Com o dia do meu casamento chegando, me ponho a pensar no monte de coisas que fiz até aqui e que, teoricamente, não voltarei a fazer. São muitas, mas a que mais me tem passado pela cabeça atualmente, é uma que vivi junto a outro grande amigo meu, que, convenientemente, será tratado aqui por Zé.
Zé tem a minha idade - na verdade é três meses mais velho do que eu -, nos conhecemos desde muito pequenos e, juntamente com o Claudinho, é dos meus amigos mais antigos. Muita coisa passamos juntos, mas, diferentemente do Claudinho, temos pouco em comum, além de torcermos pelo Flamengo e de curtirmos umas sacanagens. Mesmo porque fica difícil acompanhar o Zé, haja vista que o cara é tudo o que um garotão de cidade do interior quer ser. Filho de família tradicional e muito bem-sucedida, desde novo teve tudo o que queria em termos de motores, começando com as mobiletes e, um pouquinho mais tarde, passando para os melhores carros, e, como se já não bastasse, o cara ainda é inteligente pra cacete e bonito. Não tinha pra ninguém. Comia - e ainda come - quem queria em Paracambi e região. Isso quando não aparece com uma ou outra gata (mesmo!) de são Paulo, Minas, Brasília ou Acre. O cara é o picas. Bem, mas não era porque pegava quem quisesse e quando quisesse que o Zé dispensava uma boa putaria profissional. Muito pelo contrário. Tava sempre presente. E foi com ele que vivi uma das experiências mais bizarras do meu tempo de termas e boates.
Nas férias de julho havia muito pouco o que se fazer em Paracambi durante a semana. Eu, na época com 16 aninhos apenas, e o Zé, já com 17, tomávamos um vinhozinho vagabundo numa quinta-feira chuvosa lá no Amarelinho. Entediados, decidimos nos aventurar pelo Rio. O problema é que, claro, nenhum de nós tinha carteira, nem muito menos sabíamos andar por aqui sozinhos ou pra onde poderíamos ir. O único lugar que conhecíamos bem era o Maracanã. Então não tivemos mais dúvidas, o lugar era a Termas Maracanã.
Termas Maracanã era uma casa de massagem como qualquer outra, só que bem mais fuleira. Nem existe mais hoje em dia - foi substituída pelo Centro de Lazer do Maracanã, que embora eu não conheça, sei que é a mesma merda. Chegamos lá e não foi surpresa que tenhamos sido barrados, o que nos obrigou a molhar a mão do porteiro. Já dentro da casa, dávamos toda a pinta de sermos carne fresca. E não adiantou nada a gente fazer pose com as tulipas de chope nas mãos. Era tudo muito novo e, como tudo que é novo pra gente que vem do interior, assustador. Porra, a gente tinha que ficar desfilando pra cima e pra baixo envoltos apenas numa toalhinha branca, encardida pra caralho, e com as chaves de um armário presas no braço. Minhas pernas estavam bambinhas. Não demorou muito e fomos abordados por uma das moças. É claro que não me lembro o nome dela, só sei que ela foi muito convincente, se é que era preciso ser assim tão convicente com dois moleques caipiras. Lembro ainda que ela disse ter 37 anos, que tinha filhos, que já havia sido casada com um italiano que conheceu na vida e morado com ele na Itália. Apesar de não ser bonita, tinha o melhor par de pernas e a bunda mais gostosa dentre todas. Lembro ainda de ela ter dito que não queria saber quem mais a gente escolheria pra ir pra cabine, só que ela já tinha escolhido a gente e que se não fosse ali, teria que ser depois do expediente. Hoje, doze anos depois, reconheço a competência dessa mulher. Que profissional, gente. Sem saída, Zé e eu apontamos pra uma morena bem gatinha que estava disponível. Em cinco minutos estávamos os quatro dentro de um quartinho 4x4 nos preparando pra um surubão. Mandaram, então, a gente ir pro chuveiro pra modo de lavar os pintos. Tomei um banho bem quente e, por isso, paguei o primeiro mico da noite, pois como já estava tremendo de tanto nervosismo e ainda por cima o ar estava ligado, quando saí do box nada havia entre minhas pernas senão um monte de pentelhos. A coroa, penalizada, virou-se pra mim e disse: "Ah, vem cá pra titia cuidar dessa menininha, vem?". Bizarro. O Zé se descontrolou de tanto me zoar. Fiquei com ela dentro do box mesmo, enquanto o Zé se divertia em cima da cama. A coroa, experientíssima, soube mesmo dar um jeito naquela situação ridícula em que eu havia me metido. Pra dizer a verdade, naquela hora eu estava tendo o melhor sexo da minha vida até ali. Mas, de repente, ouvimos um berro seguido de um estrondo vindo do lado de fora do box. Paramos tudo e saímos pra ver o que era. Não acreditei quando vi o Zé esparramado no chão, com um olhar incrédulo e uma jeba descomunal apontada ferozmente pro teto do quartinho. Parecia um mastro, só que sem bandeira tremulante. E, de pé em cima da cama, pelada, a puta bradava: "Esse moleque tem um pau do tamanho de um braço e em vez de fazer assim (movia o quadri pra frente e pra trás), ele faz assim (rebolava). Tá batendo lá no meu útero! Não fodo mais com ele, não, caralho! Vamos trocar!". É, a cena de depois do banho havia mesmo deixado marcas. Eu não passava de um baixinho, gordinho, atarracado e diminuto. E o Zé, como se já não fosse o suficiente ter todos os predicados que enumerei lá em cima, ainda era um cavalo, coisa que eu até então desconhecia e que certamente preferiria jamais ter conhecido.
Com os ânimos apaziguados, respeitamos, efim, a vontade daquela filha da puta. O Zé ocupou meu lugar com a coroa e eu fui pra cama com a desgraçada. Sem que sequer tivesse pedido, a amaldiçoada subiu e começou a me cavalgar. Só que ela fazia aquilo de forma tão mecânica que eu me sentia metendo com o coelhinho da energizer. Que porra era aquela? Mandei logo ela parar. Pedi, então, que ficasse mesmo só nos trabalhos orais. Pra mim aquilo tudo já estava uma merda mesmo. Só que a filha do satã até que mandava muito bem e aí eu fui recuperando o ânimo. Quando eu já estava a ponto de explodir, e o faria bem quietinho pra não dar tempo de ela parar e, assim, obter a minha vingança, sinto uma repentina, súbita e nada agradável linguada no rabo. Puta que a pariu! Tinha mesmo que ser comigo, não? Dei-lhe um puta pontapé dentro da cara e parti feito bicho pra cima dela. O Zé e a coroa, que não entenderam nada, correram pra me tirar de cima dela. "Que isso, Tatu? Tá maluco, moleque?", perguntou o Zé. "Maluco o caralho, Zé. essa filha da puta lambeu o meu cu!", respondi. Pra quê, né? O viadinho rolou de rir e ainda contagiou a coroa. Fiquei de palhaço na situação. E aquela vaca ainda teve o descaramento de dizer que achou que eu fosse gostar. Agora vê se pode uma porra dessas? E eu lá tenho cara de quem gosta de lambida no rego? Respeito quem curte, mas eu tô fora. Que merda é essa, afinal? E não custa nada lembrar que eu só timha 16 anos. Era imprescindível que eu tivesse uma atitude de autoafirmação. E foi o que fiz.
Bom, cerca de uns cinco minutos após aquilo tocou uma porra de uma campainha dentro do quarto. Tomei um susto filho da puta. Era pra avisar que o tempo tinha acabado. Claro que nem eu, nem o Zé conseguimos trocar o óleo. Na saída, a boca de merda ainda teve o atrevimento de se virar pro Zé e dizer: "Vocês dois vão foder na puta que os pariu. E você, menino, da próxima vez, enfia essa piroca na sua mãe.". O Zé só não comeu ela na porrada porque, de certa forma, aquilo soava como un elogio pra ele. Eu acho que me sentiria assim também. A coroa ainda tentou dar uma força e consolar a gente, mas a noite, o tempo e o dinheiro já tinham ido pro cacete mesmo.
No retorno a Paracambi, lógico, o Zé me sacaneou o tempo todo. Queria saber como era tomar um linguada e tudo o mais. E como desgraça pouca é bobagem, ainda sentamos uma das rodas do carro num buraco, o que fez com que ficássemos no meio da mais completa escuridão, todos molhados, trocando pneu. Definitivamente, um bom dia pra não sair de casa.
Na toca do tatu
8.2.03
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