30.1.03

– Doutor Figueiredo, Doutor Figueiredo.
– Pois não?
– Terminou a necrópsia do meu pai, Doutor?
– Terminei, sim.
– Oh... e qual a causa mortis?
– Nenhuma.
– Como?
– Nenhuma. Nenhuma causa.
– Está me dizendo que não existem razões pro meu pai ter morrido?
– Absolutamente. Existia uma razão para ele morrer.
– Qual?
– Ele estava vivo.
– Mas heim?
– Exatamente. Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa de Massachussets revelou que 100% das mortes ocorrem em seres vivos.
– Espera aí, Doutor. Você deve estar brincando.
– Ainda não. Eu estava fazendo uma necrópsia. Estou indo pro meu escritório brincar agora. Instalei Sim City 4000 na minha máquina. Meu sonho sempre foi fazer administração, mas tive que seguir essa porcaria de medicina. Jogando Sim City me sinto realizado. Com licença.
– Não vai embora não. Me explica direito isso. Como assim meu pai morreu por nada?
– Puxa, de novo esse assunto? Que idéia fixa. Entenda, amigão: seu pai não tinha nada, entendeu? A saúde dele estava 100%.
– Não foi ataque cardíaco?
– Não.
– Insuficiência respiratória?
– Não.
– Derrame cerebral?
– Não.
– Falência múltipla dos órgãos?
– Não.
– Mas, doutor, precisa ter acontecido algo!
– Amigo, contente-se com isso: o corpo do seu pai está perfeito. Totalmente utilizável. Nada ali deixou de funcionar, a saúde dele é ótima. Em teoria, seu pai está vivo. Mas, na prática, está morto! Agora com licença que eu vou jogar.

autopsiado no Utopia Dilucular

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