Súbito fez-se alma o que já fora pedra e manso o que fora voragem e não havia mais nada que àquilo pertencesse que não tivesse sido tocado por um suspiro, nem nada que daquilo viesse que não trouxesse em si um rufar de folhas e um abrir de portas. Chegou com ele um improvável cheiro de manhã perdida, entre sons de casa e lençóis azuis, que se espalhou pelos cantos inexoráveis dos sentidos. Também com ele vieram cães amarelos deitarem-se aos pés da cama, sob a janela, anunciando que já quase ia meio dia. Desejei que não se escoasse o poço do que era, desejei que ali ficasse preso, para sempre, aquele pedaço de mundo ungido de calma, aquele sótão da realidade imprecisa repleto de olhares suspenso, vistos pelas frestas de sol. Então, súbito se fez novo o que já ia se fazendo velho e deitei a cabeça no peito morno da manhã que havia partido.
Não Discuto
12.6.03
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