Mais um? É, e ainda bem! Não há nada que eu preze mais do que a minha vida.
Lembrei agora há pouco do meu aniversário de cinco anos: eu estava felicíssima, pois tinha completado uma mão inteira de aniversários. Virei toda contente para a madrinha de casamento dos meus pais e disse:
- Cy, Cy! Eu já tenho tudo isso de anos, olha!
Estendi uma das mãos deixando um enorme espaço entre um dedo e outro para mostrar bem quantos anos eu tinha. Feliz da vida pela conquista, soltei o sorriso de espremer os olhos que sempre me acompanhou e fui brincar de comemorar o meu aniversário.
Aos dez anos eu lembrei da história das mãos, mas a satisfação já não era a mesma. Naquela época tudo o que eu queria era ter quinze anos. Eu queria os dedos das mãos e os de um pé. Coisa de pré-adolescente que não vê a hora de crescer para beijar na boca e ser feliz. A Juracy (Cy) ligou para me dar os parabéns e lembrar que a meta dos dedos estava indo de vento em popa. Não dei muita bola (eu não admitiria uma infantilidade daquele tamanho!).
Na noite dos meus quinze anos meus pais liberaram a garagem de casa para uns vinte amigos. Dormimos todos amontoados com colchonetes e cobertores. A relação entre os dedos e a data estava completamente apagada pela possibilidade de dormir abraçada com uma paixão platônica que estava virando realidade. Enfim, beijar na boca e ser feliz! Minhas previsões dos dez anos se cumpriram.
Pouco antes de completar vinte anos, passei por um período de transição forte: questionamentos intensos, dúvidas, certezas e uma estranha sensação de maturidade.
Viajei uma semana antes da data festiva para o apartamento da praia. Fiquei sozinha pela primeira vez. Preparei minhas refeições todos os dias, caminhei na areia todas as manhãs para ver o sol nascer, nadei lá onde as ondas do mar se formam (antes eu tinha um pouco de receio de ir onde não dava pé), pensei muito, tomei sol (como eu adorava tomar sol!) e fiquei muito em silêncio e comigo mesma. Duas décadas rodeada de gente querida e falante... foi bom me isolar para ver como era.
Um dia antes dos vinte anos lembrei novamente da história dos dedos. E agora? Como seria? Foram-se os dedos das mãos e dos pés. Fiquei estirada na areia olhando para cada dedo e lembrando de todos os anos possíveis. Foi o suficiente para ter uma crise de riso de rolar na areia. As pessoas olhando e eu rolando despreocupada e à milanesa.
Quando começou a doer a barriga, levantei, arrumei minhas tralhas de praia, enfiei tudo dentro do carro e voltei para São Paulo para comemorar minha vida com as minhas pessoas.
Cheguei em casa, me dei uma roupa espetaculosa de presente, aparei a longa e eterna cabeleira, comprei hidratante para a pele queimada de sol e fui festejar cada dedo dos pés e das mãos que eu havia vivido.
Durante a festa eu estava tão contente e radiante como na minha festinha de cinco anos. Foi uma noite de gargalhadas, amigos e foi nesta festa que o maridon e eu nos aproximamos . Um mês depois minha vida estaria virada de ponta cabeça... mas essa é outra história que um dia eu conto.
salpicado de AMARULA COM SUCRILHOS
2.12.02
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