23.4.03

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Parou numa funerária, para pedir informações. Lá disseram quanto custava um caixão. O atendente tinha uma voz grave demais para uma ocasião simplória. Enquanto ele via os diversos tipos de esquife, achou por bem avisar ao atendente que ninguém havia morrido, não senhor. Ele estava fazendo uma pesquisa, porque queria tratar da morte ainda vivo. O atendente lhe sorriu e o convidou a se sentar no pequeno escritório cheirando a lírio. Disse com um sorriso que tinham planos especiais para as pessoas que, como ele, eram precavidas o suficiente para tratar da morte enquanto vivas. Sentado, durante uma meia hora ele leu panfletos e mais panfletos, como se escolhesse uma viagem ao Caribe mas estivesse em dúvida quanto a que ilhas visitar. Indeciso ele jamais fora. Por isso saiu da agência funerária com a certeza de ter encomendado uma boa morte.

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fragmento de "O protagonista não morre" em O Polzonoff

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