Penso em tudo que me deste, olho para o que te tornaste e duvido da tua identidade. A cidade se estende diante de meus pés como se por ela tu nunca tivesses passado. Ela não te sabe. E quanto a mim? Eu ainda te sei? Também as ruas que nos viram passar estranham tua presença constrangida. Teus sapatos não bastam para que teus passos sejam os mesmos. Os ipês negam chuva lilás sobre a tua cabeça e os pássaros no fio de luz te ignoram solenemente. Desaprendeste a língua que inventamos, um idioma de ésses e arabescos. O fio da nossa vida enroscou-se numa impossibilidade e a urdidura vai se desfazendo ponto por ponto, por ponto, por ponto até que reste um emaranhado de lembranças desconexas, disléxicas, flácidas, que no fim não é nada, até que perca-se o começo da meada e não reste resto de quem queira resgatá-la. A cidade também a mim, no fim, não reconhece e vejo que talvez nos tenhamos perdido de mãos dadas.
não discuto
4.9.03
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