3.6.03

Roteiro Turístico de Moi-Même

eu fui feita às avessas
e às avessas quero ser...
Memórias de uma Surtada Os Olhos de Nelson Rodrigues Júlia e Gin Quisto é Bossa-Nova Entro na Vida para Sair da História tanto faz tanto fez o título o diploma o nome o rótulo que queiram me dar sem uma única palavra minha doce pequinesa em Frankfurt poemas datados vão pro liquidificador moem moem moem enquanto exercito o olho direito procuro o que tem dentro deste sorvete Il fait pas-de-deux/ Tem que ser você minha necessidade de prazer olho atrás do olho alguém se lembra de Madame Morineau? da guerra no Kuwait? não é assim tão simples delicado de cá do além-paraíba Oficina Flor do Universo onde costumávamos roçar nossos subsídios depois eu larguei do vício das visitas de Januário e seus panfletos de Trotsky debaixo do braço fui convidada para dar um curso de Literaturnaia Utchioba em Moscou eu precisava vestir uma peruca holandesa pra passar pela alfândega e esconder meu camafeu de begônias da revolução permanente que tola indivisível eu era ali roendo as unhas sinais de mediunidade me disse uma parapsicóloga soviética do partido você é telecinética não tenha medo nós respeitamos os latino-americanos e suas fezes adversas eu tive de rir do português sem parecer anormal dei um sonoro peido pra começar o dia uma poesia uma poesia são duas poesias onde como minhas tias sua débil mental busco saliva pra engolir o café da manhã -- o que será que fosso mas não masso?
recebi uma proposta de morar na fronteira paraguaia declinei o padrão de tempo é frágil como em Bombaim onde tenho atitudes espasmódicas sob o cadavérico céu e os mais sóis dos tons de azul aquele horizonte pastel teorizando ortopedias quando passei a suspeitar da consciência dos objetos de que os outros não passam de pequenos embrulhos da memória de que me livro segundos antes do elevador chegar ou do diabo que os carregue
o Pão de Açúcar é uma pedra gigantesca
o Corcovado é uma pedra gigantesca
quando qualquer um, seja onde for,
estender a mão pedindo ajuda,
mostre-lhe que você não tem um braço
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minha última noite com Isolda nem te conto paralelogramo-nos entrelaçadas: A Minha Amiga Wanderléia é Você, eu gosto de viver em saciedade entre mim e o poder há uma linha que une pontos de uma mesma intensidade sísmica na propagação de um terremoto MUDA A DOUTRINA O TAMANHO DA LATRINA senhor juiz eu me confesso culpada por tornar minha memória pública por conluir com contrastes embora seja indivíduo de pouca periculosidade verbal empale-me açoite-me que o castigo seja contundente imorredouro abram o código criminal da rainha Maria I na página 127 e escolham a minha pena perdi o controle total das admissibilidades senhor juiz não toscaneje puna-me! por sonhar com as primeiras-bailarinas de Istambul imaginá-las oito corvos voando juntos em tamanha velocidade que ficam brancos por romper a casca antes do ovo por vencerem as batatas por preparar em segredo uma lista de abobrinhas só pra dizer na frente dos amigos por meu pai me beijar só em dia de aniversário por minha vidinha particular pau-sa-da-men-te por vigiar meu marido do basculante da cozinha lendo as memórias de Stalin o rei do monossílabo como meu pai folheando Mein Kampf sem ler ó rodas ó engrenagens os diplomatas do verso a embaixada de intelectuais paulistanos por ser hoje eu amanhã eu num mundo que brinca e devora por filar público de escritores famosos por procurar dentro de conchas garotas que não me querem por escrever pelas paredes da casa pensamentos graficamente desconexos tirar fotos de trás pra frente de superamanhãs esquartejadas eu preciso domar a fera musicalista dos vocais lírios dos Campos as primas rimas preciso pôr e não expor, considerai
saudades de Malhada, minha primeira namorada em Paris, uma cidade que Descartes visitava com frequência, eu não resisto ao apelo das inconsistências da opção pelos pobres da opção pelos clássicos preparo uma edição bilíngue de Moscas nos Umbrais mãos passeando esquadros desenhando pés nos jacarés inaugurando a metodologia do acento agudo misturando sombras que andam andam até que eu mude de idéia e anoiteça um mormaço dentuço quando meus nervos se reagrupam e eu saio para mais uma noitada de bingo literário com meus tristes poetas caducos e suas canetas barrocas:

Maldição linguística é um caso sério
não fosse meu crocodilo datilógrafo
não sei como fecharia de versos
essa luz tão clara ferindo o único
olho de Camões na minha mesa

Prosa Caotica

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