22.2.03

E eu hoje peguei um pano de chão para limpar a sujeira que tinha feito na cozinha. Quando olho bem para o pano de chão vejo uma velha camiseta minha, antiga companheira de guerra. E olha o seu destino! Virou pano de chão, limpando a sujeira que faço quando derrubo café no chão. Fiquei condoído com esse triste final da minha velha camiseta, destinada a ser manchada, arrastada e amassada no final de sua vida. Justo ela, que em tantas alegrias me acompanhara.

Ela estava lá quando eu dirigi sozinho pela primeira vez, secou o meu suor e me cobriria e proegeria caso eu me acidentasse. Ela estava lá naquela tarde histórica em que fiz os 21 pontos da minha dupla no basquete, com 3 cestas de três. Quantas cervejas long neck ela não me ajudou a abrir? Ela foi o meu padrão de identificação durante algum tempo. Éramos uma dupla infernal, ela escondendo o que eu tinha - e tenho - de feio, a minha barriga, eu cuidando bem dela, deixando-a dobrdinha, vestindo-a com cuidado, sempre. Era como se fosse minha segunda pele!

E agora, alguns anos depois, vejo ela lá jogada, toda puída, rasgada, rota, sem as mangas, servindo como pano de chão. Chorei abraçado àquela camiseta fedida, acarinhei-a com ternura em meus braços e me lembrei de tantas outras roupas que haviam me marcado e que tiveram o mesmo destino. Minha roupinha do batman, minha camiseta azul-hiperlink da Fiorucci, minha velha calça jeans com um furo no joelho, aquele meu primeiro tênis Nike Air... tantas roupas que fizeram parte da minha vida, que foram, de certa forma, minha vida, e que acabaram sendo descartadas como se fossem objetos inanimados.

Mas a vida continua e a minha velha camiseta branca, hoje meio bege, de certa forma continua me servindo para fins menos nobres. Hoje ela também serviu para enxugar minhas lágrimas, como já fizera nos bons tempos.

O Descrente

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