16.6.03

Que merda, que merda, que bosta! Foi horrível, horrível, tenebroso! Cada vez que me lembro tenho vontade de enfiar a cabeça dentro de um buraco. Porque há muito tempo não tenho 16, 17 anos, e agora eu agi como se tivesse. Se for parar pra pensar, eu era muito mais responsável nessa época. Eu não queria que isso acontecesse, eu sabia que ia acontecer, eu poderia ter EVITADO, e não adianta culpar a cachaça, nem eu mesma, nem aquele mala do meu namorado, porque ninguém sozinho tem culpa. Mesmo que aquele tosco venha querer jogar toda a responsabilidade nas minhas costas. Na verdade nós dois temos culpa. Eu tenho culpa, sei disso, mas ela não é só minha. Ele tem tanta culpa quanto eu. Eu tenho culpa por não querer ter sido apresentada à "família" antes. Ele tem culpa por ter tido essa "idéia espetacular" da gente ficar invadindo a casa dele de madrugada. Mas eu tenho meus motivos, eu tenho os meus porquês de tudo isso, sem contar que eu sou uma anti-social aperfeiçoada, não gosto mesmo de conhecer sogra, acho isso péssimo, horrível, uma desgraça. Ainda mais com pouco tempo de namoro. Eu acho horrível começar a namorar e imediatamente ser apresentada para a família inteira. As coisas tem que acontecer aos poucos, como foi entre ele e os meus pais.

Senão, traumatiza.
E eu já sou gata escaldada nessas histórinhas de conhecer sogra.

Por quê? Por que eu sou do jeito que sou, e não fui feita pra ser avaliada por mãe de namorado. Parece que quando vou conhecer mãe de namorado é que nem participar de um concurso de miss, onde ficam medindo teus peitos, tua bunda, tuas carnes, e fazendo uma série de perguntas I-D-I-O-T-A-S, e por aquela meia dúzia de perguntas toscas, avaliam toda a tua bagagem de vida, teu interior, tua história, teus valores. Dá aquela sensação de estar num concurso de miss, e não ter corpo para ser miss. Falta tudo, falta bunda, peito, carne. E aí, eu me recuso a responder perguntas I-D-I-O-T-A-S feitas por mãe de namorado.

Porque mãe quer que o filho namore uma menina que além de ser uma princesa sem um fio de cabelo fora do lugar, sem vícios, seja inteligente, bem vestida, escolada e tudo o mais. E eu me recuso a enquadrar em padrões estéticos cretinos. Eu me recuso a conhecer mães de namorados, porque já conheci ZILHÕES delas, e elas são todas iguais. Querem sorrisos plastificados que eu sou impossibilitada de dar. Eu me recuso a falar mal do Ratinho, eu me recuso a dizer que tenho pena de iraquiano, eu me recuso a dizer que me emocionei com a história da menina de 5 anos, que limpa toda a casa, porque a mãe é problemática. Eu me recuso a dizer que torço pro coxa. Eu me recuso dizer o porque que até hoje eu não terminei o segundo grau. Eu me recuso a dizer porque não tenho irmãos. Eu me recuso a contar a história da minha vida pra uma pessoa por obrigação. Eu me recuso a tudo isso.

Sou cabeça dura sim. Mas não sou a única culpada de, às 7:49 da manhã, bêbada ainda, impossibilitada de responder qualquer pergunta, com os olhos borrados de delineador, com o cabelo desse tamanho, com gosto de cabo de guarda chuva na boca, ter dado de cara com a mãe do meu namorado na cozinha da casa dele.

Mas ele insistiu demais nessa história, quem iria imaginar que a gente fosse capotar de sono? Sei lá, se eu tivesse meus 18 anos, naquela época eu era intocável, o mundo era meu, e o resto das pessoas que se fodesse, eu não devia satisfação pra ninguém, eu era a poderosamegalossaura de 18 anos. Mas agora eu já sou uma senhora, e sei que isso é foda. Eu me preocupo mais com as consequências dos meus atos inconsequentes. É, eu estou perdendo a graça. Com 18 anos, eu daria risadas de toda essa história. Mas agora, eu me sinto péssima com a impressão que causei. Que grande merda! Horrível, não tenho outra palavra. Parece até um pesadelo, que qualquer hora dessas ou eu acordo, ou eu me mijo. Desgraça!

Sei lá, de repente a mãe dele pode ser a pessoa mais gente boa da face da Terra, mas quem, me diz quem, quer dar de cara com o filho acompanhado, no café da manhã, sem ter conhecimento disso?

Aí ele me diz: "Esquece, agora já foi, o que interessa é a gente e que se foda o retso do mundo". Muito pelo contrário baby, nós não temos mais idade pra pensar desse jeito. Não nós com quase 23 anos na cara. Nós dois somos culpados. Ele por me propôr uma cagada, e eu por topar a cagada. Cara, de fé, eu pensava que esse tipo de coisa só acontecia na Malhação, e não comigo.


Cata Vento & Montanha Russa

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