11.2.03

Eu nunca gostei de futebol.

Sempre achei entediante ver um bando de marmanjo correndo atrás de uma bola enquanto outro bando de marmanjo se descabela e grita em frente à TV.

E não gostar de futebol no país do futebol é praticamente um crime.

É ensinado às crianças desde pequenos que qualquer bom cidadão brasileiro deve ter um apreço especial pelo ato de ficar 90 minutos na frente da TV vendo um bando de macho se digladiar.

E eu quando criança, já sentia o peso do preconceito que cai sobre quem repudia esse esporte. Meu pai se envergonhava ao ver o filho bocejar ante um belo gol do Fluminense e meus primos me ignoravam enquanto ocupavam-se em fingir que gostava daquilo tudo pra agradar os adultos.

Mas como toda criança é criativa, eu logo consegui um jeito de me divertir naquelas tardes de domingo quando todos os familiares se reuniam na sala da casa da minha avó pra assistir ao prélio travado por dois times - na verdade não interessava se fosse o Flamengo ou o 15 de Piracicaba, ambos mereciam a mesma atenção.

Minha brincadeira consistia em desviar o olhar da televisão - o que provavelmente deu às pessoas a impressão de que eu era autista - e imaginar que na verdade eu estava ouvindo a uma narração de uma suruba - na época eu não conhecia a palavra suruba, portanto imaginava apenas um 'monte de gente metendo'.

Se você tentar isso vai notar que essas narrações têm um grande teor (homo)sexual. Como por exemplo:

Rominho pega a bola de Negrão. Jorjão mete no fundo!!! E ele eeeennnnntrrra com bola e tudo

Depois disso eu passei a ser conhecido entre meus familiares como retardado por ficar olhando pra parede durante os jogos e dando risada.

ouvido em cacofonia

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