Rititi padecendo no paraíso
E o Rititi-Boy abriu a goela. O bacano, o super fixe, o criaturo mais simpático da creche, esse, sim, abriu o gargalo no sítio ideal: o supermercado ao lado da minha casa em hora ponta. Uma birra de campeonato entre a secção de congelados e a padaria, com direito a espasmos, gritarias em stéreo, soluços e a cara incendiada, nooooooo, iuiuuuuuuuu, maaaaaaaa, foi suficiente para que esta que assina, até esse momento conhecida como a mãe cool e inalterável do bairro, se transformasse num micro-segundo no ser mais patético do local, na típica gaga envergonhada que não para de se desculpar ante pessoas que não conhece de lado de nenhum, ai mas é o que tens, calma filho, pois ele nunca fez isto, é a primeira vez, até é tão bonzinho, dasse ó meu comporta-te, e os olhares reprovadores das senhoras da peixaria e as utentes da drogaria pegadas ao meu pescoço. O puto a berrar, eu a suar e as velhas a achar, deve ser sono, deve ser calor, deve ser fome, deve ser medo, deve ser febre e eu, pois deve, mas o puto que não se cala. Uma birra fenomenal, que atingiu o momento alto quando o ex-bacano se atirou da cadeira abaixo, começou a tossir, quase a afogar-se, quase a vomitar, quase a levar-me ao suicídio a mim, porque amigos, eu não faço a puta ideia de como funciona a coisa. Porque sabem, quando pari não me implantaram no cérebro nenhum livro de instruções sobre o comportamento de uma criança. Ser mãe, e acho que já disso isto alguma vez aqui, não me fez mais sábia, nem mais elevada, nem mais esclarecida, antes pelo contrário. As poucas e idiotas certezas que antes pensava que tinha foram à vida no momento que expulsei o meu filho e cada vez me sinto mais analfabruta infantil. Parece que cada dia me submeto a um exame final do curso de Engenharia Aeronáutica, tal a ignorância em que me encontro. Uma ignorância porreira, sim claro, mas que me deixa à altura do bedum em casos como o do supermercado, esse lugar ao que regressarei, obviamente, daqui a dezoito anos, quando o Rititi-Boy tiver barba e voz de macho. Aproximadamente, porque para vergonhas já ganhei hoje.
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