9.5.03

Talvez eu precise de uma máquina de escrever

3.mai.03 - funhouse

Meus cadernos, aqueles de carregar na bolsa, costumavam durar quase nada, todas as páginas maravilhosamente cheias de besteiras, algumas totalmente ilegíveis por causa do álcool ou das bolinhas ou de qualquer outra coisa, todas as linhas cheias, todas as folhas rabiscadas.

Este aqui dura. Dura. Dura. Só tem listas de compras, nomes de bebê e umas anotações dos outros e umas traduções. Um que outro texto perdido, parado pela metade, umas idéiassoltas, todas mortas, secas e tristes porque eu não quis nada com elas, coitadinhas, atoladas nas linhas inúteis.

5 meses e o caderno branco como a minha bunda.

"maybe you lost it?"
"lost what?"
"you know"

Não, não perdi nada. Eu escolhi chocar, no momento. Jogo as idéias no ralo quando a inspiração vem, porque não é o meu computador. Porque eu tenho o sono do mal. Porque agora tem umas coisas estranhas, a vida normal de quem come e dorme e bebe só uns golinhos e nada de drogas, e uma coisinha linda mexendo na minha barriga e dizendo que nada vai ser como eu achava.

Ainda bem.

Eu via o buraco, sabia que estava em algum lugar e andava sempre em frente, no escuro ou no claro, sempre em frente, eu sabia o que iria acontecer, todo mundo sabia, e eu queria, e ia, ia, ia, achando que sabia tudo, mas eu não sabia nada. Meu suposto destino era só mais uma invenção romântica de menina besta, achando que morreria em um quarto mofado, com um cinzeiro cheio e uma garrafa vazia, a vida pela metade, um livro pronto na gaveta, umas folhas largadas na mesa e cartas de amor perdido espalhadas pelo chão. Mas quem é que vai morrer agora? Quem é que tem amor perdido? Quem sofre? Eu não. E ainda por cima, nunca mais vou poder ser suicida nem morrer de overdose pelos cantos. Mães não podem fazer essas coisas.

Era muito fácil viver com a possibilidade da morte na esquina.

Agora eu preciso olhar para frente e ver uma vida enooorme, dez, vinte anos. Agora, alguém me diz como se vive com a possibilidade de vida longa e responsabilidades? Porque eu não sei. Simplesmente não sei o que fazer com a minha vida, agora que vou viver.

back to before you accuse me take a look at yourself

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