26.1.03

Bebeu morreu: parece absurdo, mas esse é o slogan que Ivanildo Francisco, 37 anos, usa para convencer um eventual cliente a comprar seus sucos e raspadinhas. Por semana, ele trabalha percorrendo três feiras de São Paulo - uma na cidade de Cotia, outra no Jardim Arpoador e esta, em Pinheiros. Para transportar o carrinho para esses lugares, Batoré (seu "nome artístico") usa uma Belina "toda velha". Mas além deste, há outro carrinho, dirigido por seu "secretário de finanças", que recebe uma comissão de 50% do lucro. O "batmóvel" (da foto ao lado) é caseiro, uma obra-prima: tem faróis de fusca, buzina de caminhão, rodas de bicicleta e adesivos de empresas de cartão de crédito. No total, Ivanildo chega a acumular uma renda mensal de 1.200 reais. O cara é extremamente engraçado. "Peraí, deputado federal", me dizia quando algum freguês chegava e cortava nossa conversa. Batoré é pernambucano, de Camaragibe, cidade em que morou até 1979, quando veio para São Paulo - ele sempre trabalhou, aqui e lá, como ambulante. Disse que estudou até o segundo ano do Ensino Médio, em um curso técnico de contabilidade. Parece que aprendeu muita coisa. Faz escambo com os feirantes para conseguir frutas fresquinhas (e mais baratas) para seus sucos e batidas. Para terminar a entrevista, já que ele era só alegria, perguntei qual era a coisa que mais o atrapalhava em seu serviço. Nem pensou: "Nada não, sou tão ligeiro que nem o Rapa me pega". Para quem não sabe, o Rapa é a tropa hardcore de fiscais da prefeitura.

no picadeiro do circo do absurdo

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