17.7.03

Mais danos do que perdas

- Você deveria ter me avisado.
- Como avisar algo que nem eu sei.
- Sabe sim. Como não sabe?
- Eu não planejei nada. Aconteceu.
- Você pensa que eu sou idiota. Isso não é o tipo de coisa que simplesmente acontece. Tinha que ter espaço pra isso.
- Não, eu juro. Foi tudo muito casual.
- Imbecil, idiota, canalha.
- Por favor, não leve as coisas pra esse lado.
- Olhe bem na minha cara. Eu pareço idiota? Tenho jeito de idiota? Não estamos mais numa época em que as coisas simplesmente acontecem. Pelo amor de Deus.
- Tá, tudo bem. Vamos dizer que eu colaborei um pouco pra que isso acontecesse.
- A sua colaboração foi definitiva. Do princípio ao fim, você agiu com a determinação necessária pra que isso tudo fosse exatamente como aconteceu.
- Me perdoe.
- Não. Eu não te perdôo. E quero que você olhe bem pra minha cara.
- Eu te amo.
- Ama porra nenhuma. Ama o caralho. Você não ama ninguém.
- Não, não é verdade. Eu amo você.
- À merda com este amor. Olhe bem pra mim. Vamos, olhe!
- Eu te amo.
- Esta é a última vez que você está me vendo. Sente o meu cheiro?
- Eu te amo.
- Sinta o cheiro dessa pele. Você nunca mais vai me ver. Nunca mais vai me tocar.
- Me perdoe, eu amo você.
- A partir de agora, eu vou ser apenas uma lembrança. Não, melhor. Vou ser uma presença.
- Eu te amo.
- Uma presença equivocada na sua vida, que você nunca mais vai ter notícia. Esqueça que eu existo, esqueça meu nome, esqueça meu telefone. Esqueça também o meu endereço. Nem no seu pensamento eu quero estar presente.
- Eu te amo.
- Ama porra nenhuma. E pare com essa chantagem emocional barata e mesquinha.
- Não me deixe.
- Já deixei. Se você não está entendendo, eu explico. Estou saindo agora por essa porta. E a partir de hoje, eu não conheço mais você. Entendeu? Eu não conheço mais você.
- Não me abandone.
- Verme. Pústula. Canalha. Como pôde fazer isso comigo? Você deveria ter me avisado.
- Eu te amo.
- Você deveria ter me avisado.

o mundo paralelo de João Bernardo, via Dani

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