As vezes, muitas vezes, me falta inspiração, mas isso eu resolvo facilmente, vou direto pra janela e passo a observar a rua, não demora muito as idéias passam a fluir na minha cabeça. Não, eu não moro numa rua incrível cheia de acontecimentos extraordinários, ela é bem normal, pessoas pra lá e pra cá correndo atráz de suas vidas ou simplesmente sentadas no portão vendo a vida passar.
O que me atrai mesmo nessa rua é a madrugada, que também é comum, tão comum e fascinante quanto qualquer madrugada, pq coisas realmente fascinantes só acontecem na madrugada, por isso não dou mais a menor importância para a minha insônia, quando ela me ataca de vez em sempre, corro pra sacada, ponho um banquinho lá, caderno e caneta na mão, passo a escrever compulsivamente como quem pinta um quadro.
Eu já vi de tudo por aqui, certa vez um bêbado parou em frente ao meu prédio e virado para minha janela ergueu os braços e começou a declamar um poema ou coisa parecida, tive a estranha sensação de que ele estava falando comigo, embora estivesse tudo escuro e ele provávelmente não conseguia me ver, confesso ter sentido um friozinho na espinha. Outra vez dois amigos desceram a rua de moto e pararam na frente da churrascaria fechada, desceram e começaram a conversar baixo, passado alguns minutos de conversa se abraçaram e deu pra perceber que um deles chorava enquanto o outro fornecia soliedariedade, ombro amigo e uma série de tapinhas nas costas.
Pra completar, nesta mesma rua tem uma espécie de beco, (parece aquela música, nesta rua, nesta rua mora um anjo...), quase todo mundo que passa ali na madrugada, passa olhando pra tras compulsivamente temendo um assalto, outros mais seguros e aventureiros realizam suas fantasias ali, (eu moro perto de vários barzinhos, isso deve explicar), e outros o usam como banheiro masculino. Mas o que mais me chamou a atenção ali, foram dois adolescentes que ficaram conversando por horas, um bem pertinho do outro, mesmo sem ouvir a conversa dava pra perceber claramente que ambos estavam loucos para roubar ou ter um beijo roubado, acabou que nenhum tomou coragem e foram embora bem juntinhos, quase de mãos dadas e ainda sem coragem de eliminar esse quase.
from *ALL THIS AND MORE*
6.1.03
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