2.12.02

A cidade fedia. Fedia e fede. A óleo diesel queimado e concreto quente. Porque concreto quente fede pra caralho. Os outros não acreditam quando eu digo, falam que é maluquice minha, que é impressão, eu falo Vai tomar no cu, porra. Fede e fede muito!. Pois fede e fede muito. Não dá pra sentir, a maioria não sente, porque vive aqui, enfurnada nessa porra urbana e totalmente cimentada. Pra esse povo a grama é a exceção, a grama é o espaço raro. O que impera mesmo é o asfalto e o concreto, os dois fedorentos. Eu também vivi aqui, na cidade, a vida inteira, no meio do asfalto e do cimento. Não devia saber que concreto fede, mas eu sei. Acordei um dia sentindo um cheiro estranho. Mãe, que cheiro é esse? Que cheiro, menino? Não tem cheiro nenhum, Tem sim, eu tô sentindo, Cê tá louco! Senta e toma seu café. Tomei o café todo, e o cheiro me dando náuseas. Fui pro colégio, com o cheiro me dando náuseas. Meu colégio, eu ainda lembro perfeitamente, tinha um enorme pátio cimentado, onde os moleques sempre destruiam seus joelhos em acidentes sem nenhuma importância. O cheiro que vinha do pátio era insuportável. E ninguém sentia.

Vomitei várias vezes esse dia. Vomitei muito por muito tempo, até me acostumar com o cheiro. E vomito até hoje, de vez em quando. Acho que vou vomitar hoje. O cheiro está muito forte mesmo. E os carros passando no asfalto e levantando mais fedor... odeio carros. Odeio essa cidade. Vou pra algum lugar sem isso tudo, algum dia.

:: Utopia Dilucular ::

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