Eu confesso. Quis ser jornalista por causa do Super-Homem.
Bem antes do filme chegar às telas, aos sete, oito anos, eu já gostava das histórias em quadrinhos - aquelas em que a Lois Lane se chamava Mirian Lane (nunca entendi por quê...).
A moça, destemida, se arriscava atrás de bandidos e picaretas em nome de uma boa matéria. Qualquer passo em falso o colega Clark Kent, ex-Kar-El, já desprovido dos óculos e do terninho, estava a postos para salvá-la, na pele do super-herói. Miss Lane cravava a manchete, ganhava o prêmio, era promovida e ainda comemorava voando de camisola pelos céus estrelados de Metrópolis nos braços musculosos do homem de aço. Era profissional de grande quilate - enfrentava o Perry White e nunca era demitida! -, mulher emancipada e, pra completar, alvo da paixão do super-herói de olhos azuis...
Como uma menina não ia querer ser Lois Lane?
Eu queria.
Faculdade terminada, eu, já foca de jornal, fazia os colegas de óculos sofrerem com meus olhares questionadores. Por trás das lentes grossas de um falso míope poderia estar o Super-Homem. Mas era sempre um pássaro ou um avião. Nunca o mais ilustre habitante de Kripton.
Alguns eu cheguei a seguir na hora da saída. Mas nunca chegaram à Fortaleza da Solidão. Paravam em Botafogo ou no máximo iam até o Leblon.
Minha cartada final foi levar kriptonita na bolsa. Quem passasse mal diante da máquina de escrever (sim, ainda eram máquinas de escrever no jornal que comecei...) poderia ser o filho de Jor-El. Mas todos, impassíveis diante da presença da pedra verde, estavam mais para Lex Luthor.
A cada redação que passei, repeti incessantemente tais operações.
Mas há alguns anos desisti.
Tenho saltado sozinha da varanda.
Descobri que consigo voar sem Super-Homem.
caderno feminino do Planeta Diário elaspoeelas
10.2.03
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