18.3.03

Memórias do nunca
Lembro dos momentos com aquela mulher que nunca vi (mas que eu tenho um pressentimento de que está ainda por aí). De nunca ter esbarrado com uma Fernanda rua acima e, anos depois, descobrir que seu sobrenome era Lima. E daquela frase muito genial que eu não disse a ela, apesar de ter quase certeza de que estava me dando trela. Ou de quando falei a tal frase, que ela certamente não entendeu. Na verdade, fez cara de espanto porque nada disso realmente aconteceu.

O que eu não paro de recordar é a Camila que conheci numa fila do Banco Real. E que faltou nos nossos encontros imaginários, o que, querida, me deixou muito mal. Mas, neste momento, me apego mesmo aos dias que não passei com aquela pessoa com um papo maravilhoso, justamente porque o destino — esse roteirista de quinta categoria — planejou uma brincadeira de gosto duvidoso.

Nossas melhores memórias muitas vezes são de coisas que jamais aconteceram. Algo como aqueles anciões, que não existiram e, por isso, não envelhereceram. Elas são pequenas células, autônomas e passageiras. Porém, sempre voltam para lembrar de todas nossas asneiras. Mas também para dizer que desejar o que não temos. E que isso nos motiva a manter as mãos em nossos remos.

Chez Nigro's

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