2.4.03

Obrigada, Murphy

Mais uma da série: essas coisas só acontecem comigo. Eis que depois de comer a famosa feijoada do Pasquale, no Passeio Público, resolvi ir ao Shopping Müeller para comprar um tênis. Entrei na loja e fui prontamente assediada por uma daquelas vendedoras que grudam e não desgrudam mais. Daquele tipo que fica oferecendo TUDO o que tem dentro da loja, dizendo que TUDO fica lindo em você, etcétera e tal.

Eu só queria um tênis, mas era uma loja de artigos "fitness" e eu tive que explicar que, apesar de ser do Rio de Janeiro não, eu não queria um biquini (será que tem gente que pensa que carioca vai trabalhar de biquini?) e não, eu não queria uma blusinha azul combinando com o tênis e não, eu não queria pochetes (uia!) e não eu não queria nada além do maldito tênis.

O foda é que, como eu não sabia que ia encontrar - ou sequer procurar - o tal tênis hoje, eu tinha saído de casa com uma meia emprestada, de homem, daquelas velhas, enormes e com microfuros querendo aparecer. Então, na hora de experimentar o tênis, eu fiz um malabarismo tremendo pra vendedora não ver a meia. O malabarismo consistiu, basicamente, em tirar a meia JUNTO com o tênis (saca?).

Bem, experimentei o tênis, andando pra lá e pra cá pela loja com a vendedora no meu encalço. Ai, tá lindo em você! E eu era só u-huns e a-hans pra ela, já chegando ao auge do meu mau humor. Olhei mais uma vez no espelho e decidi que eu não ia querer o tênis. Voltei pro pufe onde tinha deixado os meus tênis vermelhos (e as mega-meias dentro), enquanto a vendedora estava no fundo da loja enchendo o saco de outra pobre vítima.

Quando ela finalmente começou a se aproximar, eu não sabia o que fazer. Tinha dois problemas à minha frente. A curto prazo, teria que explicar a ela que eu não ia querer o tênis. A médio prazo, teria que voltar a calçar os meus tênis e, para isso, calçar AS MEIAS. Com a vendedora na minha cola, vendo tudo.

E lá estava eu, pensando em como resolver esses meus enormes problemas quando de repente TÁ. Tá tá tá tá. E pessoas correndo pelo shopping e entrando na loja fitness pra se esconder. Um tiroteio, pensei e, escolada, me escondi atrás de uma arara de roupas. O Senhor Jornalista, que estava comigo, foi até a porta da loja ver o que era, sob meus gritos de protesto. Eu já estava prestes a entrar num dos provadores e me trancar lá dentro quando o Senhor Jornalista voltou e disse, calmamente: "Paula, CALMA, não é um tiroteio. CALMA, mas nós vamos ter que sair do shopping rápido." Eu perguntei então o que estava acontecendo, e ele respondeu: "CALMA, mas é que o teto do shopping está desabando". O TETO DO SHOPPING ESTÁ DESABANDO??? E ele: "isso, mas CALMA, Paula, nós já vamos sair daqui.

Calcei o tênis de um golpe só e saímos correndo pela garagem (estávamos no terceiro andar do shopping) enquanto as pessoas se degladiavam nas escadas rolantes e os carros tentavam dar marcha ré na rampa de acesso. O pavor dominou as pessoas. Inclusive eu. Fala sério, eu só pensava no World Trade Center e na hora em que tudo ia desabar em cima da minha cabeça.

Mas tudo deu certo, nós conseguimos escapar correndo pela rampa da garagem. E, bem ou mal, eu consegui me livrar da vendedora mais chata do mundo sem muito esforço. E nem precisei calçar as meias.

[Cá entre nós, ia ou não ia ser bonito o shopping desabando e eu trancadinha dentro do provador da loja, me achando A ESPERTA?]

epinion

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