão, então tivemos que contratar outro. Quando foi pra fazer a exumação do corpo, o outro foi mordido por escorpião e agora que um terceiro assumiu, foi internado ontem, chegou louco no cemitério e precisou ser levado pro hospital de camisa de força.
Diz meu pai que hoje, quando ele chegou no cemitério, levando as plaquinhas de cobre pra colocar no túmulo, os coveiros se esconderam com medo de serem contrados por ele.
O administrador do cemitério disse pro meu pai, que era melhor contratar um inimigo pra terminar o serviço, assim já fazia dois trabalhos de uma vez.
As plaquinhas voltaram, ninguém quis colocar e meu pai disse que também não vai colocar não e perguntou se a empregada não quer ir lá fazer o serviço, ela disse que vai mandar o ex-marido:
- Pelo menos ele não fica com aquela vaca!

Fata, De Pindamonhangaba para o mundo.

conversas furtadas

DOIS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS

— Hoje em dia eu não uso dinheiro pra nada.
— Ah, me dá seu dinheiro então que eu faço bom uso dele!
— Não, seu besta! Eu só uso cartão. Só uso o débito, por que crédito é furada. Débito é igual dinheiro.
— Eu não. Eu só gosto de negociar com dinheiro na mão.
— Rapaz, imagina quando cê for comprar um carro ou uma casa, como é que você vai colocar o dinheiro todo na mão? Que mão gigante, hein!

Enviado por Duubhglas Juarezzz.

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FILA NA FACULDADE

— Mas você aguenta mais bebida do que a sua amiga.
— Cê fala isso só por que eu sou gordinha.
— Nada a ver! Eu num posso achar que seu rim é grande, não?

Enviado por Duubhglas Juarezzz.

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BOTECO EM JUÍNA (MT)

— É estrupo ou estupro?
— Estupro é quando um estranho come à força uma mulher. Estrupo é quando o marido come a esposa sem ela querer.

Enviado por Paulão.

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CHAPADOS NA FACULDADE DE BIOLOGIA

— Cara, cê não tá falndo coisa com coisa!
— É?
— É.
— Vô pensar sobre isso. Vô pensar sobre isso...

Enviado por Paulão.

conversas furtadas

dog day afternoon [ou] gangue de nove marginais armados até os dentes com fuzis invade fábrica de jóias de limeira, fazem mais de 40 reféns e matam um

(…)

O Júnior não se ligava em política. Ele era bem mais bonito que eu, tinha um magnetismo interessante. Eu perdi o contato com ele, até que fui trabalhar em Limeira em 1993. Um dia cheguei à rodoviária da cidade e lá estava o Júnior com um carrinho cheio de listas telefônicas.

"O que você está fazendo da vida, Júnior?"
"Peguei esse bico de entregar listas telefônicas!"

Fiquei com um pouco de pena de ver um cara com potencial, um bom vendedor, ali com aqueles livros amarelos e um uniformezinho velho da Telesp. Pensei que ele talvez pudesse me invejar. Não tinha nada que pudesse gerar inveja em alguém, mas eu tinha focado minha vida profissional em TV e estava obtendo algum sucesso. Eu sempre soube que ele ia se dar bem, ele tinha simplesmente a cara de quem ia se dar bem.

Novamente fiquei um tempo sem encontrá-lo. Quando aconteceu foi em uma visita de Paulo Maluf à Limeira. Aí fiquei sabendo que meu amigo Júnior tinha se filiado no PPS do turcão e fiquei um pouco decepcionado. Maluf era candidato ao governo e apostei com o Júnior que ele não levava. Aposamos um almoço num rodízio. Eu ganhei. O Júnior nunca me pagou.

Fui fazer uma eleição municipal para o PT de Piracicaba e sempre que cruzava com Júnior, ele me zoava. Zoava a pobreza e a ignorância dos petistas e de como o PT nunca chegaria ao poder.

Na próxima eleição, trabalhei para o PL em Limeira. Ele encarou como uma virada-de-casaca minha, não entendia o lance profissional da minha atividade, diretor/redator dos programas do horário eleitoral. Nesse mesmo pleito, em 2000, Júnior saiu candidato a vereador. Ele havia se casado com a filha de um empresário do ramo de jóias e achava que podia representar o setor. Tentei dissuadi-lo. Ele pareceu firme, decidido, confiante que ia levar. Teve 71 votos.

Por essa época, ele teve uma filha. Lembro de vê-lo andando pela cidade com carrões, sempre bem vestido, sempre perfumado. Decididamente, um cara bonito.

Logo depois, em novo evento, de novo com Maluf e asseclas, ele me informou que estava se separando, que ia montar uma pequena empresa de jóias e queria tocar a vida, curtir a vida. Ele entrou no Orkut, me adicionou, montou um fotolog que eu sempre espiava, belas mulheres, locais bonitos. "O Júnior se deu bem, eu sabia!"

Ontem, cinco e meia da tarde, uma gangue entra em uma fábrica de jóias daqui. A polícia é acionada e é recebida com balas. Um PM morre no local. Dentro, com a gangue, quarenta e quatro reféns. Seis da tarde, entra no ar o programa A Hora da Verdade, sensacionalista-policial, o programa é comandado por Geraldo Luís, repórter que serviu de inspiração para o meu Geraldo Assis, de Sexo Anal.

Não temos nem dez minutos de programa, toca o telefone e é um ds sequestradores querendo negociar, ao vivo, com Geraldo a saída com vida deles e dos reféns. Nunca soube de nada igual na TV brasileira. Ficamos uma hora e meia ao vivo com os sequestradores falando de dentro da fábrica. Mulheres grávidas e algumas pessoas foram liberadas. O programa terminou e as equipes foram até o local. Depois de muita negociação, os marginais se entregaram e saíram em meio aos reféns, às duas e cinco da manhã, no melhor estilo "O Plano Perfeito", filme do Spike Lee.

Mas "O Plano Perfeito" é um filme americano e os americanos são mais inteligentes.

Hoje, chego na TV e vou ver as imagens. Vejo com cuidado a primeira dupla que foi liberada: uma grávida e um jovem bonito. Sim, era o Júnior. Até então ele estava dentro da fábrica, onde tinha negócios, quando a gangue chegou. Porém, fiquei sabendo na sequência, foram encontradas com ele três barras de ouro, escondidas nas meias e na cueca.

Ele saiu como refém liberado de um crime em andamento com três quilos de ouro escondido.

Por quê?

Teria sido oportunista? Aproveitou a confusão para faturar algum?

Talvez não. Uma hipótese é que ele tenha dado o serviço para a gangue e, quando tudo deu errado, ele ficou incumbido de sair com o ouro para contratar um advogado.

Talvez não tenha nenhuma participação em nada e o ouro era dele mesmo, frio, sem nota, sem documento. "Esse ouro é meu, ia tantar vender para a empresa".

Lugar errado, hora errada - ou não - meu amigo Júnior foi enquandrado em latrocínio, formação de quadrilha, porte ilegal de armas e cárcere privado. Difícil ele escapar de trinta anos de cana.

(…)


Biajoni

6.10.06

Da vida e da morte:

Um senhor de cinquenta e seis anos, meu mentor sem querer, meu amigo sem saber, diz-me que perdeu todas as suas amizades. Razões? Irremediáveis. Irreparáveis. Pior de tudo: perenes. Todos os seus amigos morreram ao longo do último ano. Um a um. Ele: cá anda. Na merda, mas cá anda. Estudando, rindo, comendo, sobrevivendo. Faz colecção de selos e possui uma inteligência rara. Tem todas as doenças de uma velhice precoce e mal se consegue mexer. Diz umas piadas, conta umas anedotas, fala de números complexos e ri-se como uma criança. Simpático, triste, afável, é impossível não sentir um mínimo de compaixão. Quem olhar com atenção percebe que falhou a vida, os sonhos. Falhou, mas alcançou a resignação, conseguiu a felicidade. Uma felicidade escassa, débil, talvez efémera, mas suficiente. Pelo menos, por agora. Já a minha avó não me parece ter atingido esse reconforto. Na semana passada, passei lá por casa e vi uma mulher deitada, doente e desanimada. Sem sorriso, sem humor e sem esperança. Com o cabelo por pintar. A minha avó, para quem não sabe, para quem não viu, para quem não me conhece, foi o meu grande amor. É o meu grande amor. Hoje, sei que não será para sempre. Ela, não o amor. O meu pessimismo talvez esteja a adivinhar-lhe o fim demasiado cedo. Demasiado depressa. A verdade é que não faço a mais pequena ideia de como continuar a viver depois dela. Se é que haverá mesmo um depois. Mas a vida continua. Ouvi dizer.

Diário de Tiago Galvão

Não se come uma mulher, ela é que se devora.

Fabricio Carpinejar

5.10.06

No balcão da companhia aérea

- Bom dia, senhora, posso ajudá-la?
- Pasárgada, one way.

A Caverna da Ogra

Desamparados do mundo, uni-vos.

Meu amigo Rogério me falou esses dias que pretendia criar o movimento dos sem remédio. Sem remédio, veja bem, não são pessoas necessariamente sem conserto, mas gente pela qual não há (mais) nada a fazer. Para os casos-limite, ou existe medicação desenvolvida e testada, com resultados comprovados, posologia, acompanhamento, tempo de administração, efeitos colaterais, sintomas esperados, aprovação do Ministério da Saúde, ou ação judicial, ou providência administrativa, ou seguro, ou procedimento, ou solução. Para o restante, para todo o resto, para mim inclusivemente, não tem. Raciocinem comigo: se você tem síndrome do pânico, tem remédio; se você tem medo, não tem. Se você tem depressão, tem remédio; se você está triste, não tem. Se você tem DDA, tem remédio; se você é estabanado, não. Se você tem transtorno obsessivo compulsivo tem remédio; se você é um chato de galocha, não. Se você tem obesidade mórbida, tem remédio e cirurgia; se você tem uns pneuzinhos sobrando, não. Se você é anoréxica tem remédio; se é magra de ruim, não. Se você tem infecção intestinal tem remédio; se você tem diarréia nervosa, não. Se você não tem peitos, pode colocar silicone; se você tem peitos de fábrica e precisa de um sutiã sem enchimento que proporcione uma sustentação razoável, não seja especial para lactante nem se pareça com os sutiãs da sua avó, n.º 44 ou maior, não tem. Se você é assaltado à mão armada, vai na delegacia e presta queixa; se elegem o Maluf, não tem nada a fazer. Se alguém cruza o sinal vermelho e destrói o seu carro, você aciona o seguro; se o motoboy erra o cálculo e arranca o retrovisor, não dá nem o valor da franquia. Se você precisar de uma cirurgia, entra em licença saúde; se estiver com o saco cheio de tudo, azar o seu. Se protestam um título no seu nome e você não deve, você processa judicialmente e pede indenização; se o flanelinha cobra déreau o estacionamento na rua, você paga e não chia. Se o seu chefe lhe assedia sexualmente, você denuncia; se ele inventa uma piadinha cretina todo santo dia, você agüenta no osso. Se lhe quebram o maxilar com um soco, é crime; se lhe partem o coração, não.


Mme. Mean

4.10.06

Daily Lit

Ando lendo uns livros pelo Daily Lit, que é um serviço que manda livros pra você por email, trecho por trecho. A vantagem é que se você tem preguiça de ler na tela, bom, os trechos que eles mandam são curtos, não dá preguiça de ler.

E fiquei pensando em montar um serviço parecido - só que eu mandaria os livros todos errados sem dizer nada. A pessoa pediria pra receber "Emma", por exemplo, e receberia a minha versão de "Emma". Para o resto da vida ela acharia que Jane Austen incluiu uma cena de tetada no livro.

-Adorei a cena da tetada.
-Hein?
-Emma Woodhouse é uma lésbica que sai dando tetada em todo mundo. Daí um dia ela encontra a Harriet na estrada e as duas começam a brigar de tetada. Harriet quebra um braço e tal.
-Não tem isso no filme.

Um dia a pessoa leria o livro de papel e ficaria desapontada porque não encontra a cena da tetada.

-Cortaram tudo essa bosta.

Não que "Emma" fique melhor com a cena da tetada - é um dos meus livros preferidos do jeito que está. Mas talvez eu colocasse uma cena da tetada em "Dracula". Não sei exatamente onde. Talvez Mina Harker desse uma tetada no Conde? E gostaria de colocar - não sei bem o motivo - marcianos em um romance realista do tipo "As Vinhas da Ira". Faltam marcianos em "As Vinhas da Ira", certamente. Ou você está dizendo que não há espaço para marcianos em "As Vinhas da Ira"?

Estou convicto que a maior parte dos livros melhoraria muito com a presença de marcianos ou com uma bem colocada cena de tetada no meio, mas faltando isso também pode ser:

1) Dálmatas fumando charuto.
2) Combustão espontânea.
3) Traumatismo peniano.
4) Um mestre de Kung Fu.

"O Pai Goriot", "A Cartuxa de Parma" e "Oliver Twist" se beneficiariam de (1); quase qualquer livro se beneficiaria de (2), mas sobretudo "O Primo Basílio"; se Ahab sofresse de (3) em "Moby Dick", todos ficaríamos felizes (o mesmo valendo para Thoreau em "Walden"); e meu Deus, fico feliz só de pensar na aparição súbita de (4) em "Germinal", "Naná" e "A Besta Humana".

Nada, no entanto, me daria tanto prazer quanto a aparição de um Mestre de Kung Fu em "Guerra e Paz", ensinando Kutuzov a lutar no Estilo do Macaco Bêbado. É assim que Kutuzov expulsaria Napoleão de Moscou. Sim, isso e os macacos vampiros.

Alexandre Soares Silva

3.10.06

Onde está David Hussein?

Indo de Jaguariúna em direção ao sul de Minas, ou rumo a Ribeirão Preto e Franca, o motorista vai topar com várias praças de pedágio. Apesar do asfalto conservado, da sinalização impecável e de todos os serviços disponíveis ao usuário, a viagem meio que empaca.Ou é decepada pela cancela que se ergue ao comando da mocinha do guichê – depois de efetuado o pagamento, é claro. Uma guilhotina que corta para o alto.

A “Rodovias” ( concessionária desse trecho) poderia poupar as mocinhas dos guichês do constrangimento de nos desejar "boa viagem".Tenho pena das mocinhas dos guichês,ânsias de vômito e tesão - nessa ordem.

Todavia não me interessa,aqui, discutir tarifas & serviços. Quero elogiar a iniciativa da "Rodovias" de imprimir, junto ao recibo de pedágio, fotos, nomes e idades de crianças e adolescentes desaparecidos.Uma idéia magnífica.

Fazia muito tempo que eu não pegava uma estrada (dirigindo) ... e imagino que outras praças de pedágio devam ter adotado o mesmo sistema da “Rodovias”. Isso, de certa forma e apesar das altas tarifas,é reconfortante para aqueles que,como eu, tiveram seus parentes desaparecidos.

Faz três anos que perdi minha filhinha.

O curioso é que, somente na semana passada, me inteirei (ou dei o devido crédito) a este sistema de buscas.Eu mesmo, há três anos (quando perdi Sicília) me encontrava em situação semelhante. Quase desaparecido. A diferença é que eu ligava para casa duas vezes por ano, no aniversário de minha mãe e no aniversário da garota, dez dias depois. À época – confesso, com muito pesar - não acompanhei as buscas e também não me interessei em procurar ninguém, mesmo porque eu mesmo não sabia onde me encontrava.

Lembro vagamente de clínicas psiquiátricas, engradados de cerveja abandonados e ratazanas castanhas ... e até me recordo que vivi alguns meses na companhia de Hare Krishnas,o lugar ... se não me engano... era a praia do Santinho-SC,1998.

O que vale é que junto ao recibo do pedágio me deram uma foto de David Hussein ali de Lucena: desaparecido em 2001. Dois anos depois de Sicília, que semana passada completaria 4 anos?

Nem as datas nem a idade atual do garoto coincidem com os dados confusos que fervem em minha memória... mas tenho quase certeza que topei com este David no réveillon de 1998 para 1999, lá na praia do Santinho.Foi o meu Réveillon com Krishna.

O garoto era um devoto (aprendiz) que não se atrevia a olhar nos olhos de Kesava, chefão dos hare hare. Lembro que ele dançava ao redor de uma fogueira, repartia melancias com os demais e, meio que abobado, rezava para as estrelas e discos voadores. Isso, confesso,me incomodava/incomoda um bocado.

Acho que é melhor não descrever a noite de primeiro de janeiro de 1999... quando curraram o garoto... também não quero falar em defumadores,incensos e vidas passadas.

(cont)

Mirisola heroi devolvido