O Imperador da Galáxia contempla sentado seu reino na tela do computador. Os olhos atentos vasculhando as mensagens, ele mal percebe os óculos que caem na ponta do nariz, as espinhas que povoam seu rosto, a barriga enorme que salta para fora da blusa de algodão puída.
O Regente Supremo de Toda a Espécie Humana é um garoto de treze anos.
Ninguém sabe que é ele quem controla os destinos de todos. Só ele. Mas isso por enquanto está bem. Quanto menos gente interferir em sua vida, melhor.
Não que haja muita gente que seja capaz de interferir na vida ocupada do Imperador da Galáxia. A Rainha-Mãe há muito que é morta - para falar a verdade, ele mal a conheceu - sua irmã vive trancada em seus aposentos, de onde exala um cheiro enjoativo de incensos e coisas proibidas que ela usa com fins secretos.
E o pai do Imperador. Um homem perdido, que se perde em um tempo em que tudo era melhor.
O Imperador concorda plenamente com seu pai, para ele o melhor ser humano que já existiu na face da terra. Um homem bom, digno, incapaz de fazer qualquer maldade. E que destruíram sem dó nem piedade, e só consegue encontrar na bebida e nos discos de Gardel o lenitivo para seu sofrimento. Nesses momentos o Imperador se lamenta, sofre solidário, e jura que fará algo a respeito. Mas hoje não.
O Imperador passa seus dias reinando supremo em listas de discussão no espaço cibernético, emitindo opiniões, lançando conceitos, revoltando-se contra os infiéis decadentes. Pouco lhe importa que lhe atirem pedras: no fundo, sabe que está certo.
Há muito ele resolveu o problema da barriga. O Imperador da Galáxia parou de olhar seu corpo no espelho.
orelha do Pequeno Dicionário de Arquétipos de Massa de fábio fernandes
3.2.03
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