26.2.03

Na semana do meu casamento, quando ainda estava no Fred, um episódio qualquer de uma dessas séries a que a gente assiste freneticamente me fez relembrar um lance ocorrido comigo faz uns doze anos. Literalmente, trata-se de um caso de polícia.
Em 90 ou 91, já não me lembro bem quando, Paracambi vivia seus últimos anos como uma cidade alegre, festiva e cheia de opções em termos de entretenimento. Era sábado e dia do Baile do Cowboy, organizado pelo bloco Pulei o Muro e Biquei o Balde, teoricamente o grande rival do nosso bloco, o Quem Não Bebe Não Vê O Mundo Girar. Digo teoricamente porque nossa rivalidade era sadia e só aparecia mesmo no carnaval. Como sempre fazíamos, organizamos um churrasco na casa de um amigo para nos "concentrarmos" para o baile. A casa escolhida naquele ano foi a do Sander, que hoje é crente mas continua sendo um dos meus maiores e melhores amigos, tendo, inclusive, me convidado pra ser seu padrinho de casamento, o que aceitei de prontidão. O Sander mora na Barreira, tradicional bairro de Paracambi e que é também a porta de entrada da cidade. Em frente a sua casa fica a Delegacia de Polícia, mas, até aquela data, jamais havíamos tido qualquer problema. Enchemos muito a cara durante toda a noite e lá pela meia-noite seguimos para o clube. Era uma legião de adolescentes bêbados vagando pela rua. Ao passarmos em frente à Delegacia, notei que a placa de "Não Ultrapasse" estava de cabeça para baixo. Com a melhor de todas as intenções, procurei ajeitá-la. Entretanto, por me encontrar muito louco, não reparei que não havia um parafuso, prego ou outra coisa qualquer que pudesse segurar a puta da placa no lugar certo. Sendo assim, a placa voltou a cair e ainda fez um esporro filho da puta. De dentro da DP me sai um policial todo esquentadinho e vai logo mandando: "Tá fazendo o que aí moleque?". E eu respondi: "Peraí, seu polícia. Eu só tô querendo ajudar.". "Ajudar é o caralho, tu quer é quebrar essa porra!", ele disse. Eu insisti que não, que eu queria mesmo era arrumar a placa torta. Mas ele continuou berrando comigo e eu então não consegui mais ficar calmo e disse: "Vai pro caralho, seu palhaço, que eu sou filho do prefeito.". Não prestou. O homem me catou pelo braço e me arrastou pra dentro da DP. Mas antes ainda gritou bem no meu tímpano: "Então vamos lá falar com o papai.". A essa altura todo mundo que tava no churrasco resolveu comprar o barulho e invadir a Delegacia. Sobrou tapa na orelha de geral. Um colega nosso, o Marcelo Zulu, um neguinho que muito mal devia ter a quinta série mas que era um dos únicos ali com mais de 18, entrou berrando que era o advogado da família. Tomou um direto no peito que a caixa torácica foi parar nas costas. Fiquei aliviado quando vi que o detetive de plantão era o Roberto, amigão do meu vizinho que era tenente do Exército e conhecido dos meus pais. O Roberto, então, me passou um sabãozinho e me aconselhou a pedir desculpas ao Petrúcio, o policial que me segurou. Humildemente, com o rabinho entre as pernas, fiz o que ele me disse pra fazer. "Poxa, seu Petrúcio, eu sei que vacilei com o senhor, mas não dá pro senhor entender que eu tô meio zoado e que tava com a cabeça meio quente, não? Pô, não tem necessidade de a gente acordar meu coroa agora só por causa de um probleminha desse. Me libera aí, seu Petrúcio.", falei pra ele, com lágrimas nos olhos. E ele: "Liberar é o caralho. Quero que se foda se teu pai tá dormindo ou se tá acordado. Eu tô trablhando e não tô aqui pra aturar desaforo de pirralho com o rabo cheio de cachaça.". Inconformado e sem noção do perigo, devolvi: "Emtão você vai tomar no olho desse teu cu, filho da puta, que eu também quero mais é que você morra. Isso é que dá a gente não estudar. Depois fica revoltado por tá numa merda de profissão dessas e vem descontar em cima de quem tem a chance de ser algo na vida.". Aí fodeu tudo, porque com isso eu passei a ser odiado por todos os caras que estavam de plantão naquela madrugada. O tempo fechou de vez. Tomei gravata de um russão troglodita lá que, não sei por quê, quis evitar que o Petrúcio me arrebentasse na porrada. Nisso o Roberto já tinha metido a mão no telefone e ligado pro meu vizinho, pedindo que ele fosse pra lá com o meu pai. E o Marcelo Zulu continuava dizendo que era meu advogado e era disparado quem mais apanhava.
Quando meu coroa chegou os ânimos já estavam mais tranqüilos. Para o meu desepero, meu pai não falou nada, só ouviu. O tal troglodita que me deu uma gravata, mas que me salvou da ira do Petrúcio, disse que ele tinha que tomar cuidado com o marginal que estava dentro da sua casa. Falou ainda que só não deixou que eu entrasse na porrada ali porque eu era menor, estava doidão e sendo eu de Paracambi e filho de quem era, podia acabar trazendo problemas pro colega dele. Mas que eu ficasse esperto, pois eu não ia ficar em Paracambi o tempo todo, que uma hora eu tinha que sair de lá. Foi bizarro.
Bem, em casa foi aquele show que vocês imaginam. Esporro, ameaças de cortar a mesada, castigo, etc.. Fui pro meu quarto e esperei ele dormir. Lá pelas três eu comecei a ouvir os roncos. Pé ante pé, fui até o quarto deles pra conferir. Vendo que já estava nos braços de Morfeu, troquei de roupa, pulei a janela e fui pro baile. Chegando lá, todos me tratavam como se eu fosse um herói ou mesmo um rei. Hoje, entretanto, vejo que não passava de um playboyzinho marrento e de um filhinho de papai escroto. Pena não ter entrado na porrada mesmo. Quem sabe assim não teria aprendido mais cedo o que é ser homem de verdade?

surra de rabo de Tatu

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