14.9.03

A saga do pimeiro beijo (Post IX)

Minha mãe só podia ter enlouquecido. Logo depois do almoço, todos saíram. Meu pai voltou para o escritório, meus irmãos foram para a escola e, mesmo assim, minha mãe deixou a molecada toda assistir TV em casa. Pra completar, ainda nos encheu de cobertores, almofadas, travesseiros, chocolate quente e saiu; simplesmente saiu. Eu não acreditei! Meu pai mal me deixava conversar com meninos e, de repente, minha mãe libera a casa e nos deixa sozinhos e de casal. Aquilo era inacreditável! A Marilu olhava pra mim incrédula. Já os meninos, achando tudo normal, não despregavam os olhos do bendito filme "As sete faces do doutor Lau".
Foi minha mãe bater o portão, pra Marilu e eu pularmos de alegria. Pulávamos, ríamos e dávamos aqueles gritinhos irritantes misturados com risos e mensagens cifradas que só as pirralhas insuportáveis entendem.

- Olha a frente aí, ô filha de vidraceiro!
- Silêncio, mulherada...

Os dois babacas nem se deram conta da situação - homem é realmente um bicho devagar! Eu notei que a Marilu olhou diferente para o Ivo assim que bateu o olho nele, mas não imaginei que a danada fosse agir tão rápido. Indignada com a falta de visão dos garotos, ela pegou um dos travesseiros e disparou contra a cabeça dos dois. Foi o suficiente para iniciarmos uma guerra de travesseiros que botou o doutor Lau no chinelo.
Viramos a casa do avesso. Poltronas serviram de escudo, o tapete saiu do lugar, quebramos uma lâmpada do lustre... Estouramos uns quatro travesseiros. Era espuma pra tudo que era lado. Uma festa, uma delícia de festa que fez com que perdêssemos a consciência da bagunça que estávamos aprontando.
De uma forma muito ingênua, aquela não passava de mais uma das nossas brincadeiras de criança. Uma brincadeira mais do que comum, mas que, acrescida dos nossos hormônios e da nossa empolgação de ter a casa só pra nós, causou um estrago quase irreparável.
O anta do Murilo, sem mais nem menos, se jogou em cima de mim. Caí estatelada no chão com o garoto sobre o meu corpo. Morta de vergonha, mas adorando a sensação de tê-lo tão próximo, danei a fazer charme e a me debater para que ele me soltasse. Não que eu quisesse, mas dizia.

- Murilo, me solta!
- Não.
- Solta ou eu...
- Eu o quê?
- Eu... eu não falo mais com você.
- Só solto se você me der um beijo.
- De jeito nenhum!
- Então diz que aceita namorar comigo...
- Não! Você prometeu esperar até amanhã.
- Por causa de um dia? Só um beijo! Custa?
- Você já terminou com as meninas que você estava enganando?
- Não exagera. Era uma menina só! E eu já terminei.
- Jura?
- Juro.
- Se você não terminou com ela e me fizer de boba eu...
- Você o quê?
- Eu... eu...

Por muito pouco não nos beijamos. A porta da sala foi aberta repentinamente e minha mãe...

- Vocês podem me explicar o que está acontecendo aqui?

----------> Continuará no Amarula Com Sucrilhos

Nenhum comentário: