Meu primeiro dia de trabalho.
Meu primeiro dia de trabalho não poderia ter sido diferente.
É, não podia, não podia ter deixado de sair tudo errado, não podia.
Não podia simplesmente pelo fato que de que se não tivesse saído tudo errado, não seria o MEU primeiro dia de trabalho.
Estava aqui a pensar com minhas caraminholas, e.. Um grande foda-se ao primeiro beijo e ao primeiro namorado, o que marca mesmo é um dia de camelo, o primeiro dia de trabalho, esse sim ficará eternamente intrínseco em meus pesadelos mais sórdidos.
Eu sou uma privilegiada, primeiro ano, primeira entrevista, primeiro emprego, claro que sou, foi esse o pensamento, o mantra que repeti durante todo o dia para manutenção da minha paciência um tanto quanto finita.
E vocês devem estar pensando que eu sou uma patricinha fresca que nunca trabalhou na vida e agora só sabe reclamar, pra vocês que pensam assim, o meu segundo foda-se do post. O blog é meu, o dia de cão foi meu, as bolhas nos pés são minhas, portanto vou reclamar até quando me sentir ressarcida de meus danos psicológicos.
Contando agora é engraçado, aliás, tudo que vira história pra contar tende a ser engraçado, minha família rolou de rir, meu pai gargalhava as minhas custas. Ok, ok.
Cheguei no escritório, primeiro diálogo do dia D:
- Boa tarde Laila.
- Boa tarde Dra.
*Blábláblá*
- Então, você vai no Fórum faz isso, isso e isso, depois passa naquele prédio, aquele sabe, assim, assim assado, depois paga isso, isso e isso e pega recibo disso, disso, disso, pede pra assinarem isso, isso e isso, entendeu?
- Claramente. (aquele sorriso de quem não sabe nem o que dizer)
Abaixei a cabeça e voltei a pensar com minhas argolas, eu não sei porque fiquei decepcionada, eu sabia que seria assim, eu sei que estagiários de Direito não passam de meros office-boys de luxo, não desmerecendo essa profissão (?), claro, aliás eu até começo a achar que são eles que fazem o mundo girar, mas enfim, cá estou. Seria ingenuidade demais pensar que seria diferente comigo? É, seria. Mas a esperança é a última que morre, e eu as tinha até ter botado meus pés naquele escritório hoje pouco mais cedo. - Assassinos.
Na volta da minha primeira batalha burocrática, quase, eu disse quase chegando no prédio em que eu agora trabalho, Seu Pedro lá de cima, me pega pra Cristo e me manda um pé d'água como eu não via fazia alguns bons dias. Se não fosse pelo processo de tamanho significativo que eu possuía em minhas mãos eu juro que não teria ligado. É só nessas horas que um guarda-chuva faz falta, diga-se de passagem eu odeio esta geringonça, mas assumo, hoje eu quis um com todas as forças do meu ser. Se bem que.. pensando bem de nada adiantaria. Mas voltando, a única coisa em que eu pensei foi: Se esta merda molhar, eu estou na rua.
Olhei para o outro lado da rua e vi um mercado. Nunca achei um mercado tão atraente, chamativo. Mercado-sacola-sacola-mercado. Isso, garota.
- Moça, será que você podia me dar uma sa..
- Não, não posso não, porque nosso proced..
- Ok, ok.
Entrei por onde sai, sabe? Naqueles caixas de mercado? Então, por ali.
Entrei correndo, olhei em volta, peguei a primeira coisa que vi na frente, me acalmei e disse:
- Oi, continuando. Um tic-tac e duas sacolas por favor.
Ela riu, e eu não vi graça nenhuma.
Foram as sacolas mais caras da minha vida, de pensar que a gavetinha da lavanderia está cuspindo essas pra fora. Mas enfim.
Saímos de lá, eu, o processo, e as duas sacolas.
Ao menos ele chegou inteiro e a minha 'chefa' quase me deu um beijo na testa por isso, coisa que dispensei.
Nessa altura do campeonato, nem no sofá eu podia mais sentar, afinal era o sofá da Dra., e eu não teria a audácia de sentar com a poupança encharcada no sofá 'chic-no-úrtimo' dela. Ao menos não por enquanto.
Fiquei em pé ouvindo quais seriam as próximas ordens.
*Blábláblá*
- Na Barão do Rio Branco?
- É, ali na Barão, aqui pertinho.
E eu pensando comigo que devo rever meu conceito de distância.
- Ah tá, eu vou lá sim.
- Então (ela olha para fora e faz uma cara de preocupação, para meu alívio temporário), tá chovendinho, né? (chovendinho?)
- Heh. Pois é.
- Mas não tem problema, você vai pelos cantinhos, pelas beiradinhas que quase não se molha.
Sinceramente? Nessa hora eu tive vontade de gargalhar, sair gritando pelo prédio nua e descontrolada.
Cantinhos? Beiradinhas?
E lá fui eu atravessar o passeio Público procurando os malditos cantinhos e as malditas beiradinhas, com a chuva caindo na minha cabeça, martelando essa idéia imbecil.
(...)
a via-crucis continua em blogarelando
20.7.03
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