24.1.03

Que coisa mais chata e repetitiva. Você vai me olhar com aquela cara de pobre-galã-canalha que eu já conheço de outras eleições...vai me abraçar e dizer que estava com saudades, que meu cabelo está mais comprido, que eu estou mais bonita, que fiz falta nas bebeiras, que aquela calça é coisa de paulista e que eu não deveria usar, vai me perguntar porque é que eu não fui de saia, que meu perfume é gostoso e te trás recordações de um tempo bom, que nem você lembra direito quando foi. Vai me perguntar se eu estou namorando, e se estou saindo muito. Não sei porque tenho a impressão de que você sabe que minha vida está uma merda, que eu não saio mais, e que não estou com ninguém. Quem sabe mencione aqueles dois ou três otários que pensam que me conhecem de verdade. Somos almas avulsas lembra? E só você me conhece de verdade. Aí eu vou te chamar de cretino, canalha, cafajeste. Você vai dizer que eu sou gente boa que nem você e que gosta de mim. Vai mencionar o cartão que eu te dei antes de vir embora, escrito em letras garrafais o quanto você é canalha, e o quanto eu te adoro. Que coisinha mais brega...não vamos andar de mãos dadas. Não vamos nem cruzar os olhares. E quando eu menos esperar, você vai me empurrar contra a parede e me beijar o pescoço só de birra...Ai que ódio! Eu vou te empurrar. Aí você vai me perguntar: Não quer? Tá me desprezando? Alguém em Curitiba talvez me queira. Aí eu vou te puxar, seu canalha safado, vou te trazer bem pertinho da minha boca, e não vou te beijar. Porque eu vou fingir que mudei, e que agora resisto aos teus encantos, seu filho da puta! Vou fingir que esse tempo de reclusão me tranformou numa pessoa equilibrada, que sabe bem o que quer, e eu vou fingir que não quero você. Aí, você vai rir aquele teu sorriso mais lindo. Aquele que você sorriu pra mim quando não acreditou que, eu tinha finalmente chegado em Porto Alegre. Vai fazer um carinho no meu cabelo, e vai me beijar. E eu vou te beijar. Porque nenhum de nós dois presta!

pintando de Neutro Azul

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