31.3.09

Fui demitido. Justa causa.

É, amigos. Parece que teremos mais um blogueiro (odeio esse termo) nessa vidaloka de internet 24h por dia, 7 dias por semana. Esse blogueiro, acreditem, sou eu. Pois é. Tristeza para uns (eu), tristeza para outros (vocês). E agora estou postando de uma lan house, aqui na rua da Amargura (passei o ano inteiro esperando só pra fazer essa piada hahahaha riam).

Como estagiário, aprendi milhões de coisas e fui muito bem sucedido nas minhas funções. Juro que não entendo o porquê de me demitirem… Eu tinha várias funções que fazia com excelência, entre elas:

1. Tirar xerox. 3.1 segundos por página. Contando o tempo pro multifuncional ligar, claro.

2. Passar café. Sério… chamem a Ana Maria Braga, o Hugo, a Palmirinha… meu café faz as pessoas ficarem apaixonadas. Não sei porque eu disse isso, mas ok.. valeu pra reforçar.

3. Comprar cigarro e pão. 1 minuto e 27 segundos. Ida e volta.

4. Fazer jogos na Mega-Sena, Dupla-Sena, Lotofácil, Loteria Esportiva… Como manjo de futebol, ainda tinha que falar quem seria o vencedor das partidas. Se eu errasse, me faziam pagar pela aposta. Se eu acertasse… bem, nunca acertei, porque sempre mandei o pessoal apostar em vitória do Corinthians… hahahaha pena que ele nunca ganha hahahaha.

Eu era muito bom. Mesmo. Fazia tudo bonitinho, certinho, até que peguei uma certa confiança com o pessoal e resolvi fazer uma brincadeirinha inocente. É impressionante o nível de stress e conturbação em um ambiente de trabalho. Quis dar uma amenizada na galera, deixar o povo feliz e fui recompensado com uma bela de uma demissão por justa causa. Puta sacanagem!

Vou contar toda minha rotina desse dia catastrófico. Era quinta-feira, 26 de março, quando cheguei ao trabalho. Era longe e, por isso, eu chegava cedo. Não porque era longe, mas porque meu amigo me dava carona até um lugar “pertinho” dali. Pertinho tá entre aspas porque não era tããããão perto assim. Eu tinha que andar mais 6 km a pé pra chegar na agência. Chegava todo dia umas 7h30 da manhã, quando, na verdade, era pra chegar umas 11h, devido a essa nova lei de estagiário. Eu era feliz. Não ligava mesmo. Nem pelo salário mínimo que mal me pagavam.

Nesse dia, passei na padaria no meio do caminho. Demonstrando muita proatividade, comprei pão e 3 Marlboro. Já queria ter na mão sem nem mesmo me pedirem. Quando abri a agência (sim, me deixam com a chave porque o pessoal só começa a chegar lá pelas 11h), já vi uma montanha de folhas para eu xerocar na minha mesa. Xeroquei tudo, fiz café e deixei tudo nos trinques (minha mãe que usa essa gíria rs). Como tinha saído um pouco mais cedo no outro dia, deixaram um recado na minha mesa: “pegar o resultado da mega-sena na lotérica”. Como tinha adiantado tudo, fui buscar o resultado lá. No meio do caminho, tive a ideia mais genial da minha vida e, consequentemente, a mais estúpida.

Peguei o resultado do jogo: 01/12/14/16/37/45. E o que fiz? Malandro que sou, peguei uns trocados e fiz uma aposta igual a essa no caixa. Joguei nos mesmos números, porque, na minha cabeça, claro, minha brilhante ideia renderia boas risadas. Levei os 2 papeizinhos (o resultado do sorteio e minha aposta) para a agência novamente. Ainda ninguém tinha dado as caras. Como sabia onde o pessoal guardava os papeis das apostas, coloquei o jogo que fiz no meio do bolinho e deixei o papel do resultado à parte.

O pessoal foi chegando e quase ninguém deu bola pros jogos. Da minha mesa, eu ficava observando tudo, até que um cara, o Daniel, começou a conferir. Como eu realmente queria deixar o cara feliz, coloquei a aposta que fiz naquele dia por último do bolinho, que deveria ter umas 40 apostas. Coitado, a cada volante (sim, esse é o nome dos papelzinho com as apostas lá, rs) que ele passava, eu notava a cara de desolação dele. Bem triste. Foi quando ele chegou ao último papel. Já quase dormindo em cima do papel, vi ele riscando 1, 2, 3, 4, 5, 6 números. Ele deu um pulo e conferiu de novo. Esfregou os olhos e conferiu de novo, hahahaha. Tava ridículo, mas eu tava me divertindo. Deu um toque no cara do lado, o Rogério, pra conferir também. Ele olhou, conferiu e gritou: “PUTA QUE PARRRRRRRRIUUUUUUUUUU, TAMO RICO, PORRA”. Subiu na mesa, abaixou as calças e começou a fazer girocóptero com o pau. Enquanto isso, o Daniel pegou o telefone e ligou pra casa chorando, berrando que tinha ganho na Mega-Sena. Óbvio que isso gerou um burburinho em toda a agência e todo mundo veio ver o que estava acontecendo. Uns 20 caras faziam esse esquema de apostar conjuntamente. 8 deles, logo que souberam, não hesitaram: correram para o chefe e mandaram ele tomar bem no olho do cu e enfiar todas as planilhas do Excel na buceta da arrombada da mulher dele. No meu canto, eu ria que nem um filho da puta. Caí da cadeira de tanto rir. Todos parabenizando os ganhadores (leia-se: falsidade reinando, quero um pouco do seu dinheiro), com uns correndo pelados pela agência e outros sendo levados pela ambulância para o hospital devido às fortes dores no coração que sentiram com a notícia.

Como eu não conseguia parar de rir, uma vaquinha (leia-se: mulher) veio perguntar do que eu ria tanto. Eu disse: “puta merda, hahahahahahahaha esse jogo que hahahahahahaaha ele conferiu hahahahahaha eu fiz hoje de manhã hahahahahahaahahahahahaha”. A vaca me fuzilou com os olhos e gritou que nem uma putalouca: “PAREEEEEEEEEEM TUDO, ESSE JOGO FOI UMA MENTIRA. UMA BRINCADEIRA DE MAU GOSTO DO ESTAGIÁÁÁÁÁÁÁRIO, AINDA POR CIMA.” Todos realmente pararam olhando pra ela. Alguns com cara de “quê?” e outros com cara de “ela tá brincando”. O cara que tava no bilhete na mão, cujo nome desconheço, olhou o papel e viu que a data do jogo era de 27/03. O silêncio tava absurdo e só eu continuava rindo. Ele só disse bem baixo: é… é de hoje. Nesse momento, parei de rir, porque as expressões de felicidade mudaram para expressões de ‘vou te matar’. Corri… corri tanto que nem quando eu estive com a maior caganeira do mundo eu consegui chegar tão rápido ao banheiro. Me tranquei por lá ao som de “estagiário filho da puta”, vou te matar, desgraçado” e “vou comer teu cu aqui mesmo”. Essa última foi do peladão, hahahaha.

Eu realmente tinha conseguido o feito de deixar aquelas pessoas com corações vazios, cheios de nada, se sentirem feliz uma vez na vida. Deveriam me dar uma medalha por eu conseguir aquele feito inédito. Mas não… só tentaram me linxar e colocaram um carimbo gigante na minha carteira de trabalho de demissão por justa causa. Belos companheiros!

Pelo menos levei mais 8 neguinho comigo, hahahahaa. Quem manda serem mal educados com o chefe. Eu não tive culpa alguma na demissão deles. Pena que agora eles me juraram de morte, hahahaha… tô rindo de nervoso. Falei aqui em casa que fui demitido por corte de verba (consegui justificar dizendo que mandaram mais 8 embora, rs) e que as ligações que tenho recebido são meus amigos da faculdade passando trote, hehehehe. Eu supero isso vivão e vivendo, tenho certeza.

É, amigos, descobri com isso que não se pode brincar em serviço mesmo.

:/

teletube

30.3.09

Ao menino com chapéu de caubói na porta da geladeira

Vai chegar um tempo em que você vai descobrir que já é muito velho para ser o Batman ou o Homem-Aranha. Vai chegar um tempo em que até os seus sonhos mais singelos e mais fáceis de realizar serão abalados e, ao pular do telhado, com o guarda-chuva aberto, você vai quebrar a bunda.

Pouco adianta a revolta. Espernear é para os bichos de muitas pernas e você só tem duas. Se preciso, use-as para correr, fugir ou ganhar impulso para pular sobre o buraco. Eu lembro quando você caiu na valeta e ficou coberto de, bem, coberto de lama.

A vida é isso aí, isso que se apresenta. O mundo está cheio de gente ruim se dando bem e cheio de gente boa se dando mal. Nem sempre o final é feliz, embora a gente quisesse que fosse.

Lembre que quando chegar o tempo em que você descobrir que tem amor, há a grande possibilidade de você o querer dar para quem não o quer ou, pior, para quem não merece. Não importa. Ele é seu. Não importa para quem o dê, sempre será seu. Acima de tudo, economize essa palavra que, falada em excesso, deixa um gosto de merda na boca. Aja mais. Fale menos. Melhor assim.

E é difícil entender como alguém poderá recusar o que você tem de mais legal para oferecer. Não se iluda, vão recusar. E é mais difícil ainda de admitir que nos enganamos e que demos pérolas aos porcos. Os porcos em geral, é bom que você saiba, têm a barriga cheia dessas preciosidades. Não ligue.

Não desista. Certas coisas precisam ser exercitadas o tempo todo para não atrofiar. O coração, por exemplo, é um músculo que não tem férias. Eu sei que parece pouco bonito enxergar no coração um órgão muscular cheio de sangue e não como uma manifestação mais etérea, atravessada de flechas ou outra bobagem. Nada de errado nisso. Portanto, antes de ser um poeta, seja um atleta.

Vai fazer diferença na cama. Mas seja também um poeta.

Logo, faça poemas. Escreva muito. Poesia é a salvação. Mas saiba que fazer poemas é a maior perda de tempo a que você se dedica. A vida vai continuar a mesma. Com contas para pagar e tudo, e cachorros que podem morder seu calcanhar. Uma fotografia pode ser mais bonita que a paisagem. Mas a vista da janela não vai mudar por causa dela. Poesia não faz ninguém se sentir melhor. No máximo, serve de placa de alerta na beira da estrada ou de quadro na parede. Estética não tem a ver com a felicidade, diretamente. Pode ser - repito, pode ser - apenas uma de suas expressões. Estética tem a ver certamente com energia, mas há muita energia tanto nos momentos bons e fluidos quanto nos momentos difíceis e encalhados.

A solidão, por exemplo, também tem seu charme, sua estética. Admire os solitários e veja como são poderosos. Alguém disse - Ibsen, eu acho - que o homem mais forte é o que está só. E, no entanto, ainda que fortes, ainda que charmosos, os solitários preferiam não sê-lo. Sim, a solidão tem seu charme. É uma pena que não tenha ninguém por perto para admirá-la.

Haverá o tempo em que você vai se questionar sobre as escolhas. E outros, mais jovens e imaturos, vão questionar como você, já nessa idade avançada - não importa qual seja -, pode ainda ter dúvidas, sem saber que eles mesmos as terão, as mesmíssimas dúvidas.

Esses questionamentos serão como pedras que lhe atiram durante toda a vida. Não se culpe. Saiba que o tempo vai seguir o seu curso inevitavelmente. Daqui a cem anos, as perguntas vão continuar as mesmas. Só mudarão as vítimas de suas interrogações.

Se fôssemos eternos poderíamos acompanhar essa rotina sem fim e perceber, sentir, que na verdade ela não importa. As pedras formam montanhas, as montanhas fazem cordilheiras e as cordilheiras, a geografia louca desse mundo em que ninguém se encontra direito e em que se prefere fazer perguntas sobre as escolhas alheias.

Alguma vez você vai achar que encontrou alguém e talvez encontre mesmo. Insista nessa busca. Mas lembre de fazer o mínimo de perguntas.

Ninguém é capaz de provocar mudanças em sua vida a não ser você mesmo. Seja responsável por todos os seus atos nobres e também por suas cagadas.

Por falar nisso, acredite quando alguém diz: “Fiz uma cagada em minha vida”. Ninguém usa a expressão “cagada” impunemente. Quem a diz é porque, em geral, está assumindo uma grande responsabilidade a respeito de algo que aconteceu. Uma “cagada” está para a vida do indivíduo como um cataclismo está para a natureza.

Já ouviu falar de Cracatoa? Cracatoa simplesmente sumiu. Às vezes é isso o que acontece. Temos vulcões, ilhas, penínsulas em nossa história. Fazemos algumas coisas inocentemente e mandamos tudo pelo ar. Às vezes não temos condições de prever as conseqüências de nossos atos mais simples. Há muita sabedoria em aprender a prevê-las. Aprenda, portanto.

Olha. Esqueça essas bobagens que eu disse a você. Vá se divertir. Eu tenho que salvar Gotham City.

Alessandro Martins, no cracatoa simplesmente sumiu

26.3.09

3 passos de etiqueta para Ex-Namorado Online

Tem um ex meu online há horas e eu realmente não queria puxar conversa, só queria saber o telefone dele. Eu explico, perdi a minha lista de contatos da agenda - em um ato de puro virgianismo da minha parte - tentando organizá-la. Daí o ex tá online, eu só queria o telefone dele porque é o último que tá faltando, só que não vou simplesmente perguntar e parecer que eu tô querendo retomar qualquer coisa porque broder... nem tô não.

É que tratar com ex na internet é sempre uma grande confusão. Eu, por exemplo, viro o rei da mensagem subliminar online com ex, logicamente na ocasião certa e a ocasião certa é quando o ex acabou de virar seu ex. Depois disso a melhor atitude é ignorar (que é o meu caso agora), mas antes o seu Messenger vira a ferramente ideal pra mandar o seu recado sem verbalizar, funciona assim em 3 simples passos:

* Avatar: Avatar é sua fotinha no Messenger. Assim que você ganha um ex ela deve ser mudada urgentemente para alguma foto de ocasião festiva que é pra imprimir desapego. E por ocasião festiva eu não me refiro a festas de família ou de formatura, tem que ser em um lugar que não corresponda a cidade onde você vive e sempre na presença de alguém do mesmo sexo (no meu caso e... ah no de vocês também!).

* Online/Offline: Se você precisa retomar algum assunto pendente com o seu ex e não quer ser aquele que vai puxar a conversa, é importante deixar bem claro que você acaba de entrar online. E se ele não perceber a sua entrada você aciona a ferramenta ficar invisível, conta até 15 e volta visível de novo. Você pode fazer isso umas 3 vezes, mais do que isso já parece um pouco de desespero de atenção. Se ele perguntar o porquê de tanto chove-não-molha você diz, "Ih, loucura minha conexão, tá caindo direto, mas aliás e ________ (insira aqui seu assunto pendente com o ex).

* "O que eu estou ouvindo": Essa idéia do "olha o que eu tô ouvindo agora" funciona bastante se você quer mandar um recado velado pro ex. Uma vez eu coloquei Lulu Santos - Assim Caminha a Humanidade e fiz dos versos de Lulu os meus ("Não te quero maiiiiiiiiiisssssss, não maissssssssssss, yeaaaaaaaaaaaaaah"). Se bem que eu não sei se fui muito feliz na minha escolha de música, porque sempre há o risco de transparecer um certo mal gosto, já que as melhores músicas pra esse tipo de coisa são as mais cafonas (vide I Will Survive e Por Causa de Você da Kelly Key, aliás, taí um musicão!).

Lembrando sempre que esses passos só devem ser tomados assim que você acabou de terminar o relacionamento e está naquela fase de anestesia do senso do ridículo, então dá pra fazer tudo aí o que foi citado anteriormente sem medo de parecer patético.

didi ferreira, no gay blog

22.3.09

Tirou fino

Bem que eu tinha sentido algo no ar.


Li, um tiquinho aterrado (aterrado é a palavra certa), que, na penúltima segunda-feira, um asteróide raspou a superfície da Terra, passando a uma distância de 72 mil Km - alizinho, o termo técnico em linguagem científica-espacial. Um fio de cabelo galáctico.

Pra se ter uma idéia melhor: na comparação da reportagem, se o coração de um humano adulto fosse do tamanho da Terra e o asteróide, um projétil de revólver, o tiro acertaria a coxa. Com o potencial destrutivo de 1000 bombas nucleares.

Como o pedregulho tinha entre 21 e 47 metros de diâmetro, só foi possível detectá-lo dois dias antes de sua aproximação.

E você, aí, sem saber de nada. Alheio a eventos cósmicos de suma importância e de seu interesse, se preocupando com a zaga do Galo ou se vai chover no sábado.

Boêmios no divã

1.3.09

Vamos parar de falar merda sobre o Bolsa-Família?

Detesto falar de pobre. Mas as circunstâncias às vezes me obrigam. Como o que se segue está pessimamente escrito, e eu não vou revisar porque tenho mais o que fazer no sábado à noite, vai tudo na extended entry para não enfear o blog

O que é o Bolsa-Família, esse programa abraçado pelo Banco Mundial e pelo Consenso de Washington? É claro que não vou fazer um post preciso e didático, porque ia ficar mais chato ainda e eu acabaria não fazendo. Bem, o BF tem um quê de Milton Friedman: dê dinheiro ao sujeito e não coisas (comida, por exemplo) que você acha que ele necessita. O miserável sabe usar muito melhor o dinheiro em benefício próprio, comparado com o que você daria a ele usando o mesmo dinheiro. Isto é um aspecto.

O outro é o seguinte. Nos anos 60 e 70, quando nossa população explodiu, o Brasil optou por grandes obras e otras cositas más em detrimento da educação das massas que surgiam. Criamos, com isto, um enorme contingente de sujeitos sub-educados e ineptos a sobreviver dignamente no capitalismo, que continuaram a se reproduzir, chegando até a massa atual de sujeitos sub-educados e ineptos a sobreviver dignamente no capitalismo.

O custo de pegar um sujeito destes, a partir dos 18 anos de idade, e transformá-lo num cara minimamente educado e apto a sobreviver dignamente no capitalismo provavelmente daria para pegar 500 crianças de 3 meses em lares de analfabetos e miseráveis e, dando – digamos – dois ou três anos de atenção especial intensiva a elas nesta tenra idade, criar uma grande probabilidade de que a maioria delas, quando crescer, se torne minimamente educada e apta a sobreviver no capitalismo, mesmo que, depois daquele programa intensivo, continue a morar no contexto miserável em que nasceu. Isso está praticamente provado, ok?

Ora, você não vai gastar os recursos públicos escassos tentando – a um preço caríssimo, e com opções de gasto tão mais atraentes quanto a descrita acima – transformar adultos sub-educados e ineptos a sobreviver dignamente no capitalismo em adultos minimamente educados e aptos a sobreviver dignamente no capitalismo. A menos que você seja uma besta, você vai investir nas crianças, e quanto mais cedo, melhor.

Então, o que fazer com esta massa de adultos sub-educados e ineptos? Até os anos 90, a opção foi a de deixar eles se foderem. Aí entram dois aspectos. O primeiro é moral e político (no sentido nobre da palavra). A sociedade brasileira falhou com estes caras, ao deixar que crescessem sub-educados. Agora, ela tem uma obrigação moral de garantir que eles tenham um mínimo de dignidade até morrer. O BF é em grande parte isso: um mínimo, pequenininho mesmo, que você dá aos ineptos porque um país decente responsabiliza-se por todos os cidadãos. É muito barato e não dá para comparar com o custo caro, e com o foco rombudo, das aposentadorias que no fundo são benefícios sociais dadas a idosos e supostos idosos no valor de um salário mínimo. So, voltando ao BF, a tal porta de saída para os adultos não é tão importante quanto dizem. É claro que se deve tentar. É claro que vamos dar a eles alguns instrumentos para ver se saem da inépcia. Mas não esperem grandes coisas. O Brasil já fodeu com estes caras quando eles eram criancinhas. O BF é um preço pequeno a pagar (e é pouco mesmo, em termos fiscais) para o crime de ter gasto na construção de Brasília o que não se gastou para educar a molecada em plena explosão populacional.

Bem, o segundo aspecto é sócio-econômico. Estes ineptos são pais de crianças que potencialmente podem não ser ineptas. É por isto que há condicionalidades educacionais e de saúde. Para que as crianças dos ineptos consigam ser minimamente educadas. As condicionalidades, especialmente as de educação, estão sendo paulatinamente implementadas. É um desafio logístico e de sistemas gigantesco. É um problema eminentemente técnico. Se você vir dois gerentes do BF conversando sobre cadastro e condicionalidades, e se você não for familiarizado com estatística e sistemas de computação, não vai entender xongas. Não tem nada de frei Beto e das emoções baratas da solidariedade. É um papo técnico chato e pesado pra chuchu.

Um aspecto pouco entendido do BF, como gosta de frisar o Ricardo Paes de Barros, mencionado pelo Matamoros, é que a merreca que as famílias recebem às vezes é o que as tira do caos da indigência e permite que haja um mínimo de estabilidade no processo educacional das crianças. É a menina de 8 anos que não precisa faltar escola para cuidar do irmão de 4 quando a mãe fica doente, é a mãe que pode andar todo o dia com o filho até o distante ponto de ônibus (já que não precisa fazer um bico nessa hora), é o dinheiro do transporte, do material escolar, etc. O fluxo regular de grana do BF dá um mínimo de organização a estas famílias, que elas não teriam se dependessem apenas dos ganhos muita vezes irregulares dos trabalhos miseráveis. O Paes de Barros compara o BF a uma bolsa da Capes ou do CNPq, que é uma grana que permite ao mestrando ou doutorando estruturar a sua vida para se dedicar ao estudo. O BF é uma bolsa que permite ao pobre e miserável estruturar a sua vida para que suas crianças se dediquem ao estudo.

Bem, as pesquisas indicam que a tal substituição de trabalho por BF (a mãe e o marido param de trabalhar), apontada pelo Jarbas Vasconcellos quando chegou no seu restaurante predileto e não encontrou os serviçais de costume, é muito pequena ou inexistente. Na verdade, a substituição seria até boa até certo ponto, porque, ao rarear a oferta de trabalho nas profissões mais humildes, ela elevaria salários. Ela poderia também eliminar, ou reduzir muito, as ocupações aviltantes, tipo trabalho escravo, ou nas piores usinas de açúcar, etc.

As pesquisas também indicam que o BF é um dos programas do gênero no mundo com o menor nível de fraudes. Fraudes existem em qualquer programa social, seja no Congo ou na Suécia. Com 11 milhões de famílias beneficiárias, se todo o dia o Jornal Nacional mostrasse 1000 casos novos de fraudes no BF, ainda assim, em termos estatísticos, o BF ainda seria um dos programas de gênero com menos fraude no mundo.

Bem, enchi o saco de escrever sobre pobre. Arre!

torre de marfim