11.1.03

Sabe aqueles dias em que você acorda, olha no espelho e toma um susto? Pois é. Ontem foi assim. Não é que minhas olheiras tenham amanhecido maiores. Elas sempre foram assim. Não é que meu nariz tenha crescido durante a noite. Ele sempre esteve lá, aquele troço meio torto e deslocado. Não é que os peitos tenham caído de um dia para o outro. Eles nunca foram lá essas coisas, mesmo. É só que tudo isso pareceu saltar diante do espelho e eu comecei a pensar em todas aquelas teorias sobre beleza e inteligência.

Quando eu era pequena, me diziam que quando as crianças nascem feias, elas se tornam bonitas na maturidade. Nasci feia. "Simpática, coitada", como definiu meu avô. "Vai ter que ser inteligente", como concluiu minha mãe. Mas sempre restou uma esperança de que eu melhorasse com o tempo. Não aconteceu. Nasci, cresci e permaneci meio estranha.

Se eu tivesse escolha, trocaria uns 10% da dita inteligência por peitos empinados. Trocaria mais 5% por um cabelo que não se transformasse em um bonsai. Uns 15% por uma barriga lisinha e mais uns 10% por um sorriso colgate. Eu teria 60% da minha inteligência e seria bonitinha. Ou eu poderia ser mais inteligente. Inteligente o bastante para ganhar muito dinheiro e resolver todos esses problemas com uma boa plástica.

escrito no texto livre

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