14.9.03

mudança II

um dia ele vem pedindo pra dar uma olhada, esqueceu um envelope importante em alguma gaveta, eu deixo entrar.
e não durmo aquela noite.
pois não é que logologo eu acabo ligando: achei uma camiseta sua aqui, vem buscar.
ele vem, fica um pouco, fica muito, leva a camiseta que eu sabia que não podia ser dele, tem a Legião Urbana.
eu não durmo dessa vez também, não durmo mais, de repente ele aparece no portão pra ver se nasceu um pé de alguma coisa que plantou no quintal.
mentira, tudo é pretexto e nem precisa ser bem tramado, é só pra deixar claro que a casa ainda não está vazia.
só tem um jeito, ou dois: ou eu tranco tudo e faço a volta ao mundo em oitenta dias botando um cão de guarda feroz no quintal pra não deixar nem sombras se aproximarem até que tudo seque e esterilize ou eu transformo isto aqui em escola, clube, hotel, ginásio de esportes, espaço de multidões até que se descaracterize, se desfigure, se neutralize, perca o cheiro, perca a identidade.
mas sabe, ainda é uma casa de fantasmas, só dos meus fantasmas, e sabe, ainda me sinto melhor assim.

viagem

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