Pôr-do-sol
Como falar de um pôr-do-sol à beira-mar sem cair naquela malha inarredável de clichês? A lembrança da linguagem do hemisfério boreal de Tlön me traz algumas idéias.
Aquosa ondulação espelhada. Mais adiante, líquida crepitação passadiça. Muito além e acima, ofuscante luminescência incandescente. Algum tempo depois, brilhante auréola amarelada. Já próxima da linha do cume da montanha, intenso círculo laranja-avermelhado. O pôr-do-sol diante da baía norte de Florianópolis é um esplendor. À frente, uma extensa faixa de mar calmo, aprisionado entre o continente e o perfil da ilha. Às minhas costas, calçadão, ciclovia, três largas faixas de rodovias e uma cidade limpa, com grandes prédios de janelas espelhadas e sacadas mirando o mar em reverência, cidade coadjuvante.
Depois que o sol se põem, a água assume uma coloração cobreada, brilhante, quase gelatinosa, um tanto surreal. Talvez algo a ver com a poluição, que envolve esse cenário paradisíaco com um cheiro de esgoto. Aos poucos, a luminosidade vai desaparecendo e a água começa a enegrecer. Atrás, a cidade emerge de sua timidez subalterna e começa a brilhar intensamente em mercúrio e neon.
Não é por acaso que Florianópolis é o sonho de moradia de muitos gaúchos e um destino cada vez mais procurado por aposentados que buscam uma espécie de substituto do paraíso ainda durante sua estada por aqui.
O que, aliás, me remete a outro pensamento: não seria uma atitude das mais recomendáveis procurarmos com mais freqüência pedaços de paraíso por aqui mesmo, de preferência agregando-os à nossa rotina?
Sexta-feira é um bom dia para pensar nisso.
fim de semana nO Jardim do Diabo
27.6.03
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