19.6.03

As estradas eram feitas de olhos. Ao passar, eles piscavam de dor. Era tudo que podiam fazer. Um kamikaze desceu pela esquerda, explodindo-se com seu avião. Nulo efeito, já que errou o alvo. Inhô sabia que o alvo era ele. Sabia que novos kamikazes não tardariam a chegar.

Era por isso que Inhô corria pela estrada de olhos, agarrado à sacola, sentindo o precioso volume lá dentro - volume que finalmente voltava às suas mãos, depois do assalto à sua casa, na calada da noite passada; depois da busca frenética, mais frenética que a do Polanski; depois de encontrar o volume nas mãos de Igaraô, o demônio de um olho só; depois da luta sangrenta com Igaraô; depois da morte ainda mais sangrenta de Igaraô; depois da fuga do castelo do Igaraô (ele tem um castelo, falou?); e depois do ataque idiota do kamikaze.

Inhô estava quase em casa. Fecharia o portão tetra-dimensional e estaria salvo. Poderia dormir.

Ao chegar no portão, Igaraô-San - o filho bastardo mais amado por Igaraô (o pai) - o esperava. Outra batalha sangrenta o esperava. Sua cama o esperava.

Na entrada do portão os dois mundos se mesclavam. Inhô apertou a mochila contra o peito e rezou ao deus dos contos curtos e idiotas, William Wilson, para matar Igaraô-San com alguma explosão nuclear ou outro absurdo qualquer que encurtasse a história. William Wilson acatou bondosamente a súplica de sua fiel criação e matou Igaraô-San com uma cusparada no monitor do computador, exatamente sobre o nome dele.

Segundos depois, Inhô atravessou e fechou o portão, tirou seu ursinho de pelúcia - o Teddy - da mochila e pôde dormir em paz.

conto de fadas básico do MegaZona

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