28.11.02

Meu deus! Deixa eu parar de rir! Calma aí!
   Levei o tal cachorro ao parque. Tem longos gramados e crianças a rodo. Se o cachorro for grande, será um bom lugar para ele, mas um inferno para as crianças. E se o cachorro for pequeno a equação se inverte: um inferno para ele, um paraíso para crianças. No caso do rato, a segunda opção era válida. Tinha uma garotinha - de uns 5 anos, mais ou menos - que perseguia o pobre animal a torto e a direito. E, quando alcançava, puxava seus pêlos e balançava-o pelas patas. Ele mordeu a menina, mas ela não pareceu dar muita atenção ao fato. Aplicou-lhe um bom e merecido chute - que inveja (dela, é claro) - e continuou sua divertida brincadeira.
   A mãe dizia para mim "Ela vai machucar seu cachorro... Ana Luízaaaaaaaaaaaaa, solta o cachorro do moço!"
   Eu, entre uma risada e outra, respondia "Que nada, esses animais são resistentes... fica tranquila. Aliás, não é um cachorro. É um poodle. Mas desde quando você está separada mesmo?". Vale dizer que era uma mãe solteira das mais gatas que eu já vi. E consegui seu telefone. Acho que vou chamá-la pra jantar semana que vem.

* * *

   Cachorro? Aquilo não era um cachorro. Era a encarnação da besta do apocalipse. Por isso a moça patinava sozinha, sem ser importunada por gaiatos incômodos. Aquele mastodonte gigantesco vinha a seu lado, babando como um Cérbero. Já tinha conseguido um telefone aquela tarde - pensei - não valia a pena arriscar minha pele, literalmente falando, pra conseguir outro. Obrigado, mas de cachorro já bastava o meu. Se é que pode-se qualificar assim o protótipo de hamster que estava ao meu lado.
   Mas os caninos são animais engraçados. Acho que eles não tem muita noção de sua compleição física. Enquanto aquela massa gigante e babenta seguia seu caminho sem importunar ninguém, o grande e corajoso Floquinho resolveu que era chegada a hora da caça: partiu para cima do bezerro latindo sem parar e arreganhando os dentes. Uh, que grande ameaça! Dava pra ver os joelhos do outro animal tremendo! Tá bom.
   O monstro abriu uma bocarra capaz de engolir minha cabeça e investiu contra o inseto que impedia seu caminho.
   Pensei logo: – Ih, vou ter que comprar outro cachorro pra Claudinha!
Mas qual nada. Floquinho, o heróico, desviou-se da mordida. Aí acho que se tocou de seu tamanho e desandou a correr. Claro que o mamute partiu atrás dele - presa fácil, oras. Eu fui atrás. Sabia que não poderia ajudar o rato em seu momento final, a hora do massacre, mas pelo menos ia recolher uns farelos para provar para a Claudinha que eu não tinha jogado seu pobre animal fora.
   Corremos por uns 70 metros. Rato, Cérbero, eu e Afrodite - já que é pra colocar personagens de mitologia grega -, nessa ordem. Até que vi uma vala. É um local que escoa água do parque para... para... sei lá para onde. Nunca parei pra seguir aquilo. Sei que escoa água, e deve ter uns 3 metros de profundidade. Sem proteção. Ah, vale ressaltar que a água é escoada num filetezinho bem fino. E o protótipo de hamster se dirigia para lá, em linha reta. Quando ele atingisse a borda e parasse ia ser massacrado por seu algoz. Mas ele não parou!
   Eu nunca tinha parado pra me perguntar o que acontece quando um cachorro de 30 centímetros salta para dentro de uma vala de 3 metros, e agora me arrependo por não ter estado perto o bastante para presenciar. Por mim eu iria deixá-lo lá mesmo, mas a moça demonstrou tanta preocupação com o meu cachorro que eu acabei fingindo desamparo.
   Ela me deu seu telefone - he he he... para o caso de alguma despesa veterinária, sabe? -, desculpou-se e foi embora com seu paquiderme. Eu tive que entrar na vala, pegar aquela massa alquebrada, chorosa e enlameada que um dia foi um poodle e caminhar aproximadamente 1 quilômetro até que chegasse conseguisse chegar a um ponto mais elevado, para poder galgar minha saída daquele lodaçal fedorento. Levei o pobre animal ao veterinário, e agora ele está aqui, andando pela casa com uma pata engessada e uma proteção em seu pescoço, para impedi-lo de morder a tala. Parece um abajour com patas.
   Essa figura dantesca, somada à seqüência de fatos que eu vivenciei hoje no parque, vão me dar motivos para rir à toa por um mês!
   Mas acho que a Claudinha não vai ficar tão feliz...

decantado do Sobre nada... e talvez alguma coisa.

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