24.2.09

do parto

Acordei mais ou menos à uma da madrugada do dia 26 pra 27 de janeiro pra fazer o enésimo xixi da noite. Só que o xixi veio acompanhado de uma dor muito chata que eu imagino que fosse uma cólica menstrual mais forte (não sei porque não tenho TPM). Na verdade eu tinha passado o dia inteiro sentindo essas dores, mas como fiquei batendo papo com a minha mãe, me distraí e nem prestei atenção. Dessa vez não dava pra ignorar: era forte MESMO. Como veio e passou, sentei no computador pra terminar umas três laudas de um trabalho que eu tinha que entregar no dia seguinte. Terminei às duas da manhã e ainda tentei dormir de novo, mas de vez em quando a dor voltava e não dava mais. Acordei Mirco e mamãe e tocamos pro hospital de Foligno.

Chegamos lá às quatro da manhã. Subimos até o segundo andar e demos de cara com a enfermaria de obstetrícia completamente vazia e às escuras. Ninguém na recepção, nada. Àquela altura eu já tava me contorcendo de dor e começando a mandar praquele lugar toda vez que sugeriam que era melhor eu sentar (também não sei onde queriam que eu sentasse, já que não tinha bancos nem cadeiras em lugar nenhum). Mirco desceu até a entrada do hospital pra catar alguém e voltou acompanhado de uma enfermeira que apontou pra uma salinha. Tocaram a campainha e saíram duas enfermeiras com cara amassada de sono. Uma delas pegou um interfone e falou “grávida em trabalho”. Logo apareceu a obstetra, uma senhora baixinha de óculos com uma cara sorridente que me botou logo pra fazer o traçado tocográfico. Eu avisei a ela que provavelmente já estava bem dilatada, já que de acordo com os últimos exames físicos e ultras a Carol tava prontinha pra nascer há o maior tempão, com a cabeça encaixadona. Mas ela tava com outra grávida na sala de parto e me deixou lá com o monitor. As contrações foram ficando mais freqüentes e eu já tava subindo pelas paredes de dor. Quando ela voltou, meia hora mais tarde, olhou pro monitor e travou-se o seguinte diálogo:

- Xiii, que contrações xexelentas… Pode ser que eu tenha que mandar você de volta pra casa…

- Nãoooooo! Dá pra fazer um exame físico? Eu tenho certeza que estou dilatadaAAAAAARGH!

- Vamos ver…

(Fez o toque)

- Caraca. O colo do útero tá mole feito manteiga, dilatadérrimo!

- …

- ‘Bora, ‘bora! Cadê a camisola?

Botei a minha camisola, apareceu alguém com uma cadeira de rodas, me sentaram na cadeira e me levaram embora pra sala de parto.

- Senhora, onde estão os seus exames?

- Putz, esqueci!

- Como assim, esqueceu? Não estavam na mala?

- Não, porque eu tinha outro traçado marcado pra daqui a quatro horas, os exames estavam perto da porta!

- Vou pedir pro seu marido ir buscar.

Chega a anestesista.

- Ouvi dizer que a senhora está sem os exames.

- Meu marido foi buscar. Mas os resultados da coagulação estavam todos OK. AAAAAARGH!

- Tem certeza? Olha lá, hein!

- Tenho sim, TAP, PTT, fibrinogênio, tudo normal. AAAAAAAAAAAAAAI!

- Vou confiar em você porque tô vendo que você é uma pessoa instruída e entende os riscos em caso contrário.

- Obrigada obrigada obrigadaaaaaaaaaaaaaaaaai!

Sento na borda da cama, curvada pra frente.

- Hm, a sua coluna é tão ruinzinha…

- (em pânico) COMO ASSIM RUINZINHA? AAAAAAAAAAAAAAI!

- Um pouco de escoliose, e os processos vertebrais são pouco visíveis, não tô conseguindo encontrar um ponto de referência… [vejam como ela foi diplomática e escolheu não comentar o fato de que eu engordei feito um javali e isso também não ajudou]

- Confio na senhora, doutoraAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARGH!

- Vou tentar aqui… (passa um tempinho) Nada. Vou tentar de novo. (mais um tempinho) Hm, nada… Vou tentar só mais uma vez, senhora, se não der agora não vou ficar furando você não, vamos desistir.

- Pode me furar à vontade, pelamordedeus pelamordedeus pelamordedeus faz parar essa dor malditaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

- Caramba, não sei como mas eu consegui!

A obstetra sorridente cochicha no meu ouvido:

- Não falei que essa anestesista era batuta?

(Ela passou o tempo todo me dizendo pra ignorar o idiota do ginecologista, que ficou puto porque eu não tava com os exames e era antipaticíssimo, e repetindo que a anestesista era foda e que ia conseguir com certeza.)

Dou um enorme suspiro de alívio quando sinto a anestesia fazer efeito. A dor é substituída por, perdoem-me o TMI, vontade de fazer cocô. Só que eu também estava com vontade de fazer xixi. Quando falei pra obstetra que estava apertada, ela achou que era vontade de fazer cocô, ou seja, o estímulo pra fazer força pro bebê sair. Eu, anestesiadona e totalmente fora do ar de tanto que eu já tava de saco cheio daquilo tudo, nem lembrei de especificar que eu queria era um xixizinho básico. Quando finalmente a obstetra deu o OK pra eu empurrar, chegaram duas enfermeiras suuuupersimpáticas, uma jovem lourinha e uma feia com cara de brasileira, e a pediatra, uma senhora de cabelos grisalhos cortados Chanel. Todas fazendo a maior torcida e me dando os parabéns por estar encarando tudo sozinha (a minha mãe estava na sala ao lado e o Mirco foi sumariamente enxotado por mim), a obstetra repetindo “vai, vai, força que os cabelos estão chegando!”, eu empurrando, sem gritar mas fazendo nnnnnnng! até a garganta doer… e nada. As contrações não eram fortes o suficiente. No final das contas me deram uma oxitocina básica e logo depois a Carol saiu, se esgoelando. Apgar 10 e 10. Nasceu às seis e meia do dia 27. Um parto relativamente rápido e sem complicações, com dois pontos de episiorrafia, mas quer saber… VAI DOER ASSIM NA CASA DO CARALHO. Ninguém merece, juro. Não consigo nem imaginar esse povo que encara trabalho de parto de não sei quantas horas sem anestesia.

Agora… Ô país mais atrasado, vou te contar – Foligno é o ÚNICO hospital de TODA A ÚMBRIA a oferecer epidural grátis e disponível 24 horas por dia. E quando eu dizia que ia ter neném em Foligno porque tinha epidural, todo mundo me olhava de modo estranho e perguntava, “ué, mas por que você quer epidural?”. Juro. Zaireeeeeeeeeeeeeee!

(A minha resposta pronta era “porque não estamos mais na Idade Média, dahling”).

pacamãe

O que importa é que

eu tô de folga em pleno Carnaval! Ano passado trabalhei na véspera de Natal, na véspera de Ano Novo, no Carnaval inteiro e em outros feriados também. Tá bem mais folgada a coisa este ano, e no ano que vem eu terei ESTABILIDADE ahhahaha, quero nem saber de mais nada!

Passei o dia jogando Crash (Mind over mutants). Bom, antes disso, fui na imobiliária receber o aluguel do apê e depois fui no banco. De biquini, é, pela areia da praia. hahahaha Vida surreal, a minha. Eu acho. Eu tô torrada e tô gostosa pra caralho (modéstia às favas), e tô pesando um quilo a menos do que eu pesava ano passado (tenho anotado meu peso do ano passado num caderninho. Não vou postar meu peso, né, aí também já é exagero). Não importa o quanto eu peso, só importa que é um quilo a menos do que no ano passado. Deve ser a fuck diet (e as caminhadas quase diárias na praia). O que realmente importa é que dizem que a gente depois de sei lá que idade engorda um quilo por ano? É isso que dizem? Então tô no lucro.

Mas é muito louco andar por aí de biquini. Eu tinha pudores e tal, sou paulistana, amarrava a canga em cima. Outro dia falei foda-se, fui na padaria ali da esquina com a canga amarrada na cintura. Nossa, nunca antes na história desta ilha aquele português escroto foi tão gentil.

Ok, farei isso mais vezes. Não adianta a gente querer vencer pela inteligência hahahaha, e, na minha idade, só quero mesmo ser reconhecida pelos meus peitões gostosos dotes CUlinários.

ceu azul

Auto-preservação II

Esqueça, patético. O mercado de ações nunca vai acabar. Aliás, o mercado financeiro em si nunca irá acabar. O mercado existe há mais tempo que a prostituição (que muito provavelmente se originou da necessidade de comemoração de bons dias de traders de arroz futuro na China em 5123.AC).

Os problemas no mercado são em geral provocados pelo famoso "Efeito Manada". Mas isso não é culpa do mercado e sim do instinto de auto-preservação do ser humano que o faz agir igual seus pares mesmo que isso vá contra a racionalidade e o bom senso.

É o Efeito Manada o responsável pela criação e pela destruição das pirâmides e bolhas. Cada tendência de alta ou baixa nada mais é que uma pirâmide em formação, com prazo para estourar.

The bigger the bubble, the bigger the plop.

Vamos a um exemplo prático de bolha no nosso dia a dia, o trânsito de SP. Devido ao rodízio de placas ninguem mais compra carro com placa final 9 e 0 a fim de poder viajar cedo na sexta-feira - caso contrário terá de esperar até as 20hs qdo termina o rodízio. O resultado dessas ações é que sexta-feira é o dia que o rodízio menos tira automóveis das ruas, provocando os piores engarrafamentos da semana e, adivinhem, atrasando ainda mais a saída daqueles que queriam sair cedo pra estrada.

Efeito Manada é também conhecido como a Síndrome do Pensamento Único.

Vocês viram alguém na imprensa questionando ou investigando a versão da brazuca maluca na Suiça? Não, todos os veículos repetiram absolutamente as mesmas asneiras sem checar porra nenhuma. Todos deram o furo e a barriga juntos. Manada.

O mercado de ações é o mais evidente porque é o menos sofisticado e mais popularizado. É o sacolão do mercado. Qualquer cachorro pode ouvir uma dica numa conversa de boteco e fazer sua aposta até mesmo pelo celular. O perigo mora nos mercados mais sofisticados, muito provavelmente aqueles que vocês só ouvirão falar depois que a cagada já ocorreu como no caso dos sub-primes e como na futura cagada dos CDSs (essa a gente em breve vai ouvir falar também).

Os tais "derivativos", que até então pareciam uma coisa distante e extremamente sofisticada já aparecem sendo oferecidos no varejão. Até no Facebook não raro aparecem advertisings de corretoras que te dão uma plataforma para especular com petróleo futuro a um clique de mouse. Isso aí: faça sua fezinha e colabore para que os mercados percam completamente os parâmetros e o equilíbrio real entre a oferta e demanda.

Mas nada disso é esclarecido ao grande público porque os bancos pagam bônus gordos a economistas craques em arrumar justificativas fundamentalistas para os movimentos das pirâmides e bolhas. Depois que elas estouram, claro.


pao mole

18.2.09

coisas que eu vou fazer quando for rica

- não só vou fazer hidratação e escova de vez em quando, como nunca mais vou pro meu cabeleleiro bosta de vinte reais o corte; vou voltar pro que eu cortava quando meu pai pagava pra mim, a 3 vezes isso. ah, e nunca mais uso xampu de marca genérica de 4 reais.
- chocolate, só lindt pra cima.
- todo o mês, vou comprar algum mimo totalmente desnecessário: gloss, calcinha nova, enfeitinhos para a casa... essas coisas que ninguém precisa mas é gostoso ter.
- aliás, eu vou morar numa casa bacana, claro; e devidamente mobiliada.
- vou usar um lap-top. e o computador fixo vai ser desses com monitor fininho. e vou ter um i-pod! vou adorar meu i-pod.
- vou fazer as unhas. toda a semana, se tiver saco pra isso.
- vou comer muita pizza, e muita, mas muita comida japonesa.
- vou comprar mais presentes, e melhores, pros amigos.
- vou fazer bunda-shake, procedimento anti-celulítico também conhecido como drenagem linfática.
- não vou mais comer com os pais ou com a sogra só pra ter uma refeição a menos pra pagar. (e minha relação com eles vai melhorar bastante em decorrência.)
- vou voltar a depilar tudo só com cera quente descartável, em lugares higienicamente confiáveis, e nunca mais vou usar meu aparelho depilador caseiro.
- não vou aceitar mais "doações" (por exemplo, não vou ter mais um celular ou uma peça de roupa que não sejam meus desde o começo). E nunca mais vou ganhar dinheiro como presente.
- vou ter os cds que gosto mais em cd mesmo, não só baixado no computador.
- e – ôu, iéee - vou aumentar consideravelmente a população da minha gaveta de brinquedinhos safados.

e principalmente: vou viajar muito com o maridão.

tá, não precisa ser muito rica pra fazer essas coisas, mas se um dia eu tiver grana pra elas, tenho certeza que é assim que vou me sentir.
quando eu era pequena, minha mãe dizia que se fosse rica ia beber coca-cola todo o dia. aí a gente melhorou de vida e ela pôde. ainda faltava muito pra sermos ricos, mas eu me lembro da sensação, na adolescência... de olhar o refrigerante na mesa ou na geladeira e me achar muito privilegiada.

é bom prá quem gosta

Nó na língua

Receita para não falar nada direito:

Use o português, o inglês e o espanhol diariamente. Gabe-se de ser tão boa nisso. Mantenha o “alemão: fluente” devidamente documentado e encaixotado no seu CV. Agora mude-se para a Suiça. Comece a falar não três, mas quatro idiomas ao mesmo tempo. Adicione uma pitada de alemão suiço. Pronto. Agora você adquiriu a habilidade de não falar NENHUM dos idiomas direito. Mexa bem e sirva.

ploft

Eu quando fico louca da buceta saio apagando tudo quanto é email, fotos de orkut, arrumo closet, jogo um monte de coisas, outras eu dou pra moça que vem limpar a minha casa e outras dou pra Bianca brincar.
Vai que picando trocentas calcinhas velhas e sutians, achei umas calcinhas da época de solteira, época Deusqueajudeeproteja e olha...se as calcinhas falassem....hahahahaha...que medo.
Pronto. Picadas, destruídas e no lixo.
Done!

uh baby!

Malandragem IV

Peguei minhas coisas e fui pro banheiro. Natália perguntou se podia ficar comigo, eu deixei. Tirei a roupa e ela ficou me olhando. Enquanto estava no chuveiro falamos um monte de coisas bobas, depois saí e me enxuguei. Fomos deitar no quarto dela, que tinha bicama. Ela pediu pra eu contar uma história, contei a história do sapo, acordamos no outro dia, troquei a roupa dela e depois comecei a me vestir. Tirei o sutiã que estava usando e peguei outro. Natália disse: “Você dá ele pra mim?” Aquele sutiã tinha custado vinte e cinco reais. Eu ia ganhar cinqüenta pra passar o fim de semana com ela. Ela não tinha peito nenhum, nem ia poder usar. Mas ela pediu de novo e eu dei.

sete linhas

Estrias

Na nossa última sessão doméstica de cócegas em família, as meninas descobriram que tenho estrias na barriga. Perguntada, expliquei o que era e como apareceram.
E elas acharam a coisa mais legal! Quiseram saber qual estria era de qual gravidez e disputavam entre si: "esta aqui é minha, essa menor é que é sua!"

Preferia não tê-las, mas renderam mais sorrisos do que jamais imaginei.

mesa de bar

Saudade

Uma vez eu peguei um ônibus de Mafra a Lisboa, talvez o primeiro da manhã. Era uma das últimas da fila. As pessoas foram entrando e se acomodando, e acabou não sobrando um lugar para mim e uma amiga. O ônibus tinha música ambiente. Sentamo-nos no fundo do carro, sobre o assoalho. Nesse momento da manhã, silencioso apesar da música ambiente, começou a tocar, num outro país a milhares de quilômetros do meu (mesmo que a língua fosse a mesma, em termos), "Romaria", com a Elis Regina e, de repente, eu me senti um objeto apartado da minha origem e ligada a ela por um elástico tenso e doloroso e, ainda assim, doce.

festa movel

Tava pensando aqui. Sobre as nossas possibilidades de diversão nesse mundo. Sexo, óbvio. Comida, bebida. Livro, filme, música. Pra alguns, esporte. Drogas. E bater papo. Tem mais alguma coisa? É basicamente isso, né? Meia dúzia de coisas. Que mundo de merda!

FDR

É LIXADO VOAR QUANDO NÃO SE TEM ASAS

Uma pastora de Melgaço ganhou sessenta e oito mil e tal euros no euromilhões. Está certo, podia ser melhor, mas a malta já não se importava de ficar com eles. Então agora, adivinhem vocês o que é que ela fez com a massa? Certo, comprou um Mercedes e ficou novamente tesa e a ter que ir pastar as cabras para o monte todos os dias. Mais, como aquela merda não lhe dá jeito nenhum porque é muito grande para as ruelas que ela frequenta, continua a usar o velho Opel.

Todos nós temos fantasias para a eventualidade de, de um momento para o outro, nos cair em cima um pipa de massa. Para uns é construir uma mansão, para outros fazer uma viagem espacial, para outros ajudar o próximo, investir num negócio, renovar o guarda-roupa, mandar o chefe levar no c..., arranjar um/a gajo/a bom/boa. Isso varia com os padrões, o estatuto e o contexto social, os sonhos, a educação e os conhecimentos, as expectativas de vida. O grau zero encontra-se aqui: Viver com a simplicidade duma pastora de cabras e ter como sonho último... um Mercedes à porta.

Isto fez-me lembrar um cartoon do Quino que não consegui encontrar, mas que retrata um pastor que, cá de baixo, vê um avião cruzar os céus e sonha com uma viagem, na qual a hospedeira lhe serve pão de mistura com rodelas de enchidos cortadas à facalhona.

farinha amparo

Confissões musicais.

Gosto do Roberto Carlos. Inlusive de muitas das românticas. Certa vez escutei “Emoções” quatro vezes seguidas, cantando bem alto: “o importante é que emoções eu vivi”. Meus vizinhos são prova disso.

Quando estou na fossa tiro da estante meus discos de samba-canção. Dá-lhe Lupicínio Rodrigues, Cartola, chego a roubar alguns do Nelson Gonçalves que pertencem ao meu pai. Cada verso ajuda-me a cultivar a dor de cotovelo, as melodias dolentes são pontada certeira nesse peito fragmentado. Haja melancolia…

A primeira canção que aprendi a tocar no violão foi “O Pica Pau”. A gravação original é do Tremendão, bem na época da Jovem Guarda. Aliás Erasmo Carlos carrega consigo a sina de ter cantado no primeiro show que presenciei ao vivo. Eu tinha uns oito anos. E passei a apresentação inteira prestando atenção numa guitarra preta que eu achei a coisa mais linda do mundo!

Compuz uma música no tempo de criança. Lembro-me somente de um verso: “Mãe, apronta logo meu jantar que a minha fome é de matar.” Na harmonia, só dois acordes. Em minha cabeça, pensei que eu era um gênio.

Quando dependurei uma guitarra em meu dorso sonhei em ser rockstar sem camisa. Porém, nunca tive biotipo de astro do rock. Era louco para tocar de peito aberto em festivais de colégio, porém morria de vergonha. Virei adolescente bitolado que estuda oito horas de técnica por dia. Meus dedos ficaram ágeis. A timidez permaneceu a mesma.

Hoje finjo um bom gosto musical constante. Falo de Chicos, Caetanos, Jobins, Miles, Coltranes. Gosto de pianistas eruditos, passo horas conversando a respeito. Mas no fundo, bem lá no fundo, basta uma desilusão para eu lembrar dos “detalhes tão pequenos de nós dois”.

ecm

24h

Cheguei em casa, empregada-babá estava com febre. Brinquei com menino, fiz meia hora de Wii Fit, dei banho, botei para dormir, preparei um omelete e o mingau do café da manhã (ao mesmo tempo), deixei a mesa posta. Dormi. Acordei antes do sol, de novo. Desmarquei a manicure, tirei o esmalte descascado. Dei o mingau do menino, aprontei para a escola, peguei ônibus, conversei com a professora, fiz uma social básica com a mãe da coleguinha. Tomei outro ônibus. Peguei o carro na revisão. Cheguei no trabalho, corrigi um erro no documento que tinha sido enviado ontem, avisei a quem de direito. Respondi e-mails, dei telefonemas. Providenciei o pagamento do IPVA. Empregada-babá avisou que não tinha melhorado. Tentei articular um esquema alternativo, mas meu esquema alternativo estava em reunião. Saí correndo, peguei menino na escola, deixei na casa do avô, dei banho, dei almoço, consegui organizar esquemas de leva-e-busca para a psicóloga e o judô. Engoli um almoço que nem sei que gosto tinha. Voltei correndo. Preparei uma apresentação importante para amanhã. Não consegui adiantar o serviço pendente. Li alguns blogs. Gastei uma pequena fortuna de estacionamentos. Esqueci de tirar dinheiro no banco, pedi emprestado. Tomei remédios diversos em horários variados. Marquei três exames em três clínicas diferentes. Atravessei o Rebouças três vezes. (Três é o número do dia.) Já que não estava fazendo nada, masquei um chiclete. Liguei para minha mãe para pedir ajuda e recebi uma notícia ruim (mas consegui a ajuda que precisava, o que foi bom). Suei horrores. Peguei muita, muita, muita chuva. Perdi o horário da análise por causa do engarrafamento provocado pela chuva. Voltei para casa. Incomodada ficava minha avó.

Jack Bauer, my ass. Queria só ver esse gringo dando conta da maratona motherna de cada dia, amém.

-Monix-

Skindô skindô

Ano passado eu comprei uma fantasia de havaiana linda e maravilhosa e a Joana vestiu uma vez e não quis mais usar. Ora é a saia que incomoda, ora é a parte de cima ("não é fantasia, é biquini"). Ela diz que é bonita, experimenta, mas no final sempre dá um jeito de não usar. Diante de mais uma recusa na semana passada, desisti de vez. Daí hoje passou na televisão um comercial ou desenho com bonequinhas havaianas dançando hula hula. Na hora ela começou a cantar um tal de "hula hula da xuxinha", que eu desconheço solenemente. Quase deu pra ver a lâmpada acendendo acima da cabeça, no momento em que ela fez a associação hula hula da xuxinha - roupa das bonecas dançando hula hula da tv. Ela deu um pulo e gritou empolgadíssima: "eu tenho a roupa do hula hula! me mostra, mamãe!", e pediu pra ver se estava no armário. Eu não me fiz de rogada, ignorei a influência da xuxa na história e saí correndo pra pegar (me perguntando porque insistia em chamar de "havaiana" quando deveria desde o início ter dito "fantasia de hula hula"). Ela amou e já queria vestir na hora. Um ano de fracassos e essa loira aguada resolve a parada em um minuto. Eu mereço.

bocozices e joanices

13.2.09

FESTA NO INTERIOR NA CIDADE GRANDE

E nessas minhas andanças eu acabo pegando cada trecho de conversas sem noção, que são de chorar no cantinho....

No aeroporto em Curitiba, um avião de uma companhia totalmente estranha, tipo Chinesa, coreana, japonesa....sei lá, algo desta natureza. e duas adolescentes conversam com pai, super culto e ídolo das filhotas....

-Nossa, mas sai vôos para China aqui de Curitiba.
-Não, direto não, ele faz escalas.
-Onde pai?
-Ah, ele sai daqui e faz escala em Maringá. Depois vai pra China.

Oi? Ta certo que Maringá é uma cidade grande, mas ponte aérea Pequim - Maringá, não, né?

gorduchas

11.2.09

Quer dizer,

Eu disse que não ia falar nada sobre a vergoinha do dia que paguei o táxi com meu celular, mas como minha vida é um episódio barato de Gossip Girl, serei obrigada a comentar.

Estava eu entendiada em casa quando liguei para um amigo e pedi para que ele me levasse em algum lugar com bebida de graça.

Qualquer lugar? Qualquer lugar.

Fui parar em um ANIVERSÁRIO EM SANTO AMARO. Quer dizer. Então pronto. Bebi um pouco demais, briguei com o dono da festa (que INSISTIA em não me deixar controlar a música), dei uma vomitadinha discreta atrás do sofá e depois me entreguei a volúpia com uma bichinha amiga. Até que resolvi parar de dar vexame e entrei no primeiro táxi que vi, sem um puto no bolso. Chegando em casa a corrida tinha dado quase sessenta reais e paguei o moço com meu celular.

Eis que agora está rolando uma esquema meio "veja as fotos da festa", numa tentativa de denegrir minha imagem. Gente. Eu fui expulsa do backstage do Planeta Terra e beijei um anão no VMB, então baixaria em Santo Amaro é pinto perto do que eu sou capaz.

Aliás, pra alegria da rapeize que acha que eu ainda tenho qualquer tipo de reputação a zelar, deixo aqui uma foto do meu momento de pura paixão com uma bichinha amiga no sofá alheio.


praentenderoeretemquetamoleque

poesia

Av. Paulista, 22:15.

- Com licença, a moça gosta de poesia?
- Enfiada goela abaixo, não.

bluebell

10.2.09

Revolta Ortográphica

Imiscuhida de tôda bôa inthenção que m'e sói comummente, tenho por concluído que a soi-disant Rephorma Ortográphica não contempla tôdos os âmbitos da sociedade, na cual, appesar d'a apparente dissonância, esta que vos phala se phaz presente. Sendo assim, dama ciosa da condição que é d'ella, faço proposição de sair d'o lado de minha máchina de coser e me phazer audita na chestão de que a orthographia pode, sim, comprazer-se na mais bella e flaghrante anarchia.
Se a innovação da maviosa entre-rede permite a co-existência gregárea das maes variadas communidades da linguagem (comprehendendo-se, ahí, o chamado miguschez e outras phormas suspeitas de auto-expressão phônica e gráphica), é límppido e certho que nos seja, às modernnas damas da sociedade - incluhindo desde a rapariga prolethária á plastiphicada senhôra de alto phoder achisitivo - relegado o direitho de expressarmo-nos como bêm chisermos.

Assinado: Club Sarah Bernardt de Molheres Revolutionáreas

Phesta Móhvel

Meu último aborto

Ela dirigiu-se a minha mesa e disse:

– Depois preciso falar com o Sr. em particular.

Era uma de nossas estagiárias, a que fazia um misto entre auxiliar de escritório, substituta da secretária e telemarketing. Só os três estagiários me tratavam como “senhor”. Nossa empresa era pequena - quatorze pessoas - e ela, com 16 anos, era de longe a mais jovem. Todos nós trabalhávamos muito e acumulávamos funções muitas vezes díspares. Sendo um dos sócios, além de alguns trabalhos técnicos, responsabilizava-me pela parte financeira e de pessoal.

– É assunto urgente?

– Sim.

Ao final da tarde, enquanto os outros funcionários iam embora, fechei-me com ela na sala de reuniões.

– Olha, seu Flávio, preciso de um adiantamento.

Era só o que faltava, a estagiária de 16 anos e que mora com os pais pedindo adiantamento. Só lhe daria se fosse para algo relacionado com seus estudos. Comecei a pensar na desculpa. Porém, na realidade, sempre deixava algum valor reservado para esses pedidos. Os solteiros raramente solicitavam adiantamentos, os casados sem filhos também não, só os que tinham filhos ou estavam a ponto de tê-los é que vinham pedir-me valores para serem descontados no dia do pagamento dos salários. Éramos uns duros, mas estávamos crescendo. Quando ouvira a reclamação de que não tinham dinheiro para almoçar, fizemos vales-refeição para todos. Quando financiara o parto da mulher de um funcionário, colocamos todos em planos de saúde. Quando houve problemas com os altos preços dos remédios, fizemos cartões de farmácia cujos valores eram descontados ao final do mês. Mesmo assim, e apesar de que, considerando o mercado, pagávamos bons salários e raramente perdíamos funcionários, havia sempre os apertos de última hora. Era difícil evitar dar algum adiantamento, pois éramos todos muito próximos e eu tenho o coração mole, costumo assumir o problema dos outros, apesar das reclamações de meu sócio.

– De quanto tu precisa? — perguntei; afinal, ela ganhava apenas R$ 450,00 e talvez pudesse pagar do meu bolso.

– Preciso de R$ 2.000,00.

Tomei um susto e quase ri de sua pretensão.

– Mas, Mariana, tu recebe R$ 450,00 mais transporte e refeições…

– É, só que eu preciso mesmo! Tenho um grande problema.

Que saco, ela quer que eu pergunte qual é.

– Mariana, eu não posso adiantar um valor que é quatro vezes o teu salário. Além do mais, tu não tens vínculo empregatício e como é que vais passar os próximos meses sem receber?

– É que eu preciso fazer um aborto e o cara que faz isto direito, numa clínica, com higiene, cobra isso.

É, ela desejava realmente dizer qual era seu problema. E que problema. Nada mais típico; um caso de gravidez na adolescência. Sentindo-me cada vez mais desconfortável e sabendo que não deveria me envolver, fiz o contrário:

– E o pai?

– O pai? Bom, seu Flávio, não tenho bem certeza, mas acho que é o Chico.

– Chico? Ai, meu Deus, o nosso melhor analista estava comendo a menina. Ao menos era solteiro.

– Ele sabe?

– Sim, mas o Chico quer ter o filho. Eu não quero. Imagine, não tem nada a ver, eu com uma criança na casa dos meus pais em Guaíba. Meu pai me mata. E não vou ficar cuidando de filho nessa idade. A barriga é minha. E eu, casada? Brincadeira, né?

Dizia para mim mesmo: não te envolvas, mas… Acabei falando uma besteira.

– Mas o Chico tem um apartamento.

– É um cu - respondeu, fazendo um círculo com o polegar e o indicador — e eu já disse que não quero ser mãe agora! - Só não fala com ele, ele vai vir com o papo de que é filho dele, que é contra o aborto, vai falar em religião, etc.

– Vou ver o que dá para fazer; não posso te dar um adiantamento desses sem falar com o Leonardo.

No outro dia, não falei com Leonardo, meu sócio; porém Chico sentou-se a minha frente.

– A Mariana veio te encher o saco?

– Não entendi.

– A Mariana não te pediu dinheiro?

– Pediu.

– Quanto?

– R$ 2.000,00.

– Pois é, cara, e eu nem sei se o filho é meu. Essa guria trepa com meio mundo, cheira e fuma de tudo, deu para um colombiano que vende artesanato na Praça da Alfândega e o filho é meu?

– Chico, eu não tenho nada a ver com essas histórias, mas também não quero que a empresa vire uma novela mexicana, nem colombiana.

– Sou contra o aborto. Não vou à igreja, mas sou católico. E é um crime. As clínicas são clandestinas. E se ela morre?

Fiquei em silêncio.

– Eu propus assumir a criança, mas ela está louca. Chegou a levar cocaína lá para casa, só para mostrar como era irresponsável. Brigamos e ela foi para Guaíba de madrugada.

– Ela é drogadita mesmo?

– Claro — disse ele, num simulacro de riso. -– Mora na periferia, é difícil ser diferente.

Fiquei em silêncio, pensando idiotamente em qual seria a frequência dos ônibus para Guaíba de madrugada.

– Ela passa muitas noites lá em casa. Sai com as amigas e depois vai para lá. Bate no porteiro à uma, duas da madrugada. Às vezes só deita e dorme.

– Chico, e se ela persistir com a intenção de tirar a criança? Eu não vou emprestar essa grana para ela. Tenho que ser um pouquinho profissional.

Chico era muito importante em nosso trabalho. Sempre ficava com a parte mais difícil dos projetos. Tinha formação sólida e era competente, interessado.

– Chico, olha aqui. Fala com ela. Vocês têm que resolver. Não querem que eu decida, né?

– Tá bom, mas tu farias um aborto?

– Sei lá. Não sou eu quem deve resolver.

– Tá, mas eu quero ouvir a tua opinião — insistiu Chico.

– Já sou responsável por muita coisa. Pára com isso.

– Mas uma namorada tua fez aborto há duzentos anos atrás, tu falaste nisso uma vez.

– Sim, mas nada a ver com vocês, cara, resolve - disse-lhe.

Passaram-se duas semanas, Mariana faltou ao trabalho e Chico veio conversar:

– Fizemos a porra –, disse ele. — Ela vai ficar hoje em casa.

– Tu foste com ela?

– Não, só paguei. Ela foi com a irmã.

Meu papel parecia ser o de ficar quieto. No dia seguinte, Mariana estava toda feliz e dava saltinhos de felicidade pelas salas. Logo depois, sumiu por uma semana sem dar explicações. Retornou dizendo que estivera em Santa Catarina, numa praia. Achei a coisa verdadeiramente engraçada e tivemos uma longa e divertida conversa ao final da qual lhe disse que tinha que suspender seu estágio. Ela riu, deu-me dois beijos e despediu-se de todos.

Hoje, nove anos depois, Chico é casado e sua mulher está grávida do primeiro filho, que será, segundo ele, um menino torcedor do Internacional. Há dois anos, vi Mariana na rua quando ia almoçar. Estava magérrima, estranha. Fingiu que não tinha me visto, mas, por puro acaso, reencontrei-a uma hora depois no elevador. Nossos olhares se cruzaram rapidamente e não a cumprimentei, pois não sabia se ela queria ser reconhecida, mas notei um sorriso nascente e fiz-lhe um sinal com a cabeça. Ela perguntou se o escritório tinha se mudado para aquele edifício. Respondi que sim. Saímos juntos do elevador no meu andar e conversamos. Ela estava agitada, contou-me que coisas “muito loucas” tinham acontecido, que passara três anos na Suíça, que fazera faxinas e participara de colheitas, que sabia como viver lá com pouco dinheiro, quase sem pagar comida nem locomoção e que queria voltar logo, nem sabia por que estava aqui. Como se ainda trabalhasse conosco, pediu-me uma grana, qualquer coisa. Dei-lhe R$ 50,00. Eu queria me livrar dela. Aquele encontro estragou meu dia.

Contei o encontro ao Chico, que ainda trabalha conosco. Muito emocionado, disse-me que Mariana tivera aquela criança e que ela estava abandonada na casa de sua mãe. Ele soubera por uma amiga comum e procurou Mariana; só depois de muito esforço conseguiu um contato telefônico. Ele queria fazer um exame de paternidade. Ela o mandou se foder, mas Chico foi a Guaíba e encontrou a menina em situação miserável. A avó deu graças a Deus achando que finalmente ia livrar-se daquele peso que sua filha tinha-lhe deixado. Foi fácil convencer a velha a fazer o teste, só que o resultado apontou para outro pai. Mesmo assim, Chico insistiu com sua mulher para adotar a criança ou para dar mensalmente algum dinheiro à família, porém isso quase custou-lhe o casamento. Então voltou a Guaíba, deu um monte de roupas e presentes para a criança e ouviu a mãe de Mariana dizer que ele era um desgraçado de um pau no cu.

milton ribeiro

A ERA DA MULHER MADURA

Parem as máquinas, preparem os foguetes, decorem as ruas e acendam as velas porque hoje, amigos e leitores, faço 34 anos. Só me faltam o casaco de peles, os cinco quilos de ouro nos dedos, a criada fardada e um grupo de amigas sérias com quem tomar o chá das cinco para ser considerada finalmente como uma senhora decente. Quase nada.

rititi

8.2.09

this is sparta

Meu relacionamento com minha mãe resultou numa criação algo espartana. Eu queria muito ser livre, autônoma (pra quebrar a cara), desde muito cedo . Ela, queria muito cuidar de mim, mas não naquilo que eu queria ser cuidada. A discordância levou ao desequilíbrio.

Aprendi a lidar com a dor, o frio, a fome e o desconforto. Provavelmente achava que essas habilidades me levariam à libertação: como prender alguém que prescinde de tudo? De certa forma, levaram. Levaram à libertação de saber que sou capaz de resistir ao frio, à fome, à dor, ao desconforto, à mágoa mais profunda. Tornei-me uma pessoa extremamente prática. E depois precisei aprender a sentir tudo de novo.

Hoje, gostaria que fôssemos amigas. Queria que ela me contasse algumas das suas histórias secretas, por isso conto algumas das minhas para ela. Eu queria mesmo mesmo é que ela me deixasse olhar ali dentro do cerne onde ela guarda o mais escuro de si, para ver se temos alguma parecença. Porque desconfio que temos. Suspeito que debaixo do verniz de boa moça, boa filha, boa estudante, boa esposa, boa mãe, habita uma mulher selvagem que foi mantida na masmorra a muito custo e muita força. E, se isso for verdade, é desta mulher que sou filha.

O problema é que nós, os espartanos, precisamos criar uma carapaça que, de tão dura, nos aprisiona.
O paradoxo é que nós, os espartanos, queremos nos olhar nos olhos e reconhecermo-nos uns nos outros, mas nossos olhos são duros, baços e tristes, e neles não há nada que se possa ver.

mme. mean

6.2.09

E O Que Aprendemos Esta Semana

Após quebrar todos os recordes de natação e calçados, Michael Phelps bateu ontem também o recorde mundial de fumar maconha. A legenda americana mostrou destreza e desenvoltura ao aspirar o conteúdo de um dildo (não reembolsável) por cinco minutos.

"Nunca vi nada igual", comentou um entusiasmado Ronaldo, entre dois pratos de Red Bull com macarronada. Richarlyson afirma que deve se transferir em breve para o futebol norte-americano.

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Orgulho de ser Baleiro

Eu podia estar roubando, podia estar matando. Eu podia estar até fumando maconha...

- Mas não num dildo!

Sim, voltamos ao caso Phelps. Muito deprimente. A qualidade dessas fotos de flagrante... se é pra ficar de viadagem, pelo menos chama um fotógrafo de marca.

Sempre essas coisas de celular, câmera desfocada, tudo pra dar a entender que foi um fragas, algo inesperado. Até parece... o sujeito com um trabuco na boca, e ninguém sabe que a fotinha vai correr o mundo.

Até o narcisismo está em declínio. Pimeiro o caboclo não precisava do próximo: estava muito bem sozinho, obrigado. Preferia se afogar num lago à companhia de outro ser humano.

Depois, aquela história do narcisismo exibicionista, em que é preciso a todo custo aparecer pro mundo; esfregar sua arrogância, feitos e idéias na cara alheia... e enfim o século XX, em que o importante pras gentes é ser falada, não importa como...

O século XXI começa com um dildo na boca. Resta saber como vai terminar.

Com muito orgulho, com muito amor.

fantasma do maracanã

Copantanal?

Campo Grande pode sediar alguns jogos da Copa 2014 e essa possibilidade que a meu ver não vai alterar muito a vida da galera levou a mesma galera pras ruas, vamos torcer, uhuuu.

Eu desconfio de oba-oba, tanta mobilização por algo que se acontecer vai mudar bastante a infra-estrutura da cidade, investimentos, obras, metrô de superfície e o escambal. Isso claro se a Copa passar por aqui e tomara que passe.

Mas se não passar, passou nossa possibilidade de crescimento, nosso sonho de virar metrópole interiorana.

Sem Copa nossos impostos pagos religiosamente viram pó.

Com Copa nossos mesmos impostos pagos religiosamente viram melhorias em infra-estrutura, cidade mais bonita, gente mais feliz.

Sem Copa não merecemos crescer, continuaremos na vidinha de sempre.

No final das contas é mais ou menos assim: Galera, vai sonhando até 20 de março e esqueça o ônibus lotado, o postinho sem médico, a rua sem asfalto. Não se preocupa não, a Copa pode vir de metrô.

Só pra constar, o Pantanal é meio longe daqui, mas nós temos onça, garça, tuiuiú, tucano e outros bichitos em orelhões espalhados pelo centro, esculturas de mau gosto e lixeirinhas antipáticas.

Ah, e isso tudo me fez lembrar de massa de manobra, mas isso são outros quinhentos.

eupensb

5.2.09

Brevíssimas

Rodrigo e eu conversando no sofá, ele com a cabeça no meu colo e mexendo no meu colar:
- Puxa, manhê, o seu colar tá quebrado.
- Não, Rô, aqui é o fecho, por isso é diferente.
- Mas o meu colar do homem-aranha não tem fecho...
(aí ele pára - vou continuar usando o acento, tá?-, pensa e solta:)
- Aliás...onde é que foi parar o meu colar?
Aliás, gente, o menino sabe usar aliás! Orgulhão!

fabiana

4.2.09

O restaurante pode estar lotado, uma hora e meia de espera. Não importa. Se você souber a senha, a próxima mesa é sua. Eu sei a senha. Ela mudou a minha vida."Boa noite", eu digo, e faço uma pausa, e sorrio: "minha mulher está grávida".

A gravidez é realmente um milagre. Imagine não precisar mais procurar vagas no estacionamento do shopping. Imagine ter as melhores vagas reservadas para você e sua mulher. Imagine não pegar mais fila no supermercado. Imagine não pegar mais fila em lugar nenhum. Como não deixar a nenhuma criatura o legado de nossa miséria? Brás Cubas era um completo idiota.

E quando acaba a Grande Mamata da Gravidez, começa a Grande Mamata da Criança de Colo. É uma maravilha. O único perigo é acabar como o Marcello Mastroianni da primeira história de Ontem, Hoje e Amanhã...

fdr

PENSAMENTO PROFUNDO

Hoje descobri que a sensação mais próxima que um simples mortal pode ter de ganhar jackpot numa máquina de casino, é pagar o estacionamento do centro comercial com uma nota de vinte.

f.a.

Avós, mães e filhas

Sempre achei que não tenho a menor vocação para ser mãe, mas cada vez tenho mais certeza disso. Vendo uma amiga dar papinha para o filho, lidando com aquela manha típica de quem não pode escolher o próprio cardápio, só conseguia pensar "tomara que ele não goste de maçã com laranja, assim sobra um pouco para mim". Na última Bienal do livro, quase sai no braço com uma garotinha por causa do último exemplar de Princesas Esquecidas e Desconhecidas – só não abri o berreiro no estande da Moderna porque a assessora gentilmente convenceu a fedelha a levar um livro da Barbie. Convenhamos: uma criatura assim não está autorizada a ser mãe.

Meu vasto currículo como filha depõe contra qualquer interesse meu na maternidade. Lá se vão 30 anos de experiência fazendo birra, pedindo colo e chamando minha mãe sempre que me vejo desafiada por algum drama incontornável – uma gripe avassaladora, um bolo encruado, uma abelha teimosa, um ralado no cotovelo que já nem dói mais, mas sempre garante cinco minutos de colo.

Enquanto minhas amigas de infância e faculdade treinam o talento materno, eu continuo seguindo com louvor minha vocação de filha: tomo banho de chuva, como a sobremesa antes do jantar, fico acordada até mais tarde, durmo de cabelo molhado e (essa é para levar umas boas palmadas) passo o final de semana à pipoca e brigadeiro.

Um dia eu cresço. Mas tomara que demore.

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Dona Eufrália

Estou numa guerra dos infernos com Dona Eufrália e suas filhas. A gente se detesta desde o dia em que nos conhecemos. Durante o dia, ela e sua prole se espalham; à noite, lanterna em mãos, eu as expulso, uma a uma, do meu vaso de petúnia.

Esse é o problema das lesmas: elas se multiplicam muito rápido. Desde que assassinei sem querer o marido de Dona Eufrália, a velha lesma não me deu mais sossego. Comeu todos os brotos da petúnia. Deixou seu visco brilhante por flores e folhas e começou um ardiloso plano de expansão para vasos vizinhos. Peguei uma de suas filhas dois andares abaixo, se preparando para atacar meu cacto preferido.

Gente de coração mole como o meu não consegue diferenciar a vida de uma minhoca da de uma lesma. Para mim, ratos são tão fofinhos quanto esquilos, ainda que tenham maus-modos à mesa. Morcegos são passarinhos noturnos. Hienas são cães que riem. Nenhum bicho vale mais que outro — humanos incluídos.

Só porque não conheço uma função interessante para uma lesma, não vejo porque matá-la. O que Dona Eufrália claramente não entende, dada a raiva com que instrui suas filhas a destruir minhas plantas. Então, toda noite, eu as recolho com uma varetinha, atravesso a rua e deposito, lesma por lesma, no gramado da praça. Já que estamos em guerra, elas que se entendam com os passarinhos.

duas da Carol no
Guindaste

Azar o seu

Outro dia veio aqui uma cliente e começou a reclamar porque havia perdido o emprego. Fico muito triste quando escuto os casos de gente que está perdendo o trabalho nesses tempos de crise, nem preciso dizer as consequências dentro de cada família quando vem a faltar um salário, coisa horrível.
Ela trabalhava numa fábrica de guarda-chuvas e disse que o dono havia dado aos empregados as peças que ficaram no magazine e perguntou se eu não queria um. Como guarda-chuva nunca é demais em casa de distraído, aceitei. Ela pegou uns oito para que eu escolhesse e escolhi dois mas quando fiz o gesto para abrir e poder olhar direito como era a estampa a mulher me olhou horrorizada perguntando se estava brincando com ela, se iria mesmo abrir o guarda-chuva dentro de casa! Nem deu tempo para ela acabar de falar que abri um e fiquei chocada com a reação dela pois começou quase a gritar mandando fechar rápido, se eu não sabia que "faz mal" abrir guarda-chuva dentro de casa.
Ora, como ser humano imperfeito, tenho dificuldades em aceitar opiniões que não condivido e o que é pior, às vezes falto com o devido respeito e subestimo a reação da pessoa e, neste caso, dei um sorriso e disse que não acreditava naquilo (e nem em horóscopo, passar debaixo de escada ou gato preto).
A mulher começou a desfiar um rosário de coisas ruins que poderiam acontecer e eu respondi que provavelmente acontecem só com quem acredita, comigo não, tudo tem um motivo e o que não tem é obra do acaso.
Ela não gostou muito não, saiu da loja, pegou o carro e quando desceu da calçada, escutei um estrondo: deu uma porrada em outro carro.

Fiquei com medo do olhar que ela me lançou e fui tomar um banho de sal grosso.

farofa na neve

3.2.09

Adolescentes perigosos

Fui cortar os cabelos no sábado. Faz alguns anos que decidi frequentar salões melhores. Por algum motivo, quando mais nova, ia sempre a cebeleireiros de um porta, que cobram R$ 10. Saía com cortes medíocres e invejava desajeitadamente minhas colegas com cortes irregulares, desfiados e modernos. Eu realmente não percebia que o corte estava diretamente relacionado ao preço. Um cabeleireiro sabe fazer cortes bacanas se estudou - e estudou para ganhar melhor, então trabalha num salão mais caro.

Parece banal, mas eu não percebia. Sempre focalizada em economizar NO MOMENTO de pagar. Então, na hora, R$ 10 me parecia mais adequado que R$ 50. Simplesmente não parava a pensar que o custo deveria se diluir pelos meses que o corte durava. Se um corte dura quatro ou cinco meses, R$ 150 por ano é na verdade pouco para manter o cabelo bonito. Uma economia anual de R$ 120, nesse caso, não faz o menor sentido, porque é baseada na restrição do sentimento íntimo de estar bem tratada e bonita. Se os R$ 120 precisam REALMENTE ser economizados, melhor cortar cerveja em boteco, pizza, todas essas porcarias que a gente acaba engolindo pra "se divertir". Gastar o dinheiro no salão e depois, no boteco, pedir uma água mineral. Em vez de inebriada pelo álcool, passar a noite inebriada pela própria vaidade silenciosa.

- - -

Talvez isso nada signifique para quem cresceu vaidosa e abstêmia. Para mim, é quase uma contravenção.

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Minha mãe era professora. Ela só cortava o cabelo nas férias, para evitar os comentários dos alunos. Que perigo existe em adolescentes sorrindo e perguntando "cortou o cabelo, professora?". Pra que tanto medo?

limas da pérsia

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Há mulheres que são como D. Hélder Câmara: você diz que quer beijá-la, levá-la para o Caribe, e ela se sai com um “e a fome no nordeste?”

breviário

resoluções por minuto

De agora em diante, vou substituir a palavra "difícil" por "algo que requer um aproach diferente"

slow motion ballet

Real life stories

And the story goes like this ...

There was a little girl, 4 years old, who was making a drawring in a class room. The teacher went to her and asked
- What are you doing?
- "I'm drawing a picture of God" she replied.
So the teacher went back
- "How can you be drawing a picture of God, if no one knows how he looks like?"
... "They will in a minute" said the little girl.

Qual é a moral desta estória?

Asilo Suave

não ouse amolar o tempo, ele é pontiagudo.

superlativa

2.2.09

Do or do not. There is no try. Ou: Milagre é o cacete!

Um monte de gente está postando, principalmente nos blogs de orientação cristã sobre o grande e maravilhoso milagre divino onde Anjos do Senhor guiaram a mão do piloto e pousaram suavemente um A320 nas águas do Rio Hudson, em Nova York, em um acidente onde os 155 passageiros e tripulantes sairam com vida, sem ferimentos, lépidos e serelepes.

Eu acho isso um desrespeito. Esse acidente tem UM herói, que se chama Chesley B. “Sully” Sullenberger, III. O comandante do avião, um coroa de 57 anos, que enfrentou aquilo que NÃO acontece em situação alguma, perda total de AMBOS os motores. Um A320 sem motores é como o Buzz Lightyear. Ele não voa, cai com estilo.

A diferença é que enquanto os passageiros rezavam, o Comandante Sullenberger confiou sua vida em uma autoridade mais eficiente: QUARENTA ANOS de experiência pilotando. Sendo 6 anos voando caças para a Força Aérea, junto com experiência de consultor de segurança para a NASA, diversos trabalhos de aprimoramento tecnológico de aviões, etc, etc. Sem contar que a Força é forte nele.

O cara junta tudo isso, desliga o computador, pousa pianinho e vem gente dizer “ah, que lindo, foi milagre”?

No cu, pardal. Milagre seria se fosse o Morroida nos controles, e tivessem pousado, tudo bem. Mas um PUTA piloto, com quarenta anos de experiência, instrutor, guerreiro, jedi, e vem falar de milagre?

OK, vamos conceber. FOI milagre. Foi a Mão de Deus que guiou o piloto até a segurança. Você acredita nisso. Eu respeito.

Mas só se você me disser QUEM colocou os gansos na frente do avião em primeiro lugar.

contraditorium