27.1.03

Vendo durante todo esse tempo, os amigos que entraram e saíram da minha vida, vejo que fui a que mais se arriscou, a que mais cometeu as tão julgadas "loucuras" pelos outros, e no final das contas, eu não me dei mal. Eu não engravidei de um desconhecido no estacionamento, eu não casei com um cara espancador de mulheres, não levei nenhum tiro, não entrei em overdose, não peguei nenhuma DST, não me afoguei bêbada, não me meti com traficantes, agiotas, não tive nenhum filho prematuro, ou com lábio leporino. Não cortei os pulsos. Não morri. Isso dá uma perigosa sensação de imunidade.

{...}

Às vezes é muito melhor permanecer na ignorância. Falo isso por mim, não pra generalizar, porque cada um caga pelo cú que lhe convém. Mas veja só, se não fosse por aquele maldito teatro na noite de um inverno muito fudido, em 1999, com a capa vermelha da Sabrina, talvez eu tivesse mais consideração pelas pessoas que gostam de mim, ou que ao menos almejam gostar, mas que com o meu escudo protetor, acabo afastando todo mundo de mim. Afasto todo mundo mesmo. Só não consigo me afastar de mim mesma. Então volto a repetir, que eu sou minha própria praga. A culpa é minha e eu ponho em quem quiser.

um triste blues do Neutro Azul

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