17.4.03

Situação real, ontem à tarde.

Meu irmão adolescente de 17 anos chega em casa radiante porque comprou uma furadeira. Isso mesmo, uma furadeira. E não é qualquer uma, é uma furadeira verde! Entendem? Eu não entendo nada de furadeiras. Pra ele era uma *super aquisição*... pra mim, era uma furadeira verde.

Eu estava aqui no computador dele, postando o texto ali de baixo, quando ele entra no quarto:

- Olha o que eu comprei! Calma, não olha ainda! Deixa eu arrumar!

E arrumou, sei lá o quê, mas arrumou. Demorou, fez um puta suspense, eu já tava achando que ele tinha comprado alguma coisa pra mim... que nada.

- Pronto, pode olhar!

E eu viro pra trás e lá está ele, com uma furadeira na mão. Acho que a preparação toda era tirar da caixa e fazer uma pose daquelas de caixa de furadeira (eu não sei se isso existe, mas imaginem). Olho pra ele com desdém:

- Hhmmm... é uma furadeira.

- (sorriso de uma orelha à outra) Acabei de comprar : )

- (sem nenhuma intenção de me passar por animada) Puxa, que legal.

Ele ficou revoltado.

- Você viu direito? É uma furadeira! Vai, me ajuda a pregar essa prateleira aqui.

Comprou vários acessórios que iriam compôr o set (incluindo um treco de plástico que impede que a sujeira caia no chão - ela cai direto no treco de plástico), milhões de parafusos (e eu quase apanhei quando chamei de "prego", sem querer) e a prateleira, que ele diz que já tinha aqui em casa.

Eu desconfio seriamente que a tal prateleira foi comprada com o único propósito de estrear a furadeira, mas fiquei quieta. Não ia estragar a alegria dele. E tá. Pregou a prateleira a parede. E arruma daqui, arranja livros dali, entope a prateleira de coisa. Hm, bom. Pelo menos colocou a coleção do Julio Verne que eu comprei num sebo de aniversário pra ele. É, ficou legal.

- Olha, olha como ficou bom! Mãããe, já coloquei a prateleira!

E vem minha mãe olhar. Soltou um "hhhmm, que lindo" daqueles bem despreocupados, perguntou sobre a sujeira e saiu do quarto. Acho que nessas horas é que ele sente falta do meu pai em casa. Vira pra mim e:

- Você jura que não acha nada demais nela?

- É uma furadeira... é o mesmo que você me mostrar um martelo, sei lá. Não acho graça em martelo.

- Não é um martelo.

- Eu sei, mas...

Mas não adiantava. O mal já estava feito. Ele se levantou, guardou tudo, olhou pra mim incompreendido:

- Mulheres, humpf.

E foi ver seriados gravados da Sony na sala.

Sullen Girl

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