Há coisas inaceitáveis que tentamos corrigir apelando para todos os recursos possíveis, chegando a exageros de radicalismo reativo histérico.
Um vizinho que ouve ópera aos berros, por exemplo. Um cocozinho preso nos cabelinhos do cu. Um cocozão que fica entalado na porta. Uma criança protodelinqüente correndo e gritando desembestada entre as mesas do restaurante que você julgava ser um oásis de sossego, enquanto os pais, modernérrimos, não dão a mínima. Aquele maldito banheiro público que não tem trinco e a porta fica a uma distância enorme da privada, obrigando-nos a contorcionismos ridículos para tentar manter a porta fechada e evitar que alguma bêbada cistítica tenha um vislumbre de sua perseguida em pleno ato mijatório, e você de cócoras sobre a latrina, como convém. Aquele velho enfisematoso que se aboleta na janela do seu carro sempre que você tenta sair do estacionamento para tentar te vender uma pasta limpa-tudo. Uma meleca grudada na narina que não permite que respiremos sem fazer "fíííííííííííínnn" a cada expiração. A velha no caixa do supermercado contando centavo por centavo para pagar a conta "certinha". O gordo que acha que todo mundo gosta de cheiro de charuto (já repararam que fumante de charuto é tudo gordo?). A vizinha que sempre comenta, "A noite foi boa ontem, hein?" A mãe que telefona a cada aniversário de cada fulano da família para lembrar você de também telefonar para o fulano e dar os parabéns. O bar que nunca tem gelo. Aquela chefe no trabalho que faz questão de dizer "Amanhã é meu aniversário! Adoro meu aniversário!", só pra te deixar constrangido e tentar te obrigar a comprar presente (nunca comprei. Deve ser por isso que sempre sou demitida). A fila do banco que não anda porque tem um office-boy no caixa com um container de documentos para pagar. Gente burra desinibida que vomita 74 clichês por segundo e se julga interessantíssima (estas costumam aparecer em fila de banco, e são ubíquas na televisão). O Ruindows que sempre dá pau. Aquele post ENORME que você escreveu com tanto cuidado e desaparece quando você vai publicar porque a conexão caiu e você não reparou (quem manda ser imbecil e não usar um processador de textos?). Uma preguiça tão grande de escrever que você acaba lançando mão do que recebe por mail.
Mas há outras com que temos de nos conformar, dado o enorme número e o peso com que aparecem, coisas contra as quais não temos forças para lutar, e a elas sucumbimos qual iraquianos em dia de invasão ianque.
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processado por All about Eve
17.6.03
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